No começo do século, era cool ser existencialista. Depois, virou chatice.
Nos anos 30 e 40, a fenomenologia era o hype. Depois, cansou.
Nos anos 50 e 60, era chique ser estruturalista. Depois, virou xingamento.
Nos 70, o bom era ser marxista. Depois, virou paranóia.
Nos 80 e 90, a melhor saída era ser neoliberal. Depois, parou de render.
O Cultura, do Estadão de hoje, traz matéria sobre os chamados filósofos neo hedonistas, aqueles que devotariam seu tempo para estudar e refletir sobre os prazeres da vida nesses tempos bicudos. Michel Onfray, Giles Lipovetsky, Michel Maffesoli, Luc Ferri, André Comte-Sponville.
Bobagem.
Filósofoso é filósofo, mesmo quando ele vende 200 mil exemplares de seu livro. Mesmo quando participa de quadro no Fantástico. Mesmo quando dá consultoria a empresas.
O que querem é rotular e desacreditar.
Por que o filósofo precisa ser hermitão? Lunático? Feio e chato? Precisa morar na caverna d Platão? Morrer com dores de cabeça como Nietzsche? Suicidar-se como Deleuze?
Alguém já disse que a filosofia perdeu espaço para a auto-ajuda na vida moderna. E que hoje os filósofos precisam reencontrar uma razão para sua existência. Fala-se de filosofia clínica, hoje em dia.
A discussão é velha e boba: popularizar o saber sem ser superficial; garantir o saber diante da massa ignara, bla-bla-bla, blá-blá-blá!
Nietzsche tinha uma ótima imagem para isso: eles são os turvadores de água. Batem com suas bengalas no rio e fazem com que a areia do fundo suba à tona revolva-se e turve a água. Aí, pensamos: nossa! como são profundos! nem enxergo o fundo…
A filosofia pode ser best-seller. A filosofia pode. E não pode. É caro ao filósofo sensibilidade, inteligência, rigor de análise, criatividade, humanidade, sentido do seu tempo.
Eu adoro Filosofia e acredito que ela está presente o tempo todo em nossas vidas, não nas dores de cabeça, nos suicídios ou nos pensamentos lunáticos. Nietzsche fez eu acordar para inúmeras atitudes comuns da minha realidade — e pouca gente da ‘massa’ vê tudo isso como filosofia.
E sobre a Lauryn, eu também casaria com ela agora! Hahaha! Brincaderia. O meu cabeludo eu não largo por nada (só se a Lauryn pedir, daí até penso UMA vez no caso dela!). Bom dia, professor! Obrigada pela visita.
Filósofo reconhecido e atual é algo impossível. Valor mesmo só para aqueles que já estão debaixo da terra. Além disso, esse negócio de auto-ajuda é muito estranho: se a ajuda é “auto”, por que eu preciso comprar um livro para falar coisas que eu já sei?
É como diz o Schopenhauer: devemos dar valor aos clássicos, porque os atuais não fazem valer nem a tinta que gastam no que escrevem. Mas daí, como bom filósofo, ele embanana as idéias de vez: mesmo assim, temos que estar abertos a novas perspectivas, para o desenvolvimento. Vai entender…
(Joel)
Como fazer da filosofia notícia e não cair em clichê? É difícil. Comadre, li o texto e concordo com os teus comentários. Acho ainda que só há crédito no que foi escrito para quem está fora do discurso filosófico. Bom, acho então que o veículo de comunicação alcançou seu objetivo. Despertar o interesse de um número expressivo de leitores significa, quase sempre, deixar os especialistas de lado e ignorar o que há de potência sobre o que eles ensinam. Não concordo totalmente com a seqüência dos movimentos de pensamento que fizeram escola, mas especificamente, ali na passagem do “ser marxista” para o “ser neoliberal”. O modelo de fazer política neoliberal passou a ser o discurso da vez, mas não uma filosofia pautada numa corrente teórica neoliberal. Senti falta do pós-estruturalismo e do discurso pós-moderno. De fato, concordo plenamente com a tua crítica: o que eles querem é “rotular e desacreditar”. Será que foi explicado algum conceito desses autores citados? Não. O que vemos nessa imprensa do espetáculo é, no máximo, citar o nome dos conceitos, como se fossem palavras-chave. Quando isto acontece, é o avesso da crítica; uma espécie de bestialidade. Neste caso, uma bestialidade ressentida. Para terminar, não concordo com o comentário do Joel de que não há mais filósofo vivo de “valor”. Selecionando rapidamente alguns que me vêm à memória, temos (podemos até não comungar com o lugar de interpretação deles na filosofia, mas são filósofos respeitados): Harbemans, Agamben, Negri, Žižek..
Um questão como essa não é fácil de comentar, reduzir a “eu gosto/eu não gosto”, eu acho isso/eu acho aquilo. Ela merece, na verdade, uma crítica muita mais plural e ampla, se for realmente para contribuir com o assunto, prolongá-lo, torná-lo um debate… E isso não acontece no calor de um comentário para blog, obviamente. Assim como uma crítica demorada parece, curiosamente, não caber, não ser digna de um comentário de blog. Problemão, hein?