quando nietzsche chorou

cap00630.gif

Ontem à noite, assisti à versão cinematográfica do best-seller de Irvin Yalom. Muito se tem dito sobre o livro e sobre o autor, cujos títulos circulam pelas livrarias brasileiras. Já pensei em ler, mas ainda não consegui. Mas na verdade, este post está mais interessado mesmo no filme, em como é contado o encontro fictício entre Breuer e Nietzsche.

Vamos por partes, como disse aquele rapaz dos becos de Londres…

Breuer é um médico conhecido na mítica Viena do final do século retrasado, o 19. É rico, afamado, e professor de um jovem médico, o doutor Freud. Aliás, a ele confiou a paciente Bertha, codinome Ana O.

65255gg.jpg

Pois Breuer é procurado pela irriquieta e irresistível Lou Salomé, amiga íntima de Nietzsche e muito preocupada com seu estado de saúde. O filósofo, ainda desconhecido, anda deprimidíssimo, à beira do suicídio. Lou roga para que Breuer trate do amigo. Breuer se convence – não pela causa em si – mas pela moça em si.

A aproximação do médico e paciente será o fio condutor da história, convidando os demais pacientes a pensar sobre filosofia, sonhos, psicologia, desejos, viva e morte, sentidos da existência, dor e felicidade.

O filme é ruim, seja pela precária ambientação ou pelos desastrados efeitos especiais (defeitos especiais?) que retratam os sonhos e pesadelos de Breuer. Lou Salomé é retratada de forma frívola, superficial, volúvel. Breuer chega a ser caricato. Mas apesar de tudo, algo que se sobresai e ganha a noite. Armand Assante na pele do filósofo. Assante compõe um personagem pulsante, arcado pela culpa e pela dor, carregado de sentimentos represados.

O espectador é devorado pelos olhos esbugalhados de um Nietzsche já adoentado e atormentado. Aliás, com a cabeleira revolta e um imenso bigode cobrindo-lhe a boca, resta ao ator a expressividade de seus olhos e os olhares que dispara. O corpo se movimenta em cena com rapidez, de forma inesperada. O ritmo é sobressaltado, e as mãos do filósofo ganham envergadura de tenazes. Pouco se vê delas. Assim como o próprio tenta esconder seus sentimentos, suas frustrações e medos.

Ele tenta.

As cenas finais, com um Nietzsche em estado de total vulnerabilidade, são lindíssimas, tocantes, transbordantes. A fortaleza rui e os cacos se espalham, mas a uma distância controlada. Por alguns segundos, o filósofo deixa cair-lhe a máscara e revela a si e ao doutor o que tanto estremece seu peito e quase faz explodir sua cabeça.

É um belíssimo trabalho de ator. Foi o que me valeu ao ver o filme.

Gostei muito do Nietzsche que Assante nos apresenta. Ele está nas páginas dos seus livros, nas metáforas poderosas como golpes de martelo, na pregação anti-cristã, na ousadia de contestar a moral vigente.
O Nietzsche de Assante é humano, demasiado humano.

cover.gif

6 comentários em “quando nietzsche chorou

  1. Olá estou louco pra ver este filme, já li o livro “Demasiado humano demasiado” e orientado por meu professor di filosofia a ver o filme, Lembrando que os professores de filosofia possuem o Pés no chão e sabem muito bem o que dizem, mas voltando ao probrlema na minha cidade não possue este filme…..

Deixar mensagem para Dauro Cancelar resposta