seis filmes: comentários muito pessoais

Porque hoje é sábado e porque faz um friozinho preguiçoso, deixo aqui comentários muito pessoais sobre seis filmes que vi nos últimos dias:

O Fim dos Dias
Perdi a vez de assisti-lo no cinema, e até me arrependo agora. O filme de M.Night Shyamalan é envolvente, interessante, inteligente e despretensioso. Na verdade, estava meio arredio depois de ver Sinais e a A Vila, mas o cineasta voltou em grande estilo. É suspense e terror em doses fartas, sem efeitos especiais muito pirotécnicos. É desses filmes que – mesmo após assistir – a gente fica pensando, pensando, pensando… Para quem quer sobreviver.

Kung-Fu Panda
A animação é ótima, divertida e empolgante. A versão do cinema dublada é competente e engraçadíssima. As referências aos filmes de artes marciais estão lá, mas mesmo quem não as identifica assiste com prazer. Fui ver com amigas e meu filho. Saímos da sala dando caratê em todo o mundo. (O joguinho do Play Station também é bem divertido, focado na história, mas tem um porém: é curto). Para quem não tem preconceito com desenhos animados.

Wall-E
Outra animação pra ficar. Imagine 15 minutos de filme sem diálogos, sem gente, num cenário inóspito e você não desgrudando os olhos da tela. Isso acontece. A história de amor entre robozinhos e o futuro da Terra entretém, enternece e diverte. Referências explícitas a E.T. e a 2001 – Uma odisséia no espaço. Para quem não é robô.

Pecados e Tentações
Falou-se muito da estréia de Leila Lopes no cinema pornô. Depois de ver o trabalho, acho que falaram demais. Leila está bonita e charmosa. Mas seu desempenho, digamos assim, fica bem aquém do esperado. Não é uma estrela da arte, o enredo é bobo e só tem três transas, duas com a protagonista. Rita Cadilac e Gretchen vestiram (?) melhor a camisa… Para quem é curioso.

O Amor nos Tempos do Cólera
A adaptação do romance de Gabriel García Márquez para o cinema resultou num filme com duas horas e quarenta minutos. É um épico, mas a gente se envolve, se emociona e se diverte. Fernanda Montenegro faz a mãe do protagonista, vivido na maturidade por Javier Barden. Os dois estão estonteantes na interpretação. As locações são lindas e a trilha sonora mostra, entre outros bons momentos, uma Shakira altamente romântica. Para quem quer se apaixonar.

Antes de partir
Uma amiga minha deu a chave: é um filme que tem tudo para ser piegas e contorna isso muito bem. Pois é. A história de uma amizade entre pacientes terminais reúne Morgan Freeman e Jack Nicholson nos papéis principais. O enredo reserva pequenas e divertidas surpresas, mas o que fica é uma espécie de “lição final”. Aquilo de que a vida é muito mais. Para pessoas sensíveis e duronas.

desejo e reparação, eu vi

Noite passada, mesmo que entrecortado, assisti a Desejo e Reparação, adaptação do romance de Ian McEwan para o cinema pelo diretor Joe Wright. Vi e devorei os extras da versão do DVD. Vi e fiquei louco para ler o livro que originou o filme.

É uma história pungente, envolvente, dilacerante. Desses dramas românticos de guerra, a história traz à tona sentimentos que a gente luta a vida inteira pra esconder. Mas é o desejo de reparar um imenso erro que move os dedos da narradora.

As cenas rodadas em steadycam para relembrar a desocupação de Dunkirk são estupendas, colocam o telespectador no meio da praia coalhada de loucura, desolação, fumaça e soldados maltrapilhos.

Buscar o perdão, tentar a redenção. Que motes para uma história!!!

jogo subterrâneo, o filme e o site

 

Sábado à noite, zanzando pela TV, acabei trombando com Jogo Subterrâneo, filme de Roberto Gervitz que foi exibido pela Cultura. A história é curiosíssima e a sua execução, singela, tocante e competente. Um solitário pianista de bar cria um jogo pessoal para encontrar a mulher da sua vida. Cola uma planta das linhas do metrô de São Paulo na parede e escolhe aleatoriamente uma estação para onde irá. No caminho, escolhe uma mulher sozinha e a segue pelas linhas do subterrâneo, mentalmente dirigindo seus passos. Quando a musa escapa de sua programação, ele desiste. Afinal, ele acredita que a mulher da sua vida seguiria a mesma direção dele… Martin, o pianista, recomeça o jogo todos os dias até se deparar com três outras mulheres: uma misteriosa e compreensiva, outra carente e materna, e uma terceira sinônimo de perigos e problemas.

O enredo de Jogo Subterrâneo foi inspirado em “Manuscrito encontrado em um bolso”, conto de Julio Cortázar, publicado na coletânea Octaedro. No cinema, o jogo se esvai com o avançar das estações, muito bem exploradas pela fotografia do filme, atirando em nossos olhos esse lugar incomum que é o metrô: cercado por tantas pessoas e olhares, estamos mais é absolutamente sozinhos, mergulhados em nossos pensamentos-sonhos-memórias.

No elenco, Felipe Camargo, Maria Luisa Mendonça, Julia Lemertz e Daniela Escobar. Aliás, casting bem dirigidinho, extração profunda de emoções. Destaque ainda para a sensível e pungente música de Luiz Henrique Xavier.

Outro destaque: o site do filme. Nele, como não poderia deixar de ser, o visitante participa de um jogo, passando de estação a estação nas linhas do metrô que vão se descortinando. Para isso, tem que adquirir os bilhetes e assim, as paradas vão se apresentando… Trailers, papéis de parede, fotos, informações sobre a película e vídeos… Cortázar adoraria esse site!

Confira o trailer aqui!

jornalismo e cineminha

Tive sorte. Com essa mensagem up, o blog Yo Tube Suerte faz trocadilho com o maior site de vídeos do mundo e ainda oferece uma série de coleçõezinhas legais.

Tem uma com os 100 melhores filmes sobre jornalismo.

Tá, lista é sempre pessoal e discutível, mas esta vale a pena dar uma olhadinha.

cinema e educação: evento

Um encontro internacional que acontece de 29 a 30 de novembro próximos na UFRJ discute o uso do cinema na sala de aula.

Para saber mais, veja o folder aqui. (em pdf)

blade runner e o que veio depois

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 A conectada Adriana Amaral comenta a entrevista que Ridley Scott deu à Wired sobre os 25 anos de lançamento de Blade Runner. Na versão eletrônica da badalada revista, pode-se ler e ouvir a entrevista, e é maravilhoso revisitar um futuro tão perturbador numa obra tão poderosa. Tanto é que a própria Wired traz num bem produzido infográfico as influências causadas pelo filme em diversas manifestações culturais, que vão da música à linguagem, da arquitetura aos quadrinhos, do cinema à moda.

Sou suspeitíssimo para comentar Blade Runner. É o filme da minha vida. Onde o policial tromba com o filosófico, onde as aparências chapam a realidade e nos conduzem para equívocos certeiros. Onde o drama de um solitário se espalha como grande questão da humanidade. Ontologia, globalização, sobrevivência, multiculturalismo, podridão ambiental, estética noir, robôs que choram, humanos que não choram.

25 anos depois de ser lançado, Blade Runner não descoloriu, não amarelou, não ficou esmaecido. É recente, é atual, é perene. Não adivinhou o futuro, mas quem disse que ele se propunha a isso? E quem disse que, de certas formas, não tenha antecipado o futuro? Nos acotovelamos com ciborgues nos elevadores, nos submetemos a tratamentos que desafiam a ciência e a lógica, nos afundamos em nossas vidinhas medíocres, sucumbimos à catástrofe ambiental, e cada vez menos sabemos o que é, afinal, ser humano…

nosso cinema no oscar

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Não ligo para o Oscar. Não acho que seja um grande prêmio nem ao menos que seja um índice de qualidade de produção. Não mesmo. Basta lembrar que “Rocky, o lutador” venceu na categoria melhor filme no comecinho dos anos 80. (Ou a safra estava muito ruim ou o colégio eleitoral que votou no filme de Stallone não ia ao cinema com freqüência).

Então, não entro nessa torcida por um Oscar. Para mim, é besteira. Como se torcêssemos por nossa miss num concurso de beleza. Claro que isso não me impede de dizer que foi uma injustiça Gwineth Paltrow levar a estatueta de melhor atriz por “Shakespeare Apaixonado” ao invés de Fernanda Montenegro por “Central do Brasil”. A veterana é mais atriz e está a milhas de distância segura da loirinha.

De qualquer forma, e dito tudo isso, preciso confessar que gostei bastante da escolha do governo brasileiro do filme que vai representar o país na triagem para a categoria de melhor filme estrangeiro. Escolheram “O ano em que meus pais saíram de férias”. Não pude vê-lo na telona, mas vi em DVD. E foi um assombro.

Em maio deste ano, no meu blog anterior, cheguei a dar minhas impressões nitidamente emocionadas sobre o filme. Ele é belíssimo. Para que você não precise ir ao meu endereço antigo, reproduzo abaixo o que escrevi à época. Hoje, eu quase nem mexeria no texto. A impressão ficou. As imagens permaneceram.

Noite passada, assisti a O Ano Em Que Meus Pais Saíram De Férias, longa de Cao Hamburger. E já de início, é preciso dizer: é um dos filmes mais emocionantes do cinema nacional dos últimos dez anos. Bem realizado, na medida e sem rodeios, o filme é de uma sensibilidade contagiante.A história é simples: 1970, e os jovens pais de um garoto de uns 8 anos deixam o filho com o avô. Os pais “vão sair de férias”, quando na verdade se intui que são perseguidos políticos. Acontece que o avô morre antes mesmo de o menino ser recebido. Então, Mauro – o menino – é acolhido pelo pessoal do bairro do Bom Retiro, notadamente judeus e descendentes de italianos. Os dias se passam e o menino aguarda os pais, pois a promessa era de que a volta se daria na Copa do Mundo. Simples assim.

Mas vai além. Não é um filme de crianças. Não é um filme com crianças só. Mas é um daqueles que nos fazem voltar à infância. Futebol de botão. Bola de capotão batendo na parede encardida do vizinho. Brincar na rua. Apaixonar-se pela bela atendente da padaria. Tanta coisa… Há também a incontornável solidão da infância que todos sentimos: brincar solitário, mergulhar sozinhos no mundo da fantasia e dos sonhos mais eternos.

Se você gosta de comparações, já temos um Cinema Paradiso, mas sem a homenagem à sétima arte. Já temos um Malena, sem Monica Belucci. Mas não só. Meu entusiasmo me faz lembrar da singela trilha sonora, dos planos inteligentes que recortam o cenário da São Paulo moderna e nos mostram apenas a São Paulo amanhecida, amarratoda, periférica, imunda e inesquecível, amável e perdida no tempo.

Gargalhei, me identifiquei, e me emocionei. Lá pelo final, cheguei a pensar que o filme poderia terminar na bela seqüência que recupera as comemorações em Guadalajara do Tri da seleção. Cenas documentais num belo filtro azul-saudade. Mas não. Cao Hamburger ofereceu mais. Inclusive a narração do personagem na última cena: um punhado de frases que me inundou os olhos”.

quando nietzsche chorou

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Ontem à noite, assisti à versão cinematográfica do best-seller de Irvin Yalom. Muito se tem dito sobre o livro e sobre o autor, cujos títulos circulam pelas livrarias brasileiras. Já pensei em ler, mas ainda não consegui. Mas na verdade, este post está mais interessado mesmo no filme, em como é contado o encontro fictício entre Breuer e Nietzsche.

Vamos por partes, como disse aquele rapaz dos becos de Londres…

Breuer é um médico conhecido na mítica Viena do final do século retrasado, o 19. É rico, afamado, e professor de um jovem médico, o doutor Freud. Aliás, a ele confiou a paciente Bertha, codinome Ana O.

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Pois Breuer é procurado pela irriquieta e irresistível Lou Salomé, amiga íntima de Nietzsche e muito preocupada com seu estado de saúde. O filósofo, ainda desconhecido, anda deprimidíssimo, à beira do suicídio. Lou roga para que Breuer trate do amigo. Breuer se convence – não pela causa em si – mas pela moça em si.

A aproximação do médico e paciente será o fio condutor da história, convidando os demais pacientes a pensar sobre filosofia, sonhos, psicologia, desejos, viva e morte, sentidos da existência, dor e felicidade.

O filme é ruim, seja pela precária ambientação ou pelos desastrados efeitos especiais (defeitos especiais?) que retratam os sonhos e pesadelos de Breuer. Lou Salomé é retratada de forma frívola, superficial, volúvel. Breuer chega a ser caricato. Mas apesar de tudo, algo que se sobresai e ganha a noite. Armand Assante na pele do filósofo. Assante compõe um personagem pulsante, arcado pela culpa e pela dor, carregado de sentimentos represados.

O espectador é devorado pelos olhos esbugalhados de um Nietzsche já adoentado e atormentado. Aliás, com a cabeleira revolta e um imenso bigode cobrindo-lhe a boca, resta ao ator a expressividade de seus olhos e os olhares que dispara. O corpo se movimenta em cena com rapidez, de forma inesperada. O ritmo é sobressaltado, e as mãos do filósofo ganham envergadura de tenazes. Pouco se vê delas. Assim como o próprio tenta esconder seus sentimentos, suas frustrações e medos.

Ele tenta.

As cenas finais, com um Nietzsche em estado de total vulnerabilidade, são lindíssimas, tocantes, transbordantes. A fortaleza rui e os cacos se espalham, mas a uma distância controlada. Por alguns segundos, o filósofo deixa cair-lhe a máscara e revela a si e ao doutor o que tanto estremece seu peito e quase faz explodir sua cabeça.

É um belíssimo trabalho de ator. Foi o que me valeu ao ver o filme.

Gostei muito do Nietzsche que Assante nos apresenta. Ele está nas páginas dos seus livros, nas metáforas poderosas como golpes de martelo, na pregação anti-cristã, na ousadia de contestar a moral vigente.
O Nietzsche de Assante é humano, demasiado humano.

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listinha de filmes

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Kadw vem fazendo seu listão de 100 filmes indicados. Pedro Doria hoje convida para listar os dez filmes que mais marcaram a vida de seus leitores. (Na verdade, o convite já é um meme).

Convite aceito.

Blade Runner – Eu sou Deckard.

 

Cidadão Kane – O choque do velho que me deixa renovado. Sempre.

 

Cinema Paradiso – Quando eu me transformo em cachoeira.

 

Antes da Chuva – O tempo é circular. A vida é mais.

 

O livro de cabeceira – a poesia numa fábula de Peter Greenaway. Livros e olhos rasgados. Janelinhas na telona.

 

Lavoura Arcaica – Um filme verde, cuja voz ressoa o velho escritor aposentado.

 

Terra em transe – Glauber pulsa no olho arregalado de Paulo Autran, na voz aveludada de Jardel Filho e no sorriso sacana de Paulo Gracindo.

 

Apocalipse Now – This is the end, my only frien, the end!

 

A festa do monstro maluco – Sessão da tarde, o paraíso.

 

Tubarão – Dá medo até hoje.

 

 

 

o cinema encolhe

Ontem, Bergman morreu.

Hoje, foi a vez de Antonioni.

Sem eles, o cinema fica menor.
Fica menos ousado, menos inventivo, menos artístico.
Suas obras – como a de qualquer um – têm saltos e tropeços, mas eles ajudaram a dar contornos maiores a esta arte.
Sem eles, o cinema do século XX vai desaparecendo aos pouquinhos, como num fade…

beto brant me decepcionou

Vou de cinema.

Adoro e vejo tudo o que Beto Brant produz. Pra mim, é um dos cineastas mais conscientes do cinema nacional. Seus filmes são enxutos, dizem a que vem, não se apóiam em grandes estrelas e medalhões, mas sempre se sustentam em excelentes roteiros e ótimos atores e atrizes. Bem, coloque a frase anterior no passado.

Isso porque acabo de assistir a Crime Delicado, o filme mais recente dele, que é de 2005. Sim, estou atrasado. Pra variar. Peguei na locadora, mas a vida corrida me impediu de ver duas vezes. Vi então agora, num naco de noite que me sobrou.

E me decepcionei.

A coisa muda por completa. Se em Matadores, Ação Entre Amigos e O Invasor, o ritmo é frenético, constante, cadenciado; agora, o velocímetro cai abruptamente; as cenas se alongam e as falas se estendem por milhas e milhas.

Brant abandona a violência explícita de antes e agora se dedica ao amor, à paixão louca, a práticas esquisitonas como a do pintor velho que se despe e posa junto com a modelo para retratar trepadas… como o crime delicado do título: o estupro de uma mulher com uma perna amputada. (Eu sei, parece David Cronenberg de tão outsider…). A perneta é a modelo das pinturas… E o acusado de estupro não é o pintor, mas um solitário crítico de teatro que se envolve com a moça, que é atriz também…

O cineasta investe para uma narrativa que mescla o cinema, artes plásticas, teatro e literatura. Assim, o cinema tenta dar conta do mergulho nas pinturas que colorem a trama (na segunda parte), perpassa longas cenas de ensaios teatrais e ainda se baseia no livro de mesmo nome de Sérgio Sant´Anna. Tem no elenco Marco Ricca, Lilian Taublib e Felipe Ehrenberg. Sem contar boas participações de Adriano Stuart, Matheus Nachtergaele, entre outros. Até mesmo o roteirista Marçal Aquino faz uma figuração.

Mas nada disso me satisfez. Brant experimenta mais desta vez. Nas linguagens. Mas a sua narrativa se perde nos rococós, nas esquinas, num ritmo que faz tudo menos envolver.

Continuo fã dele. Até porque se o artista tem que fazer uma coisa é errar. O artista é sempre errante.

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volver a mirar

Até que demorei a ver Volver, de Almodovar.

No filme, Penelope Cruz é Raimunda, uma espécie de Erin Brokovich espanhola, chorona, cheia de garra e transbordando drama. No melhor estilo do diretor de Kika e Ata-me, Volver traz dramalhões, roteiro com reviravoltas de lombriga e uma história lotada de mulheres fortes e verdadeiras.

Para mim, Almodovar é o cineasta mais autoral do mundo. Em dois minutos, a gente identifica se um filme é dele ou não. Seja pela estética, pelo roteiro, pelas personagens, pelas mulheres.

Por falar em estética e mulheres, Penelope Cruz está linda, apaixonante, encantadora. Até quando chora. A atriz esbanja o charme que só as mulheres com mais de trinta podem ter.

dois filmes

Esta semana, vi o filme que deve representar o Brasil no Oscar 2007: Cinema, aspirinas e urubus. Vi em DVD, o que me deixou ir e voltar em algumas cenas e perceber detalhes que nos escapam no frenesi da telona.

Os cem minutos de duração parecem uma eternidade: o tempo parado no meio do sertão nordestino, no meio do nada, no meio da Segunda Guerra Mundial que chacoalha a Europa em 1942. A luz estourada lembra ao Cinema Novo. A paisagem paupérrima lembra à estética da fome. O choque cultural entre o alemão-que-cruza-o-país-vendendo-aspirinas e o sertanejo-esperto-malemolente-pedro-malazarte lembra a tantos outros filmes étnicos…

É bom? É ótimo. Mas não gostei. Não é que tenha desgostado, mas é que não me pegou. E olha que sou devoto de são Glauber Rocha…

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Vi hoje o Homem Aranha 3. Foi no cinema, e com meu filho de quase-três-anos e minha mulher.

Não se comparam os dois filmes, afinal são dois planetas diferentes. Mas a trama deste terceiro é melhor que as anteriores. Os efeitos são primorosos, e a gente até chega a torcer pro herói. É bom? Num certo sentido, é. Gostei? Num certo sentido, me diverti. Mas Homem Aranha 3 é menos cinema que Cinema, aspirinas e urubus.

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Entre o que é bom e o que a gente gosta há uma boa distância.

Entre o que é bom e o que nos diverte, há outra.

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