época, house, meu cérebro e o futuro da ciência

0,,165121,00A capa da revista Época desta semana me chamou a atenção no caixa do supermercado. O personagem retratado me lembrou alguém bem próximo, um parente talvez, ou eu mesmo. O fato é que trouxe comigo a edição cuja matéria de capa trata de avanços científicos nas neurociências, uso cada vez mais frequente de drogas para a expansão da inteligência e assuntos ligados à compreensão do cérebro, esse mistério.

O capista poderia, aliás, ter escolhido outra figura para ilustrar o assunto, o tal do cérebro quem sabe ou ainda um gênio qualquer. Escolheu um jumento, daí a minha identificação com a capa e o apelo comercial do qual fui vítima. Bem, o material de Época é muito bom. Não chega a deixar o leitor mais inteligente, mas certamente mais bem informado sobre o tema. São entrevistas especiais, reportagens e uma boa dose de infográficos. Me chamou a atenção a matéria de abre que conta como tem sido cada vez mais comuns os casos de pessoas que recorrem a remédios para aumentar a concentração, vencer o cansaço mental, fixar a memória e outras coisas. Não sabia que a coisa estava assim não, e até fiquei tentado a recorrer a esses anabolizantes cerebrais. Fui tentado a imaginar isso por conta de House, o médico do seriado que desvenda os mais intrincados mistérios em diagnósticos inusitados.

House é uma figura tão fascinante quanto odiosa. Para ele, o barato não é curar pacientes, vencer a morte, contornar as doenças. Para House, o que vale é desvendar enigmas, resolver problemas, e tudo entre a vida  e a morte se resume a jogos mentais, gincanas cerebrais que se ocupam de identificar nos sintomas dos pacientes as peças e suas conexões para a montagem de um puzzle.

Quem está acompanhando a quinta temporada de House sabe que nos últimos episódios – 14 e 15 -, o médico vem sofrendo de alucinações que desafiam a sua própria noção de mente. Quer dizer, House está “vendo” Amber, a namorada morta de seu amigo Wilson. As sugestões de Amber fazem com que House cometa erros de diagnóstico terríveis, e ele passa a duvidar de sua própria lucidez. Vocês sabem: House é um viciado. Sim, vive à base de Vicodin, um potente analgésico, a que ele reputa não apenas o controle da dor em sua perna mas também a uma imaginação mais criativa, uma concentração mental maior e outros super-poderes cerebrais.

Não sei até onde os roteiristas de House vão nos levar com essa história toda. Sei que é divertido ver House conversando com sua alucinação, como quem dialoga com seu inconsciente ou sistema límbico. Vez em quando, faço isso também. Pergunto para mim mesmo, como quem espera ouvir uma resposta. Não sou House, claro. Não alucinei ainda, mas inverter problemas, lançar perguntas para um espelho funciona às vezes.

Não sou a melhor pessoa para se perguntar qual o futuro da ciência com relação à inteligência. Mas outro dia ouvi uma piada que dá pistas sobre isso. Estudos mostram que hoje são gastos mais recursos com implantes mamários e próteses penianas do que com pesquisas para a cura do Mal de Alzheimer. Isso quer dizer que daqui a trinta anos, muito possivelmente, teremos idosos com corpos esculturais mas sem a menor idéia do que fazer com eles.

5 comentários em “época, house, meu cérebro e o futuro da ciência

  1. Como esta revista, em minha visão, tem apelado para a publicação de miudezas científicas, fiquei curiosa para ler esta edição elogiada por ti.
    Também gosto de House. O método usado por ele para diagnosticar é menos interessante que o humor ácido. rs. Acho que no mix de técnicas lançadas para desvendar os casos tem até leitura corporal, hipnose e sorte. =0

  2. Morri de rir com o final do post, haha! Já sou uma dependente dessas drogas pra combater o cansaço mental (e das minhas agulhinhas de acupuntura pra não infartar com tanto estresse antes dos 30). Esse mundo tá uma loucura, mesmo.

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