É preciso apurar os ouvidos para poder captar vozes dissonantes em meio ao coro. Por isso, a leitura de “La prensa ha muerto: viva la prensa!”, de Pascual Serrano, é tão interessante e necessária para esses tempos de desassossego jornalístico.
O jornalista valenciano oferece um punhado de razões para acreditar na sobrevivência do jornalismo, e como a tão propalada crise pode trazer em si muitas oportunidades de revisão de percurso. Não se trata de um rosário otimista e acrítico, mas de um volume que mantém a crença (e isso não é ruim) de que precisamos continuar a caminhar.
Para reforçar seu ponto de vista, Serrano destrincha as estruturas de funcionamento, os contextos de sobrevivência, as estratégias e os recursos (sempre limitados) de mais de uma dezena de meios que, diariamente, dão mostras de vigor e espírito: Le Monde Diplomatique, La Jornada, os já centenários La Jornada e The Nation, Brecha, IPS, junge Welt, Democracy Now! e o que o autor chama de um “boom español”.
Em linguagem clara, num tom que oscila entre o descritivo e o analítico, o livro traz diversos momentos de alento aos mais preocupados, e enfatiza as lições que a indústria do setor vem colhendo nas últimas décadas. Mais do que encher páginas e mais páginas de lamúrias, o momento é de buscar soluções, de reinventar procedimentos, de estabelecer um diálogo efetivo com os públicos e de descartar velhas fórmulas.
Modestamente, estou terminando de organizar um livro que também trata do tema. Questões para um jornalismo em crise é composto por treze capítulos que se dedicam a perguntas incômodas para nossos dias. Tratamos de jornalismo em dispositivos móveis, reportagem multimídia, crítica de mídia, das relações entre amadores e profissionais, das redes sociais, de uso de conteúdo gerado pelo usuário, de jornalismo pós-industrial, ensino e formação, entre outros aspectos. Os textos são assinados por jornalistas e pesquisadores do Mestrado e do Doutorado em Jornalismo da UFSC (Posjor), e o volume deve sair nos próximos meses pela Insular. Mais algumas vozes dissonantes que berram contra os abutres do jornalismo.