O leitor acorda com uma obsessão: ler aquele livro antes daquela viagem.
Ele sabe que não tem o volume em sua coleção. Do autor, o leitor só tem um título, que descobre que deu de presente para a esposa há 15 anos. É a dedicatória quem lembra, e mais: com espírito romântico, chega a prometer a tal viagem, menos por convicção e mais para embelezar o recadinho de dedicação.
Satisfazer a obsessão será fácil, pensa o leitor. Basta acessar a Amazon e comprar uma cópia eletrônica do livro, mas a ilusão termina em menos de um minuto. Por razões misteriosas, o único título do autor indisponível em ebook é justamente o que ele procura. Pensa em encomendar um exemplar físico, mas a entrega pode demorar mais do que ele poderia suportar.
O leitor, então, aciona o modo furtivo e recorre a sites de download clandestino de livros. Nada. Realmente, o objeto da sua obsessão não está acessível em bits. Vai até a Estante Virtual e até encontra a preços módicos, mas a entrega prevista é daqui a um século!
Cabe então uma busca peripatética por livrarias e sebos da cidade. O obcecado arruma uma desculpa qualquer para ir ao centro, convence o filho a escoltá-lo, e eles varrem os sebos campeões em ácaros e rinite, e… nada! Encontram outros títulos do autor, mas nada próximo daquela santa perseguição.
Num dos capítulos finais, ele acelera o carro para chegar a tempo de encontrar um sebo de bairro aberto. Não! Inexplicavelmente fechado antes das seis da tarde… com a tromba arrastando, o leitor volta para casa, quase derrotado. À noite, emaranhado em pensamentos, tem uma ideia que vai salvá-lo de todo o mal: a biblioteca da universidade!
O sistema eletrônico de busca arranca um sorriso do rosto do leitor. Ele só precisa atravessar uma noite de sono até resgatar o volume naquele deserto das férias escolares. Os corredores estão mal iluminados e o obcecado teme pelo fracasso quando se depara com um setor de estantes isoladas por fita e lonas. As chuvas do mês passado interditaram uma parte do acervo, muito próximo da numeração que ele buscava. Muitos livros foram atingidos pelas malditas goteiras e estão indisponíveis. Precisam se recuperar. Com passos miúdos e o coração apertado, o leitor contorna o espaço proibido e chega à estante; percorre com os dedos as prateleiras e alcança a lombada mais procurada do mundo.
De várias maneiras, aquele fanático tentou comprar o livro, e não conseguiu. Foi uma biblioteca pública que pacificou seu coração. Foi essa invenção perigosa – juntar milhares de livros e permitir que as pessoas os leiam gratuitamente! – que salvou seu dia. Foi essa criação antiga – bibliotecas públicas -, a encarnação do espírito do bem comum, que permitiu ao leitor segurar aquele surrado volume.
Olá professor!
Aqui é Cristiane Maria França Turnes, você foi meu examinador na Banca de Mestrado na PUCPR.
Estou retornando para a PUCPR, agora no Doutorado em Educação. Seguindo seu conselho para pesquisar Afetividade, Emoções e Tecnologias.
Um abraço carinhoso!