objetividade, transparência e credibilidade no jornalismo

Eu sei que o título deste post é sério demais para uma terça de Carnaval. Mas é que esbarrei em dois textos que não podem esperar a Quarta de Cinzas. Pedro Doria faz uma madura reflexão a partir dos comentários que recebeu em seu blog. O jornalista afirmou que nunca antes a imprensa brasileira havia sido tão profissional e objetiva quanto nos tempos atuais. Recebeu uma saraivada, o que o motivou a pensar (em voz alta) sobre objetividade e credibilidade no jornalismo.

Como um tema puxa o outro, Doria descambou na já cristalizada falta de transparência da indústria da mídia. Vale a pena ler com calma o post de Doria. Mesmo que você não concorde com ele, mesmo que não seja jornalista, ou nem se preocupe com essas questões. Comunicação e Jornalismo são assuntos que afetam a todos, de alguma forma e indistintamente.

Outro post muito interessante é o de Nick Diakopoulos sobre noções de transparência. O texto dele articula preopcupações interessantes comumente vistas no blog News Games, dedicado a pesquisas que ligam o jornalismo ao desenvolvimento de videogames. Diakopoulos parte do clássico “Elementos do Jornalismo”, de Bill Kovach e Tom Rosenstiel (e já publicado no Brasil), para tecer algumas considerações sobre esse nó que angustia redações, institutos de pesquisa e – por que não dizer? – escritórios de contabilidade. Vale a pena ler, mesmo que você não pense em desenvolver um game ou tente mudar a cultura de sua empresa.

um selo de ética para a web?

Patrick Thornton vem com a idéia de um selo de ética para sites na internet. O conceito dialoga com as preocupações de várias pessoas em torno de uma web com mais transparência, qualidade e confiabilidade. Segundo explica o próprio Thornton, a coisa funcionaria como as licenças de Creative Commons, já que estamos falando de internet e tratando de comunidades virtuais, redes sociais de pessoas que atuam na web.

Seriam cinco categorias, e cada uma delas teria níveis diferentes:

For instance, your blog could say that you do not accept anonymous sources, while I might accept anonymous sources as long as two-independent sources confirm the same information. This will create a lot of freedom for people to customize their specific ethics policy within our open source framework.

As categorias:

  1. Sourcing
  2. Objectivity/advocacy/opinion journalism or opinion
  3. Linking
  4. Copy editing/fact checking (does a second person fact check?)
  5. Conflicts of Interests.

O proponente do selo de ética diz que vários motivos estimulariam cada blogueiro ou dono de site a buscar certificar seus domínios na web com a nova rotulagem: transparência, marketing, satisfação dos usuários, por exemplo.

Mas a idéia, frisa o Thornton, está apenas tomando forma. Ele pede para que as pessoas divulguem o conceito, que mandem sugestões por email ou participem do online ethics wiki.
O que eu acho disso tudo?
1. O projeto parece bem intencionado. Mas desde Dante Alighieri sabemos que “o inferno está cheio de boas intenções”. Isto é, nada garante que ele tenha sucesso, que mude uma cultura, que seja incorporado pelos usuários, que se materialize em algo bom para a web e para as pessoas.
2. O projeto tem qualidades. A idéia tem o mérito de ser afirmativa, de apontar o que deve ser destacado na web por seus valores intrínsecos e não estratégias de visibilidade e outros mecanismos. O blog ou site deveria reunir condições e características que o distinguissem por valores e conteúdos relevantes, o que – em tese – tenderia a separar bem o joio do trigo.
3. O projeto toca em pontos nevrálgicos na web e ainda pouco explorados. O tema da ética é altamente polêmico. É um assunto que todos dizem defender ou gostar, mas pouca gente estuda e trabalha por ele. Sejamos francos. Também contaminam as discussões diversos interesses (inclusive conflitantes), uma carga pesada de subjetivismo, doses generosas de ceticismo e cinismo. Mas acho importante alguém colocar a cabeça para pensar e se arriscar para trazer esse tema para a discussão. O caso mais ruidoso e recente de que me lembro foi o de Tim O’Reilly que propôs um código de ética para a blogosfera e foi bastante rechaçado.
De qualquer forma, é uma idéia a ser discutida. Vai dar certo? Não tenho tanta certeza. Vai ter adesão? Penso que alguma. Vai ser implementada? Quem vai dizer será a comunidade…

a crise americana e nós

Ando perdendo muito dinheiro com a crise de confiança nos mercados.
Mas não vou me queixar neste blog. Vou mesmo é matar meu consultor de finanças…

Só quatro numerinhos:

1. O governo Bush quer repassar US$ 700 bilhões pro setor financeiro.

2. O rombo, na verdade, é maior, segundo comentário de Joelmir Betting, ontem na Band: US$ 1,5 trilhão.

3. O PIB brasileiro em 2007 foi de R$ 2,6 trilhões, o que convertido em dólar (câmbio de hoje) daria perto de US$ 1,4 trilhão.

Isto é, o governo Bush quer transferir meio PIB do Brasil pros bancos.
É ou não é um bom negócio ser banqueiro em qualquer parte do mundo?

a solução para a crise de wall street

# New York: Histeria na mídia internacional com a crise em Wall Street.


# Belém:
Fui conferir no Mercado Ver o Peso como a crise de confiabilidade no sistema financeiro norte-americano está afetando os negócios por lá. Vendedores de peixe, de frutas e de outras comodities me garantiram que o movimento continua normal, apesar da quebradeira lá fora.

Mesmo com a crise da Bolívia e o efeito dominó que derrubou as bolsas mais importantes do mundo, o vendedor Miguel está otimista. Para ele, a tendência é melhorar no mês seguinte, quando Belém virá o maior cenário religioso do país com o CÍrio de Nazaré. A crise em Wall Street não provoca temor no empresário. “Pode piorar um pouquinho em casa, aumentando o preço do arroz e do feijão. Mas não afeta as vendas aqui!”, garantiu.

Mais do que otimista, Miguel parece altamente confiante. Na Banca da Flora, onde vende essências de patchouili e de andiroba – entre outras mais -, ele apresenta um produto que pode ser a solução para o caos no exterior: seu viagra natural, à base de ervas e raízes da Amazônia.

Miguel dá a receita para a crise.

debate hoje sobre qualidade da imprensa catarinense

Acontece hoje à noite, a partir das 19h30, no Auditório do Centro de Vivência da Univali (em Itajaí-SC), um debate sobre a Qualidade da Imprensa Catarinense. A discussão reúne os professores Laura Seligman, Valquíria John e eu, que trarão suas turmas de alunos da sexta para uma atividade conjunta. O debate deve apresentar pesquisas em andamento sobre o tema e um balanço do projeto Monitor de Mídia, que acaba de completar sete anos.

Após o debate, teremos ainda o lançamento do livro “Observatórios de Mídia: Olhares da Cidadania”.

o destino do jornal: um livro, um comentário e muitas questões

Acabo de ler “O destino do jornal”, livro de Lourival Sant’Anna, editado pela Record. A leitura é rápida, o texto é claro e atraente, e o assunto – o leitor deste blog já sabe – me interessa muito. Mas para além dessas rápidas impressões, muitas outras coisas ficam dessa leitura.

A primeira delas é que o livro vem em boa hora, afinal é rara no Brasil a bibliografia que discute jornalismo pelo prisma de negócio, pela vertente mais mercadológica. Parece reinar entre nós um pudor ao tratar de notícias e informações como produtos. Como eu disse, há pouquíssimas obras que se debruçam sobre o nosso jornalismo sem melindres para analisá-lo pela ótica de um mercado, de uma indústria. Vém-me à cabeça o livro da Cremilda Medina – “Notícia: um produto à venda” -, mas que foi editado há pelo menos duas décadas. Outros títulos poderiam ser aqui citados, mas a ligação que faço entre “O destino do jornal” é com outro livro: “O papel do jornal”, de Alberto Dines.

Essa correspondência se faz para mim por algumas razões um tanto óbvias: os dois livros partem de ambientes de crise para discutir jornalismo, sua natureza e seu futuro. Os dois livros concentram-se nas empresas nacionais do ramo. Os dois livros já nasceram como clássicos porque, mesmo tratando de questões conjunturais, não deixam de considerar os aspectos estruturais que afetam o negócio do jornalismo. Se o gatilho de Dines havia sido a alta do papel de imprensa nos anos 70, o de Sant’Anna é a alardeada queda nas tiragens dos jornais, detectada no mundo todo, mas com algum respiro visível por aqui na última década.

É verdade que talvez o livro de Dines tenha mais perenidade que o de Sant’Anna, mas os dois volumes não apenas nos convidam a pensar em soluções para esse negócio de vender informações, como também nos incitam a discutir o próprio destino de um meio que sempre foi capital para as sociedades democráticas.

Aspectos como rentabilidade, equilíbrio contábil, busca de receitas e inovação tecnológica são tratados por Sant’Anna na mesma proporção de que se defrontam com “bens intangíveis”, como prestígio, credibilidade e fidelidade do leitor.

O livro de Dines nasceu de suas reflexões à época, enquanto que o de Sant’Anna é a versão livresca de sua dissertação de mestrado. Dines não foca sua análise num meio em especial, mas Sant’Anna se pergunta como três dos maiores jornais brasileiros – a Folha de S.Paulo, O Globo e O Estado de S.Paulo – vêm enfrentando um cenário de concorrência maior (com a web, as revistas e a TV a cabo), de mudanças nos hábitos de consumo dos leitores (queda no tempo de leitura e diminuição de tiragens pelo mundo afora) e de necessidade de adaptação e inovação tecnológica.

Outro dia, mencionei o livro de Philip Meyer – “Os jornais podem desaparecer?” -, ressaltando a necessidade de termos uma reflexão brasileira sobre essa transição de mídia tão ruidosa. Bem, o livro de Sant’Anna vem neste sentido, sem esgotar a questão, evidentemente. Poderá abrir espaço para novos lançamentos e discussões. O acento de Sant’Anna – entre o acadêmico e o profissional – também é muito bem vindo, já que essa oposição é improdutiva, preconceituosa e limitante.

Ontem mesmo, meu chapa PHSousa comentou a entrevista de Rosenthal Calmon Alves ao Estadão. PH escreve:

Eu acho que devem abandonar o hard news, que fica para TV e internet. Os jornais de papel devem se voltar para reportagens menos factuais. O que você acha?

Bem, não penso muito diferente, apesar de ter uma certeza: o problema é complexo. Isto é, diversas variáveis incidem na sobrevivência de alguns meios e na própria convivência das diferentes mídias. Não se pode deixar de lado, por exemplo, o conjunto de movimentos na audiência e nos hábitos de consumo. O Pew Research Center for the People and Press publicou esses dias um estudo muitíssimo interessante sobre as mudanças que a audiência vem exibindo a partir do desenvolvimento de novas mídias. O relatório da pesquisa, em suas 129 páginas, aponta para diversas “chaves” para o entendimento do cenário da mídia, a norte-americana, mas que pode se projetar por aqui também.

O estudo mostra que as notícias online ainda está em compasso de crescimento, mas mostra ainda que os consumidores de informação cruzam as mídias, buscam integrá-las em sua dieta informacional, entre outros aspectos.

Gestores e jornalistas precisam estar atentos a isso.

Ao mesmo tempo, ReadWriteWeb aponta para o NewsCred, sistema que promete distribuir as notícias com mais credibilidade, agregando conteúdos de diversos meios. É semelhante ao Digg e ao NewsTrust. Mas quem está por trás do NewsCred se apressa em mostrar as diferenças:

We love Digg and other social ranking sites, but NewsCred is completely different. We are using technology and the ratings from our user community to select the most credible articles. NewsCred selects quality, while Digg presents popularity. This is a fundamental difference in our approach, and we feel this difference is what will change the way we access news content forever.

We’re taking content from traditional, mainstream new sources, combining them with established blogs, and selecting only the highest quality articles that are relevant to you. We’re throwing in some real innovation to make the selection and filtering process the easiest you’ll see on the web, and fun too.

Esta é uma solução? Não sabemos ainda. O fato é que a corrida já está acelerada. Tem muita gente preocupada com o futuro dos jornais, com o presente da internet. O 7º Congresso Brasileiro de Jornais, que aconteceu esta semana, não se esquivou dessas questões. O discurso em uníssono é o de que qualidade e credibilidade andam juntas, mas deve -se atentar sempre para as questões de equilíbrio financeiro. Mesmo assim, os proprietários de jornais têm sorrido de orelha a orelha. A carta de abertura do evento, dirigida aos empresários do setor, não poderia ser mais otimista:

Depois do excelente desempenho do ano passado, quando tiveram aumento de circulação de 11,80% e subiram sua participação no bolo publicitário para 16,28%, os jornais brasileiros continuam a exibir números muito positivos. O mais recente levantamento do Projeto Inter-Meios, principal referência do mercado brasileiro, mostrou que no primeiro trimestre de 2008 os investimentos publicitários nos jornais cresceram 23,72%, comparando-se com igual período do ano passado. Com isso, em março a fatia dos jornais no bolo publicitário chegou a 19,40%.

Então, o livro de Lourival Sant’Anna está vendo fantasmas onde eles não existem?

Claro que não. O livro traz alertas, coloca o dedo nas feridas e deixa nervos expostos. O mercado brasileiro não está isolado numa bolha de prosperidade, blindado contra crises. Há questões estruturais que já afetam a indústria dos jornais por aqui. Sant’Anna não é o arauto do apocalipse, mas está de olho.

brasileiros confiam mais em blogs

A notícia não é nova, é do finalzinho do mês passado. Mesmo assim, vale a pena repetir a notícia do Comunique-se:

“Em pesquisa realizada por e-mail com 1820 participantes em todo o Brasil, o Instituto de Pesquisas Qualibest indica que 12% do total de entrevistados acreditam totalmente e 86% acreditam parcialmente nas informações que encontram em um diário virtual. Já 72% dos entrevistados afirmaram que, por meio dos blogs, já obtiveram informações que ajudaram a formar uma opinião sobre uma marca ou serviço.

O estudo, que teve por objetivo construir o perfil do leitor de blogs no Brasil e avaliar quais são os blogs mais lidos e conhecidos no País, aponta que 89% já acessaram algum, pelo menos uma vez, e a média de acessos diários é de uma para a maioria dos entrevistados, e de duas ou mais vezes, para 25%. Quanto ao tempo de acesso, 60% afirmam que dedicam menos de uma hora a cada acesso e 34% gastam de uma a duas horas. Entre os temas preferidos estão curiosidades (18%), humor (15%), internet (10%), seguidos de notícias e tecnologia em geral (9% cada). Apenas 9% dos entrevistados costumam acessar blogs internacionais

Os sites de busca (48%) e recomendações de outras pessoas (30%) foram apontados como as formas mais citadas para se conhecer um blog novo. A leitura do conteúdo foi o recurso mais citado (86%), sendo que a maioria dos entrevistados acredita que fotos e vídeos são os recursos mais importantes em um blog.”

ainda sobre o futuro dos jornais

O caderno Mais! da Folha de ontem veio com o tema que mais preocupa os publishers pelo mundo afora: o futuro dos jornais. Com um texto de abertura da editora executiva Eleonora Lucena, a Folha trouxe um longo artigo do jornalista Eric Alterman, que saiu originalmente na New Yorker em 31 de março passado. Trouxe isso, consumiu 5,5 páginas e deu. Ponto. Nem mais um pio sobre o assunto, ninguém mais escreveu ou discutiu o palpitante momento na edição.

Para um jornal como a Folha, é pouco.
Para a crise que se anuncia sobre o setor, é pouco.
Para o momento da imprensa brasileira, que comemorou no início do mês 200 anos, foi pouco.

Foi insuficiente, mas não só.

Conforme escreveu Adriana Alves Rodrigues no GJOL, o leitor atento percebeu uma certa confusão nos discursos ali estampados. A editora da Folha adota um tom otimista, despejando estatísticas que mostram um desempenho positivo do setor em no Brasil e nas economias emergentes (leia o texto dela aqui: para assinantes). Eleonora Lucena tem razão: por aqui, a coisa ainda não pegou pra valer, e uma certa reinvenção da imprensa se deu com o desembarque nas bancas da chamada penny press, formada por jornais mais baratos, mais quentes e voltados para um público ainda inexplorado.

Já o artigo de Eric Alterman beira o tom sombrio (veja aqui. Para assinantes). Ele escancara a situação norte-americana, a queda das tiragens, a migração de parte do bolo publicitário, uma disputa cada vez mais acirrada entre jornalistas e blogueiros. É uma aula de jornalismo. Uma aula de mercado. Mas jornalismo e mercado norte-americanos.

Neste sentido, a Folha falhou mesmo. Faltou complementar o tema com textos de gente daqui que pudessem oferecer tanta análise e interpretação quanto Alterman. O texto de Eleonora é claro, interessante, mas pouco analítico, mais informativo. Por aqui, já temos uma história de mídia na web e gente como Carlos Castilho, Marcelo Tas, Beth Saad, Pedro Doria, entre outros, poderiam oferecer análises tão densas e amplas quanto à gringa.

Alguns dados fazem pensar:

  • 2,6% é quanto crescem os jornais no mundo atualmente
  • 11,8% é quanto eles crescem no Brasil
  • Os jornais abocanharam em março 19,4% do bolo publicitário no país
  • 42% a menos valem as empresas de jornais nos EUA, e a queda tem sido impiedosa
  • Os leitores têm sido cada vez mais raros entre os mais jovens
  • O mercado norte-americano tem extinguido postos e mais postos de trabalho nas redações
  • Pesquisas lá mostram a queda vertiginosa da confiança na mídia
  • Aqui, também cresce a desconfiança, mas a mídia não é a única instituição a perder terreno

A crise dos jornais, a invenção de novas plataformas de consumo e distribuição de informações e a convergência midiática têm levado a indústria do setor a um comportamento esquizofrênico: tenta ser audaciosa em alguns casos, buscando soluções, mas atirando sem mira; ao mesmo tempo em que fica imóvel, fingindo-se de morta e aguardando uma solução dos céus…

O Mais! de ontem, na Folha, mostra o quanto a mídia ainda peca na análise de seu próprio mètier. Não consegue um distanciamento seguro que lhe permita uma avaliação mais ampla e serena do caso. Não mobiliza mais recursos para o debate que se faz necessário. Não contagia – para além dos diretamente interessados: empresários, jornalistas e pesquisadores da área – mais ninguém com o assunto. Um tema que deveria interessar a todos da esfera pública.

(Se você não é assinante da Folha e não consegue ler os textos da edição de ontem, não desanime. O artigo de Alterman, no original, está aqui… aberto para leitura.)

(Enquanto isso, nos Estados Unidos, durante a FreePress – a conferência internacional que discute reforma na mídia e transformações na democracia -, o jornalista Bill Moyers deixou a platéia eletrizada com sua fala e as perspectivas sobre o futuro das grandes corporações midiáticas. Leia aqui ou assista aqui)

já temos a “barriga” do ano!

No Observatório da Imprensa desta semana – que acaba de chegar à rede -, há vários textos comentando o erro jornalístico mais ruidoso da imprensa nacional em 2008. Isso mesmo! A suposta queda de um avião de passageiros da Pantanal sobre um prédio em São Paulo. Na verdade, tratava-se apenas de um incêndio. Mas a blogosfera reagiu mal à pressa dos jornalistas.

Para saber mais:

Sobre as contradições do jornalismo – texto de Venício A. Lima no Observatório da Imprensa

Noticiário de telejornal derruba avião – de Gilson Caroni Filho, também no OI

Avião atinge prédio, ou loja de colchões, ou de tapetes – de Urariano Mota, no OI

Guerra dos Mundos nas chamas de MoemaMauricio Pontes, no OI

GloboNews derruba avião da PantanalManuel Muñiz, no OI

Divulga-se primeiro, para se confirmar depoisAdriano Faria, também no OI

No blog do GJOL, há três links:

UOL derruba avião da Pantanal em cima de loja de colchões

Avião que Record, Globo e UOL derrubaram chega à Espanha e Alemanha

Como se derruba um avião: efeito dominó

Que barriga!

credibilidade, confiança, reputação: 4 links

1. Na Slate, Chris Wilson demole a suposta democracia da web 2.0. Para isso, usa como exemplos a Wikipedia e o Digg.

2. No CyberJournalist, uma survey sobre a credibilidade online.

3. Marcos Palacios comenta o livro de Adrian Monck que questiona a credibilidade da mídia através da história.

4. O próprio Monck apresenta o sumário de seu “Can you trust the media?”

confiança e credibilidade: questões

O sempre inquieto Rogério Kreidlow deixou comentário neste blog que me deixou fervilhante de idéias.

Tomo a liberdade de reproduzir o texto aqui na forma de um diálogo. Assim: as provocações dele me impelem a responder (ou a perguntar) mais sobre credibilidade e confiabilidade.

“Estou lendo o Confiança, credibilidade e reputação: no jornalismo e na blogosfera e uma coisa que me ocorreu agora: a credibilidade não passaria também por uma identificação pessoal, personalista, com quem transmite a notícia? Será que critérios de afinidade não podem, de alguma maneira, solapar uma pretensa objetividade?”

Sim, eu acho que a credibilidade passa por diversos estágios e afeta várias dimensões, que vão tanto de fatores externos quanto internos. Passa por autoria, por estilo, pela autoridade (ou legitimidade) de quem escreve ou narra. É curioso perceber, por exemplo, que autoria e autoridade têm o mesmo radical. E a credibilidade se dá numa medida em que se confia, se delega poderes, se confia atributos a alguém. Isto é, reconhece-se uma autoridade, uma legitimidade naquele que narra.

Sobre a objetividade, acho que outros fatores também contribuem para a sua corrosão e não diretamente a credibilidade. Mas é algo a se pensar…

“Penso nos seguintes casos: alguém que assiste determinado apresentador (não vou citar nomes, mas pode-se imaginar), mesmo que ele seja sensacionalista, seja “comprado”, etc., não lhe delega credibilidade pelo simples fato de gostar dele, de ter afinidade com ele? Digo porque se de repente aparece um apresentador desbocado, por exemplo, xingando deus, a política e o mundo, e vai haver ibope, vai haver audiência. Se essa pessoa for para um blog, principalmente se tiver saído de um meio televisivo, vai ter audiência também.”

Sim, pode vir a ter audiência sim. Há pesquisas nacionais e internacionais que mostram que personas mais conhecidas tendem a ter mais visibilidade ainda em blogs do que anônimos nas mesmas circunstâncias. Mas no seu exemplo, acho que incidem ainda outros aspectos, como o fator polêmica, o fator conservadorismo, etc…
“Será que o público busca só credibilidade ou busca o que lhe agrada, mesmo com credibilidade duvidosa? Se a segunda opção for verdadeira, como estabelever pesquisas de opinião que pretendam medir a credibilidade  ou tratar dela de maneira mais ampla (quando passa por critérios particulares e não universais)?”

Sinceramente, não acho que o público busque credibilidade. Penso que ele busque informações que possa confiar, que possa tomar como verdadeiras. Se nesta procura, passa-se a gostar do estilo de certo comunicador, a tendência é se convencer com mais facilidade. A identificação atuaria como um catalisador deste processo. O público, em minha hipótese, não se preocupa com credibilidade, mas com veracidade, com confiabilidade. Como se tivéssemos a seguinte operação: você busca informação verdadeira e se percebe em mim algo semelhante, passa a me ter como confiável e a me dar créditos por isso. Aliás, perceba como credibilidade e crédito têm parentescos. Quando acredito em alguém, dou créditos a ele, transfiro reputação, reforço suas credenciais de alguém confiável.

Sobre a sua segunda pergunta, eu precisaria pensar mais. (Mas outros leitores deste blog podem entrar na discussão. Socorram-nos!!!)

“Outro caso: colunistas esportivos. Busca-se o que dá a informação melhor, mesmo que mais seca, ou o que polemiza mais, mesmo que exagere? Tem gente para os dois casos, é claro. Na política a coisa se complica mais: confio mais nesse jornalista porque simpatizo, também, com tal partido do qual ele fala bem, e por isso ele tem “mais credibilidade” para mim? Na religião nem se fala, estamos assistindo os (maus) exemplos.”

Acho que há público para todos os gostos e mau gostos. E a questão da credibilidade em si é mesmo muitíssimo complexa. Não é à toa que se pesquisa, se fala e se busca tanto isso. Qual um santo graal.

(Obrigado, Kreidlow, pela oportunidade do diálogo. Continuemos matutando e ruminando)

confiança e credibilidade…

Jaciara de Sá Carvalho retoma o assunto que me faz perder o sono, vez em quando: confiança.

No meu caso em particular, confiabilidade e, por extensão, credibilidade.

Vamos por partes, como já disse o rapaz dos becos de Londres.

Jaciara volta ao assunto para comentar suas leituras mais recentes. Ela menciona artigo de Rogério Costa – denominado “Por um novo conceito de comunidade: redes sociais, comunidades pessoais e inteligência coletiva – que ressalta a importância da confiança para o fortalecimento e manutenção dos laços das comunidades na web.

O assunto me interessa quando se fala de confiança das instituições (como a mídia) e de credibilidade dos meios de comunicação. No ano passado, concluí a orientação de uma pesquisa – financiada pelo UOL – em que tentávamos identificar elementos para a credibilidade dos blogs no jornalismo online. Por enquanto, apenas dois artigos resultantes da pesquisa, foram publicados (em co-autoria com Ana Paula França Laux), e podem ser consultados online:

Blogs jornalísticos e credibilidade: cinco casos brasileiros – revista Communicare

Confiabilidade, credibilidade e reputação: no jornalismo e na blogosfera – revista da Intercom

Ando escrevendo e pensando ainda sobre isso, mas nada muito sistematizado. Quando sair fumaça branca, aviso. No momento, a credibilidade na qual venho trabalhando é a que pode estar associada à Wikipedia como fonte de pesquisa escolar. No Mestrado em Educação, concluo a orientação de uma dissertação que trata exatamente desse tema. Por razões óbvias, não posso adiantar os resultados a que minha orientanda – Marli Vick Vieira – chegou, mas posso garantir que o trabalho está muito interessante. Para professores, alunos e pesquisadores da área.

credibilidade, reputação, recomendação

Jemina Kiss escreveu no The Guardian de ontem que a Web 3.0 vai se preocupar com rankeamento e recomendação.
Ela disse:

“While the Tim Berners-Lees of this world work out how to make the language of the web function more effectively behind the scenes, our front-of-house task is to get stuck in and intelligently work these technologies into our businesses. It is not enough to understand the strategy behind these new applications, such as Twitter and Reddit – they rely on participation. Tokenism won’t do.

Recommendation is nothing new, of course. Amazon has been pushing “people who bought this also bought this” for years, and tools like eBay’s trader ratings system are staple. Things get more interesting as the technology gets cleverer; hence we get automated recommendation and personal recommendation”.

 (…)

“Above all, the most reassuring trend is that the values of credibility and trust are more important than ever in the ocean of information we have to navigate every day. The technology is not enough on its own, and that should be a comfort to editors everywhere”.

Meus palpites vão na mesma direção. Vamos acompanhar…

Josh Catone dá uma prévia do texto dela e comenta sobre personalização aqui.

Mas se você quiser ir direto à fonte, vá por aqui.

credibilidade da mídia: mais um capítulo

Reproduzo excelente texto de Venício A. Lima no Observatório da Imprensa.

A (des)confiança na mídia

Telespectadores da edição de terça-feira (22/1) do Jornal da Globo e leitores do jornal O Globo (24 e 25/1) foram surpreendidos com a informação de que “brasileiros confiam mais na mídia” e que “o governo ficou em último lugar” (entre as instituições mais confiáveis), segundo pesquisa realizada por uma empresa de nome Edelman. Surpreendidos porque outros resultados divulgados recentemente indicam tendência exatamente oposta.O que justificaria mudança tão repentina na opinião dos brasileiros?Um estudo mundial sobre a credibilidade das instituições, contratado pela BBC, a Reuters e o The Media Center, realizado em março de 2006, revelou que, no Brasil, mais da metade dos entrevistados – ou 55% – declarou que não confiava nas informações obtidas através da mídia. Entre todos os países pesquisados, esse percentual era igual ao da Coréia do Sul e só não era maior do que o obtido na Alemanha (57%). Além disso, a pesquisa revelou que, comparativamente, o Brasil era o país onde os entrevistados estavam mais descontentes com a sua própria mídia: 80% disseram que a mídia exagera na cobertura das notícias ruins; 64% concordam que raramente encontram na grande mídia as informações que gostariam de obter; 45% não concordam que a cobertura da grande mídia seja acurada; e 44% declaram ter trocado de fonte de informação nos 12 meses anteriores por terem perdido a confiança [ver, neste Observatório, “Pesquisa revela a (des)confiança na mídia“].

Parte da elite

Por outro lado, além das sucessivas pesquisas de opinião realizadas pelos principais institutos brasileiros (Ibope, DataFolha, Sensus, Vox Populi) indicarem índices positivos de avaliação do governo, o LatinoBarômetro 2007 divulgado em novembro de 2007 mostrava que o presidente do Brasil foi o mais bem avaliado da América Latina (ver aqui).

Ao contrário, a notícia publicada no jornal O Globo (25/1, A-8), com o título “Brasileiros confiam mais na mídia” e subtítulo “Pesquisa mostra que imprensa tem credibilidade para 64%; governo, para 22%” afirma que:

“Pesquisa realizada pela multinacional de relações públicas Edelman mostrou que 64% dos brasileiros consideram a mídia a mais confiável das instituições. Conforme informou ontem a coluna Ancelmo Gois, no Globo, o governo é a instituição de menos credibilidade para os brasileiros – apenas 22% das pessoas ouvidas disseram ter confiança” [ver abaixo texto integral da matéria].

Um leitor atento, no entanto, que não se inclua entre os brasileiros entrevistados e não confie tanto assim na mídia, poderá, ele próprio, visitar o site da Edelman – a maior empresa de relações públicas do planeta, com sede em New York/Chicago e escritórios em 46 cidades de 23 países dos 5 continentes, inclusive São Paulo – e obter informações fundamentais que não encontrará na matéria de O Globo sobre a tal pesquisa.

O “2008 Edelman Trust Barometer” foi realizado nos meses de outubro e novembro de 2007 e os 150 (isso mesmo, cento e cinqüenta) entrevistados, por telefone, no Brasil, são considerados (por quais critérios?) “líderes de opinião” – 50 deles entre 25 e 34 anos e 100 entre 35 e 64 anos. Eles têm curso superior, pertencem aos 25% detentores do maior nível de renda por domicílio e têm grande interesse em assuntos relacionados à mídia, à economia e aos negócios públicos.

Trata-se, portanto, de uma amostra de parte da elite brasileira, sem qualquer representatividade do conjunto da população.

Amostras representativas

Lendo e relendo os textos das matérias de O Globo e do Jornal da Globo, fica-se com a impressão de que eles foram escritos deliberadamente para passar a impressão (falsa) de que a maioria dos brasileiros confia mais na mídia do que no governo. As matérias, ao não contextualizarem a informação e omitirem dados essenciais sobre a pesquisa da Edelman, acabam por contar uma meia verdade que esconde uma inverdade.

Não é sem razão que a credibilidade da mídia, revelada por pesquisas feitas com amostras estatisticamente representativas do conjunto da população, é – ao contrário do que diz O Globo – cada vez menor entre os brasileiros.

giro rápido

credibilidade da mídia: novos números, velhas questões

A questão mais importante para a mídia é a da credibilidade. Tanto faz se estamos falando de jornais tradicionais ou de novos meios de comunicação. O problema da confiabilidade do veículo e das informações que transmite está intimamente ligado a aspectos como a qualidade do serviço de comunicação prestado, a penetração e manutenção em mercados, e a própria sustentabilidade dos negócios da mídia.

Neste sentido, não é exagerado dizer – como já o fez Eugenio Bucci em seu Sobre Ética e Imprensa – que a credibilidade é o maior patrimônio que um jornalista pode ter. Sem ela, não há respeito por parte dos pares e das fontes de informação, não há respeito por parte dos empregadores e consumidores de informação. Jornalista sem credibilidade é como cirurgião sem mãos. Não há saída.

 A dança dos números
Nesta semana, li duas pesquisas que me chamaram a atenção. A primeira delas foi patrocinada pela Associação dos Magistrados do Brasil sobre a imagem e a confiabilidade de instituições públicas. Com margem de erro de 2,2 pontos percentuais, a pesquisa ouviu por telefone 2011 pessoas em todo o Brasil no período de 4 a 20 de agosto passado. Lanço alguns dados aleatórios:

  • 75,5% das pessoas disseram confiar na Polícia Federal
  • 74,7% disseram confiar nas Forças Armadas
  • 81,9% disseram não confiar nos políticos
  • 50% não confiam na Justiça, mas 71,8% dizem confiar nos juizados de pequenas causas
  • 84,9% dos ouvidos acreditam que a corrupção pode ser combatida
  • 59,1% confiam na imprensa enquanto que 32,4% não confiam

A segunda pesquisa a que tive acesso foi desenvolvida pelo Ibope e concentra-se em elementos para determinar sustentabilidade. Para isso, foram ouvidos 537 executivos de 361 grandes empresas brasileiras.

Lanço alguns resultados:

  • Instituições governamentais inspiram maior confiabilidade
  • No Estado, o setor que ainda se mantém bem é o Correio
  • Para 52% dos entrevistados, a Tv aberta é confiável sempre. Mas este percentual era de 61% há dois anos
  • Os índices de alta confiabilidade caíram também para os jornais (de 79 a 73%), para a TV fechada (de 74 a 67%) e para as emissoras de rádio (de 81 para 71%)
  • Os índices de “confia sempre” se mantiveram entre as revistas (87%)
  • Só na internet é que a coisa melhorou um pouquinho, de 49% passou para 50%
  • Apesar da queda da confiabilidade alta, o jornal impresso ainda é o de maior credibilidade entre os entrevistados

Quando se olha para outro aspecto, a percepção de eficiência dos meios, um aspecto chama a atenção. Internet e TV fechada são os principais meios. A internet saltou de 29% em 2005 para 75% este ano. TV fechada passou de 24% para 54%. Do outro lado da gangorra, ainda no quesito “percepção de eficiência dos meios”, os jornais despencaram de 34% para 18%, as revistas caíram de 48% para 25%, a TV aberta caiu de 65% para 49% e as emissoras de rádio de 34% para 20%.

Dos números às conclusões 
Pesquisas existem aos montes. Umas mais confiáveis, outras menos. Inclusive as pesquisas sobre confiabilidade das instituições. No caso das que acabei de citar, trata-se de estudos que, se não acertam na pinta, não ficam muito longe do alvo. As duas pesquisas convergem no sentido de que a mídia vem perdendo credibilidade como outras instituições nos últimos anos. E é possível perceber – pelo menos no estudo do Ibope – que a queda da credibilidade dos meios tradicionais pode estar diretamente ligada à queda da percepção de suas eficiências como veículos. Basta juntar os números e perceber.

Os meios tradicionais têm caído no conceito das pessoas porque não têm atendido às suas expectativas. Isto é, credibilidade rima como eficiência, com qualidade.

Na verdade, esse vínculo necessário não é nenhuma descoberta milagrosa dessas pesquisas. Os números apenas reforçam e nos lembram que não se pode fazer omeletes sem quebrar ovos. Isto é: jornalismo de qualidade/comunicação eficiente garante os corações e as mentes do público…

uma série para não perder de vista

obssssss.gif

O Observatório da Imprensa está publicando uma série de quatro artigos de Eugenio Bucci sobre jornalismo, liberdade e responsabilidade social. O conjunto tem o título geral “A imprensa e o dever da liberdade – a responsabilidade social do jornalismo em nossos dias”. Alguns dos textos vão compor um livro que a ANDI deve lançar ainda este ano, articulando conceitos como desenvolvimento humano, políticas públicas e jornalismo responsável.

  • O primeiro artigo do jornalista foi “A missão de servir ao cidadão e vigiar o poder” e pode ser lido aqui.
  • O segundo artigo, publicado esta semana no OI, é “A liberdade de imprensa entendida como um dever”, e pode ser conferido aqui.

Esta é uma série que não pode ser ignorada por aqueles que se interessam por pensar o jornalismo na sua dimensão ética e prática com a sociedade.

credibilidade não é fácil assim

Diego Monteiro – ainda no rescaldo do debate na TV Estadão sobre a credibilidade dos blogs – faz uma proposta pontual: criar uma rede para a criação do “site mais relevante do Brasil”. A idéia é simples: “reunir pessoas inteligentes o suficiente pra escrever coisas interessantes, agindo em cooperação (em rede) e um suporte eficaz de infra-estrutura (retaguarda)”, condição única para conseguir o feito, segundo Monteiro.

Ora, a iniciativa é positiva. Aliás, tudo o que a blogosfera fizer para ampliar a confiabilidade de suas informações ajudará não apenas aos blogueiros, mas à internet em geral. A campanha do Estadão poderia realmente provocar esse tipo de reação: criativa, afirmativa, propositiva, concreta.

Mas embora seja interessante a proposta, penso que o problema da credibilidade não é tão solucionável assim. Se o fosse, experiências como o NoMínimo, por exemplo, deveriam estar aí e não estão. Havia muita gente inteligente e que escrevia bem ali reunida. Mas só isso não basta. Há que se combinar relevância, interesse, credibilidade a condições de sustentabilidade. Afinal, a gente é blogueiro mas tem que pagar contas e sobreviver.

Reunir um bom time é uma saída inicial para se alavancar público e aumentar a visibilidade de iniciativas individuais. É o que se pode ver por exemplo no +D1, coletivo de blogs catarinenses. Mas isso custa. Esforço, tempo, energia e alguns reais.

Mas visibilidade não é o mesmo que credibilidade. Ser visível pode dar a entender que é relevante, mas nem sempre uma coisa é igual a outra. O Programa do Ratinho tinha uma grande audiência na década de 90, mas sua credibilidade não acompanhava o sucesso no Ibope. Não se consegue a atenção do público à força. Não se arranca os olhos do telespectador assim. Credibilidade é construção, é pacto de confiança, é um encontro entre oferta e expectativas. Não nasce de um dia para outro.

estadão X blogs: o debate (1)

Só agora sistematizei minhas idéias do que li, vi e ouvi sobre o debate na TV Estadão sobre Responsabilidade e Conteúdo Digital.

Inicialmente, me chamou muito a atenção o título da mesa redonda. “Responsabilidade”… “Conteúdo Digital”… Ressoa as preocupações anteriores do Estadão – quando por exemplo lançou seu brevíssimo código de conduta online – e não trata diretamente da questão que motivou o próprio debate: Credibilidade. (É só lembrar a campanha publicitária que enaltecia o jornal em detrimento de sites e blogs…)

Não vi o debate ao vivo. E foi bom. Me permitiu pensar com calma.

Assisti depois ao vídeo deixado no YouTube, cujo arquivo não traz a totalidade da discussão, mas que dá uma boa visão geral.

De início, destaco algumas questões levantadas:

  • Vivemos uma adolescência da internet no Brasil?

  • Com todo o mundo sendo produtor, emissor de informação, está faltando receptor?

  • Tem muito lixo na blogosfera?

  • A blogosfera só tem lixo?

  • Há tanto lixo na blogosfera porque falta qualidade no receptor?

estadão X blogs: o debate (2)

Sinceramente, não sei se estamos numa puberdade da internet no país. E nem me interessa saber disso, ou tentar classificar a coisa nesses termos. Não acredito que a mera taxonomia resolva muitas questões. Não acho que ao menos nos possibilite entender melhor o cenário mutante que vivemos. De qualquer forma, é muito infantil reverberar o segundo questionamento acima.

Ora bolas! Jornalistas são produtores de informação, certo? Certo. Mas também se informam, lêem livros e jornais, conversam, pesquisam, buscam dados e assistem à TV. Quer dizer: são consumidores de informação também. Trocando em miúdos: a vigência de um estado não elimina o outro. Produtores de informação também são consumidores, são receptores e emissores. Se isso já acontece com a mídia tradicional, a interpenetração das personas se agudiza mais na web, na blogosfera, facilitado pelas condições de difusão de informação e pelo acesso razoavelmente fácil a muitas outras.

Então, é uma tremenda idiotice temer que falte público porque “todos estão se tornando emissores, todos estão virando blogueiros”. Até porque todos NÃO estão se tornando blogueiros. Isso é uma ilusão. Basta levantar números da internet no país e no mundo, basta cotejar com dados de alfabetização e indicadores sociais, sanitários e de mobilidade. O mais próximo é dizer que a blogosfera vem crescendo muito nos últimos tempos, em tão poucos anos, o que nos dá a impressão de um dia todos terem possibilidade de contribuírem para isso.

Daí, já passo para as duas questões seguintes, as do lixo demasiado na web.

Toda a raiva que li e ouvi pelos blogs nas semanas de ofensiva contra a campanha do Estadão parecia ter escorrido pelo ralo. Os blogueiros na mesa redonda eram uns lordes, autênticos aristocratas que deleitavam-se em franca tertúlia. Vários chegaram a dizer que concordavam com a campanha, e que havia mesmo muito lixo na blogosfera. O máximo que se falou foi um “merda” e um “puta”, ambos vocalizados pela única moça na mesa, a Bruna Calheiros.

Quer dizer: mal andaram pelo tabuleiro e já caíram na primeira armadilha. Ao aceitar aquela pérola – afinal, onde não há lixo? Nos jornais? Na TV? Na academia? No Congresso Nacional? -, ao convir com seus interlocutores, permitiram que o debate seguisse para uma via mais moralista e higiênica do que propriamente discutirem credibilidade e padrões de confiabilidade.

O problema não é o lixo, senhores!

Mas sim o que se faz com ele.

O ser humano produz lixo irremediavelmente. E esse subproduto é cada vez maior per capta no mundo. E isso é irreversível. O que se tem que pensar é o que fazer com isso, de que forma transformar o descartável em aproveitável.

O lixo, a irrelevância, o substrato faz parte do processo de produção. Cabe aos blogueiros e aos leitores triarem, selecionarem, escolherem. Alguém aí poderá dizer: mas a quantidade de lixo polui, atrapalha a escolher. Talvez, mas ela é inerente ao sistema. O blog de qualidade precisa do ruim para se destacar. E há leitor que não está atrás do blog de qualidade, mas quer ler coisas pessoais, paranóias, piadas sem graça, coisas absurdas, sandices. Ora, que deixem o lixo!

É preciso observar em torno do lixo e ver que condições tornaram-no descartável, diferentemente de outras coisas. (Neste meu blog, por exemplo, posto de tudo. Inclusive o que podem considerar lixo. Aliás, não definiram lixo no debate, mas ficaram repetindo – como papagaios – o exemplo do blog que fala do papagaio…)

Essa heterogeneidade é própria, característica do sistema. A própria mesa redonda do Estadão poderia ilustrar o que digo. Havia blogueiros altamente articulados, se expressando com facilidade e com segurança, trazendo à tona dados e exemplos, e havia blogueiros que alimentavam a estereotipia dos escritores-de-diários-adolescentes. Assim como em uma mesa de bar, rodeada por jornalistas (situação meramente hipotética), veremos jornalistas que transmitam credibilidade em suas piadas e jornalistas totalmente sem graça.