lei de imprensa em queda; publicidade online em alta

O Supremo Tribunal Federal (STF) prorrogou por mais um mês sua decisão de suspender 20 dos 77 artigos da Lei de Imprensa (Lei 5.250/67). A decisão saiu na tarde de ontem. Moribunda, a Lei de Imprensa é um zumbi nas redações… (leia mais no Consultor Jurídico).

Do lado de lá do balcão, as coisas estão muito bem, obrigado. De acordo com o Instituto Inter-Meios, a publicidade online brasileira registrou faturamento de R$ 759,3 milhões em 2008, alta de 44,1% em relação ao ano anterior (saiba mais no IDGNow). A crise, a marolinha ou o fim do mundo ainda não chegaram aos departamentos comerciais… Melhor assim…

crise ainda não chegou às bancas brasileiras

Na semana que está terminando, a editora do New York Times anunciou um prejuízo de mais de 57 milhões de dólares em 2008. Em 2007, no entanto, havia fechado o exercício com lucro de 208 milhões. Isto é, a crise já chegou por lá. E olha que pegou em cheio um dos grandes: a New York Times Company reúne quase vinte jornais e 50 sites nos Estados Unidos.

Por aqui, a “marolinha” ainda não chegou.

Segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC), a circulação média diária dos jornais brasileiros cresceu 5% no ano passado, alcançando 4,35 milhões de exemplares. Tudo bem que a evolução de 5% fica aquém dos crescimentos registrados em 2006 (6,5%) e 2007 (11,8%). Mas mesmo assim, tá muito bom, afinal é o dobro do crescimento mundial no setor.

Entre os títulos brasileiros, o Super Notícia, de Minas, foi o campeão de crescimento de circulação: 27,02% no período. O jornal popular custa 25 centavos de real. Tudo indica que o setor vem respirando graças aos resultados dos jornais populares e dos regionais. Mas até quando, senhores?

sarkozy despeja dinheiro sobre a mídia

Outro dia, escrevi aqui que camadas organizadas da sociedade francesa manifestaram publicamente sua preocupação sobre a qualidade da mídia local. Pois bem, não é apenas o povo quem coça as rugas da testa com o assunto. Já desde o final do ano passado, o governo também. Na semana que passou, o recado foi público e polpudo: o presidente Nicolas Sarkozy anunciou um pacote de 600 milhões de euros para o setor nos próximos três anos.

Em tempos bicudos como os nossos – quando Bush abre a torneira de 700 bilhões de dólares para bancos e financeiras, e quando Lula reduz impostos para impulsionar a indústria automobilística -, o presidente francês acena com um plano para salvar a imprensa escrita, como deixou claro no Palácio dos Champs Elisées. A operação atende pelo nome de États Généraux de la Presse, ou Estados Gerais da Imprensa. O desafio é melhorar a rentabilidade dos jornais, aumentar suas tiragens, aliviar os custos das empresas do setor e impulsionar os meios online.

Ainda é cedo para medir a temperatura e dizer qual repercussão o anúncio trouxe ao mercado francês, e por extensão à mídia européia.

O Le Monde foi bastante contido, como sempre. Em editorial, ponderou as medidas, salientando a sabedoria da presidência da República em deixar que editores e jornalistas dêem os devidos encaminhamentos à solução da crise que asfixia o setor. O jornal não comemora abertamente, mas o editorial ressalta que a mídia é também uma indústria, o que a legitimaria a receber auxílios financeiros, pode-se ler nas entrelinhas.

Já Le Figaro trouxe editorial do seu diretor de redação Étienne Mougeotte reconhecendo o “ceticismo francês” que acompanhou o setor à mesa de negociação com o governo. Mas sauda a iniciativa. Entretanto, Mougeotte não se fez de rogado: reforçou que o norte do jornal é o leitor e para quem ele trabalha. A preocupação do experiente jornalista é com a credibilidade do veículo, mas não só ele. Um comunicado da AQIT, Associação pela Qualidade da Informação, convocava esta semana jornalistas e editores a conjugar esforços para a formalização de um Conselho de Imprensa. Segundo a AQIT, um novo código deontológico e uma instância que aglutinasse produtores e usuários do sistema seriam condições essenciais para um resgate da confiança ao setor.

Os movimentos são muitos e em direções não necessariamente opostas. Os franceses estão mesmo preocupados com o assunto e tudo leva a crer que arragaçaram as mangas para enfrentar a(s) crise(s) da mídia. No Brasil, já passamos perto disso. No final da década de 90 e começo desta, a revista Carta Capital martelou em várias edições um tal plano do BNDES para salvar a mídia, notadamente a Rede Globo. A revista bateu forte, e o plano de ajuda acabou não saindo. Não porque a revista fosse tão influente assim. Mas a revista também não estava fazendo aquilo por patriotismo, mas por isonomia…

O fato é que as torneiras mantiveram-se fechadas pro setor. Pouco ou quase nada entrou de dinheiro estrangeiro por aqui, mesmo após mudarem a Constituição em 2002. Os jornalistas revisaram seu código deontológico em 2007. Mas ficamos nisso. Talvez porque a crise nas bancas esteja anestesiada pelo sucesso de jornais a preços populares ou ainda porque as redações acreditam contar com a confiança dos seus leitores.

Será mesmo?

ATUALIZAÇÃO: Alberto Dines tratou do assunto, trazendo muito mais detalhes. Vale a pena ler.

franceses preocupados com a qualidade do jornalismo

Foi anunciada ontem – dia 20 de janeiro – uma declaração contendo 14 proposições voltadas a garantir a qualidade de informação para qualquer cidadão francês. O documento foi gerado em Paris, por meio de um conjunto de jornalistas e usuários do sistema da mídia – Assises Internationales du Journalisme.

O documento não ignora a crise econômica que afeta o setor, mas reforça a necessidade de fazer valer o direito do público a ter noticiário de qualidade. Os 14 pontos elencados são considerados prioritários neste esforço. São eles:

  • Inserir na Constituição o direito do público a uma informação honesta e de qualidade;
  • Promover a mediação;
  • Incluir na convenção coletiva nacional dos profissionais do jornalismo um código deontológico unificado;
  • Criar uma instância nacional confiável para atuar como observatório das mídias;
  • Dotar as redações jornalísticas de um estatuto jurídico que possa ampará-las e protegê-las;
  • Reforçar a figura do jornalista profissional;
  • Flexibilizar os direitos autorais dos jornalistas;
  • Incentivar a pesquisa para a evolução do jornalismo;
  • Garantir uma formação inicial mínima para a prática jornalística;
  • Buscar a formação em escolas reconhecidas;
  • Atentar para o cada vez mais numeroso e variado contingente de estudantes de jornalismo;
  • Assegurar que as escolas dêem acesso a estudantes com diversidade social e cultural;
  • Combater a precarização da profissão;
  • Lutar contra a informação de baixo custo, que geralmente resulta em má qualidade jornalística.

Listei acima de maneira muito rápida, mas se quiser conhecer a declaração na íntegra, acesse aqui.

Todos sabemos que documentos como este não modificam o panorama real da situação, já que a problemática da qualidade, do direito do público e da presença da mídia na vida social é muito complexa. Entretanto, essas manifestações servem ao menos como um recado: o de que parte da sociedade se interessa pelo tema da mídia, e se preocupa com o que fazem dela.

jornalismo: um prêmio e uma ação contra a rbs

O prêmio. Vocês se lembram que a Folha de S.Paulo comprou uma briga de cachorro grande com a Igreja Universal do Reino de Deus (e com a Record) este ano, por conta de uma reportagem de dezembro de 2007 sobre o império da igreja? Pois bem, a reportagem de Elvira Lobato virou alvo de mais de cem ações judiciais, quase todas abolidas até então. O melhor de tudo veio agora: a reportagem venceu o Prêmio Esso de Jornalismo.

Alguém mais esperto aí já disse que a imprensa existe para confortar os aflitos e afligir os acomodados.

A ação. Na quarta, 10/12, o Ministério Público Federal apresentou à Justiça Federal uma ação civil pública pedindo a anulação da compra do jornal A Notícia pelo Grupo RBS,  e pedindo a redução do número de estações de radiodifusão controladas pelo grupo. A ação foi proposta contra nove empresas de comunicação, a União, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica e os empresários Nelson Pacheco Sirotsky e Moacir Gervásio Tomazi. O processo foi para a 3ª Vara Federal de Florianópolis, e por sorteio eletrônico, caiu na mesa do juiz Cláudio Roberto da Silva.

Será que agora vai?


mídia sorri à toa: $$$$$$$$

Deu no Mídia e Consumo, e reproduzo em parte:

Dados do projeto Inter-Meios demonstram que o mercado publicitário cresceu 14,7% nos primeiros sete meses do ano em comparação com o mesmo período de 2007.
Até julho de 2008 os veículos de comunicação faturaram R$ 11,3 bilhões com publicidade. O principal destaque da lista continua sendo a internet, que teve crescimento de 44,4%, alcançando R$ 383,2 milhões.

O primeiro lugar do ranking permanece com a TV aberta, que faturou R$ 6,6 bilhões, 58,5% do total. Rádio, Revista, Mídia Exterior e TV por Assinatura também aumentaram suas médias. Guia e Listas (-13,2%) foi o único meio que teve performance negativa.
Para ver a íntegra do post, vá à fonte.

armínio fraga de olho na rbs

RBS negocia venda de parte de suas ações a fundo do ex-presidente do Banco Central

O grupo RBS, que possui TVs, rádios e jornais no sul do Brasil, está negociando a venda de 15% de seu capital ao fundo de investimentos Gávea, segundo O Estado de S.Paulo. O fundo pertence a Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central. O negócio deve ser concluído até 30 de setembro.

É a primeira incursão de Fraga no negócio da comunicação. Nos últimos meses, seu fundo comprou participação em diversas empresas, da aviação ao entretenimento.

Segundo o jornal O Globo, o negócio pode ter sido intermediário por Pedro Parente, vice-presidente executivo da RBS, que foi colega de Armínio Fraga na equipe econômica do governo Fernando Henrique Cardoso.

A RBS existe há 50 anos. Possui atualmente 21 emissoras de TV, 26 de rádio, oito jornais, dois portais de internet, uma editora, uma gravadora e uma empresa de logística, entre outras, segundo o jornal. Até poucos dias atrás, o presidente do grupo, Nelson Sirotsky, presidia a Associação Nacional de Jornais.

Em junho, a Standard & Poor’s considerou consistente a situação financeira da empresa e melhorou sua classificação de risco para investimentos.

(Notícia dada no blog do Knight Center for Journalism in the Americas)

o destino do jornal: um livro, um comentário e muitas questões

Acabo de ler “O destino do jornal”, livro de Lourival Sant’Anna, editado pela Record. A leitura é rápida, o texto é claro e atraente, e o assunto – o leitor deste blog já sabe – me interessa muito. Mas para além dessas rápidas impressões, muitas outras coisas ficam dessa leitura.

A primeira delas é que o livro vem em boa hora, afinal é rara no Brasil a bibliografia que discute jornalismo pelo prisma de negócio, pela vertente mais mercadológica. Parece reinar entre nós um pudor ao tratar de notícias e informações como produtos. Como eu disse, há pouquíssimas obras que se debruçam sobre o nosso jornalismo sem melindres para analisá-lo pela ótica de um mercado, de uma indústria. Vém-me à cabeça o livro da Cremilda Medina – “Notícia: um produto à venda” -, mas que foi editado há pelo menos duas décadas. Outros títulos poderiam ser aqui citados, mas a ligação que faço entre “O destino do jornal” é com outro livro: “O papel do jornal”, de Alberto Dines.

Essa correspondência se faz para mim por algumas razões um tanto óbvias: os dois livros partem de ambientes de crise para discutir jornalismo, sua natureza e seu futuro. Os dois livros concentram-se nas empresas nacionais do ramo. Os dois livros já nasceram como clássicos porque, mesmo tratando de questões conjunturais, não deixam de considerar os aspectos estruturais que afetam o negócio do jornalismo. Se o gatilho de Dines havia sido a alta do papel de imprensa nos anos 70, o de Sant’Anna é a alardeada queda nas tiragens dos jornais, detectada no mundo todo, mas com algum respiro visível por aqui na última década.

É verdade que talvez o livro de Dines tenha mais perenidade que o de Sant’Anna, mas os dois volumes não apenas nos convidam a pensar em soluções para esse negócio de vender informações, como também nos incitam a discutir o próprio destino de um meio que sempre foi capital para as sociedades democráticas.

Aspectos como rentabilidade, equilíbrio contábil, busca de receitas e inovação tecnológica são tratados por Sant’Anna na mesma proporção de que se defrontam com “bens intangíveis”, como prestígio, credibilidade e fidelidade do leitor.

O livro de Dines nasceu de suas reflexões à época, enquanto que o de Sant’Anna é a versão livresca de sua dissertação de mestrado. Dines não foca sua análise num meio em especial, mas Sant’Anna se pergunta como três dos maiores jornais brasileiros – a Folha de S.Paulo, O Globo e O Estado de S.Paulo – vêm enfrentando um cenário de concorrência maior (com a web, as revistas e a TV a cabo), de mudanças nos hábitos de consumo dos leitores (queda no tempo de leitura e diminuição de tiragens pelo mundo afora) e de necessidade de adaptação e inovação tecnológica.

Outro dia, mencionei o livro de Philip Meyer – “Os jornais podem desaparecer?” -, ressaltando a necessidade de termos uma reflexão brasileira sobre essa transição de mídia tão ruidosa. Bem, o livro de Sant’Anna vem neste sentido, sem esgotar a questão, evidentemente. Poderá abrir espaço para novos lançamentos e discussões. O acento de Sant’Anna – entre o acadêmico e o profissional – também é muito bem vindo, já que essa oposição é improdutiva, preconceituosa e limitante.

Ontem mesmo, meu chapa PHSousa comentou a entrevista de Rosenthal Calmon Alves ao Estadão. PH escreve:

Eu acho que devem abandonar o hard news, que fica para TV e internet. Os jornais de papel devem se voltar para reportagens menos factuais. O que você acha?

Bem, não penso muito diferente, apesar de ter uma certeza: o problema é complexo. Isto é, diversas variáveis incidem na sobrevivência de alguns meios e na própria convivência das diferentes mídias. Não se pode deixar de lado, por exemplo, o conjunto de movimentos na audiência e nos hábitos de consumo. O Pew Research Center for the People and Press publicou esses dias um estudo muitíssimo interessante sobre as mudanças que a audiência vem exibindo a partir do desenvolvimento de novas mídias. O relatório da pesquisa, em suas 129 páginas, aponta para diversas “chaves” para o entendimento do cenário da mídia, a norte-americana, mas que pode se projetar por aqui também.

O estudo mostra que as notícias online ainda está em compasso de crescimento, mas mostra ainda que os consumidores de informação cruzam as mídias, buscam integrá-las em sua dieta informacional, entre outros aspectos.

Gestores e jornalistas precisam estar atentos a isso.

Ao mesmo tempo, ReadWriteWeb aponta para o NewsCred, sistema que promete distribuir as notícias com mais credibilidade, agregando conteúdos de diversos meios. É semelhante ao Digg e ao NewsTrust. Mas quem está por trás do NewsCred se apressa em mostrar as diferenças:

We love Digg and other social ranking sites, but NewsCred is completely different. We are using technology and the ratings from our user community to select the most credible articles. NewsCred selects quality, while Digg presents popularity. This is a fundamental difference in our approach, and we feel this difference is what will change the way we access news content forever.

We’re taking content from traditional, mainstream new sources, combining them with established blogs, and selecting only the highest quality articles that are relevant to you. We’re throwing in some real innovation to make the selection and filtering process the easiest you’ll see on the web, and fun too.

Esta é uma solução? Não sabemos ainda. O fato é que a corrida já está acelerada. Tem muita gente preocupada com o futuro dos jornais, com o presente da internet. O 7º Congresso Brasileiro de Jornais, que aconteceu esta semana, não se esquivou dessas questões. O discurso em uníssono é o de que qualidade e credibilidade andam juntas, mas deve -se atentar sempre para as questões de equilíbrio financeiro. Mesmo assim, os proprietários de jornais têm sorrido de orelha a orelha. A carta de abertura do evento, dirigida aos empresários do setor, não poderia ser mais otimista:

Depois do excelente desempenho do ano passado, quando tiveram aumento de circulação de 11,80% e subiram sua participação no bolo publicitário para 16,28%, os jornais brasileiros continuam a exibir números muito positivos. O mais recente levantamento do Projeto Inter-Meios, principal referência do mercado brasileiro, mostrou que no primeiro trimestre de 2008 os investimentos publicitários nos jornais cresceram 23,72%, comparando-se com igual período do ano passado. Com isso, em março a fatia dos jornais no bolo publicitário chegou a 19,40%.

Então, o livro de Lourival Sant’Anna está vendo fantasmas onde eles não existem?

Claro que não. O livro traz alertas, coloca o dedo nas feridas e deixa nervos expostos. O mercado brasileiro não está isolado numa bolha de prosperidade, blindado contra crises. Há questões estruturais que já afetam a indústria dos jornais por aqui. Sant’Anna não é o arauto do apocalipse, mas está de olho.

7º congresso brasileiro de jornais

Começa hoje e segue até amanhã a 7ª edição do Congresso Brasileiro de Jornais, evento promovido pela ANJ. Não se pode pensar o mercado sem ver e saber o que querem e o que farão os proprietários de jornais…

Veja a programação aqui: http://www.anj.org.br/cbj/programa

censura na web e capitulação dos gigantes

Com informações do senador norte-americano Dick Durbin, o ReadWriteWeb informa que estaria em curso o fechamento de um acordo entre Google, Yahoo e a Microsoft para estabelecer uma espécie de código de conduta para operar nas restritíssimas condições de mercados como o chinês. Essa informação ganha maior vulto agora, a poucos dias do início dos Jogos Olímpicos de Pequim (sim, é Pequim e não Beijing).

No acordo de cavalheiros dos gigantes, estariam previstos itens como Princípios para a Liberdade de Expressão e Preservação de Privacidade, a implamentação de regras gerais de atuação, governança e transparência.

Como eu sou um cara muito desconfiado, fico só olhando se não estaria em curso uma capitulação dessas megacorporações apenas para ingressarem no riquíssimo e rentável mercado chinês, abrindo mão de valores essenciais como liberdade de expressão apenas para meter a mão em bilhões de verdinhas…

A se conferir…

circulação de jornais cresce 8,1%

Deu no boletim do Jornalismo nas Américas:

O Instituto Verificador de Circulação anunciou que os jornais brasileiros tiveram aumento de 8,1% em seus exemplares impressos no primeiro semestre de 2008, segundo o Comunique-se. As publicações que mais cresceram foram os jornais populares, baratos ou gratuitos.

Ao todo, os jornais filiados ao instituto tiraram em média 330 mil exemplares a mais do que no mesmo período do ano passado. São 4.392.281 exemplares impressos diariamente. Ricardo Costa, diretor do IVC, disse no comunicado que os números mostram quatro anos de crescimento contínuo.

jornais vão melhor aqui que lá fora

Eu sei. Pode não ser lá grande novidade, mas vale replicar aqui. Para registro.
Deu na Folha de S.Paulo em 2 de junho.

“A venda de jornais no Brasil avançou 11,8% no ano passado, superando a média mundial, que foi de 2,57%, de acordo com a WAN (Associação Mundial de Jornais, na sigla em inglês). O mesmo cenário já tinha ocorrido em 2006, quando a circulação no Brasil cresceu 6,5%, e a mundial, 2,3%.

Os números brasileiros são idênticos aos que já foram apresentados pela ANJ (Associação Nacional de Jornais), que mostraram que a circulação diária de jornais pagos ultrapassou 8 milhões de exemplares no ano passado.

O crescimento das vendas no Brasil foi o maior na América Latina e um dos mais expressivos no mundo, superado apenas por algumas antigas repúblicas soviéticas, como o Cazaquistão, países da África (Quênia, Gâmbia e Líbia), Malásia e Kuait. Nos últimos cinco anos, a circulação de jornais no país cresceu 24,93%. Na América do Sul, por exemplo, a Argentina teve alta de 22,7% no período, e o Equador, de 15,2%.

Segundo o levantamento da WAN em 232 países e territórios, mais de 532 milhões de exemplares foram vendidos em média todos os dias no mundo em 2007 -17 milhões a mais do que no ano anterior. Ainda de acordo com a associação, o número de pessoas que lêem um jornal diário subiu para 1,7 bilhão, 300 milhões a mais. As vendas cresceram ou ficaram estáveis em aproximadamente 80% dos países pesquisados (elas caíram nos EUA, na União Européia e no Japão).

A China é o país em que mais se vendem jornais: 107 milhões de cópias diárias. Mas, em média, os japoneses são os maiores consumidores: 624 exemplares vendidos para cada 1.000 adultos. O Japão é o terceiro maior mercado, com 68 milhões de exemplares comercializados, atrás também da Índia. Os Estados Unidos e a Alemanha são o quarto e o quinto maiores mercados, respectivamente.

Os turcos passam 74 minutos lendo jornais diariamente, 20 minutos mais que os belgas, que estão em segundo lugar.

O faturamento mundial com publicidade dos jornais pagos aumentou 0,86% em 2007 em relação ao ano anterior -havia crescido quase 4% na comparação entre 2006 e 2005. Nos últimos cinco anos, essa receita avançou 12,84%.

Na América Latina, a receita dos jornais com publicidade se expandiu em 10,77% entre 2006 e o ano passado, só perdendo para o avanço no Oriente Médio e na África, de 13,17%.

Apesar do avanço, os jornais tiveram uma pequena perda na fatia do mercado mundial de publicidade: de 28,7% para 27,5%. Ainda assim, eles continuam como o segundo meio de comunicação que mais fatura com propaganda (atrás da TV, com 38%) e com uma receita superior à de internet, rádio, cinema e mídia ao ar livre somadas, de acordo com a WAN.”

ainda sobre o futuro dos jornais

O caderno Mais! da Folha de ontem veio com o tema que mais preocupa os publishers pelo mundo afora: o futuro dos jornais. Com um texto de abertura da editora executiva Eleonora Lucena, a Folha trouxe um longo artigo do jornalista Eric Alterman, que saiu originalmente na New Yorker em 31 de março passado. Trouxe isso, consumiu 5,5 páginas e deu. Ponto. Nem mais um pio sobre o assunto, ninguém mais escreveu ou discutiu o palpitante momento na edição.

Para um jornal como a Folha, é pouco.
Para a crise que se anuncia sobre o setor, é pouco.
Para o momento da imprensa brasileira, que comemorou no início do mês 200 anos, foi pouco.

Foi insuficiente, mas não só.

Conforme escreveu Adriana Alves Rodrigues no GJOL, o leitor atento percebeu uma certa confusão nos discursos ali estampados. A editora da Folha adota um tom otimista, despejando estatísticas que mostram um desempenho positivo do setor em no Brasil e nas economias emergentes (leia o texto dela aqui: para assinantes). Eleonora Lucena tem razão: por aqui, a coisa ainda não pegou pra valer, e uma certa reinvenção da imprensa se deu com o desembarque nas bancas da chamada penny press, formada por jornais mais baratos, mais quentes e voltados para um público ainda inexplorado.

Já o artigo de Eric Alterman beira o tom sombrio (veja aqui. Para assinantes). Ele escancara a situação norte-americana, a queda das tiragens, a migração de parte do bolo publicitário, uma disputa cada vez mais acirrada entre jornalistas e blogueiros. É uma aula de jornalismo. Uma aula de mercado. Mas jornalismo e mercado norte-americanos.

Neste sentido, a Folha falhou mesmo. Faltou complementar o tema com textos de gente daqui que pudessem oferecer tanta análise e interpretação quanto Alterman. O texto de Eleonora é claro, interessante, mas pouco analítico, mais informativo. Por aqui, já temos uma história de mídia na web e gente como Carlos Castilho, Marcelo Tas, Beth Saad, Pedro Doria, entre outros, poderiam oferecer análises tão densas e amplas quanto à gringa.

Alguns dados fazem pensar:

  • 2,6% é quanto crescem os jornais no mundo atualmente
  • 11,8% é quanto eles crescem no Brasil
  • Os jornais abocanharam em março 19,4% do bolo publicitário no país
  • 42% a menos valem as empresas de jornais nos EUA, e a queda tem sido impiedosa
  • Os leitores têm sido cada vez mais raros entre os mais jovens
  • O mercado norte-americano tem extinguido postos e mais postos de trabalho nas redações
  • Pesquisas lá mostram a queda vertiginosa da confiança na mídia
  • Aqui, também cresce a desconfiança, mas a mídia não é a única instituição a perder terreno

A crise dos jornais, a invenção de novas plataformas de consumo e distribuição de informações e a convergência midiática têm levado a indústria do setor a um comportamento esquizofrênico: tenta ser audaciosa em alguns casos, buscando soluções, mas atirando sem mira; ao mesmo tempo em que fica imóvel, fingindo-se de morta e aguardando uma solução dos céus…

O Mais! de ontem, na Folha, mostra o quanto a mídia ainda peca na análise de seu próprio mètier. Não consegue um distanciamento seguro que lhe permita uma avaliação mais ampla e serena do caso. Não mobiliza mais recursos para o debate que se faz necessário. Não contagia – para além dos diretamente interessados: empresários, jornalistas e pesquisadores da área – mais ninguém com o assunto. Um tema que deveria interessar a todos da esfera pública.

(Se você não é assinante da Folha e não consegue ler os textos da edição de ontem, não desanime. O artigo de Alterman, no original, está aqui… aberto para leitura.)

(Enquanto isso, nos Estados Unidos, durante a FreePress – a conferência internacional que discute reforma na mídia e transformações na democracia -, o jornalista Bill Moyers deixou a platéia eletrizada com sua fala e as perspectivas sobre o futuro das grandes corporações midiáticas. Leia aqui ou assista aqui)

vem aí uma batalha entre microblogs???

Dias atrás, li no meu Twitter muitas reclamações sobre a instabilidade do sistema. Trocando em miúdos: quem queria blogar (só 140 toques por post no Twitter) estava irritado com as constantes quedas do site. Li ontem que alguns estavam comentando sobre um tal Jaiku, que é um sistema semelhante e que foi comprado pela Google tempos atrás.

Hoje, no UnderGoogle, o nandokanarski sinaliza que estaria em curso uma debandada de usuários do Twitter para o Jaiku, teoricamente mais estável. Será que estamos à beira de uma disputa entre microblogs???

Acho que é cedo…

jornais comemoram lucros e sindicato quer piso maior

Nota no Expresso Digital, o boletim eletrônico do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, alfineta o empresariado do ramo:

Profetas que previram o fim do meio jornal: aproveitem para ler o caderno de empregos. A frase acima faz parte da campanha promovida pela Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e foi veiculada na edição de hoje do Diário Catarinense, pg 10. Em linhas gerais, os textos destacam a alegria do patronal com o aumento na venda de exemplares, ampliação da publicidade no setor e, conseqüentemente, os lucros produzidos pela mídia impressa, que crescem anualmente.

O presidente da ANJ, Nelson Sirotsky, também presidente do grupo RBS, é o principal negociador com o Sindicato dos Jornalistas.

A peça publicitária da Associação destaca ainda: “Quem poderia prever que o jornal iniciaria o ano crescendo? Qualquer pessoa bem informada, já que ele fechou o ano passado com números extremamente positivos”.

“No primeiro trimestre de 2008 a tendência se acentuou e o investimento publicitário aumentou 23,72%, segundo a Intermeios. Em março, o percentual de participação dos jornais no bolo publicitário ficou em 19,4%, contra 18,3% no mesmo mês do ano anterior. Mas ainda sobrou um espaço para quem disse que o jornal iria acabar: a errata”.

Os dados da campanha publicitária mostram que o patronal tem amplas condições de pagar o piso mínimo de R$ 1.500,00 para os trabalhadores jornalistas.

 

A nota do SJSC bate forte porque a categoria está em plena negociação salarial. O período é delicado, sentar à mesa com os interlocutores é sempre complicado, uma cantilena de reclamações dos patrões: sempre a situação está difícil, quase nunca há condições de se pagar melhor os trabalhadores, etc…

Agrava a situação o fato de que a categoria é pouquíssimo unida e quase nada articulada. Quase sem respaldo, os dirigentes sindicais tentam desobstruir os diálogos, mostrando a necessidade de aumento e a incorporação de novos direitos e garantias. Não é fácil. Participei de ao menos duas negociações do tipo quando fui vice-presidente do SJSC, e ao final das reuniões o cansaço mental e emocional de todos era visível. Havia também outros sentimentos: uma raiva diante do teatro dos patrões e uma indignação incontornável. Apesar de tudo, é preciso resistir, de forma intransigente. É necessário sentar e negociar, brigar por direitos, pois eles nunca são concedidos, são conquistados.

credibilidade, confiança, reputação: 4 links

1. Na Slate, Chris Wilson demole a suposta democracia da web 2.0. Para isso, usa como exemplos a Wikipedia e o Digg.

2. No CyberJournalist, uma survey sobre a credibilidade online.

3. Marcos Palacios comenta o livro de Adrian Monck que questiona a credibilidade da mídia através da história.

4. O próprio Monck apresenta o sumário de seu “Can you trust the media?”

uol ri de orelha a orelha

Deu no Jornalistas da Web:

“Um dos principais portais de mídia online do Brasil, o UOL anunciou nesta semana seus resultados do primeiro trimestre de 2008.

Segundo a empresa, a receita de publicidade e outras somou R$ 53 milhões, representando um crescimento de 56% em comparação com o mesmo período em 2007. O número de assinantes pagantes de banda larga atingiu 1 milhão em março de 2008, um aumento de 20% sobre março de 2007.

Também em março deste ano, de acordo com dados divulgados pelo Ibope/NetRatings, a empresa apresentou um crescimento de 40% em visitantes únicos em relação a março do último ano. Ainda segundo a companhia de aferição, foram 1.848 milhões de páginas vistas e um tempo médio de permanência online de 1:01:02 em março de 2008.

O lucro líquido foi de R$ 24,7 milhões, 11% superior ao mesmo período em 2007″.

 

Os números são mais do que otimistas, mais que alvissareiros!!!

liberdade de imprensa e direito à informação: dois links

No Observatório da Imprensa desta semana, Venício Artur Lima escreve sobre a III Conferência Legislativa sobre Liberdade de Imprensa, que reuniu a cúpula do empresariado de mídia no país. O texto Liberdade de imprensa ou direito à comunicação” é ótimo, e dialoga com grande abertura com o editorial “Liberdade de Imprensa, mercado e direito à informação”, da edição 138 do Monitor de Mídia.

Ah, se todos lessem…

a batalha da tv a cabo

Se na TV aberta o barulho é sobre as adaptações que as emissoras precisam fazer para adequar suas programações conforme os fusos horários no país, na TV a cabo a gritaria é sobre o projeto 29/2007.

comentei aqui sobre a mentirosa campanha veiculada nas emissoras a cabo: aquele papo furado de que se o projeto for aprovado, o assinante não mais escolheria o que assistir. (Se fosse assim, eu mesmo quereria fazer meu mix de canais, jogando fora as emissoras que me fazem engolir com seus pacotes).

No Observatório do Direito à Comunicação, João Brant faz uma excelente análise de uma segunda versão que tramita na Câmara Federal sobre o projeto. O PT, pelo jeito, roeu um pouco a corda e aceitou algumas das pressões dos exibidores e das teles.

Veja o que Brant diz:

Acima de tudo, o novo substitutivo é resultado claro das fortes pressões empresariais. Da maneira como está, ele contempla os interesses das teles, que conseguem entrar no mercado. Para os grandes grupos que controlam a TV por assinatura, especialmente a Globo, muda pouco. Com as pressões feitas, elas conseguiram diminuir sensivelmente as cotas, o que faz com que os avanços para a produção nacional e independente sejam tímidos. De toda forma, a definição dessas cotas abre uma janela importante. Pela primeira vez uma lei brasileira determina claramente a obrigação de veiculação de produção independente na televisão”.

Para ler a ótima análise, clique aqui.

estratégia da universal começa a fracassar (2)

Como já escrevi há um mês, a avalanche de processos em tribunais de pequenas causas contra jornais brasileiros, orquestrada pela Igreja Universal do Reino de Deus, já dá claros sinais de que está fazendo água. 

A medida – negada de pé junto pela IURD – é intimidar jornalistas e meios que publicam matérias sobre o crescimento da igreja e as formas de acumulação de seu patrimônio.

Segundo o Portal Imprensa, a Folha de S.Paulo já derrotou ao menos vinte ações movidas por fiéis que se ofenderam com as reportagens de Elvirato Lobato sobre os negócios da igreja.

Aliás, a matéria de capa da Revista Imprensa deste mês trata justamente deste assunto.
A chamada: FÉ CEGA, FACA AMOLADA.

vão encolher mesmo a notícia

Deu no informativo eletrônico do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina: o Grupo RBS vai tornar o jornal A Notícia – que anexou em 2006 – em mais um tablóide.

Conforme o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina havia adiantado no dia 17 de março, o jornal A Notícia terá novo projeto gráfico no próximo mês. A informação foi confirmada pelo editor-chefe do AN, Nilson Vargas, na quinta-feira (20), quando detalhou as mudanças para a redação. O formato será tablóide (27,5 por 37,5), com o primeiro caderno (de 36 páginas, no mínimo, mais três cadernos temáticos) sendo grampeado. Haverá duas rodagens: estadual, às 22h30; e outra, às 23h30, para Joinville. O conteúdo sofrerá mudanças gráficas e editoriais: textos mais focados na cidade e região; mais cores, fotos e infográficos nas páginas. Algumas equipes já estão definidas e os jornalistas serão remanejados de acordo com as formações dos grupos nas editorias. Informou-se ainda que haverá contratações de profissionais. A jornada de trabalho tenderá a ser menor, ficando a cargo dos editores apresentarem sugestões para atingir tal objetivo. A data de circulação da primeira edição é nove de abril. O an.com deve mudar de nome e também entra em operação com nova cara já na madrugada do mesmo dia. 

Com esse novo projeto, a empresa pretende aumentar a carteira de assinantes, de anunciantes institucionais e da venda avulsa. Também está previsto um maior faturamento para o ano de 2008. Indicadores mostram que o AN, apenas no primeiro trimestre, obterá excelente receita de publicidade, incrementada com a publicação de balanços patrimoniais das empresas. Até o dia 15, a empresa já havia atingido 85% da meta do mês

Vou provocar: A partir de 9 de abril, os três maiores jornais catarinenses serão do mesmo dono, terão o mesmo tamanho, redações trabalhando em paralelo e abocanhando a maioria do bolo publicitário. Dá pra entender o otimismo.

Pena que o leitor não ganha nada com isso!

políticos avançam na mídia

271. Este é o número de políticos brasileiros que são sócios, proprietários ou diretores de emissoras de rádio e TV, contrariando a lei. O assédio de políticos sobre a mídia é muito maior, se fôssemos considerar ainda os meios impressos…

O levantamento é recente, e foi feito pelo Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação (Epcom).

A maioria deles é prefeito, seguidos dos deputados estaduais. DEM, PMDB e PSDB são os partidos com mais “donos da mídia”, o que é uma notícia desairosa: afinal, somadas, essas legendas detêm a grande maioria das cadeiras no Congresso, o que impossibilitaria – por exemplo – mudanças na legislação que contrariasse tais interesses.

Veja o estudo do Epcom em detalhes.

estratégia da universal começa a fracassar

No começo, era uma grande idéia. Exortar os fiéis a entrarem com ações em juizados especiais contra uma jornalista que pratica o preconceito religioso em suas matérias. E melhor: fazer isso pelo país todo, de forma a impedir que a ré possa estar em mais de uma audiência ao mesmo tempo. Com isso, alguns processos seriam julgados à revelia, e a jornalista ficaria intimidada. Deixaria de escrever besteiras e tal.

Pois essa foi a estratégia montada pela Igreja Universal do Reino de Deus em reação a reportagens que a repórter Elvira Lobato vinha publicando desde o ano passado na Folha de S.Paulo (para entender, clique aqui).

Nesta semana, alguns movimentos no tabuleiro contribuíram para a estratégia começar a fazer água. Primeiro, a suspensão de 22 dispositivos da Lei de Imprensa pelo STF; e segundo, a derrota de algumas ações judiciais impetradas por fiéis.

Por partes.

A decisão – provisória! – do STF não atinge diretamente a ofensiva da Universal contra a Folha, A Tarde e o Extra. Não atinge porque o rebanho de Edir Macedo entrou com ações que têm como base não a Lei de Imprensa, mas os Códigos Civil e Penal. Logo, com o canetaço do STF, as ações não foram arquivadas. No entanto, o golpe é indireto: a liminar do STF chama a atenção da sociedade para a mídia, e mais simbolicamente para a liberdade de imprensa. Veja o que alegou o ministro do STF, Carlos Ayres Britto, que assinou o despacho: “A imprensa e a democracia são irmãs siamesas. Por isso que, em nosso país, a liberdade de expressão é a maior expressão da liberdade porquanto o que quer que seja pode ser dito por quem quer que seja”. O que quero dizer é que o lance do STF ressalta a importância e o papel social que podem desempenhar os meios de comunicação na democracia. (O Estadão preparou um material bem didático sobre o que está sendo discutido com a Lei de Imprensa: http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac129051,0.htm Aproveite e leia a matéria de hoje, aberta parcialmente para não-assinantes: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20080224/not_imp129579,0.php)

Por outro lado, esses dias, mais duas ações de fiéis contra a Folha caíram por terra. Uma no Acre e outra no Paraná. E ambas foram rejeitadas por um argumento muito semelhante que pode ajudar a derrubar todas as demais ações: os fiéis que moveram as ações não têm legitimidade nelas. A matéria de Elvira Lobato não ofendeu os fiéis, mas se concentrou na forma como a Universal vem construindo seu imenso patrimônio e influência política. Trocando em miúdos: os fiéis se queixam de algo que não aconteceu, logo a ação mingua… A jurisprudência está aí. Basta que outros juízes que não caem no joguinho universal sigam o que manda a lei. (Para se ter uma idéia, cerca de 60 ações foram ajuizadas pelo rebanho de Macedo em todo o país).

Na semana passada, os meios de comunicação ligados à Universal (Portal Arca Universal e Rede Record, por exemplo) alardearam declaração do presidente Lula que surtiu como uma defesa da igreja: “As pessoas escrevem o que querem, depois ouvem o que não querem”. Nenhuma novidade nisso: só é preciso lembrar que o vice de Lula, José Alencar, deixou o PL para entrar no Partido Republicano Brasileiro. Adivinhe de quem é o partido? Da Universal.

O que vem a seguir?

1. A Universal vai perder mais ações nas próximas semanas.

2. Outras ações devem ser impetradas, agora com nova sustentação, tentando dar nova força à ofensiva.

3. Folha de S.Paulo e os demais réus vão dar uma tripudiada com suas vitórias parciais.

4. No Congresso Nacional, o PDT vai capitalizar forças para derrubar de vez a Lei de Imprensa.

5. Se o PRB for esperto, vai ser aliado de Miro Teixeira. (Com isso, traz o PDT na sua cruzada…)

6. O PT – paquidérmico e ruim de trato com a mídia – vai ficar olhando a coisa e coçando o queixo.

jornalismo: 20 mudanças em 10 anos

Paul Bradshaw listou na Press Gazette dez grandes modificações no panorama jornalístico que aconteceram na última década. Há de se concordar com todas elas, mas há mais. Bradshaw se restringe aos câmbios de cultura provocados pelo avanço tecnológico. Mas a realidade é maior.

As mudanças enumeradas pelo jornalista britânico são:

  1. From a lecture to a conversation
  2. The rise of the amateur
  3. Everyone’s a paperboy/girl now
  4. Measurability
  5. Hyperlocal, international
  6. Multimedia
  7. Really Simple Syndication
  8. Maps
  9. Databases
  10. Just a click away

Ok, ok. Eu gostaria de adicionar mais dez:

  1. A mídia está se tornando cada vez mais concentrada no mundo todo
  2. Cresce o número de processos contra jornalistas, seja porque esta é uma nova modalidade de hostilização dos poderosos, seja porque as vítimas da mídia recorrem mais aos tribunais
  3. Meios alternativos proliferam-se; alguns vingam, outros não. Ainda há instabilidade no mercado
  4. Cada vez se paga menos por conteúdos oferecidos online
  5. As mulheres invadiram as redações (bem como as escolas de comunicação, onde já são a maioria disparada dos alunos)
  6. A categoria jornalística – ao menos no Brasil – está mais desmobilizada do que nos anos 70, 80 e 90
  7. Explodiu o número de escolas de comunicação no país
  8. Jornalistas em cargos de chefia ou coordenação tem se rendido aos critérios do campo da administração para conduzir seu trabalho (repetem como ventrílocos  termos como reengenharia, inteligência emocional, tomada de decisão, endomarketing, market share…)
  9. Os departamentos jurídicos são cada vez mais influentes e decisivos nas empresas jornalísticas, cabendo a eles – em muitos locais – a última palavra sobre publicar ou não a matéria
  10.  O politicamente correto não tornou o jornalismo um produto melhor que antes

E aí? Quem tem mais dez novidades?

fenaj lança nota contra igreja universal

A Federação Nacional dos Jornalistas lançou agora há pouco uma nota de repúdio à Igreja Universal do Reino de Deus e à Rede Record no episódio que já é uma das mais agudas perseguições à profissão no Brasil neste ano.

Para saber mais sobre a guerra entre a Universal e a mídia (leia-se jornal Extra, A Tarde e Folha de S.Paulo), acesse aqui (matéria de Elvira Lobato sobre a IURD), aqui (matéria sobre processos dos fiéis contra a mídia) e aqui (IURD desmente ações orquestradas).

Na segunda à noite, o jornalista Juca Kfouri fez um amplo desagravo à Elvira na mesa redonda que acontece semanalmente no canal ESPN Brasil. Juca apoiou a série de reportagens de Elvira e foi seguido em suas manifestações por outros jornalistas do mesmo programa, como João Palomino, Marcio Guedes e Fernando Calazans.

Durante a semana, surgiram outras manifestações de apoio às matérias investigativas dos jornais processados.

No portal Arca Universal, chamam a atenção duas notícias. Numa, de ontem, a matéria repercute a reportagem exibida no domingo sobre o “preconceito religioso” a que está sendo vítima a igreja. Na segunda matéria do portal, convocam o presidente da república, Lula, para abafar que esteja em curso uma série de atentados contra a liberdade de imprensa. 

Reproduzo a nota da Fenaj abaixo:

“Nota Oficial
Jornalistas repudiam intimidação da Universal 
A Federação Nacional dos Jornalistas, o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, o Sindicato dos Jornalistas da Bahia e demais Sindicatos do país filiados à FENAJ  repudiam, com veemência, a atitude da direção da Igreja Universal do Reino de Deus, que desencadeia campanha de intimidação contra jornalistas no exercício da profissão.Também apelam aos Tribunais e ao Superior Tribunal de Justiça no sentido de alertá-los para ações que se multiplicam a fim de inibir o trabalho de jornalistas em todo o país. O acesso e a divulgação da informação garantem o sistema democrático, são direitos do cidadão, e o cerceamento de ambos constitui violação dos direitos humanos.
A TV Record, controlada pela Universal, chegou ao extremo, inadmissível, de estampar no domingo, em cadeia nacional, a foto da jornalista Elvira Lobato, autora de uma matéria sobre a evolução patrimonial da Igreja, publicada na Folha de S.Paulo. Por esse motivo, Elvira responde a dezenas de ações propostas por fiéis e bispos em vários estados brasileiros.
Trata-se de uma clara incitação à intolerância e do uso de um meio de comunicação social de modo frontalmente contrário aos princípios democráticos, ao debate civilizado e construtivo entre posições divergentes.
O fato de expor a imagem da profissional em rede nacional de televisão, apontando-a como vilã no relacionamento com os fiéis, transfere para a Igreja a responsabilidade pela garantia da integridade moral e física da jornalista.
A Federação Nacional dos Jornalistas, o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, o Sindicato dos Jornalistas da Bahia e demais Sindicatos exigem que os responsáveis pela Igreja Universal intervenham para impedir qualquer tipo de manifestação de intolerância contra a jornalista.
O episódio nos remete à perseguição religiosa, absurda e violenta, praticada por extremistas contra o escritor Salman Rushdie, autor de Versos Satânicos, e as charges de Maomé publicadas no jornal dinamarquês Jyllands-Posten.
O jornalista Bruno Thys do jornal carioca Extra também é processado pela Universal em cinco cidades do Estado do Rio de Janeiro. O repórter Valmar Hupsel Filho, na capital baiana, já responde a pelo menos 36 ações ajuizadas em vários estados do Brasil, nenhuma delas em Salvador, sede do jornal A Tarde, onde trabalha.
Há evidência de que essas ações, com termos idênticos, estão sendo elaboradas de forma centralizada, distribuídas e depois impetradas em locais distantes, para dificultar e prejudicar a defesa, além de aumentar o custo com as viagens dos jornalistas ou seus representantes.
Encaminhados à Justiça com o nítido objetivo de intimidar jornalistas, em particular, e a imprensa, em geral, esses processos intranqüilizam e desestabilizam emocionalmente a vida dos profissionais e de seus familiares. Ao mesmo tempo, atentam claramente contra os princípios básicos da liberdade de expressão e manifestação do pensamento.
Em um ambiente democrático e laico, é preciso compreender e aceitar posições antagônicas e, mais ainda, absorver as críticas contundentes, sem estimular reações de revanche ou mesmo de pura perseguição.
Este episódio repete, com suas consideráveis diferenças, outras situações em que os meios de comunicação exorbitaram os fins para os quais foram criados. A Federação Nacional dos Jornalistas, o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, o Sindicato dos Jornalistas da Bahia e demais Sindicatos sustentam que a imprensa não pode se confundir com partidos políticos, crenças religiosas ou visões particulares de mundo.
Brasília, 20 de fevereiro de 2008.
Diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas
Diretoria do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro
Diretoria Sindicato dos Jornalistas da Bahia”

madu dá a real

Madu articula duas informações dispersas na rede e tece um raciocínio claro, colocando os pingos nos is sobre a relação das novas e velhas mídias com o público, o desembarque dos blogueiros na praia das coberturas e o que temos adiante.

Madu junta estudo feito por uma universidade norte-americana (e comentado no Poynter) e a notícia-piada de que blogueiros estariam hostilizando jornalistas na Campus Party. De quebra, Madu lembra os incautos que acha que leram A Longa Cauda.

Vá conferir.

tiragem cresce, mas fecham jornais

Fecharam o ANCapital, e a desculpa sempre é a mesma: corte de gastos, custos elevados. Parece que o setor está em crise.

Mas não está mesmo. Veja o que noticia o Política Livre:

“O Instituto Verificador de Circulação (IVC) registrou aumento de 11,8% na circulação dos jornais filiados à entidade no ano passado, em comparação com a média registrada em 2006.

Foi o quarto ano consecutivo em que o meio jornal apresentou alta. Em 2007, o aumento da renda média e do consumo no Brasil foi importante para os bons resultados do setor.

Também contribuiu para o bom desempenho, diz comunicado do IVC, “a competitividade no mercado, que gerou reformulações gráficas e de conteúdo, segmentação com novos cadernos e lançamentos de promoções”.

A consolidação de jornais com preços mais acessíveis à população também foi fator determinante para o aumento de circulação. Circulam diariamente no Brasil 4.144.130 exemplares, em média.

O IVC audita cerca de 50% da circulação de jornais no Brasil, incluindo publicações de circulação paga e títulos de distribuição gratuita.”

o fim do ancapital (2)

Dois blogs de experientes e influentes jornalistas do estado comentam (e criticam, e lamentam) o fim do ANCapital:

Cesar Valente

Carlos Damião

o fim do ancapital

Depois de comprar o concorrente A Notícia, o Grupo RBS – do Diário Catarinense e do Jornal de Santa Catarina – decidiu agora fechar o ANCapital, suplemento de A Notícia que circulava na Grande Florianópolis. O jornal deixa de circular amanhã, dia 1º de fevereiro.

Trabalhei em A Notícia entre 1998 e 1999. Em 1997, frilei por lá. Na época, o ANCapital não era um encarte, mas um “excarte”. O suplemento trazia o AN. Era importante para a região, o único que tratava de assuntos locais mesmo. Depois, a própria empresa medrou e jogou o jornal para dentro. Mais ainda: encurtou o AN, e tornou-o um tablóide.

Aí, veio a RBS e arrematou o concorrente, domesticando o mercado. (Para saber da história toda, siga o Jacques Mick)

A história do ANCapital termina amanhã. O sindicato e a Fenaj se apressaram a emitir nota. Veja:

Contra o desemprego, contra o fechamento do AN Capital, contra o monopólio!

A Direção do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina e a Direção da Federação Nacional dos Jornalistas repudiam o fim do AN Capital, segmento do jornal impresso A Notícia que deixa de circular nesta sexta-feira na Grande Florianópolis, assim como repudia a demissão de experientes profissionais do jornalismo catarinense. Desde a aquisição do A Notícia pela RBS, no final de 2006, o monopólio da comunicação em Santa Catarina estabeleceu o rumo do AN Capital: na época da transação, a redação contava com cerca de 30 jornalistas e, nesta quinta-feira, ao anunciar a última edição, alegando questões financeiras, havia apenas 12. O Sindicato e a Federação reiteram sua posição em defesa da diversidade de olhares, para uma informação plural e democrática – sem o AN Capital, a comunidade perde uma possibilidade de visão diferenciada sobre os fatos -, assim como exigem da RBS a manutenção de todos os postos de trabalho dos jornalistas cujas demissões foram anunciadas. Florianópolis, SC, 31 de janeiro de 2008.  Direção do SJSCDireção da FENAJ”

uma campanha mentirosa

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Quem tem TV a cabo sabe o que estou dizendo.

No meio da programação, um rapaz levemente calvo com ar grave e tom ameaçador diz que se um tal projeto de lei for aprovado haverá uma hecatombe na TV a cabo. Não poderemos mais escolher o que assistimos, pois “eles” escolherão pra gente. A liberdade vai acabar. Oh!!!

Uma pinóia!

A discussão gira em torno do projeto de lei 29/2007, que – entre outras coisas – define cotas de programação nacional na TV por assinatura. O anúncio da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) é super apelativo (veja aqui). O tom é apocalíptico. E mentiroso, sejamos claros.

Afinal, não é o telespectador quem define o que assiste. Se fosse assim, na minha casa, não teria os canais Canção Nova, Shoptime, Mercado Persa, Canal do Boi, TV Turfe, e por aí vai. A gente escolhe o pacote e a operadora, e olhe lá. Então, os caras vêm fazer beicinho porque alguns parlamentares querem instituir uma reservinha de mercado para os produtores nacionais (o que gera emprego e renda AQUI, promove a cultura regional, a diversidade de conteúdos, coisas sem importância, né?)…

Os caras são tão manipuladores que, no alto do site da campanha, acima do contador, eles colocam “Até agora são …. pessoas participando”. Como se quem passasse por ali estivesse engajado numa batalha.

Ora, faça-me o favor!

Para saber mais, veja o site da campanha da ABTA ou leia a resposta do deputado Jorge Bittar ao ataque.

Em tempo: O projeto de lei prevê cota de 50% para canais pagos brasileiros , mais 10% de programação nacional nos canais estrangeiros – que hoje somam 75% da programação da TV por assinatura no Brasil.