uma série mira o telejornalismo

Estreou no último dia 24 de junho nos Estados Unidos a série “The Newsroom”, uma produção da HBO que tem no telejornalismo o seu foco. Na trama, o acomodado âncora Will McAvoy tenta se reinventar à medida que remodela seu telejornal com a ajuda de Mackenzie MacHale, uma produtora com quem teve um passado frustrante. Até aí nada de mais… e o primeiro episódio não chega mesmo a empolgar, mas só o fato de produzirem uma série televisiva sobre jornalismo já vale um comentário neste espaço.

Para um comentário mais longo, leia o que publicarei amanhã no objETHOS

há 5 anos, um marco na tv brasileira…

Retransmito convite dos combativos e incansáveis colegas do Intervozes:

Há 5 anos, pela primeira vez na história, a televisão privada brasileira era ocupada por produções independentes a partir de uma ação civil pública movida por organizações da sociedade civil contra uma emissora por violação de direitos humanos. Entrava no ar o programa Direitos de Resposta.

De lá pra cá, a luta pelo direito à comunicação avançou, mas ainda há muito pra lutar!

Dia 12 de novembro, vamos celebrar os cinco anos deste programa e bater um papo sobre liberdade de expressão e participação social nas comunicações, tema tão candente nas eleições deste ano.

Será o lançamento do livro “A sociedade ocupa a TV”, memória do processo que culminuou com a ocupação da Rede TV! pelo programa que tratava de Direitos Humanos.

Nos vemos lá!

Serviço:
Data: 12 de novembro de 2010, sexta-feira, das 18:30 às 21:30
Local: Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, Av Paulista 37 (Próximo ao metrô Paraíso)
Mais informaçõeswww.intervozes.org.br – (11) 3877-0824

 

games e tv: tudo o que é ruim é bom pra você

É com essa afirmação provocativa que um dos caras mais antenados e inteligentes da atualidade chacoalha o nosso senso comum. Steven Johnson tem três filhos, 42 anos, e está baseado no Departamento de Jornalismo da New York University. E a sua provocação neste livro é esta: a cultura de massa que costumamos culpar pela idiotia massiva não imbeciliza ninguém. Pelo contrário: games, TV, internet e cinema têm feito com que fiquemos mais inteligentes nas últimas décadas!

Num dos mais comentados livros de 2005, o autor contraria os argumentos fáceis que satanizam as mídias massivas, principalmente quanto ao “baixo nível” da TV, às constantes cenas de violência gratuita e sexo abundante e por aí vai. Johnson apresenta dados que mostram, por exemplo, que os seriados atuais têm narrativas mais complexas, menos maniqueísmo e recursos tecnológicos que permitem uma outra experiência de fruição. Equilibrado, o autor propõe uma análise que transcende a habitual – e injusta – comparação entre a leitura de livros e os gestos de assistir a TV e jogar videogames. A comparação é injusta porque são complexos cognitivos muito diferentes. Não se trata de melhor ou pior, mas de operações distintas. Se por um lado, não se pode exigir de um videogame o aprofundamento psicológico de personagens que se encontra num romance; por outro, também não se pode esperar que o leitor tenha o mesmo “sistema de recompensa” dos games durante a leitura do tal romance. Cada meio oferece um tipo de experiência.

Steven Johnson mostra que cognitivamente os produtos da TV, do cinema, da internet e dos games têm exigido mais dos seus públicos do que tempos atrás. A complexidade narrativa, a não-linearidade do tempo, a ambiguidade moral, o recurso a paralelismos e a múltiplos focos de ação, tudo isso vem fazendo com que treinemos mais nossos cérebros. E isso é resultado de uma evolução paulatina na indústria de massa. Graças aos seriados rasos dos anos 70 é que hoje absorvemos com naturalidade séries mais complicadas como Lost e Fringe, por exemplo. Graças a quilômetros de filmes com explicações roteirizadas que aprendemos os códigos cinematográficos que nos permitem ter a sensação da previsibilidade de algumas cenas, de alguns gêneros.

Mas engana-se quem pensa que Steven Johnson sugira que joguemos fora as formas convencionais de informação e diversão. Não. Ele reconhece que TV e games nos tornam mais inteligentes, mas defende fortemente a leitura, os estudos habituais e as experiências que acumulamos desde então. Ele deplora a violência e o sexo gratuitos, e insiste na importância de pais acompanharem seus filhos no consumo das mídias e na sedimentação de valores morais verdadeiros. Johnson só não é careta, hipócrita e reacionário. Apontado pela Newsweek como uma das cinquenta pessoas mais importantes da internet, Steven Johnson é arejado, equilibrado e disposto a enfrentar o senso comum.

No Brasil, “Everything bad is good for you” foi editado pela Campus, mas a tradução dá umas derrapadas. A começar pelo título que se tornou “Surpreendente!”…

locke, sawyer, hurley e sun estão de volta

Ontem, a ABC deu a largada à já famigerada última temporada de Lost.

No Brasil, a expectativa não é menor pelo desfecho da série que renovou padrões narrativos na televisão nos últimos anos. Por isso, a AXN vai retransmitir os episódios com apenas uma semana de diferença da cronologia original.

Se você consegue aguardar mais uma semana, contente-se com o vídeo promocional…

michael jackson em todo lugar

Não acompanhei os funerais de Michael Jackson. Os muitos compromissos de final de semestre simplesmente impediram. Mais sortuda que eu, minha esposa – que já está praticamente de férias – zapeou pela TV hoje à tarde e ficou impressionada com a onipresença do rei do pop.

Segunda ela, ao menos doze emissoras transmitiam o tributo ao vivo: RTP, Globo, Band, Record, Record News, CNN, CNN espanhol, E!, MTV, MTV Brasil, CBS e BandNews. Falta de pauta, exagero midiático, circo sinistro, tudo isso e mais a gigantesca figura pública que o artista construiu durante a carreira.

Quando o papa João Paulo II morreu, o anúncio de sua morte foi considerada a notícia mais dada do mundo. O episódio foi desbancado pela vitória de Barack Obama nas eleições norte-americanas, em menções na mídia. Com o passamento de Michael Jackson, sem apelos religiosos ou políticos, isso deve mudar. Alguém aí duvida que o acontecimento possa ser o fato mais noticiado da história? A conferir…

lost, house e a salvação do jornalismo

Na semana passada, meus seriados favoritos encerraram suas temporadas. Naquela ilha misteriosa, os passageiros do vôo 815 da Oceanic Air estão mais perdidos ainda: viagens no tempo, gente que morre e que retorna, guerra de facções, bombas exterminadoras… Quem acompanha a saga de Lost sabe que os produtores anunciaram um fim na sexta temporada, o que significa que por volta de abril ou maio do ano que vem teremos as respostas aos muitos questionamentos que a série provocou.

house_elenco11No Princeton-Plainsboro Hospital, a equipe do doutor Gregory House continua decifrando os mais intrigantes diagnósticos da medicina. Também na quinta temporada, House não abandonou a velha fórmula de seus episódios: associação de sintomas esquisitos, intrigas entre os médicos, pitadas generosas de sarcasmo e ironia, diálogos rasgantes e um dos personagens mais interessantes da TV das últimas décadas.

Tanto House quanto Lost chegaram ao final de suas temporadas com episódios muito bem escritos, com tramas bem urdidas, de maneira a deixar seus públicos ansiosos por ver mais capítulos dessas histórias. Não é novidade nenhuma dizer que os seriados norte-americanos são hoje ilhas bem conservadas de originalidade e qualidade técnica em suas produções. Basta olhar a TV e as sala de cinema e perceber que as inovações de formato, de temáticas, de linguagens têm vindos quase todas das produções para a telinha.

O cinema tem se apoiado em frequentes adaptações literárias, em remakes, e nas sequências de filmes de sucesso. Por conta dos orçamentos altos, da crise mundial, da falta de ousadia e de alguma preguiça, o filé mignon da produção audiovisual mundial tem sim circulado na formato de seriados. House e Lost são apenas bons exemplos disso.

E o jornalismo?

Mas o leitor deve estar se perguntando: o que tem a ver uma coisa com outra? Seriados são ficções e jornalismo é outra conversa. Sim, claro, mas o sucesso de House, Lost, Heroes, 24 Horas, Grey´s Anatomy, Damages, The Sopranos, Sex and City e tantos mais pode nos ajudar a pensar a tão famigerada crise do jornalismo.

É verdade que se fala mais de crise dos jornais. Nos Estados Unidos, a queda vertiginosa de tiragens, a redução do tempo de leitura, os cortes de assinaturas e a migração de anunciantes para outras mídias têm feito com que muita gente perca o sono. Há abutres que chegam a anunciar a data final, que vai decretar a morte dos jornais. Executivos se reúnem com acadêmicos para pensar em saídas. Por aqui, no Brasil, não se pode dizer que o pessimismo seja tanto, mas o setor está mais que ressabiado.

Como os negócios não vão lá muito bem, há quem diga que o problema do paciente precisa ser mesmo resolvido de qualquer forma. Se ele se queixa de dor na cabeça, que se corte a cabeça, oras. Daí, a crise dos jornais vira a crise do jornalismo. Uma crise de negócios se torna uma crise de identidade.

Pra falar a verdade, talvez haja alguma razão nisso, sabe? Talvez o problema de fluxo de caixa nos desacomode e nos leve a pensar em que o jornalismo se tornou hoje e para o que precisamos dele. Por isso, ao menos por agora, tomo como verdadeira uma crise no jornalismo e me ponho a pensar com House, ou com Locke…

Narrativa ou negócio?

lost-season2-300x300Fico pensando aqui com meus botões onde reside o sucesso desses seriados que todos amamos.

O que faz com que acompanhemos essas histórias? O que provoca nossa identificação com aqueles estranhos que só existem dentro daquelas novelinhas? Por que essas personagens nos chamam tanto a atenção? Qual o segredo dos roteiristas, que nos prendem do começo até o fim de uma temporada, e nos fazem esperar ansiosamente pelas próximas?

Arrisco uma resposta: o segredo está na narrativa.

O segredo está em como esses personagens nos são apresentados, em como suas vidas se entrelaçam, em como os cenários se descortinam à nossa frente, em como as circunstâncias vão se compondo num conjunto heterogêneo, dinâmico, conflituoso e complexo que são suas realidades. A descrição bem feita de um caracter extrapola a persona chapada e sem brilho, gerando um personagem vivo, multifacetado, contraditório, como queremos encontrar, como gostamos de nos enxergar.

Outros ingredientes como mistérios, dramas e perdas pessoais, grandes e pequenas tragédias, algum romance e intriga são bem vindos, e entram como temperos na mistura. Queremos fugas, buscamos fantasias, tentamos abstrair de nossas rotinas esmagadoras. Nos seriados, assistimos a tudo isso, de modo cômodo, confortável e – melhor ainda – seguro.

O jornalismo não desperta o mesmo interesse nem tampouco um décimo dessa paixão. Eu sei. Entretenimento sempre nos move mais, nos envolve de maneira mais abrangente e interesante. Mas fico imaginando: e se o jornalismo conseguisse extrair desses seriados alguns elementos que pudessem lhe restituir mais vigor e força? E se o jornalismo se aproximasse  de alguma maneira dos seriados absorvendo características que reforçassem a sua vocação, a sua natureza, o seu espírito?

Vejam que não estou defendendo uma reinvenção do jornalismo pelos moldes da ficção seriada. Não. Eu falo de resgate, de retomada, de reverso. E pelo que chamei de segredo do sucesso dos seriados, a narrativa. Isto é, e se o jornalismo observasse nos seriados a maneira como bem contar suas histórias, os contornos de um bom personagem, a dinâmica de uma envolvente sequência de fatos? Não se trata de capitular à ficção e renunciar à vocação da narrativa realista e do imperativo ético de dizer a verdade. Na verdade, uso outras palavras para perguntar: o jornalismo vive uma crise de negócios ou uma crise narrativa?

Economia afetiva

Essas minhas especulações me fazem pensar, por exemplo, que hoje se fala em oferecer experiências ao público. Na publicidade, no entretenimento, nos negócios, na mídia de maneira mais ampla, se fala em oferecer experiências interessantes, apaixonantes para os consumidores. Não mais se esfrega a marca do produto no rosto do seu possível comprador. Deve-se ir além, vinculando a mercadoria com algum prazer, alguma sensação, alguma memória e sentimento humano.

O jornalismo pode se desviar disso? O jornalismo tem que se desviar disso? O jornalismo pode traçar caminhos outros que não incorram numa derrocada desse tipo?

Ou de forma mais aguda: o jornalismo pode oferecer uma experiência narrativa mais envolvente, mais pulsante, mais interessante e mais concreta para o seu público? Uma reportagem pode ir além de informar o leitor? Posso pensar no meu leitor como um usuário, um parceiro, um acompanhante numa experiência de informação? Sim, tem gente que já trabalha nisso. Tem gente que experimenta com jornalismo de imersão, onde o leitor mergulha no fato, tendo acesso a conteúdos em camadas que lhe permitem se aprofundar no tema, conforme seu interesse, disponibilidade e disposição. Tem gente que experimenta a produção de games para informar ao mesmo que se entretém o público.

Os mais puristas podem reclamar, afinal jornalismo não é isso. Concordo. Jornalismo não é entretenimento. Mas talvez os jornalistas devamos observar mais os produtos diversionais para enxergar neles elementos que gerem empatia, envolvimento, interesse, paixão, emoção. É pensar o jornalismo pelo viés de uma economia afetiva. São ensaios de idéias essas minhas. Se perseguirmos esses vestígios, teremos que discutir onde o jornalismo vem se apoiando hoje, e que tipo de repercussões provocaria adotar essas escolhas. Como fica a credibilidade, por exemplo? E nossos protocolos éticos? E a função do jornalismo em sociedades complexas e ansiosas por informação?

Pode ser um monte de besteiras essas minhas especulações, mas afinal o que fez com que você chegasse até o final deste post, se não o interesse por diversão e jornalismo?

house: um livro sobre bastidores da medicina

Andrew Holtz publicou em outubro de 2006 um livro sobre o seriado House, certo?

Mais ou menos.

O jornalista especializado em Saúde escreveu um livro bem básico sobre medicina para públicos genéricos tendo como tempero a série televisiva. E tempero – a gente sabe – não é só um detalhe na gastronomia: é aquilo que ajuda a comida a ficar mais palatável, aquilo que nos envolve e seduz, ou repulsa num prato.

Neste sentido, “A ciência médica de House” é um bom livro sobre doenças, diagnósticos, médicos e procedimentos hospitalares. É um bom livro porque é claro, fluente, bem organizado. Bem escrito também. Os exemplos ficam por conta dos episódios da primeira temporada de House, o que dá um gostinho de nostalgia para quem acompanha a série que já está no quarto ano de exibição. Holtz, então, se propõe a falar de medicina para leigos tendo como base as andanças-e-tropeços do médico protagonizado por Hugh Laurie e que faz sucesso em muitos países, inclusive o Brasil.

Holtz mostra o que acontece no sistema de saúde dos Estados Unidos e o que é exagero da série. Mostra inconsistências de roteiro e acertos de diagnósticos. Diferencia procedimentos clínicos de chutes dos roteiristas. Mas sem chatices, sem querer aparecer mais que House. (Até porque o infectologista não permitiria…) É um choque de realidade para quem assiste à série, mas sem desmanchar a fantasia.

O autor de “A ciência médica de House” entrevista especialistas de diversas áreas para explicar melhor alguns diagnósticos (como a doença auto-imune ou espasmos mioclônicos…), como funcionam alguns equipamentos médicos (do estetoscópio ao aparelho de ressonância magnética), os efeitos de certos medicamentos (e até mesmo o Vicodin, o analgésico predileto de House), entre outras coisas.

É um livro pra quem gosta da série (e passa a gostar mais ainda). Para quem se interessa por medicina (ao menos amadoramente, como eu). Para quem não se impressiona com livros que tenham títulos chamativos…

O que House diria?
Difícil saber. Só sei que ele adoraria ter o Andrew Holtz sob os seus cuidados…

a batalha da tv a cabo

Se na TV aberta o barulho é sobre as adaptações que as emissoras precisam fazer para adequar suas programações conforme os fusos horários no país, na TV a cabo a gritaria é sobre o projeto 29/2007.

comentei aqui sobre a mentirosa campanha veiculada nas emissoras a cabo: aquele papo furado de que se o projeto for aprovado, o assinante não mais escolheria o que assistir. (Se fosse assim, eu mesmo quereria fazer meu mix de canais, jogando fora as emissoras que me fazem engolir com seus pacotes).

No Observatório do Direito à Comunicação, João Brant faz uma excelente análise de uma segunda versão que tramita na Câmara Federal sobre o projeto. O PT, pelo jeito, roeu um pouco a corda e aceitou algumas das pressões dos exibidores e das teles.

Veja o que Brant diz:

Acima de tudo, o novo substitutivo é resultado claro das fortes pressões empresariais. Da maneira como está, ele contempla os interesses das teles, que conseguem entrar no mercado. Para os grandes grupos que controlam a TV por assinatura, especialmente a Globo, muda pouco. Com as pressões feitas, elas conseguiram diminuir sensivelmente as cotas, o que faz com que os avanços para a produção nacional e independente sejam tímidos. De toda forma, a definição dessas cotas abre uma janela importante. Pela primeira vez uma lei brasileira determina claramente a obrigação de veiculação de produção independente na televisão”.

Para ler a ótima análise, clique aqui.

wiki e youtube: dicas para professores

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 Juha Suoranta e Tere Vadén assinam Wikiworld: policital economy of digital literacy, and the promise of participatory media. O livro – disponível aqui em PDF – foi recentemente editado pelo Paulo Freire Research Center, pelo Open Source Research Group, Hypermedialab, todos da Finlândia.

Com 215 páginas, em inglês, a obra reflete as modificações paradigmáticas que as novas tecnologias – e em especial as muitíssimas possibilidades colaborativas (wiki) – têm provocado nos meios educativos, e na sociedade em geral. São Seis capítulos:

  • A critical paradigm of education
  • Digital literacy and political economy
  • Radical monopolies: schools, computer softwares and social media
  • The world divided in two
  • Edutopias and the promise of active citizenship
  • From social media to socialist media

E se falamos em wiki, em web 2.0, não podemos deixar de mencionar o maior fenômeno em sites de vídeo da internet: o YouTube. Pois já postei aqui que existem diversas modalidades para diferentes públicos – do religioso ao pornográfico. Se você é professor e quer ter acesso a vídeos de aulas e apresentações didáticas, a opção é o TeacherTube.

O repositório funciona, mas ainda está pouco recheada de conteúdos. A imensa maioria deles em inglês. Mas vale uma navegada…

steven johnson no roda viva

A TV Cultura exibiu há pouco o Roda Viva, que entrevistou o professor e crítico cultural Steven Johnson, bastante conhecido por quem se interessa pelas discussões sobre games, mídias digitais e desenvolvimento humano.

Johnson, como sabem também, esteve no Brasil para a Campus Party, onde deu autógrafos, palestras, sorrisos e ainda lançou seu mais novo livro, O mapa fantasma. Mas Johnson é mais conhecido por outros dois títulos polêmicos: Cultura da interface, Every thing bad is good for you.

A coletiva do Roda Viva ficou bastante centrada na relação entre games e aprendizagem, uso de games para além da diversão. Em praticamente metade do programa, muitas perguntas bateram na mesma tecla, fazendo com que o professor tivesse que explicar seus argumentos de que games, TV e sites de relacionamento, por exemplo, embora pareçam nocivos às pessoas, podem deixa-las mais inteligentes, já que despertam nelas potencialidades pouco exigidas nas mídias tradicionais e livrescas. Johnson se refere a coisas como tomadas de decisão rápidas, resolução de problemas mais simples e – em seguida – mais complexos, raciocínio rápido e destreza manual, amplitude e orientação espacial, etc…

A concentração das perguntas sobre games me pareceu demasiada, mas também sinaliza uma situação: fora a PlayTV – voltada para o público gamer -, não há oportunidades na TV brasileira para se discutir e pensar o assunto. Geralmente, os games viram notícia em duas situações: no seu lançamento – e aí, é jabá – ou na sua proibição ou condenação pelos “malefícios que provoca às novas gerações”. Para a grande mídia, game ainda é brincadeira de criança, e não a indústria de entretenimento que mais cresce no planeta e que já até desbancou a cinematográfica em movimentação de ativos.

De qualquer forma, me fez pensar…

(Neste blog, já tratei de games e educação aqui e aqui)

(O blog do Steven Johnson está aqui)

mídia, adolescência e deficiência

Um estudo inédito observou como adolescentes com deficiência se relacionam com a TV no Brasil, Argentina e Paraguai. A pesquisa foi divulgada hoje pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância, ANDI.

Uma prévia: os adolescentes não se consideram retratados na mídia desses países.

“Garotas e garotos com deficiência pouco se reconhecem na programação de tevê, nos jornais e nas revistas. É o que revela o estudo ‘Mais Janela que Espelho: a percepção dos adolescentes com deficiência sobre os meios de comunicação na Argentina, no Brasil e no Paraguai’, lançado hoje (11/02) pela ANDI, Rede ANDI América Latina e Save the Children Suécia.  A pesquisa ouviu 67 adolescentes, a maioria na faixa dos 11 a 13 anos, com deficiência, de diferentes classes sociais, em três países latino-americanos – Brasil, Argentina e Paraguai – divididos em oito grupos focais nas cidades de São Paulo, Salvador, Buenos Aires e Assunção. A maioria esmagadora deles não se recordou de nenhuma notícia ou personagem televisivo que abordavam essa condição. ‘Apenas depois de diretamente questionados eles lembravam de algo e falavam no assunto’, conta Guilherme Canela, coordenador de Relações Acadêmicas da ANDI e do estudo”.

Conheço a pesquisa e os dados que ela traz nos ajudam muito a (re) pensar essas relações entre adolescentes, pessoas com deficiência e meios de comunicação.

Para ter acesso ao PDF com 41 páginas, clique aqui.

A Folha de S.Paulo deu uma nota no sábado, dia 2. Veja aqui.

fim das férias: séries e a vida que a gente leva

Não é porque é agora não. Mas os anos 90 e esta década são simplesmente o supra-sumo das excelentes séries de TV. Elas são numerosas, bem escritas, bem produzidas, envolventes, viciantes. Sei que antes já tivemos ótimos produtos, mas penso que agora não temos só bons, mas muitos e muito bons. (se você discorda, comente!)

Fiquei parado com Lost. Vi as três temporadas e me intriguei com a trama caleidoscópica.

No final da temporada de 2007, lá por junho ou julho, pensei: e agora? Os episódios só retornariam no final de janeiro. Eu tinha que conseguir algo para “pôr no lugar”, preencher o lobo de entretenimento do cérebro. Parti para os videogames. Enfrentei God of War, e fui até o final. Segui com a sequência e God of War II também foi zerado.

Voltei aos seriados e caí com o queixo em House.

Nestas poucas férias devorei as três temporadas inteirinhas. Terminei ontem mesmo.

Hoje, nos Estados Unidos, recomeça o Lost, a quarta temporada, curta por causa da greve dos roteiristas. Claro que vou voltar a acompanhar…

Mas você, que está aí do outro lado da tela, deve estar pensando: “Que besteira isso tudo. São apenas filmes e personagens que não existem. Tramas rocambolescas, ficção pura”.

Concordo. Claro que é. E é justamente por isso que importa tanto. Precisamos de fantasia, precisamos de ficção. Precisamos de narrativas todos os dias, como de ar ou de alimento. Essas narrativas me desviam o olhar, me mostram novos horizontes, me fazem ver para além da minha vidinha. A arte, a literatura, o cinema, as fofocas cotidianas, tudo isso me leva a surfar na vida contemporânea. Me dá alívio, frescor nas narinas, vento nos cabelos. 

Acompanhar o delegado Espinosa, dos romances de Luiz Alfredo García-Roza, não resolve meus problemas, não paga as minhas contas. Mas eu não o procuro para isso. Procuro para me divertir, para me envolver em outros problemas. Os meus eu faço questão de resolver. E se eu não os resolver, outros tantos ficarão na fila…

uma campanha mentirosa

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Quem tem TV a cabo sabe o que estou dizendo.

No meio da programação, um rapaz levemente calvo com ar grave e tom ameaçador diz que se um tal projeto de lei for aprovado haverá uma hecatombe na TV a cabo. Não poderemos mais escolher o que assistimos, pois “eles” escolherão pra gente. A liberdade vai acabar. Oh!!!

Uma pinóia!

A discussão gira em torno do projeto de lei 29/2007, que – entre outras coisas – define cotas de programação nacional na TV por assinatura. O anúncio da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) é super apelativo (veja aqui). O tom é apocalíptico. E mentiroso, sejamos claros.

Afinal, não é o telespectador quem define o que assiste. Se fosse assim, na minha casa, não teria os canais Canção Nova, Shoptime, Mercado Persa, Canal do Boi, TV Turfe, e por aí vai. A gente escolhe o pacote e a operadora, e olhe lá. Então, os caras vêm fazer beicinho porque alguns parlamentares querem instituir uma reservinha de mercado para os produtores nacionais (o que gera emprego e renda AQUI, promove a cultura regional, a diversidade de conteúdos, coisas sem importância, né?)…

Os caras são tão manipuladores que, no alto do site da campanha, acima do contador, eles colocam “Até agora são …. pessoas participando”. Como se quem passasse por ali estivesse engajado numa batalha.

Ora, faça-me o favor!

Para saber mais, veja o site da campanha da ABTA ou leia a resposta do deputado Jorge Bittar ao ataque.

Em tempo: O projeto de lei prevê cota de 50% para canais pagos brasileiros , mais 10% de programação nacional nos canais estrangeiros – que hoje somam 75% da programação da TV por assinatura no Brasil.