jornalismo: 20 mudanças em 10 anos

Paul Bradshaw listou na Press Gazette dez grandes modificações no panorama jornalístico que aconteceram na última década. Há de se concordar com todas elas, mas há mais. Bradshaw se restringe aos câmbios de cultura provocados pelo avanço tecnológico. Mas a realidade é maior.

As mudanças enumeradas pelo jornalista britânico são:

  1. From a lecture to a conversation
  2. The rise of the amateur
  3. Everyone’s a paperboy/girl now
  4. Measurability
  5. Hyperlocal, international
  6. Multimedia
  7. Really Simple Syndication
  8. Maps
  9. Databases
  10. Just a click away

Ok, ok. Eu gostaria de adicionar mais dez:

  1. A mídia está se tornando cada vez mais concentrada no mundo todo
  2. Cresce o número de processos contra jornalistas, seja porque esta é uma nova modalidade de hostilização dos poderosos, seja porque as vítimas da mídia recorrem mais aos tribunais
  3. Meios alternativos proliferam-se; alguns vingam, outros não. Ainda há instabilidade no mercado
  4. Cada vez se paga menos por conteúdos oferecidos online
  5. As mulheres invadiram as redações (bem como as escolas de comunicação, onde já são a maioria disparada dos alunos)
  6. A categoria jornalística – ao menos no Brasil – está mais desmobilizada do que nos anos 70, 80 e 90
  7. Explodiu o número de escolas de comunicação no país
  8. Jornalistas em cargos de chefia ou coordenação tem se rendido aos critérios do campo da administração para conduzir seu trabalho (repetem como ventrílocos  termos como reengenharia, inteligência emocional, tomada de decisão, endomarketing, market share…)
  9. Os departamentos jurídicos são cada vez mais influentes e decisivos nas empresas jornalísticas, cabendo a eles – em muitos locais – a última palavra sobre publicar ou não a matéria
  10.  O politicamente correto não tornou o jornalismo um produto melhor que antes

E aí? Quem tem mais dez novidades?

4 comentários em “jornalismo: 20 mudanças em 10 anos

  1. Ontem tivemos uma reunião no A Notícia com o comando da RBS, sobre as mudanças em andamento. Uma palestra do Marcelo Rech tocou nesses pontos que hoje são “tendência” (a palavra está até gasta já). Depois vou até postar sobre isso, se lembrar dos tópicos (não fiz o dever de todo bom jornalista de anotar…). No fim das contas, os jornais cresceram, cresceram, mandaram gente pra “Laundres” e “Niu Iorc”, para chegar hoje e se tocar que o grande trunfo tá no localismo e hiperlocalismo (jornalismo de bairro, de quadra, de uma única rua). O “jornalismo cidadão” tem dado bons resultados em qualquer catástrofe pública, como as chuvas, mas até agora não trouxe nenhuma investigação a toda – isso ainda demanda equipe de gente muito boa, que sabe o que tá fazendo, que trabalha pra caramba e que tem noção dos riscos que corre. Algo que dificilmente qualquer cidadão fará porque, do contrário, já teriamos uma democracia muito mais plena, sem tantos podres. E sobre jornalistas versus blogueiros, sou um pouco dos dois e não vejo conflito, mas também não acredito que um blogueiro sozinho faça um trabalho de apuração que uma equipe de reportagem, com amparo de dados, de mais cabeças pensantes, de linha telefônica e carro à disposição e, é claro, de um crachá, consegue fazer. Blogs são muito bons para levantar temas, dar pitacos (como quase todos nós fazemos). Agora, ir atrás, cavar dados onde eles não existem, receber xingões via telefone (quando não pessoalmente), enfrentar o trânsito caótico das 18h para entrevistar uma fonte fundamental lá na puta que pariu, isso é trabalho de orquestra com uma boa regência. Muitos jornalistas sabem e por isso não caem nessa de que os blogs minam a profissão. E muitos blogueiros, mesmo os bons, infelizmente não sabem, porque não vivem isso. Hoje pela manhã pensava, enquanto fazia café, que dizer que todo cidadão é jornalista seria mais ou menos como dizer que todo cidadão é juiz ou advogado e deixar nas suas mãos a justiça. Não duvido que já teriamos uma forca ou guilhotina na pracinha, aqui perto seguindo essa lógica. O mesmo vale para o Jornalismo. Sobre as mulheres na redação (e nas faculdades) minha tese é a seguinte: a maioria delas casa com médicos e engenheiros (para a desilusão de muitos jornalistas homens). Como médico e engenheiro ganha bem mais e sustenta a casa, a mulher complementa a renda familiar com os R$ 1.050,00 que recebemos de piso (para alguns, praticamente o teto) aqui em SC. Não se vê mais pai de família que sustente filhos sendo repórter. Ou já viraram editores, ou colunistas (ganhando, muitas vezes, por fora) ou largaram o osso e foram fazer assessoria, montar agência de comunicação (diga-se: publicidade), essas coisas. Quem tá na linha de frente hoje nas redações, entre homens, é uma galera imberbe e recém-formada, que tem de conviver com muitos preconceitos, pressões de vários lados (fontes, editores, etc.), quando não ter de lidar com cagadas de gente das antigas que tratavam políticos, comandantes e empresários a pão-de-ló em troca de jabás. E é uma parada dura pra quem é jovem e até então achava que o jornalismo poderia trazer alguma esperança. Isso ficou um post e não um comentário, mas tudo bem. Acercentaria a essa tua lista, Christofoletti, a tendência da ida de repórteres e gente do editorial para assessorias de comunicação. Obviamente, em troca de mais grana. Mas às vezes para fazer trabalho de relações públicas, publicitários e até designers (caso de quem diagrama materiais, também, o que sempre achei uma competência que deveria ir para os designers gráficos e não ficar com jornalista nem publicitário; pensando bem, aulinhas rasteiras de como mexer em programas de editoração só fazem o aluno pagar mais um semestre, quando qualquer apostila e uma versão pirata do programa resolveria a parada). Bom, se pensar mais coisas, acrescento. Devia postar isso no meu blog, como resposta. Tavez faça isso. Desculpa a quilometragem e abraços

  2. iê…10 naum sei, mas…

    Rogério, só na área do webjornalismo as mudanças aconteceram à velocidade luz, ou bits?!

    1. Mudou a rotina de produção
    2. Ampliaram-se as fontes
    3. O fotojornalismo sofreu o up grade do analógico para o digital
    4. A relação do jornalista com o seu público ficou mais estreita (correio electrónico)
    5. Alterou-se o papel do gatekeeper
    6. O modelo espiral disparou para o bumerangue caleidoscópico (ui, penso eu…),
    7. E alguns já brindam o nascimento do então latente 5º poder (blogosfera). Será?

    Alguns autores estão a teorizar sobre o 5º Poder que a blogosfera pode representar no momento actual, e que vem à reboque de um certo desgaste do 4º Poder.
    Sabemos que a categoria (jornalística) perdeu muito de sua credibilidade justamente por ser um dos pilares da ‘indústria da comunicação’ (atrelada ao seu sustentáculo, que é o grande capital).
    Já Ramonet havia proposto em 2003 a teoria do “5º Poder” como alternativa à dominação midiática globalizada, que simpatizo e emendo, é urgente! Não acredito que a blogosfera (a que se presta a desenvolver conteúdos similares aos jornalísticos) está só a servir de fonte para os grandes veículos, como outros cientistas afirmam, mas sinto, muito sinceramente, que é um ‘movimento’ a crescer exactamente por ter voz activa, e livre. Os contornos disto são visíveis. E estamos a presenciar as convergências ao nível da blogosfera, cada vez mais alinhadas, paralelamente às instituídas pelos veículos de comunicação.
    8. No contexto do 5º Poder não podemos ficar alheios à crescente participação do Repórter-Cidadão, ou do Jornalismo Participativo.
    9. Não podemos deixar de observar também as mudanças nos paradigmas de tempo e espaço, com o avanço das novas tecnologias, que no webjornalismo não mais se configuram como há 10 anos, ou seja, deadline e limite de conteúdo pimba, parecem estar ultrapassados, mesmo porque a mídia também parece estar, em sua maioria, ‘obrigatoriamente’ em linha.

    Oh my opinion…rs…bjs e boa semana!

    Obs: Sobre a Indústria da Comunicação, encontrei um link interessante com um não muito recente raio x do Brasil, mas que vale dar uma vista d’olhos. Está em: “A indústria da comunicação publicitária e de conteúdo”, de João Carlos Fonseca: http://www.telebrasil.org/impressao/artigos.asp?m=361

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