Devorei com curiosidade e prazer a graphic novel de estreia de Jen Wang: Koko be good – não é fácil ser boazinha, que chegou este mês às bancas e livrarias brasileiras.
Wang é uma jovem artista norte-americana com ascendência oriental que desenha e escreve tão bem que parece uma veterana da arte sequencial. Socióloga de formação, Wang jé teve ocupações inusitadas e temporárias como qualquer jovem que está buscando um lugar para si no mundo. Aliás, neste sentido, Koko be good reflete muito as angústias de quem está às vésperas de se formar na faculdade e ainda não tem muito definido o que quer fazer “quando crescer”. Iniciar uma carreira, ingressar no famigerado mundo dos adultos, romper grilhões com a família e o passado, escrever a própria história, dar rumos à vida, concretizar sonhos… tudo isso (e mais!) está embutido no universo da irriquieta e eletrizante Koko, do angustiado Jon, do taciturno Faron, cujos destinos se cruzam nas mais de 300 páginas da HQ.
Buscar satisfazer sonhos individuais ou atuar em causas coletivas e sociais?, perguntam-se os personagens, com uma indisfarçável culpa herdada de não se sabe quem. Afinal, parece que quem corre atrás das próprias demandas não é tão bom (no sentido da bondade) quanto aqueles que se doam para projetos mais comunitários.
Para além de um roteiro bem escrito e de diálogos bem amarrados, a HQ traz um dos melhores traços que vi nos últimos anos. Sério! Jen Wang é econômica e eficiente, e domina com leveza as regras da narrativa que junta texto e desenho. Sua arte lembra a de Will Eisner, mas o grande mestre sempre foi muito detalhista nos cenários, na caracterização de figurinos e no histrionismo de seus personagens. Jen Wang concentra seu talento na expressividade de rostos desenhados com rapidez e limpeza. Tem atributos ricos para quem se dedica à caricatura e à charge: síntese e drama, expressão e economia de linhas.
Além disso, Jen Wang é clara e fina nos contornos. Distribui bem os quadros na página, e varia na orientação de leitura, conduzindo o leitor sem solavancos. Senhora de si, ela não se apoia nas cores, e suas pranchas de desenho ficam bem estruturadas no preto, no branco e em tons pasteis. Nada mais.
Se você gosta de quadrinhos e não conhecia Jen Wang, anote este nome. Ouviremos falar muito bem dessa moça.
Se você não gosta de quadrinhos, essa moça pode te fazer mudar de ideia.
PS – Koko é uma personagem carismática, apaixonante, viciante. Pegue duas doses da Mônica (Maurício de Sousa), junte com mais duas de Mafalda (Quino) e bata com raspas de Ravena (Teen Titans), Lola (Charlie & Lola) e Menino Maluquinho (Ziraldo). Sirva fervendo…