Meu novo livro está no prelo

Vem aí pela Estação das Letras e das Cores
Logo, logo, teremos mais informações sobre pontos de venda para além do site da editora.
E, sim! Vai ter ebook!

Que animal você é nas redes sociais?

Você deve ter visto dezenas de testes com perguntinhas capciosas como esta nas suas redes, não é mesmo?

Foi sem querer. Juro.

Na verdade, eu estava pensando em bichos, em animais. Por essas combinações malucas que a cabeça da gente faz, acabei lembrando de como às vezes recorremos aos nossos afetos animalescos para explicar as coisas. E, de repente, cruzei lembranças de dois livros que li há algum tempo. Pensei em ratos, gatos e cachorros. E humanos também.

Eli Pariser disse no longínquo ano de 2011 que precisamos deixar de ser ratos. Ele estava nos explicando como funcionam os filtros-bolha, uma novidade que começava a dar as caras naqueles dias e que hoje – infelizmente! – nos é muito familiar. Pariser nos dizia que as redes sociais acabam nos encerrando em bolhas, lugares confortáveis que ecoam coisas parecidas com as que sentimos e pensamos. E que nos isolam daquilo que pode representar algum tipo de risco, incerteza ou ameaça. E Pariser também argumentava como somos previsíveis. Para isso, recorreu a uma rudimentar invenção humana, a ratoeira. Ele cita a taxa de sucesso (!) do dispositivo e diz que ele só funciona porque os ratos são repetitivos e, portanto, previsíveis. Caem na armadilha porque se deixam seduzir por um naco de queijo ou menos ainda. Como nós, nas redes. O recado de Pariser é: deixemos de ser ratos!

Outro cara, o Jaron Lanier, deu outro recado importante. Foi no ano passado. Lanier disse que as redes sociais e as grandes plataformas querem nos adestrar, querem nos fazer agir como cães, a seguir obediente as ordens, a fazer coisas que não nos sujeitaríamos antes. O recado: sejamos mais gatos e preservemos as nossas autonomias, personalidades e singularidades.

Lanier sabe o que diz. É um sujeito importante para a história da realidade virtual, alguém que ajuda a construir o futuro, mas não se deixa escravizar por máquinas ou sistemas. Pariser não é qualquer um também. Tem contribuições importantes para o ativismo social e a tecnologia, e tem posições muito críticas sobre a nossa organização política e comunitária, por exemplo. Lanier e Pariser merecem ser ouvidos, portanto.

(E lidos: O filtro invisível e Dez Argumentos para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais são leituras deliciosas e esclarecedoras, quando não engraçadas e assustadoras).

Combinados, os recados poderiam ser um só: humano deixe de ser rato e cachorro, e seja mais gato. Bob Marley já cantou isso de uma forma muito poderosa: “Emancipate yourselves from mental slavery. None but ourselves can free our minds” (“Liberte-se da escravidão mental. Ninguém senão nós próprios podemos libertar as nossas mentes”). Autonomia, amigos. Liberdade, amigos.

Cada vez mais tenho pensado nisso, e cada vez menos tenho ficado nas redes sociais. Elas têm me aborrecido mais do que informado. Elas têm me deprimido mais que me conectado com outras pessoas. Não preciso acreditar que deixar as redes sociais da internet seja abandonar meus amigos ou as pessoas que amo, admiro e respeito. Tenho me preparado para um desembarque. Tentado ser mais gato.

Por isso, pretendo cada vez mais estar neste blog. É a minha forma de te convidar a deixar as redes e ver o que está acontecendo aqui fora, na internet.

Revista sobre qualidade no jornalismo, democracia e ética prorroga prazo

Os editores do número especial sobre qualidade no jornalismo, democracia e ética da revista Estudos em Jornalismo e Mídia informam que o prazo de recebimento de artigos se estendeu um pouquinho. O deadline era 30 de março, mas propostas serão recebidas até dia 7 de abril.

Estudos em Jornalismo e Mídia é o periódico científico do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGJOR). Ele circula desde 2004, é semestral, gratuito, indexado em importantes bases internacionais, e é classificado como uma revista B1 no Qualis/Capes.

O número especial está sendo organizado por Carlos Camponez, da Universidade de Coimbra, e eu.

Para ter acesso à chamada de textos, vá por aqui.

Oportunidades para pesquisar jornalismo

Há mais ou menos trinta anos, um velho jornalista fazia um convite sorridente: “vem comigo!

E lá íamos nós no ombro dele para descobrir como as coisas funcionavam, como eram personagens invisíveis, e como a vida acontecia. Quero repetir o bordão do Goulart de Andrade com você que pretende pesquisar jornalismo num mestrado ou doutorado.

Estão abertas as inscrições para o processo seletivo do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC, uma reconhecida escola que há 40 anos forma jornalistas e há mais de 10 forma mestres e doutores na área.

São três fases: análise de projeto e currículo, prova escrita e entrevista.

O prazo de inscrição vai até dia 17 de março, e os resultados finais devem sair no final de junho. Os detalhes podem ser conferidos no edital, e se eu fosse você, atentaria para duas dicas:

  1. Leia o edital com calma e atenção. As regras do jogo estão lá, inclusive os interesses de pesquisa dos possíveis orientadores de sua tese ou dissertação.
  2. Navegue pelo site do PPGJOR e conheça o programa. Pode ser a sua nova casa nos próximos anos…

Estou abrindo duas vagas para mestrado e duas para doutorado. Como o edital deixa bem claro, não preciso preencher todas elas, mas seria muito bom receber mais quatro pessoas dispostas a pesquisar ética jornalística, privacidade, transparência, media accountability, e crise no jornalismo. Atuo no Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), onde desenvolvo pesquisa e extensão com uma equipe incrível e altamente comprometida. E lá temos outros dois professores que podem orientar sua pesquisa. Fora dali, há outros grupos no mesmo programa de pós-graduação. Então, as oportunidades para pesquisar jornalismo são muitas!

Se você se interessou por alguma das temáticas com que trabalho ou se quer trabalhar com a gente no objETHOS, “vem comigo!”

 

 

Um depoimento de como o Twitter afeta nosso comportamento

Marcelo Träsel já foi um usuário inveterado no Twitter. Opinava, informava, discutia, brigava. Mas há um ano está longe daquela rede social.

Algumas razões pessoais o levaram a isso, e o mais corajoso nem é se desligar da rede, mas fazer um profundo exame de consciência e uma revisão de suas atitudes. Passado um ano de abstenção, Träsel faz um relato pungente de como o Twitter continua fabricando babacas, de como pouco se importa com crimes e linchamentos pessoais, e de como isso nos faz cada vez piores.

Leia o Träsel. Pense a partir dele.

Competindo com robôs

De repente, ando lendo muita coisa sobre inteligência artificial, automatização de redações e robôs no jornalismo. No momento, estou devorando “Ética para Máquinas”, de José Ignacio Latorre, e talvez por isso esteja muito atento ao relacionamento que nós, humanos, temos com elas, as coisas.

Daí que fui a uma exposição na CaixaForum aqui em Sevilha (Tecno Revolución: La era de de las tecnologias convergentes) e nela fui desafiado por um robô para duas partidas de jogo da velha.

Na verdade, não era um robô do tipo andróide, desses que os japoneses adoram e constroem muito bem, e que nos perturbam pela extrema semelhança. Era um braço mecânico com sensores, bem ao estilo das montadoras automobilísticas do ABC, programado a manipular peças num cenário com n possibilidades.

Pois bem, primeira partida: empate. Segunda: empate, de novo.

Não sei porque, mas ao deixar o painel de controle, lancei um olhar maroto para o robô como quem diz: não ganhei, mas também não deixei ele ganhar.

Será esse nosso conforto nos próximos tempos? Responda se for humano.

 

 

Não se engane com mais essa do Facebook

Mark Zuckerberg quer nos fazer acreditar que anda muito preocupado com a privacidade.

Por isso, está movendo suas pecinhas para que as mensagens diretas do Instagram, as do Messenger e o WhatsApp se fundam e fiquem todas sob um escudo protetor de criptografia de ponta a ponta. Isto é, Zuckerberg acha agora que é preciso mais segurança para o usuário e blá-blá-blá-blá!

Não se engane.

Se Facebook e demais big techs ganham a vida vendendo, trocando e usando os dados que extraem de nossas contas em redes sociais, por que fechariam a porta para não mais fazer isso? Ou no linguajar técnico: por que atentariam contra seu próprio modelo de negócios?

O repórter Alex Hern, do The Guardian, tem uma hipótese: Zuckerberg quer colar tanto suas companhias que vai ficar complicado quando burocratas dos Estados Unidos e União Europeia quiserem cindir seu império. Zuckerberg estaria apenas se antecipando no jogo de xadrez para não ficar acuado.

Com um misto de ceticismo e indignação, o jornalista especializado em tecnologia espanhol Enrique Dans qualificou a atitude de “insultante”.

Uma das mais importantes organizações de defesa das liberdades na web, a Eletronic Frontier Foundation, disse que só vai acreditar num Facebook focado na privacidade quando vir um. Eu também.

Como usuários, queremos privacidade e queremos transparência. Não minta, Zuckerberg! Não despreze nossa inteligência e capacidade de dúvida.

ATUALIZAÇÃO: As coisas não serão fáceis para o Facebook na Europa, pois sua ideia de integração pode ser o rompimento com o acordo anti-truste da região e uma afronta à legislação de proteção de dados. É por isso que o Facebook está pesando a mão nos lobbies. Inclusive no Brasil, informa The Guardian.

Relatório acusa Facebook de violar privacidade e pede punição

O Facebook deliberadamente violou a lei de privacidade e concorrência e deve urgentemente estar sujeito a regulamentação estatutária, de acordo com um relatório parlamentar devastador que denuncia a empresa e seus executivos como “gangsters digitais”.

O relatório é resultado de 18 meses de investigação e se debruça sobre desinformação e notícias falsas. O documento acusa o monstro tecnológico de obstruir investigação sobre o tema e de falhar em atacar as tentativas da Rússia de manipular eleições.

Em reportagem, o jornal The Guardian reproduz síntese do documento e falas contundentes do presidente do comitê, Damian Collins: “A democracia está em risco com o alvo malicioso e implacável dos cidadãos com desinformação e anúncios obscuros personalizados de fontes não identificáveis, entregues através das principais plataformas de mídia social que usamos todos os dias”.

Os parlamentares britânicos estão muito, muito irritados com o Facebook e querem impor limites à empresa. Não é só porque ele viole a privacidade dos cidadãos, mas também porque atente quanto à livre concorrência, seja demasiado poderoso e ofusque a democracia. Não é qualquer coisa. Ao que tudo indica, a coisa não vai parar no tal relatório…

A reportagem pode ser conferida aqui

Desinformação e eleições: uma publicação digital

A Artigo 19 acaba de lançar uma plataforma digital que junta reflexões e recomendações sobre desinformação, liberdade de expressão e eleições. A publicação digital traz ainda casos ocorridos na campanha eleitoral de 2018 no Brasil, episódios de ameaças a comunicadores, e entrevistas com especialistas. Entre os oito capítulos, um específico sobre WhatsApp…

Acesse aqui.

Comunicação e direitos humanos, uma cartilha

A Associação Henfil e a Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania de Minas Gerais lançaram uma cartilha sobre comunicação e direitos humanos. A publicação é gratuita e pode ser baixada aqui.

Na cartilha, o leitor encontra textos sobre democracia, concentração dos meios de comunicação, fake news e a necessidade de democratização da comunicação. No final, há também um roteiro de oficinas para serem livremente replicadas e adaptadas para diversos contextos, para além dos Geraes…

Monitorando as mamatas no novo (?!) governo

E se tivéssemos uma forma de registrar e contabilizar falcatruas e otras cositas más do governo que acaba de completar um mês? O bom é que já temos!

Acabou a Mamata é um site que vem fazendo isso de maneira simples e bem humorada. Confere aqui!

PS – Claro que isso também é função do jornalismo. Por isso, se você acredita na democracia, acredita que tem direito a saber das coisas que te afetam, não deixe de seguir os bons exemplos de jornalismo crítico, responsável e compromissado. Há muitas iniciativas por aí!

Vamos discutir jornalismo e cobertura de desastres?

Na próxima segunda-feira, 4, acontece o Seminário Coberturas Informativas de Desastres, iniciativa do Instituto Universitario para el Desarollo Social Sustenible (INDESS) da Universidad de Cádiz. Estarei com as professoras Marcia Franz Amaral e Esther Puertas, e os professores Carlos Lozano Ascensio e Jose Antonio Aparicio. O evento acontece em Jerez de La Frontera, na Espanha.

Mais detalhes aqui e no vídeo abaixo:

Uma série brasileira sobre jornalismo, ética e poder

Contracapa mostra uma equipe de jornalistas de um jornal impresso enfrentando situações de risco ao investigar um esquema de corrupção no Brasil. A série tem 12 episódios e estreou no dia 21 de janeiro na TV Brasil e TV Educativa Paranaense. Com criação de Rafael Waltrick, direção geral de Guto Pasko e produção de Andréia Kaláboa, Contracapa deve ter uma segunda temporada, informa a GP7 Cinema.

Uma newsletter sobre lei de acesso à informação

O Fiquem Sabendo, projeto independente com objetivo de revelar informações de interesse social e que o poder público não divulga, acaba de lançar a primeira newsletter nacional especializada em Lei de Acesso à Informação (LAI). A newsletter se chama Don’t LAI to Me, é quinzenal, de graça, e “tem tem como objetivo criar uma rede para fomentar a transparência pública e o controle social”.

Nela, notícias, exemplos de reportagens feitas com base na lei de acesso e dicas preciosas para QUALQUER UM usar seu direito e solicitar informações de caráter público na sua cidade, estado ou mesmo em órgãos federais.

Esta é mais uma iniciativa jornalística, mas que marca uma nova fase do projeto. Se o Fiquem Sabendo foi criado para ser um portal de notícias sobre temas como transparência e direito à informação, agora, ele passa a ser uma agência de dados, conforme explica Maria Vitória Ramos. Aliás, a Fiquem Sabendo é ela, Léo Arcoverde, Luiz Fernando Toledo e Matheus Moreira, jovens repórteres com experiência em farejar histórias por trás de dados opacos e escondidos.

Em tempos que prometem ser sombrios para a sociedade, com ocultação de informações e um perverso ambiente de negação do jornalismo profissional e de propagação de desinformação, vale muito a pena assinar a Don’t LAI to Me. Por aqui, por favor!

Cresce violência contra jornalistas no Brasil

Relatório da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), lançado na última sexta-feira (18), revela que as agressões contra jornalistas cresceram 36,36% em 2018 em comparação ao ano anterior. Foram registradas 135 ocorrências que vitimaram 227 profissionais no Brasil. A greve dos caminhoneiros e transportadoras e as eleições ajudaram a aumentar a violência contra a categoria.

O relatório completo pode ser conferido aqui.

Uma resenha sobre o novo livro de Stephen J. Ward

No ano passado, li o mais recente livro de Stephen J. Ward – Disrupting Journalism Ethics – e minha resenha acaba de ser publicada na revista Estudos em Jornalismo e Mídia, do Posjor/UFSC. O livro reúne algumas das principais ideais desse que é um dos autores mais influentes da ética da comunicação. A resenha está aqui.

A edição da EJM traz também artigos sobre diversidade, produção e recepção, e vale a pena ser consultada. Por aqui, por favor.

Conferência sobre ética na mídia recebe artigos até 28/02

Pesquisadores têm pouco mais de um mês para encaminhar suas propostas de comunicação científica para a 5ª International Conference On Media Ethics, que acontece em Sevilha, em 28 e 29 de março. São 9 eixos temáticos: Autorregulação e deontologia; Cidadania ativa e mídia; Proteção de grupos vulneráveis; Igualdade de gênero e comunicação; Ética na arte e na mídia; Publicidade e Relações Públicas; Media Accountability; Teorias da Comunicação e implicações éticas; Estudos sobre Rádio e TV.

O prazo para recebimento vai até 28 de fevereiro, e são aceitas propostas em português, inglês e espanhol.

A chamada pode ser conferida aqui.

Mais informações em: https://congreso.us.es/mediaethics/

5 links fresquinhos sobre ética e privacidade

  • Marcio Moretto Ribeiro fala sobre o WhatsApp, sua criptografia de ponta a ponta e sua capacidade para espalhar desinformação. Para o autor, que é um dos coordenadores do Monitor do Debate Político no Meio Digital, a privacidade não combina com broadcast. Que dizer: temos um problema de foco aqui.
  • The Guardian informa que o Tribunal de Justiça Europeu decidiu preliminarmente que o direito de esquecimento não vale para todo o mundo, mas apenas se aplica aos países que fazem parte da comunidade européia. Parece óbvio, né? Mas a disputa é mais complexa se levarmos em consideração que a internet não respeita fronteiras e que o direito ao esquecimento é entendido por alguns como um desdobramento dos direitos civis, extensivo portanto a todos os seres humanos…
  • Já que é assim, que tal intensificar seus cuidados digitais? Afinal, segurança digital é o oposto de paranóia, como dizem os caras do Autodefesa. No site deles, dicas, manuais, técnicas, tudo em português e descomplicado. Favorite, navegue à vontade, e volte sempre que puder.
  • Mesmo se protegendo, os Cinco Olhos estão de butuca! O Privacy News Online conta em detalhes e em 4 partes como a NSA espiona todo o mundo.
  • Esta é para pesquisadores: a Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade (Lavits) já está recebendo propostas de comunicações para seu 6º simpósio, que acontece em junho em Salvador. Mais detalhes aqui.

Para odiar Facebook, Google, Uber…

A leitura de Big Tech: A ascensão dos dados e a morte da política, de Evgeny Morozov, deixa um recado claro: tudo bem odiar as grandes empresas do Vale do Silício e seus tentáculos espalhados em nossa vida contemporânea.

Se você desconfia da felicidade plena que nos vendem as grandes plataformas, se você não acredita no paraíso digital que nos soterram com seus anúncios, este é um ótimo livro para começar o ano. A coletânea de nove artigos publicados nos últimos anos na imprensa europeia pelo pensador bielorrusso é uma grande oportunidade também para os leitores de língua portuguesa que ainda não conheciam suas ideias críticas.

Morozov é uma das vozes mais ácidas e lúcidas do momento, e seus disparos não são movimentos instintivos de um tecnófobo ou ludista. Com argumentos sólidos, exemplos atuais e linguagem clara, ele se opõe ao que chama de solucionismo tecnológico, denuncia a falácia da economia do compartilhamento, e mostra que as Big Tech são menos o hall colorido dos escritórios do Google e mais uma face cosmética do apetite infinito do capitalismo global. O autor também chama a atenção para a corrosão incessante de nossa privacidade e vida íntima, para as contradições que cercam a ascensão dos dados como “novo petróleo” e para os efeitos na organização política e social dos humanos…

Ouçam o Morozov. Leiam o que ele escreve. Pensem no que ele diz.

A posse de Bolsonaro nos jornais

Estas são as primeiras páginas dos jornais de hoje, 2 de janeiro, e elas ilustram em maior ou menor grau o alto adesismo ao governo que começa. Vamos ver até quando dura essa lua-de-mel.

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Falhamos em 2018. Vamos tentar de novo?

No finalzinho de 2017, postei aqui uma mensagem que traduzia o que eu desejava para o ano que estava começando. “Que em 2018 nossa indignação se torne ação!” Me lembro bem que era um desabafo pelo que estávamos amargando na vida política e social no Brasil, pelos muitos retrocessos que estávamos colecionando e por um inarredável sentimento de apatia.

Bem, o ano voou e os seus ventos não trouxeram as mudanças que eu queria ou esperava. Falhamos nesse sentido. Nossas queixas não se transformaram nos gestos para remoldar a nossa existência. Vamos tentar de novo!

Não estou menos combativo que antes. Mas nessas últimas horas que nos separam de 2019, tenho outro desejo: Que em 2019 tenhamos novos horizontes. Isto é, precisamos voltar a sonhar, a desejar, a imaginar e a criar outros mundos. Vamos?

Gracias Ministério del Tiempo

Foi por acaso (talvez não) que semanas antes de mudar para a Espanha eu tenha encontrado Ministério do Tempo, série televisiva criada por Javier e Pablo Olivares. Na trama, o governo espanhol mantém há séculos uma divisão secreta para zelar pela história daquele país. Para que isso ocorra, patrulhas viajam por portas que se conectam a episódios históricos, e os agentes se encarregam de que as coisas funcionem conforme se espera…

Criativa e divertida, a série conquistou de imediato a mim e a meu filho. Foi uma chance preciosa para conhecer trechos da história da Espanha, alguns personagens importantes e ainda fazer um curso intensivo da língua. Nos tornamos “ministéricos”, como são conhecidos os fãs da atração… É só um programa de TV, eu sei, mas a gente se afeiçoa a alguns personagens, sofre com outros, e com eles convivemos naquelas tantas horas de atenção.

Nos últimos seis meses, fomos devorando os 34 episódios aos poucos, e só ontem, cheguei ao último.

Desta vez, assisti sozinho porque meu filho já tem outros interesses, como o Alonso de Entrerríos da série. Eu nem percebi, mas o tempo passou rápido aqui também.

El mejor del tiempo és vivirlo. Muchas gracias Ministério del Tiempo…

Mais 10 assuntos de jornalismo para se falar em 2019

O jornalista Alexandre Gonçalves se queixou outro dia que só falamos sobre fake news nos últimos tempos, e que era preciso virar o disco. Não contente, listou 10 assuntos sobre jornalismo, jornalistas e marketing digital para se falar em 2019.

Aceito a provocação porque discordo: penso que ainda é cedo para estarmos cansados do assunto. Precisamos discutir, entender e pensar mais sobre o tema das notícias falsas e da desinformação. E precisamos debater e falar mais e mais e mais sobre jornalismo. Por isso, lanço outras 10 questões de jornalismo para o próximo ano:

Fake news e legado para as redações
Sim, tivemos uma campanha atípica, bastante assimétrica e surpreendente, altamente contaminada por fatores externos, humanos ou robotizados. As verdades ficaram para trás e muita gente foi enganada, manipulada e desorientada. Por isso, precisamos saber o que aprendemos sobre as fake news com as eleições de 2018 e podemos evitar em 2019…

Armas contra as notícias falsas
Que arsenal as redações têm para combater a desinformação na atualidade? Podemos combater as fake news ou vamos ser enredados novamente por elas?

Pautas-bomba e cortinas de fumaça
Parte expressiva dos governantes e parlamentares a assumir em janeiro tem recorrido a boatos, informações enviesadas e polêmicas midiáticas para impor seu discurso no debate público. Os jornalistas conseguirão desviar dessas cascas de banana e assumir seus papéis de fiscalizadores dos poderes?

Spotlights
O jornalismo investigativo é raquítico ainda nas mídias estaduais e locais. O que se pode fazer para criar iniciativas que se dediquem ao jornalismo de grande fôlego e de alto impacto na vida pública? Podemos sonhar com equipes especializadas em jornais de porte médio, por exemplo?

Diversidade no colunismo
O colunismo político está dominado por titulares que expressam o pensamento conservador e parece altamente comprometido com pautas do centro e da direita. A maior parte dos colunistas é homem, mais velho, branco, heterossexual e pertencente a elites intelectuais ou financeiras. Teremos em 2019 um colunismo político mais plural?

Robôs e outras traquitanas
Redações médias e pequenas vão utilizar recursos tecnológicos dotados de inteligência artificial para auxiliarem seu trabalho cotidiano? Vão automatizar sistemas que aperfeiçoem o jornalismo? Que tal usar IA para identificar fake news e frear sua disseminação?

Independência
É visível hoje o comprometimento editorial de algumas seções ou temáticas de cobertura. Será possível para 2019 esperarmos um jornalismo econômico menos refém das pautas do grande capital? Conseguiremos oferecer reportagens sobre tecnologias que não sejam meramente bajuladoras das empresas do setor? Teremos um jornalismo de turismo e viagem que seja crítico e independente?

Verbas públicas e jornalismo
Recentemente, em Florianópolis, foi lançada uma frente parlamentar para discutir a democratização da comunicação na cidade. Promete mexer no vespeiro. Será que finalmente vamos rediscutir a distribuição de verbas públicas publicitárias?

Financiamento dos pequenos
Se conseguirmos mexer no vespeiro das verbas públicas para publicidade, os empreendimentos locais independentes conseguirão mostrar-se competitivos ou “merecedores” desses recursos?

Mais jornalismo na veia
Com novos governos e novos cenários, o jornalismo terá a oportunidade de renovar seus compromissos com seus públicos. Teremos a oportunidade de injetar doses mais generosas (e necessárias) de jornalismo na veia da sociedade. Já pensou na quantidade absurda de oportunidades para grandes investigações que teremos em 2019?

Mais um livro sobre a crise do jornalismo

Estou ausente por aqui porque ando mergulhado na escrita de um livro, que tem como título provisório A crise do jornalismo tem solução?

Nele, discuto aspectos financeiros, de credibilidade, relevância, governança e ética na profissão. Discuto a crise pela perspectiva brasileira, mas dialogo com autores internacionais e analiso movimentos em outros países…

Enfim, é um livro modesto e que vai integrar uma coleção recém-lançada por uma editora paulista. A sair nos primeiros meses de 2019. E é tudo o que posso dizer por enquanto. Torçam para que eu chegue logo ao ponto final…

Precisamos de mais redes de afeto

Na semana passada, lançamos em Coimbra a Rede Lusófona pela Qualidade da Informação. “Lançar uma rede” é uma expressão recheada de significados aqui e isso tem a ver com o próprio ato do pescador que desafia a madrugada em busca de sustento. No fundo, esse é um gesto de esperança, de quem deseja colher bons frutos.

Foi um dia especial aquele, e na saída, a tarde se despedia no Pátio das Escolas, no coração de uma das universidades mais antigas do Ocidente. Falei por alguns minutos na cerimônia de criação da RLQI, representando os signatários, e foi mais ou menos assim:

Ao cumprimentar o Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra, estendo a saudação às demais autoridades, aos signatários desta rede e ao público presente.

Agradecemos a acolhida da Universidade de Coimbra nesses dias e, em especial, ao professor Carlos Camponez, por seu entusiasmo e profissionalismo, o que resultou na ampla articulação desta Rede Lusófona pela Qualidade da Informação.

Estamos felizes!

Não porque o congresso esteja terminando, mas porque este é um momento muito especial.

Um certo português escreveu certa vez que “Deus quer, o homem sonha e a obra nasce”. Sim, a Rede Lusófona pela Qualidade da Informação surge e ela é fruto de sonhos, mas sabemos bem que teremos que trabalhar muito para que ela se torne realidade. O português que escreveu esse verso era muitas pessoas, e ele disse também que “o mesmo mar que separa, une”.

Somos uma rede unida pelo mar, mas não somos uma rede de territórios, de países, de mapas. Somos uma rede unida por algo mais poderoso ainda: a língua portuguesa. Não se pode prender, acabar ou fazer desaparecer uma língua. Ela habita o nosso interior e ajuda a constituir os sujeitos. “A língua é minha pátria”, escreveu mais uma vez aquele português.

A Rede Lusófona pela Qualidade da Informação surge hoje, dia 14 de novembro de 2018. Amanhã é dia 15, e no meu país, o Brasil, se comemora o Dia da Proclamação da República. Muitos colegas vieram nos últimos dias conversar comigo, preocupados com os rumos do Brasil, depois dos resultados das eleições. Eles perguntavam sobre o país e eu tampouco sei explicar o que se passa por lá. E o que é pior, se num futuro breve, teremos república, teremos Brasil…

Temos cada vez mais claro que as eleições deste ano foram atípicas, e que foram contaminadas por notícias falsas, por um sistema sofisticado de desinformação, típico do que estamos chamando mais recentemente de pós-verdade. Neste contexto, é muito oportuno criar uma Rede Lusófona pela Qualidade da Informação, afinal, os meus colegas não estão preocupados apenas com o Brasil, mas com a democracia como um todo. Estão também preocupados com o jornalismo, isso que ajuda as pessoas informadas a tomar decisões pequenas e grandes.

Sim, uma Rede Lusófona pela Qualidade da Informação tem muito a fazer.

Mas uma rede como essa salva a democracia? Não.

Salva o jornalismo? Também não.

Mas por outro lado, vamos ficar parados e calados? Claro que não.

Este é um tempo difícil, e é cada vez mais necessário criar redes de cooperação, elos de trabalho, vínculos coletivos. Precisamos de redes de afeto, de respeito e de conhecimento.

Uma rede é feita de nós, e precisamos fortalecer esses laços. Precisamos tramar novas redes, de afetos e trabalho, e assim, desafiar o mar revolto.

Estamos felizes sim. Muito obrigado!

Qualidade no Jornalismo, democracia e ética: uma revista

A revista Estudos em Jornalismo e Mídia, da Universidade Federal de Santa Catarina, está com chamada de textos aberta para um número especial sobre qualidade no jornalismo, democracia e ética.

A data final de envio de artigos é 30 de março e a edição deve sair no segundo semestre de 2019.

Aceitam-se textos em português, espanhol e inglês. A revista é eletrônica, semestral, aberta, com sistema de double blind review e é avaliada como uma B1 no sistema Qualis/Capes.

Mais informações aqui.

Vem aí uma rede lusófona pela qualidade da informação

Nos dias 13 e 14 próximos estarei em Coimbra para o Congresso Internacional Ética e Deontologia do Jornalismo no Espaço Lusófono, um evento que vai apresentar as mais atuais pesquisas científicas na área entre os países que falam português e que vai lançar oficialmente a Rede Lusófona de Qualidade da Informação (RLQI).

A rede vai integrar membros acadêmicos e profissionais dos nove países da comunidade em língua portuguesa para fazer pesquisas internacionais, para fomentar debates e produzir materiais que contribuam para o aumento da qualidade na área.

Para acompanhar, siga por aqui.

Mais 10 iniciativas jornalísticas que merecem seu apoio

A Ponte, um dos projetos jornalísticos mais consistentes para cobertura de segurança pública, violência e direitos humanos, publicou outro dia uma lista com 10 iniciativas jornalísticas que merecem o apoio das audiências. A lista é muito boa e chama a nossa atenção para a necessidade de fortalecermos o jornalismo neste momento tão confuso e sombrio da história brasileira.

>>>> Sim, é necessário apostar no jornalismo profissional.

>>>> Sim, é preciso dar suporte ao jornalismo comprometido com valores democráticos e direitos humanos.

>>>> Sim, é urgente não apenas dar likes e compartilhar seus conteúdos, mas sobretudo ajudar a pagar as contas de meios e jornalistas que fazem isso.

Não é caridade. É necessidade. Necessidade de poder contar com gente corajosa e competente buscando narrar o nosso tempo, desmascarar mentiras e nos ajudar a entender melhor o mundo e o momento.

A lista da ponte é tão boa que fiquei entusiasmado para enumerar mais 10 projetos jornalísticos:

Brio

Nexo

The Intercept Brasil

Farol Jornalismo

Catarinas

Maruim

VoltData Lab

Revista Capitolina

Desacato

Fluxo

Comércio de dados pessoais no Brasil: um relatório

Os coletivos Tactical Technology e Coding Rights acabam de publicar um importante relatório sobre o comércio de dados no Brasil. Nesses dias pré-eleição, o tema do momento é a avalanche de fake news, mas há mais coisa acontecendo bem debaixo do nosso nariz.

Um resumo pode ser conferido aqui, e a íntegra do estudo, aqui.

Enquanto isso, Tim Cook – o poderoso da Apple – reconhece que privacidade não tem sido uma prioridade lá no Vale do Silício.

 

Contra a ditadura do tempo

Conheci o professor André Barata na semana passada e fiquei particularmente encantado com suas ideias sobre o tempo. Barata é filósofo e professor da Universidade de Beira Interior, de Portugal, e está lançando “E se deixássemos de sobreviver?” No livro, explica e critica o que chama de “ditadura do tempo”. Segundo o autor, somos levados a viver uma experiência de tempo tão acelerada, tão carregada na obsolescência, que sequer temos tempo para fruir o tempo! Não vivemos, sobrevivemos! Daí que a atitude mais radical seja fazer o contrário de correr, seja parar.

Estão em cena conceitos como trabalho, rendimento, produtividade, crescimento e decrescimento. Estão embutidos também realização pessoal, pressão social, competitividade, sucesso e tantos outros.

O tema do tempo é muito complexo e responder sobre o que ele é poderia levar mil anos. Daí que André Barata se faz outras perguntas: Estamos a viver o tempo diferente da maneira como vivíamos? De que maneira nós controlamos a nossa experiência do tempo?

Barata não está sozinho nessa. Acaba de sair aqui na Espanha “No tengo tiempo”, do sociólogo Jorge Moruno, um crítico mordaz das engrenagens capitalistas produtivistas.

Enquanto essas ideias fermentam por aí, tire um tempo pra si e assista a essa entrevista com André Barata…