Regina Casé e a invisibilidade das mulheres pobres

Ouvi a Branca Vianna entrevistar Regina Casé e Sandra Kogut sobre “Três Verões”, filme que elas fizeram e que estreia em março. Regina vive Madá, uma personagem que pode fazer lembrar da Val de “Que horas ela volta?” e de Lurdes, de “Amor de mãe”. A exemplo das outras duas, é mais uma mulher com mais de 50, suburbana, forte, periférica, e que está imprensada pela luta de classes. As semelhanças param por aí, concordam Branca e Regina. E Regina explica de uma maneira espetacular: as mulheres pobres estavam tão invisibilizadas que agora, quando aparecem, parecem todas iguais. Parte do público que ignora a sua existência pensa que não há nuances entre elas, e há muitas!

A entrevista foi para o podcast Maria Vai Com As Outras, da revista Piauí. Você pode ouvir o episódio aqui.

E um trailer do filme tá aqui:

https://youtu.be/x7lr9Tep27Q

O Círculo decepciona muito no cinema

A versão cinematográfica de O Círculo chega aos cinemas esta semana, e se você leu o livro de Dave Eggers, cuidado! O filme pode te enfurecer. Listo algumas das decepções que tive:

  1. Um personagem central na trama é reduzido a tal ponto que quase se torna uma peça do cenário. Acreditem, Ty não é só o carinha enigmático do campus, é parte da argamassa do suspense criado naquelas páginas.
  2. Aliás, o ator escalado para Ty é muito, mas muito mais jovem do que o original. E isso não é um detalhe se lembrarmos que ele faz parte do trio criador de O Círculo…
  3. E cadê a química existente entre ele e Mae?
  4. E por que os realizadores aliviaram tanto a carga de crítica a empresas como Facebook e Google? Não quiseram colidir contra os gigantes?
  5. E por que criaram aquele finalzinho feliz? Para que relaxemos ainda mais em nossas redes sociais, e entreguemos mais e mais os nossos dados pessoais nos sites em que navegamos?

Sim, perderam uma chance de ouro para oferecer um filme que discuta as relações complexas e contemporâneas de nossos usos e apropriações tecnológicas. Sim, poderia ter sido mais um filme inteligente e sensível como Her. Mas as câmeras ficaram apaixonadas pela excelente Ema Watson…

o menino e o mundo: comovente

1379958_524963000924630_537371154_n_1_O que é que fica quando o pai, simplesmente, se vai? Não fica nada. Porque o menino vai atrás.

É assim – simples e direto – que a gente se depara com “O menino e o mundo”, belíssima animação de Alê Abreu, em cartaz nos cinemas a partir deste mês de janeiro. O filme costura com poesia e crueza o descortinar do mundo e da realidade pelos olhos de uma criança. O abandono, a ignorância, a pobreza, a brutalidade dos fatos, está tudo lá. As máquinas, a velocidade, a ferocidade, os ruídos apavorantes, os seres esquisitos, a fome, as cores e as músicas também. Emicida, Barbatuques e Naná Vasconcelos. Traços rápidos, primitivismo, política e crítica social. Lirismo, encantamento, sorrisos e algumas lágrimas.

Desnecessários os diálogos e as frases que possamos entender. Tem muita coisa ali. “Gente, carro, vento, arma, roupa, poste, aos olhos de uma criança. Quente, barro, tempo, carma, roupa, nóis, aos olhos de uma criança…”

Vá ao cinema se emocionar. Leve uma criança para segurar a sua mão durante a sessão…

batman está de volta…

Oficialmente, ele chega amanhã, mas já dá pra se divertir, vendo trailers oficiais e alternativos, como esses de Lego…

notas de férias (1)

Tirei uns diazinhos de férias. Fui obrigado. Caso contrário, as perderia.
Diante disso, o que posso fazer? Go-zar.

1. O que mais me chamou a atenção em “O Espetacular Homem-Aranha” não foi o vilão reptiliano e escabroso, nem os sempre-incríveis efeitos especiais, nem a trama aracnídea. Foi Andrew Garfield. É, eu pensava que Tobey Maguire era o Peter Parker definitivo no cinema e que o magrelinho escalado para fazer o super-heroi iria cair das alturas. Besteira. Garfield mergulha no personagem sem rede de proteção, e faz um Parker no mais autêntico estilo adolescente: confuso, dramático, hiperbólico, atrapalhado. E seu Homem-Aranha é elástico, histriônico e acrobático, como o de Todd McFarlane.

2. A Praia da Armação ainda está ao deus-dará. A obra de contenção do mar foi mal feita, o comércio sentiu o baque da queda do turismo e a comunidade está abandonada. O mar continua a ser o mais lindo dessa parte da Ilha. As gaivotas reinam soberanas num céu sem limites. Como são sem limites as cagadas humanas.

3. Garcia-Roza voltou com tudo. Em “Fantasma”, ele traz mais uma vez o delegado Espinosa em um intrigante romance policial, sempre ambientado em Copacabana (ou arredores) e com personagens com contornos pouco nítidos e camadas e mais camadas de complexidade. Houve quem rosnasse com o lançamento. Gostei. Trama bem costurada, mistérios e segredos na medida. Aos 52 anos, Espinosa está melhor do que antes…

4. Tropecei em “Bourbon Street – Os fantasmas de Cornelius”, uma luxuosa HQ dos franceses Phillipe Charlot e Alexis Chabert, que mescla jazz, nostalgia, esperança e aparições de Louis Armistrong. Junte uma pitada de Buena Vista Social Club, uma arte vigorosa e bem detalhada, e um roteiro delicado, et voila! Vale a leitura, mas aviso: é apenas a primeira parte da história. A segunda só sai no Brasil no ano que vem…

5. E já que estamos falando (quase que só) de fantasmas, fuja de “Motoqueiro Fantasma – Espírito da Vingança”. É uma bomba

6. Dias ensolarados sepultam listas de compromissos chatos, atrasados e incontornáveis.

7. “Para Roma com Amor” é delicioso. Woody Allen está hilário: na frente e atrás das câmeras. Três ou quatro diálogos e ele chuta Roberto Benigni pro canto.

8. É bom acordar e se espreguiçar. É bom poder prestar atenção na própria respiração (mesmo que isso acarrete olhar pra pança indo e voltando). É bom fugir no meio da tarde para pegar um cinema. É bom estar vivo.

stan lee segue as pegadas de hitchcock

Alfred Hitchcok foi um dos cineastas mais influentes do mundo, um renovador de linguagens, um realizador sem igual. Afora isso tudo, foi um sujeito de um humor bem peculiar. Algumas das piadas mais conhecidas do velho estavam em seus filmes, nas aparições-relâmpagos do diretor em situações cotidianas e irônicas. Passatempo de muita gente é assistir aos filmes e “pescar” as suas passagens.

Stan Lee, o cara mais importante da indústria dos quadrinhos nos últimos 50 anos, também é muitíssimo bem-humorado e recorreu ao mesmo expediente para “estrelar” os principais lançamentos cinematográficos envolvendo super-herois dos quadrinhso da Marvel. Veja um mix e se divirta!

homens que eu amo: clint eastwood

Não espere sorrisos em abundância, simpatia gratuita ou demonstrações explícitas de extroversão. Clint é caladão, taciturno, na dele. É assim nos filmes, onde encarna quase sempre a figura do solitário-vingador, e na vida real, conforme conta Marc Eliot na biografia “Clint Eastwood – Nada censurado”. Mas Clint não se limita a esse clichê, como se pode imaginar.

Os muitos percalços na carreira, a pouca certeza sobre seu talento como ator, os muitos casos extraconjugais, os filhos fora do casamento e o amadurecimento como homem e como artista são a base do livro. O retrato composto não é autorizado nem complacente. Também não é denunciador ou polemista. Clint é mostrado clinicamente, quase sem emoções ou arroubos de deslumbramento. Ele desfila calmo e determinado pelas páginas. Vemos Clint figurar em 56 filmes, dirigir 22 deles, receber oito indicações ao Oscar, levar outros cinco. Vemos Clint casar duas vezes, ter sete filhos, virar prefeito, virar diretor e produtor… Vemos Clint matar facínoras, vingar prostitutas, varrer cidades de mal feitores, trocar socos nas ruas, contracenar com orangotangos, apaixonar-se por mulheres…

Ao fim da leitura, não se pode dizer que haja uma redenção de Clint. Ele continua contestado pela crítica por suas limitações de atuação; permanece à espera de um Oscar de Melhor Ator, mesmo tendo batido na trave por mais de uma vez. Por outro lado, o leitor para e pensa: putz! A década mais interessante da vida desse homem é a que começa depois dos 70 anos. Depois disso, quando ele já poderia se aposentar e ficar mais tempo jogando golfe em seu clube em Carmel, Clint engata uma quinta marcha e produz como nunca, de forma inquieta, como se estivesse buscando algo. É dessa época Sobre Meninos e Lobos, Menina de Ouro, Gran Torino, A conquista da honra, Cartas de Iwo Jima, Invictus, Além da Vida, A troca…

Você pode nem ir muito com a cara dele, mas Clint é extraordinário. Não acha?

vá chorar com hugo cabret

Amo cinema, mas torço o nariz para filmes exibidos em 3D. Por uma razão simples: na maioria das vezes, o efeito tridimensional é só um penduricalho, algo para fazer um buzz e cobrarem 50% a mais no preço dos ingressos. Eu disse na maioria das vezes. Hoje, fui ver “A invenção de Hugo Cabret”, produção assinada por Martin Scorsese e que disputa o Oscar de melhor filme neste ano. E não houve jeito: assisti à versão em 3D e (muito bem) dublada. E quer saber? Não me arrependi em nenhum momento desde que entrei na sala. Imagine: tarde um domingo de Carnaval, havia vinte e poucas pessoas na sessão apenas, silêncio, calma, atenção total para a projeção…

E o 3D? Sen-sa-cio-nal! Tanto pelo uso inteligente quanto pelo emocional. Eu explico.

Scorsese filmou nos dois sistemas – o convencional e o D-Cinema -, mas as perspectivas de filmagem, os enquadramentos, a exploração da profundidade de campo, buscando novos pontos focais fazem com que a experiência de assistir a “Hugo” seja realmente envolvente e não superficial. Se em “Avatar” o efeito era estonteante, agora é transportador, vertiginoso na primeira sequência do filme. Não bastasse explorar como ninguém o 3-D, ao escolher este triunfo tecnológico, Scorsese faz mais uma homenagem a Georges Mèliés, a quem o público é apresentado com tanta delicadeza e respeito. Afinal, o cinema também é isso: uma arte apoiada na sensibilidade e no engenho, na emoção e na técnica.

“A invenção de Hugo Cabret” é desses filmes que já nascem clássicos, pois fazem justas homenagens a personagens-chave do cinema e resgatam elementos de primera, como a ilusão, a fantasia, a magia… Com Scorsese, assistimos estupefatos à “Chegada do trem à estação”, mas agora em 3D! Tão estupefatos quanto o público daquela mítica primeira exibição do cinematógrafo… Grande sacada que reúne passado (1895) e presente (2011-12), e dois realizadores importantes para a arte e a indústria: Mèliés e Scorsese.

Ben Kingsley está soberbo como sempre; a trilha é sensível – embora não seja tocante como em outros filmes do tipo; o próprio Scorsese faz uma aparição-relâmpago (fique ligado!); os efeitos especiais são usados na medida; mas são os cenários e a maquinaria envolvida que transborda pela tela.

Se você conhece a história do cinema, vá ver “Hugo” pelo que ele nos relembra desse rico enredo.
Se você não conhece a história do cinema mas quer ver uma história bem contada no cinema, vá ver “Hugo” para assistir à poesia escrita com a luz.
Nos dois casos, como já avisei no título do post, leve uma caixa de lenços descartáveis.

não é que mudaram?

Eu disse aqui que o cartaz era meio infeliz. Não é que vi outro na locadora hoje? Vejam só!

um pôster, digamos, meio infeliz…

Já está nas locadoras, e você pode rir e pensar o que quiser…

os vingadores vêm aí; tintin também

Já faz tempo que a indústria dos quadrinhos não vive apenas da venda de gibis. Na verdade, em termos globais, o que anda segurando a onda das grandes editoras são mesmo as produções de séries televisivas, licenciamento de produtos e filmes para cinema. Enquanto a DC vem com Batman, Superman e Lanterna Verde, a Marvel ataca de X-Men, Homem-Aranha, Capitão América, Thor, Hulk, Homem de Ferro e… Os Vingadores!

Mas não são apenas os super-heróis que brilham na tela grande. Personagens menos poderosos, mas também cativantes desembarcam nos cinemas, como será o caso de Tintin, do belga Hergé.

Grandes produções, elencos estrelados, diretores de grife, super efeitos especiais… tudo isso não cabe mesmo nas páginas de revistas em quadrinhos… o cinema atualiza a nona arte. Por que não?

a morte de leon cakoff

Não sei nada de cinema. Gosto de cinema, adoro.
Muita gente se aventura a posar de crítico, a opinar, a tecer grandes raciocínios. Existe ainda quem faça cinema, que produza filmes e tal. E há ainda quem faça cinema fora do cinema. Leon Cakoff, que morreu nesta tarde, é um desses casos. Para além de seu trabalho de analista de filmes e de produtor/agitador cultural, Cakoff criou a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que literalmente mudou o panorama de exibição de uma das maiores cidades do mundo. Ele alterou os hábitos de consumo de camadas e camadas de espectadores. Mostrou olhares diversos do mundo plural que temos para além das fronteiras. Parece pouco, mas quem tira as vendas dos nossos olhos, reinventa um universo.
Vai fazer falta.

uma música, um piano, uma animação

É possível que já tenha ouvido esse tema.
Está na novela das sete na Globo. Originalmente, ele vem do filme “O fabuloso destino de Amélie Poulain”, e o tema musical é assinado por Yan Thiersen: Comptine d’un autre été l’après midi (algo como Rima de uma outra tarde de verão).
O filme é lindo, a música também, e a animação… bem, confira.

e por falar em tuiuti, tem vaga por lá!

A nova coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da UTP, Claudia Quadros, avisa que há uma vaga para docente na linha de pesquisa Estudos do Cinema.

O candidato deve ter a titulação mínima de doutor e pesquisar cinema. O candidato aprovado atuará com pesquisa e docência no referido programa e na graduação do curso de Comunicação, por esse motivo precisa residir em Curitiba. Interessados devem enviar currículos para a secretária do programa: maria.costa@utp.br

um soberano nas telas

Apesar do desastre de ontem, entra em cartaz hoje o filme “Soberano”, que conta a saga do time seis vezes campeão brasileiro, tri mundial e por aí afora. Será que chega às salas de exibição de Florianópolis??

“a origem” desestabiliza quem o assiste

O filme mais comentado do momento tem um bom punhado de razões para sê-lo. “A origem”, de Christopher Nolan, é mesmo impactante. Não apenas pelos impressionantes efeitos visuais e sonoros, mas pela rocambólica trama e pelo ritmo eletrizante. Assim, o filme que reúne Leonardo DiCaprio, Ken Watanabe e Ellen Page no elenco – com participação luxuosa de Michael Caine – verdadeiramente tira o espectador de sua zona de conforto para envolvê-lo numa sucessão de jogos mentais e pensamentos frenéticos.

Não é exagero dizer que o “A origem” desestabiliza o espectador e o faz pensar, o que nem sempre é exigido no cinema. Tanto nas explicações oferecidas pelos personagens sobre o plano – entrar nos sonhos de um megaempresário e enxertar uma ideia na sua mente – quanto na história de fundo do personagem de DiCaprio. Não é um filme digestivo. Diversos elementos se encadeiam numa complexa estrutura narrativa. É um filme de jornada, dessas em que os personagens atravessam o inferno para cumprir uma missão e se transformam no meio dela. O que sobra, no final, são personagens-outros, redimensionados.

Christopher Nolan junta um punhado de ideias poderosas e de símbolos recorrentes: Convencer, mudar a opinião de alguém. Transformar a mente. Mudar os sonhos para modificar a realidade. A estrutura arquitetônica como um reflexo da estrutura da mente. Labirintos mentais. Labirintos físicos. Sofrer na vida real e despertar do pesadelo. Níveis de consciência. Um sonho dentro de um sonho, dentro de outro e de outro. Labirintos e espirais. Paradoxos e dúvidas. Embaçamento das fronteiras entre o real e o ilusório. O inconsciente como um cofre. Ariadne, a jovem arquiteta onírica, sendo o fio que conecta todos à realidade, como na mitologia que a coloca num labirinto.

Enfim, “A origem” mexe com a gente. Fica-se incomodado com a sensação claustrofóbica de estar mergulhado nos sonhos. Como se houvesse um efeito babuska, a boneca russa que tem dentro de si bonecas menores. Camadas de uma cebola. Níveis, estruturas interdependentes.

Do ponto de vista moral, o filme embaralha nossos valores. Torcemos para uma gangue de criminosos. Eles querem invadir a mente de um empresário por um propósito meramente comercial, claramente antiético. A gangue é empregada por um outro empresário que quer simplesmente anular seu concorrente, impedir que este cresça e se torne um rival impossível de ser controlado. Aliás, essa ideia – a de controle – perpassa todo o filme. Todos querem ter controle de seus sonhos, de suas vidas, de suas memórias, dos negócios, das estruturas de uma cidade, do tempo, dos níveis de consciência. Taí uma angústia que sustenta nossa existência: estar no controle das coisas e de si.

Claro, “A origem” é um filme, não passa disso. Não se trata de uma proposta de vida, uma visão alternativa dela. Mas de alguma maneira encarna uma obsessão humana, um sonho. Um sonho? Será? Já se beliscou pra ver se é mesmo?

príncipe da pérsia vale a pena

A aventura que chegou hoje às telas de cinema brasileiras é uma daquelas produções que exalam os aromas do sucesso. “Príncipe da Pérsia – As areias do tempo” desembarca montado não num resistente camelo ou num rangedor cavalo do deserto, mas num conjunto de estratégias comerciais que surpreenderia tanto quanto uma tempestade no deserto. O filme da Disney chega em versões dublada e legendada, em dezenas de salas e acompanhada de promoções na internet (numa delas o prêmio é uma viagem a Marrocos) e em canais pagos (na ESPN Brasil, por exemplo, vinculou-se belos gols com a magia da história).

Mas para além disso, o filme é uma produção muito bem acabada. A trilha sonora é adequada, as locações bem escolhidas, o elenco convence, os efeitos visuais são deslumbrantes. A versão dublada é caprichosa, como é uma tradição da Disney por aqui. Há atores com A maiúsculo, como Ben Kingsley e Alfred Molina, amparados por bons diálogos e personagens marcantes. Jake Gyllenhall está bem como o personagem título, e Gemma Artenton lembra uma Monica Belucci mais jovem, com rosto levemente mais forte. Um conselho: não olhe diretamente para os olhos dela. Você vai ficar paralisado.

Se você já enfrentou o game que deu origem ao filme, vá igualmente avisado. Não é a mesma trama, mas uma variante. Não temos a princesa Farrah, mas Tamina. Não temos zumbis com cimitarras, mas assassinos implacáveis, hordas enlouquecidas, víboras que saltam. Mas temos alguns elementos que se repetem: traição, um vilão ganancioso, a tensão permanente entre ser predestinado ou fazer seu próprio destino. Há romance, aventura, adrenalina, e a adaga do tempo, peça-chave no game. Como nos consoles, o Príncipe é um ótimo saltador e maneja com muita habilidade a espada. No cinema, ele é mais bem-humorado que no joystick.

O beijo demora pra sair. O desfecho do filme segue as trilhas do game, mas essa previsibilidade não detona a diversão. Ela é garantida. E vale pra família toda. Aqui em casa, mesmo quem não ficou hipnotizado com o controle na mão gostou. Então, vale a pena. Até pelas pequenas ironias que escapam da tela, como finos grãos de areia. A que mais gostei foi a história da guerra motivada por uma denúncia falsa de fabricação e tráfico de armas. Pérsia, Iraque, tanto faz…Definitivamente, os roteiristas não dormem de toca.

cinema paraíso

Um velho projecionista. Um garoto fascinado pela luz. Uma paixão em comum e uma amizade infinita. A cidade é minúscula e temos a vida inteira pela frente. “Cinema Paradiso” é desses filmes que fazem os espectadores se desmancharem em lágrimas, com um sorriso tímido no final.

Philippe Noiret dá uma aula de atuação. Sem exagero, Enio Morricone compôs uma das canções mais inesquecíveis do cinema. Mas pouco se comenta de uma letra que Dulce Pontes fez para o tema. Veja o belo poema…

Era uma vez
Um rasgo de magia
Dança de sombra e de luz
De sonho e fantasia
Num ritual que me seduz
Cinema que me dás tanta alegria

Deixa a música
Crescer nesta cadência
Na tela do meu coração
Voltar a ser criança
E assim esquecer a solidão
Os olhos a brilhar
Numa sala escura

Voa a 24 imagens por segundo
Meu comovido coração
Aprendeu a voar
Neste Cinema Paraíso
Que eu trago no olhar
E também no sorriso


Ouça agora o resultado, mas não se reprima: está escuro no cinema e ninguém vai ver você chorando…

a brisa do coração

Um velho jornalista que não quer confusão. Um jovem impetuoso que não tolera a censura e a perseguição política. Um regime duro e intolerante. Uma canção inesquecível: “A brisa do coração”. É um emocionante Marcello Mastroiani no cinema; é um soberbo Enio Morricone nos arranjos; é a tocante Dulce Pontes na canção-tema…

“According to Pereira”, com direção de Roberto Faenza, é de 1995, e circulou pouco por aqui sob o título de “Páginas da revolução”. É um filme pra chorar e pra sonhar. Mesmo depois de quinze anos… Assista à canção…

aniversariantes

Para brindar os nativos deste dia, lembro dois ilustres aniversariantes. Primeiro, Diana Krall que parece modelo, americana, cantora pop; mas é loura-com-voz-de-negra, pianista, jazzista e canadense. Depois, José Saramago, que aos 87 não para de martelar o seu teclado e a inspirar quem segue as suas linhas.


Diana Krall canta a clássica The Look of Love, em um envolvente arranjo com orquestra.


José Saramago se emociona ao final da versão cinematográfica de Ensaio sobre a Cegueira.

o muro caiu e aí…

Hoje, faz vinte anos que o Muro de Berlim ruiu, iniciando ao menos que simbolicamente uma nova era e fechando o século XX.

Não vou fazer nenhuma análise histórica porque não sou historiador. Prefiro lembrar o trailer de “Adeus Lênin”. Nesta produção, um filho faz de tudo para que a mãe comunista que voltou do coma não descubra que a Alemanha está se reunificando. Ele teme que ela enfarte novamente e não resista. Então, faz milagres para tornar um apartamento de 79 metros quadrados o último refúgio da Alemanha Oriental.

Sensível, engraçado, inteligente, o filme é uma boa maneira de se ver a que nos apegamos para ter o pé na realidade…

tempos de paz: entre cinema e teatro

Fiquei fascinado ao assitir “Tempos de Paz”, filme que chegou aos cinemas esta semana e que é, na sua despretensão, uma das mais interessantes realizações brasileiras desde o “Cheiro do ralo” (2007), por exemplo.

É claro que os dois filmes não têm nenhum parentesco, nada que os aproxime do ponto de vista temático ou estético. Enquanto o “Cheiro…” é um exercício de estilo, transgressivo e moldado a ser um cult para certos públicos, “Tempos de Paz” é muito mais um exercício de linguagem, de realização de um cinema mais maduro e consistente nas suas bases.

E essa diferença se dá fundamentalmente porque “Tempos de Paz” é uma versão cinematográfica de uma peça de teatro. Aliás, um texto sensacional, maravilhoso, apontado por boa parte da crítica como o melhor texto do começo do século XXI no país. Do finalzinho de 2001, o texto assinado por Bosco Brasil tem um título mais longo, próprio mesmo do meio: “Novas diretrizes em tempos de paz”. A história não é rocambolesca e não há uma abundância de personagens, pelo contrário. É a justeza, a singeleza e a profundidade de abordagem que tornam o enredo incontornável, insuperável.

Na trama, estamos em abril de 1945. A Segunda Guerra Mundial está no fim, e as forças européias aguardam o armistício. No Brasil, Vargas está no poder, e o Rio de Janeiro ainda é a capital federal. Lá, desembarcam diariamente hordas de refugiados do nazismo e dos horrores da guerra. Um deles é o polonês Clausewitz, que anseia começar uma nova vida no Brasil, onde se fala uma “língua macia, falada apenas por bebês e idosos, por gente que não tem dentes”.

Clausewitz aprendeu o português, mas na imigração, essa condição e outras contradições despertam a suspeita de um burocrata amargurado, embrutecido e descartado pelo sistema. É dele, Segismundo, que Clausewitz depende para receber o visto de permanência no Brasil, e os dois vão travar uma terceira guerra de palavras, aproximando dois mundos e duas vidas separadas pela língua, pela cultura, pelo destino.

Como se vê, não é um filme de ação, mas de reflexão, de emoção. Daí a importância da realização de Daniel Filho, talvez o homem mais importante do cinema nacional hoje, por trás de sucessos de bilheteria como “Se eu fosse você” (1 e 2), “A partilha”, entre outros. Daniel Filho atua, dirige, produz e, de forma naturalmente gregária, reúne em torno de si os melhores profissionais nos desenhos mais comercializáveis do produto cinematográfico. “Tempos de Paz” não deve se tornar um caminhão de dinheiro como “Se eu fosse você 2”, mas é justamente o sucesso arrasador deste que permite e dignifica a execução de um projeto como o de “Tempos…” Com isso, Daniel Filho marca mais uma vez o seu nome na história do cinema nacional, agora com coragem e maturidade.

Mas a importância de “Tempos de Paz” está também na transposição, na tradução, no trabalho de versão de linguagens. O texto é, como já disse, originalmente uma peça teatral, tem o tempo dos palcos, a ação dramática como base, os diálogos fortes e bem cortados como alicerce, o espírito das coxias. Para não perder em substância ou forma, o diretor convidou o próprio Bosco Brasil para escrever o roteiro, o que se revelou na melhor opção. Ajustes foram feitos do ponto de vista formal, permitindo que o público respire de vez em quando, olhando a bela baía carioca, cenas externas aos porões do cais 22, e por aí vai. Foi adicionado mais um elemento, próprio do cinema: um acerto de contas com o passado. Dois personagens que não existem na peça surgem no roteiro cinematográfico e ajudam a conduzir a trama num embrião de thriller. O próprio Daniel Filho interpreta o elemento-chave deste acerto de contas, um médico sem nome que resistiu ao governo de Vargas.

Nos papéis principais estão Dan Stulbach, na pele do imigrante polonês, e Tony Ramos, como Segismundo. Aliás, os realizadores não tiveram pudor em manter elementos bem sucedidos no teatro. Stulbach já vivera o personagem nos palcos, ao lado de Jairo Mattos. E tanto Tony Ramos quanto Stulbach estão so-ber-bos em seus papéis, num duelo de interpretação, que arranca risos nervosos, lágrimas furtivas e uma ânsia pelo desfecho daquele tormento criado entre eles. O público precisa perceber que estamos diante de um momento histórico da interpretação no cinema nacional, e isso não é exagero. Muito ainda vai se falar do duelo entre Ramos e Stulbach, como o encontro de dois atores de gerações diferentes mas que não encenam, mas contracenam, o que não é fácil quando se trata de cinema, uma arte tão cheia de cortes de câmera para enquadramento e de interrupções do fluxo interpretativo dos atores.

Por fim, a música adequada de Egberto Gismonti e uma belíssima homenagem dos realizadores aos refugiados da Segunda Guerra que chegaram ao Brasil e contribuíram para a nossa cultura e desenvolvimento… Por falar em homenagem, Bosco Brasil mantém a trama de seu texto original que resulta numa extraordinária homenagem e reconhecimento ao teatro, para além de sua utilidade num mundo repleto de desgraças… “Tempos de Paz” não nasce como um clássico do cinema nacional. Não parece ter essa pretensão. É uma realização singela, bem acabada, digna e honesta. Mas por isso tudo uma importantíssima obra para a cinematografia de qualquer país.

não se engane: “intrigas de estado” não opõe jornalistas e blogueiros

A primeira coisa que ouvi de “Intrigas de Estado” era que o filme dirigido por Kevin MacDonald colocava frente a frente para um combate jornalistas e blogueiros, personagens talhados a se odiar e se autodestruir. Confesso que demorei um pouco para assistir receando encontrar um enredo maniqueísta e raso. Mas jornalista não deve acreditar nos primeiros comentários que ouve, precisa é checar, conferir, provar a coisa.

Pois fiquem sabendo que “Intrigas de estado” (State of Play, no original) não opõe jornalistas e blogueiros e, por isso, não alimenta guerrinhas que se insinuam em ciclos cada vez mais curtos. Há exatos dois anos, aqui mesmo no Brasil, uma campanha do Grupo Estado causou polêmica na internet, comparando blogueiros a chimpanzés e a gente muito esquisita. À época, não quis embarcar numa briga intestina que para mim não tinha o menor sentido. Vi que não se tratava de algo apaixonado, mas apenas business.

No caso de “Intrigas de Estado”, a coisa também é bem diferente. O enredo coloca o jornalista Cal McAffey (interpretado por Russell Crowe) ao lado da blogueira Della Frye (Rachel McAdams) na cobertura de um caso que parece, no início, um simples assassinato de um anônimo mas se converte num caso de conspiração nacional, com implicações bilionárias e pessoais. Outra morte – agora de uma assistente do congressista Stephen Collins (Ben Affleck) – coloca mais gasolina na fogueira, pois entram em cena elementos como infidelidade conjugal, corrupção política, lobbies em Washington, as ascendentes empresas de segurança privada que alistam mercenários… enfim, juntaram sexo, poder, dinheiro e guerra! Para temperar, os produtores agregaram interesse público, conflitos de interesse e ética jornalística num cenário de transição midiática.

Veja o trailer

A trama coloca em primeiro plano uma dupla que parece no início muito contrastada, mas que ao longo do filme vai se mostrando afinada e convergente: de um lado, o jornalista tarimbado, conhecedor de lugares e pessoas, criterioso e desorganizado, comprometido com a profissão mas conflitado pois é amigo de longa data do deputado em apuros. De outro, a jovem blogueira, imediatista, impulsiva e levemente arrivista, mas que na verdade é apenas uma jovem repórter. Não, a dupla não vira um casal. Há pouco espaço e tempo para romances aqui. A relação que se mostra é muito mais de mestre e aprendiz, e é aí que a coisa está: o filme não opõe blogueiros e jornalistas, nem o velho contra o novo jornalismo.

Na minha leitura, o filme discute o que é essencial no jornalismo, o que faz do jornalismo algo relevante e útil na sociedade. Neste sentido, as críticas que o diretor deixa escapar pela boca do jornalismo experiente têm alvo certo: o jornalismo de sensação, a velocidade como fetiche, a correção e a precisão como acessórios, e a fofoca como modo de existência da informação. Cal McAffey dirige as suas ações para o que está por trás das versões que vão se colocando. Como quem tenta trazer à tona a verdade, o segredo oculto pelos interesses corruptores. O jornalista tenta convencer a jovem blogueira e a veterana publisher que há algo por trás daquilo tudo, algo que é essencial, que é o espírito da matéria.

Russell Crowe encarna esta perspectiva, a do homem-essencial. Seu jornalista anda com cabelos desgrenhados, está visivelmente fora de forma, come de forma desregrada, se veste de qualquer maneira. Seu carro é um velho Saab de 1990, azul calcinha. Seu apartamento até que é arrumado, mas a sua mesa no jornal é a sucursal do inferno… Cal McAffey é despojado, informal, focado no que é essencial. É avesso ao deslumbramento, ao imediato, à primeira impressão. É instintivo, racional e pouco convencional nos seus procedimentos. Afinal, a situação é delicada, e a distância que precisaria manter de suas fontes não é a ideal…

Você já viu isso…

“Intrigas de Estado” lembra mesmo “Todos os homens do presidente”, dirigido por Alan Pakula. Mas é deliberado, conforme reconhecem os próprios realizadores. A redação do jornal Washington Globe é um decalque de qualquer grande redação, e ainda mais a do Washington Post recriada para o clássico de 1976. O clima de suspense e de intriga segue os mesmos passos, e até mesmo a sequência da checagem de informações pelos jornalistas se remete ao trabalho de Bob Woodward e Carl Bernstein, interpretados por Robert Redford e Dustin Hoffman. (Veja o trailer)

Não só isso. “Intrigas de Estado” traz a ótima Helen Mirren no papel da publisher Cameron Lynne, fácil de ser comparada às editoras mandonas e inesquecíveis vividas por Glenn Close em “O jornal” e por Meryl Streep em “O diabo veste Prada”. Grandes atrizes em papéis fortes e decisivos.

O que não havíamos visto é a belíssima sequência final que mostra o processo industrial de impressão do jornal. Da composição, passando pelo fotolito das páginas e pela gravação da chapa de metal, vamos ao encaixe nas rotativas e o acoplamento das imensas bobinas de papel. Depois, as esteiras, a velocidade, as manchetes, a cadernização, os encartes, a dobra, o refile e o empilhamento dos exemplares. Por fim, os fardos de jornais são embarcados nos caminhões e seguem para a entrega nas bancas. Sim, é isso mesmo: contei o final do filme. Mas isso nem é o essencial, o essencial está em outro ponto, momentos antes do que contei.

Para Débora Miranda, do G1, o filme presta uma homenagem ao “velho jornalismo”. Talvez, talvez. Mas vejo mais como uma reafirmação do que é essencial no jornalismo, daquilo que mais importa nessa coisa ininterrupta de correr atrás dos fatos e contá-los da melhor maneira possível. O filme não tem gorduras, é enxuto e sem grandes efeitos especiais. Os cenários são cotidianos, os figurinos realistas e convencionais. A trilha sonora passa despercebida e até mesmo se apela para sequências onde sequer há fundo musical, num completo silêncio, magreza total. O filme se apóia na história, nas boas interpretações, nas idéias sérias que nos são atiradas no colo. Não há firulas nem penduricalhos, só despojamento e não-deslumbramento. Justamente, valores que o jornalismo – seja ele novo ou velho – deveria sempre cultivar…

abuso infantil no cinema, uma dissertação

Outro dia, comentei que minha orientanda Juliane Guedes defendia sua dissertação sobre identidades de professores em blogs. A coisa repercutiu muito bem na blogosfera, o que me deixou bastante contente com o fato de ver mais gente pensando e pesquisando esse tema. Pois não é que outra orientanda também anda fazendo cartaz por aí?

Noemi Loser defendeu dia 16 sua dissertação sobre abuso infantil no cinema nacional contemporâneo e já está dando entrevista. Saiu uma no Cotidiano, excelente projeto multimídia do Jornalismo da UFSC.

Claro que eu tô orgulhoso, né? Poderia ser diferente?

notas de férias, porque elas estão no fim

Eu sei que talvez este post nem interesse à meia dúzia de meus leitores fiéis, mas isso aqui é um blog, né? O que significa dizer que também é um bloco de notas, um amontoado de registros cibernéticos…

Nesses dias de férias, não subi o Everest, não cacei tubarões no Pacífico Sul nem desmascarei agentes secretos da ABIN, inflitrados nos meus lugares de convívio social. Eu disse estar de férias, e essas coisas eu só faço quando estou mesmo a trabalho. Mas pra não dizer que minhas férias foram modorrentas, vi uns filminhos, li uns livrinhos, coloquei as correspondências em dia, joguei uns joguinhos e peguei muita praia. Já escrevi alguma coisinha sobre isso aqui, mas ofereço outro aperitivo:

(*) Neuromancer, o livro de William Gibson, é uma experiência impactante. Há pelo menos 15 anos eu queria lê-lo, desde que li Johnny Mnemonic, conto do mesmo autor e que gerou um filme homônimo com Keanu Reeves no papel-título. Lembro que a extinta revista General trouxe o conto encartado numa edição, num formatinho pocket, que arranquei de um amigo meu. Desde então, quis ler mais William Gibson, e só pude agora, numa edição comemorativa dos 25 anos do lançamento (e que traz um posfácio da amiga Adriana Amaral). Neuromancer é um choque no uso da linguagem, na capacidade imaginativa de se conceber pirações cibertrônicas, na intensidade narrativa e na capacidade de se manter em pé. (Nem Case deve ter vislumbrado ir tão longe…)

(*) Já escrevi aqui outras vezes: sim, sou um retardado. Só essa semana assisti a Onde os fracos não têm vez, que levou quatro Oscar ano passado. É um filme melancólico, vertiginoso, atordoante. Daqueles em que a gente passa por uma cena e ainda se pergunta se aquilo mesmo aconteceu ou se os diretores – no caso, os irmáos Cohen – estão aplicando algum golpe na platéia. Que nada! Não tem golpe. Tem cinema de sobra, de gente grande. Cinema que mostra que a vida é mais complicada do que os faroestes antigos mostravam.

(*) House voltou com a quinta temporada. O primeiro episódio – painless – é legalzinho, mas fraco para ser um abre. Se você não viu ainda, calma. Não há mudanças no hospital. Cudy continua tentando adotar um bebê + Kutner e Taub continuam sustentando a escada dos demais + Thirteen e Foreman não foram além daquele beijo + Wilson e Cameron quase nem deram o ar de sua graça + House salvou o dia.

(*) Já Lost está eletrizante. Os dois primeiros episódios vêm em grande forma, com mistérios, conexões improváveis e sacadas de roteiro inacreditáveis. Pra ser sincero, já nem esperava muito da série. Sabe por quê? Os produtores não têm pena da gente. Fazem 11 ou 12 episódios e depois ficam meses hibernando, e nisso, a nossa curiosidade provoca enfartos, surtos de histeria, etc… A série voltou tão boa que até tornei a ler spoilers

(*) Descobri uma nova poeta: Ana Elisa Ribeiro. Jorge Rocha, o ExuCaveiraCover, seu marido, me mandou Fresta por onde olhar, livro da moça que é muito bom. Confesso: tenho o maior preconceito com poetas e livros de poesia. Antes de me espancarem, eu explico: é que parece que todo o mundo escreve poesia ou sabe fazer isso. Então, a gente vê de tudo por aí, e o pior é o que impera. Tem pretensão, tem espalhafato, tem forçação de rima. Com Ana Elisa Ribeiro, não vi nada disso. Existe maturidade, existe bossa e malícia, e existe uma grande intimidade com as palavras.

(*) Bolt – o super-cão é surpreendente. Pra ser uma animação da Disney, vi pouquíssima mídia sobre ele. Mas o resultado é muito bom, muito divertido e tal. Assisti com uma criança de quatro anos e foi ela quem me arrastou pra fora da sala do cinema quando subiam os letreiros. Wall-E é melhor, mas não faz mal. Bolt tem bons diálogos, e uma excelente dublagem brasileira. Maria Clara Gueiros está ótima na voz da gatinha Mittens.

(*) Rygar – The Legendary Adventures é bonzinho, mas seus gráficos perdem muito para os jogos atuais do PlayStation. A história é bobinha: um gladiador com amnésia tem que salvar uma princesa sequestrada. Para isso, transita entre cinco ou seis mundos diferentes, enfrentando seres mitológicos dos mais diversos. O jogo é fácil, sem grandes evoluções. Tanto é que eu consegui zerar sem roubar (lendo detonados na internet…).

As férias não terminaram, e isso não é um balanço. É mesmo um sintoma de que estou aproveitando melhor os dias e as noites. Semana que vem retorno ao trabalho, não sem uma ponta de remorso. Pronto, falei!

50 filmes sobre ética jornalística

Os títulos abaixo – num primeiro plano ou não – acabam tocando em temas delicados, em dilemas da ética jornalística.

Divirta-se!
15 Minutos (2001)
A fogueira das vaidades (1990)
A montanha dos sete abutres (1951)
A morte ao vivo (1980)
A primeira página (1974)
A princesa e o plebeu (1953)
A síndrome da China (1981)
A um passo do poder (1991)
Adoro problemas (1994)
Amor eletrônico (1957)
Assassinato por encomenda (1985)
Ausência de malícia (1981)
Bem-vindo a Sarajevo (1997)
Boa noite e boa sorte (2005)
Cidadão Kane (1941)
Crime verdadeiro (1998
Doces Poderes (1995)
Em defesa da verdade (1985)
Giro City – a verdade proibida (1982)
Herói por acidente (1992)
Íntimo e Pessoal (1995)
Leões e cordeiros (2007)
Mera coincidência (1997)
Noiva em fuga (1999)
Nos bastidores da notícia (1987)
O ano em que vivemos em perigo (1983)
O dossiê pelicano (1993)
O informante (1999)
O jornal (1994)
O poder da notícia (1998
O povo versus Larry Flint (1996)
O preço de uma verdade (2003)
O quarto poder (1997)
O repórter (1986)
O show da vida (1998
Os donos do poder (1986)
Páginas da revolução (1995)
Profissão: repórter (1975)
Quase famosos (2000)
Rede de intrigas (1976)
Reds (1981)
Salvador, o martírio de um povo (1981)
Sob fogo cerrado (1983)
Terra de ninguém (2001)
Terra em transe (1967)
Todos os homens do presidente (1976)
Um grito de liberdade (1987)
Um grito no escuro (1989)
Veronica Guerin: o custo da coragem (2003)
Vlado: 30 anos depois (2005)

blogs, jornalismo e as férias

Sim, estou de férias. Por isso, os posts são preguiçosos e esparsos, quase telegráficos e bissextos…

(*) Quem confia nos blogs? Paul Bradshaw duvida da questão.

(*) Por que as pessoas lêem blogs ao invés de sites de notícias? André de Abreu responde.

(*) Blogs são um novo gênero jornalístico? Frédéric Filloux pensa (alto) sobre isso.

(*) Qual o futuro do jornalismo online? No Nieman Report, você encontra muitos artigos que tentam responder à questão.

(*) Nós, de Marcelo Camelo, não é lá essas coisas. Tem faixas bem bonitas, mas o conjunto é inconstante. Dá saudades de Los Hermanos.

(*) Blindness é lindo. Fernando Meirelles acerta a mão e nos incomoda com a parábola que Saramago urdiu em suas páginas.

(*) A troca é angustiante e bem realizado. Clint Eastwood é um ótimo diretor e um sensível compositor de trilhas. Deu um papel marcante para Angelina Jolie, e mostrou – mais uma vez – que o mal existe, está entre nós e nem sempre o enxergamos com a nitidez necessária.

a ética, filme de pablo villaça

15 minutos.
Diálogos cortantes.
Cinismo.
Honestidade.
Valores.
Traição e confiança.
Lealdade e profissionalismo: A Ética.

gaveta do autor, atualizado

Acesse: http://www.gavetadoautor.com

asilo arkham, uma adaptação

Existe um lugar sombrio, tenebroso, assustador. É escuro, úmido e com criaturas repugnantes. Gemidos e gritos histéricos são ouvidos. Nada funciona direito. As paredes parecem ter olhos e ouvidos. E aquilo lá está lotado de gente insana, perdidamente insana.

O Asilo Arkham é assim. Um lugar para não esquecer. E pra gente se arrepiar quando dele se lembrar.

É diferente das pirotecnias cinematográficas que vêm recheando os filmes do Batman. Talvez caiba nesses filmes apenas em parte, apenas como uma referência do depósito de vilões-loucos que alguns queriam transformá-lo. Mas o Asilo Arkham é um pouco o que Conrad escreveu: é o coração das trevas, onde o horror sussurra no seu ouvido, onde você se volta pra trás após sentir um arrepio estranho na espinha.

Os anos 80 e 90 foram realmente gloriosos para os quadrinhos, principalmente por conta de um formato novo para os brasileiros: a graphic novel, que nada mais era do que quadrinhos com temáticas mais adultas, com revisões de personagens, com inovações gráficas e com altíssima voltagem de ação. Um dos melhores títulos a circular no país foi Asilo Arkham, escrito por Grant Morrison e ilustrado por Dave McKean. Aterrador. Quem leu, tremeu ao conhecer esse lugar que é o próprio inferno.

No vídeo abaixo – que vi primeiro no Nota 7 -, há uma adaptação literal, quase quadro-a-quadro do original dos quadrinhos. Sente, veja, ouça e veja para onde os filmes do Batman poderiam caminhar.