vá chorar com hugo cabret

Amo cinema, mas torço o nariz para filmes exibidos em 3D. Por uma razão simples: na maioria das vezes, o efeito tridimensional é só um penduricalho, algo para fazer um buzz e cobrarem 50% a mais no preço dos ingressos. Eu disse na maioria das vezes. Hoje, fui ver “A invenção de Hugo Cabret”, produção assinada por Martin Scorsese e que disputa o Oscar de melhor filme neste ano. E não houve jeito: assisti à versão em 3D e (muito bem) dublada. E quer saber? Não me arrependi em nenhum momento desde que entrei na sala. Imagine: tarde um domingo de Carnaval, havia vinte e poucas pessoas na sessão apenas, silêncio, calma, atenção total para a projeção…

E o 3D? Sen-sa-cio-nal! Tanto pelo uso inteligente quanto pelo emocional. Eu explico.

Scorsese filmou nos dois sistemas – o convencional e o D-Cinema -, mas as perspectivas de filmagem, os enquadramentos, a exploração da profundidade de campo, buscando novos pontos focais fazem com que a experiência de assistir a “Hugo” seja realmente envolvente e não superficial. Se em “Avatar” o efeito era estonteante, agora é transportador, vertiginoso na primeira sequência do filme. Não bastasse explorar como ninguém o 3-D, ao escolher este triunfo tecnológico, Scorsese faz mais uma homenagem a Georges Mèliés, a quem o público é apresentado com tanta delicadeza e respeito. Afinal, o cinema também é isso: uma arte apoiada na sensibilidade e no engenho, na emoção e na técnica.

“A invenção de Hugo Cabret” é desses filmes que já nascem clássicos, pois fazem justas homenagens a personagens-chave do cinema e resgatam elementos de primera, como a ilusão, a fantasia, a magia… Com Scorsese, assistimos estupefatos à “Chegada do trem à estação”, mas agora em 3D! Tão estupefatos quanto o público daquela mítica primeira exibição do cinematógrafo… Grande sacada que reúne passado (1895) e presente (2011-12), e dois realizadores importantes para a arte e a indústria: Mèliés e Scorsese.

Ben Kingsley está soberbo como sempre; a trilha é sensível – embora não seja tocante como em outros filmes do tipo; o próprio Scorsese faz uma aparição-relâmpago (fique ligado!); os efeitos especiais são usados na medida; mas são os cenários e a maquinaria envolvida que transborda pela tela.

Se você conhece a história do cinema, vá ver “Hugo” pelo que ele nos relembra desse rico enredo.
Se você não conhece a história do cinema mas quer ver uma história bem contada no cinema, vá ver “Hugo” para assistir à poesia escrita com a luz.
Nos dois casos, como já avisei no título do post, leve uma caixa de lenços descartáveis.

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