Observatórios de imprensa e desinformação

Sou um dos convidados do debate “Uma Rede contra a desinformação: o trabalho dos Observatórios”, que acontece amanhã (17), a partir das 19 horas. Esta é uma realização da Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD), com transmissão pelo canal de Youtube da rede.

A proposta é reunir representantes de observatórios de mídia de diferentes regiões do país, e que são parceiros da RNCD Brasil, para compartilhar relatos sobre experiências, trabalhos e métodos de atuação, em especial num cenário de ampla desinformação e em que o trabalho dos observatórios pode contribuir para o entendimento dos modos de funcionamento dos sistemas midiáticos e subsidiar o desenvolvimento de políticas que garantam a pluralidade democrática.

O debate contará também com a participação do professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e coordenador do Observatório da Mídia: direitos humanos, políticas, sistemas e transparência, Edgard Rebouças; da professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora do Observatório da Comunicação Pública (Obcomp), Maria Helena Weber; e do professor da Universidade Federal do Tocatins (UFT) e coordenador do Observatório de Pesquisas Aplicadas ao Jornalismo e ao Ensino (Opaje), Gilson Porto.

Sobre a RNCD

A Rede Nacional de Combate à Desinformação foi lançada em setembro de 2020 e reúne projetos e instituições de diversas naturezas que atuam de alguma forma para combater o mercado da desinformação. Participam da RNCD, coletivos, iniciativas desenvolvidas dentro de universidades, agências, redes de comunicação, projetos sociais, projetos de comunicação educativa para a mídia e redes sociais, aplicativo de monitoramento de desinformação, observatórios, projetos de fact-checking, projetos de pesquisa, instituições científicas e revistas científicas.

Baseada numa plataforma digital, a rede busca oferecer conteúdos de educação midiática, monitoramento de fake news, jornalismo de fact-checking e debunking, bem como ações de comunicação proativa levando informação precisa e necessária para a sociedade. O objETHOS integra a rede de parceiros da organização. Para saber mais sobre a RNCD, acesse rncd.org/

Seminário de crítica de mídia em BH

Começa amanhã na PUC-Minas o Seminário de Crítica de Mídia, evento que vai até o dia 26. O seminário é promovido e realizado pelo Centro de Crítica de Mídia e a programação está carregada de bons temas e debates.

Darei uma passadinha por lá porque me encarregaram de palestrar sobre ética e crítica de mídia. Estou bastante ansioso para conversar com os colegas mineiros sobre o tema. Uma pena eu não poder ficar por mais tempo. Se você estiver por lá, não perca. Veja a programação:

Dia 24 de abril:
8h50: Conferência de abertura – Cinema e Sociedade, Diálogos Críticos, com Pablo Villaça
10h40: Conferência 2 – Crítica da Mídia: Cobertura do Futebol, com Cândido Henrique e Marcelo Carvalho
15h20: Conferência 3 – Ética e Crítica da Mídia, com Rogério Chistofoletti
17h10: Conferência 4 – Observatórios e Grupos de Pesquisa: Experiências de Crítica Midiática, com  Ercio Sena (CCM), Paula Simões (GRISLAB) e Daniela Lopes (MID)

Dia 25 de abril:
8h50: Conferência 5 – Luta por Reconhecimento e Crítica da Mídia, com Francisco Bosco
10h40: Conferência 6 – Rituais de Consumo Midiatizado, com Bruno Pompeu
15h20: Conferência 7 – Reflexividade no Cinema, com Alice Riff
17h10: Conferência 8 – Música e Memória: Construções Biográficas no Cinema e na Mídia, com Bruna Santos, Graziela Cruz e Mozahir Salomão Bruck

Dia 26 de abril:
8h50: Conferência 9 – Memória, consumo e práticas lúdicas: Cosplay, Medievalismo e Steampunk, com Mônica Ferrari
10h40: Conferência 10 – Semiótica Aplicada à Publicidade, com Clotilde Perez
15h20: Conferência 11 – Dinâmicas Identitárias nas Redes Sociais, com Beatriz Polivanov
17h10: Conferência 12 – Políticas do Streaming: Algoritmos e Curadoria Musical, com Rodrigo Fonseca

Mais informações:
http://ccm.fca.pucminas.br
https://www.facebook.com/ccmpucminas/
https://www.facebook.com/events/169104453789932/

o golpe de 64 e a folha

Screenshot 2014-03-23 12.00.59A Folha de S. Paulo publicou em sua versão online uma extensa reportagem multimídia sobre os 50 anos do Golpe Militar de 1964. O trabalho é exaustivo, aprofundado, abrangente e fartamente ilustrado. Assinado por Ricardo Balthazar, Lucas Ferraz, Érica Fraga, Bernardo Mello Franco, Fabiano Maisonnave e Ricardo Mendonça,  “Tudo sobre a Ditadura Militar” é um bom documento, mas obviamente não traz TUDO, como indica o título. Claro que se trata de um rótulo típico do jornal que, de forma recorrente, exagera na sua auto-importância. Tudo bem, tudo bem…

O material merece e deve ser conferido.

Senti falta de três coisas:

1. Depoimentos do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, cujas trajetórias estão ligadas ao episódio.

2. Mais depoimentos de militares envolvidos. Alguém pode argumentar que muitos já morreram, e é verdade, mas outros tantos estão vivinhos da silva e precisavam ser ouvidos. Os depoimentos do tenente-coronel da reserva Lício Maciel, por exemplo, são contundentes na reportagem, mostrando o “outro lado”…

3. Uma explicação melhor sobre uma eventual participação da própria Folha de S.Paulo na sustentação e apoio às ações dos golpistas. Veja o trecho pinçado abaixo:

Screenshot 2014-03-23 11.59.56

Notem que o texto, em determinado momento, deixa de fazer uma narrativa do passado obscuro para fazer propaganda de um episódio mais interessante ou menos vergonhoso, como se o jornal quisesse justificar suas ações pretéritas. Curioso é notar que o sociólogo Marcelo Ridenti, na própria reportagem da Folha, explica que os participantes de esquerda e de direita usam as mesmas estratégias discursivas para legitimar suas ações, mistificando o passado…

Diante do trabalhão que tiveram os repórteres para fazer tal esforço de investigação jornalística, custa muito tentar trazer à tona as respostas às acusações de cessão de veículos do jornal aos agentes da repressão? É difícil tentar olhar para as próprias vísceras? Claro que sim.

Entretanto, seria um momento mais do que oportuno para esclarecer o leitor e a sociedade. Ora, se até as Organizações Globo admitiram ter sido um erro o apoio ao golpe

o objethos voltou

O projeto Observatório da Ética Jornalística (objETHOS) está retornando do recesso de final de ano. Atualizado semanalmente com comentários, artigos e materiais didáticos, o site volta à carga com um artigo meu sobre a “Pesquisa Brasileira de Mídia”, elaborada pelo Ibope/Inteligência e encomendada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. O estudo apresenta um detalhado retrato dos hábitos de consumo de mídia pela população nacional. Você pode ler meu artigo na íntegra aqui.

regulação de mídia no reino unido

Screenshot 2012-12-03 10.55.06Os britânicos levam a mídia muito a sério. Eles têm órgãos fortes que atuam nesse campo, têm regras rígidas e um sistema de comunicações que compreende a dimensão dos cidadãos na equação comunicativa. Mesmo com tudo isso acontecem algumas barbaridades por lá, e o caso mais evidente é o escândalo dos grampos do News of the World.

Recentemente, foi lançado um amplo relatório – com quase 2 mil páginas! – tratando de questões relativas à cultura, à sociedade, à política, à ética e aos meios de informação.

O aspecto mais forte é que há um entendimento de que a mídia precisa de uma nova regulação nas terras da rainha…

Você pode ler o Leveson Inquiry aqui, mas se quiser uma mãozinha, The Guardian te dá: veja um sumário visual do documento…

Já pensou um negócio desses por aqui?

onde fica a consciência do jornalismo?

(Já que falei da 11ª Semana do Jornalismo, reproduzo abaixo um texto que publiquei na Semana Revista, a pedido dos organizadores)

Idealismo e parcialidade ajudam a consolidar uma imagem equivocada do jornalismo. Embora ele seja uma atividade de massa, altamente exposta e cada vez mais presente na vida social, nem sempre se sabe como ele funciona, o que chega a ser uma contradição. Como são cercadas por veículos de informação, as pessoas acham que estão íntimas do jornalismo e se acomodam com os conceitos que dele têm. Por conveniência e letargia, jornalistas e veículos também não se mobilizam muito para desmanchar mitos insustentáveis como os da objetividade, imparcialidade e verdade única. Este círculo vicioso mantém visões românticas e glamourosas do jornalismo.

Como isso interfere na vida do cidadão comum, que não frequenta uma redação nem se preocupa com os valores-notícia? Essa visão idílica distorce também os julgamentos sobre os produtos e serviços jornalísticos, fazendo com que as pessoas passem a julgar as coberturas de uma forma que não tem correspondência com o cotidiano das ruas. Trocando em miúdos: as pessoas vêem o noticiário e se escandalizam com o enfoque das reportagens, julgando que alguém ali está querendo enganá-las. Claro que isso pode acontecer, mas nem sempre é manipulação descarada, distorção deliberada ou um grande plano conspiratório. Pode haver uma série de razões que expliquem a diferença entre a expectativa do público e a narrativa apresentada. Este descolamento entre o desejo da audiência e o produto jornalístico causa frustração num primeiro momento, depois indignação e uma quase incontornável repulsa na sequência.

Em coberturas de casos polêmicos, a zona de tensão se amplia porque tendências ideológicas afloram com mais força e os limites editoriais também se impõem mais. Veja-se o Caso Pinheirinho. Em janeiro deste ano, a Polícia Militar de São Paulo expulsou com violência 1,6 mil famílias de moradores da comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos. Os soldados cumpriam uma decisão judicial de reintegração de posse do terreno, que pertencia à massa falida do grupo Selecta, do investidor Naji Nahas. A área contava com 1,3 milhão de metros quadrados, e o litígio opunha a ordem da justiça e milhares de favelados que ocuparam um terreno de um especulador que devia milhões de reais em impostos à prefeitura. Como a maior parte dos veículos de comunicação cobriu o assunto? Basicamente apoiada na legitimidade da ação policial em “desocupar” a área, sem questionar se a ordem era justa ou razoável, ao determinar desalojar milhares de pessoas para pagar dívidas tributárias.

O cidadão comum pode se queixar do tratamento dado ao caso pela mídia, enxergando ali a preferência de um lado em detrimento de outro, e – pior! – questionando a ética dos repórteres. Isso é legítimo? Sim, se o cidadão esperar que o relato jornalístico reflita o que o repórter sente e acredita. Mas nem sempre é assim.

O jornalismo é uma atividade complexa e coletiva. O resultado final, aquele que chega ao público, é produto de diversas etapas de apuração, checagem, recorte, seleção, adequação de formato, tradução de linguagem, embalagem e difusão. Claro que isso envolve mais gente, e que a visão do repórter pode se perder no meio de tudo, seja porque não é a que melhor retrata o fato, ou porque se corrompe ao longo do processo. As omissões no Caso Pinheirinho – sobre os abusos de poder da Polícia Militar e as violações de direitos humanos na ação -, a prevalência de um ângulo e a escolha da ênfase em algum aspecto podem sim contrariar preceitos da ética jornalística, expressa em códigos escritos ou em regras tácitas da categoria. O repórter “se vendeu” à visão do veículo que trabalha e por isso fez um “mau serviço”? Pode ser, mas é difícil afirmar com segurança. Sabe por quê? Porque existem mais fatores que ajudam a determinar a situação.

Nem sempre é o proprietário do meio de comunicação quem determina o viés da matéria. Muitas vezes, são os chefetes de plantão que atuam em nome de um jornalismo que insiste em conservar as coisas como elas estão. Eles fazem o serviço sujo, antecipando-se à sanha de um superior que supostamente gostaria de controlar todas as peças no tabuleiro. Em outras ocasiões, há o despreparo de quem sai às ruas para a cobertura, tanto técnico quanto cultural e cognitivo. Isso mesmo! Há repórteres que não se mostram capazes de “ler” uma cena, de compreender uma disputa, de perceber absurdos nas circunstâncias. Existem ainda os episódios em que tanto se mexe na matéria que ela se deforma, distanciando-se muito do seu sentido original. Note-se quantos fatores podem definir o resultado final de uma pauta!

Nem sempre é a consciência do repórter que determina e conduz a narrativa da reportagem. Valores-notícia, critérios editoriais do veículo, escolhas momentâneas de editores e decisores, consensos de redação também estão em campo. Afinal, onde fica a consciência no jornalismo? Fica em muitos lugares, mas precisa se orientar por um horizonte único: o interesse e a necessidade do público. Sem essa referência, qualquer bússola se desorienta.

jornalismo após wikileaks e news of the world

O World Press Freedom Committee e a Unesco promovem hoje e amanhã o seminário “A mídia mundial após o WikiLeaks e o News of the World”, evento que vai reunir jornalistas e experts de diversas partes do mundo para debaterem novos cenários para o jornalismo nos próximos anos. O seminário acontece nas dependências da Unesco em Paris, e é motivado pelos rebuliços provocados pelas ações do WikiLeaks e pelas escutas clandestinas que precipitaram o fechamento de um dos jornais mais tradicionais do Reino Unido.

Veja parte da programação:

Hoje, quinta, 16:
Painel 1 – Como os profissionais de mídia tratam o ambiente digital
Painel 2 – Profissionalismo e ética no ambiente de novas mídias depois do WikiLeaks e do News of the World
Painel 3 – Legislação internacional após WikiLeaks
Painel 4 – Relações entre governo e mídia depois do WikiLeaks

Amanhã, sexta, 17:
Painel 5 – Liberdade na internet após o WikiLeaks
Painel 6 – Jornalismo profissional e jornalismo cidadão trabalhando juntos após o WikiLeaks

Mais informações: http://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/

Aaaahhhh!
Se você se interessa pelo tema, veja um livro sobre o WikiLeaks, um dossiê sobre o assunto e uma entrevista.

a crítica da crítica de mídia no brasil

O Mídia & Política acaba de publicar um número especial em que junta artigos sobre a crítica de mídia no país e o futuro do jornalismo. O número tem ótimos artigos e merece ser conferido.
Veja o sumário e vá direto à fonte:

A CRÍTICA DA CRÍTICA DA MÍDIA NO BRASIL

Depoimento – Luiz Martins
“É difícil apresentar boas práticas de acerto no panorama da mídia atual”
Paulo Figueiredo, Fábio Pereira e Camilla Braga
A mesma mídia que veicula uma campanha educativa, mostra, na novela, condutas vis; faz campanha de educação no trânsito para, em seguida, exibir comerciais de automóvel mostrando a velocidade como diferencial.

Jornalismo e crítica: informar ou opinar?
Thaïs de Mendonça Jorge
Se atualmente proliferam torres de vigilância – tanto quanto câmeras de segurança na via pública –, observatórios existem porque a sociedade mesma indicou a necessidade de um pan-óptico para ver o que acontece na mídia.

Periscópio dá oportunidade a estudantes
Anderson David Gomes dos Santos
O espaço destinado à crítica da mídia é disponibilizado por uma rádio educativa, a Rádio Unisinos 103.3 FM, emissora da Fundação Urbano Thiesen, ligada à Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

Observatório da imprensa, um velho-jovem
Adriana Domingues Garcia
OI estimula a sociedade midiatizada a refletir em relação aos modos de observação sobre o que a mídia produz e faz circular, podendo fazer com que os sujeitos mudem de postura durante a assimilação dos produtos noticiosos.

As novas mídias e sua influência na crítica
Rogério Christofoletti
A crítica não significa a prática da demolição e da ofensa, nem do descrédito e do cinismo, muito menos o desprezo do trabalho alheio e a soberba ilimitada. Deve ser vista como forma de ação, reflexão direcionada à melhoria de qualidade dos produtos.

O FUTURO DO JORNALISMO

Periodismo en peligro de extinción
Carlos Soria
Hay más de un motivo para sospechar que el periodismo es una profesión en peligro de extinción, como el oso panda, el lince o el gorila; o al menos, para pensar que el periodismo sufre una verdadera crisis de identidad.

Ainda guardando o portão?
Célia Maria Ladeira Mota              
O gatekeeper é tarefa em extinção no mundo inteiro. O processo se inverteu e o leitor, telespectador ou ouvinte se transformou em gatewatcher da informação.

Olhar o que não está diante dos olhos
Antonio S. Silva
Mais comunicação exige mais mediadores, profissionais que ofereçam esclarecimento e competência para olhar aquilo que não está diante dos olhos, mas que se esconde estrategicamente, atendendo a interesses políticos, econômicos e culturais.

RESENHA
 11 de Setembro
Chomsky e a imprensa: verdades inconvenientes

câncer, mal-estar e sintomas na mídia

(publicado originalmente no objETHOS)

O anúncio da descoberta de um câncer na laringe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocou, ao longo do sábado, 29, uma correria nas redações brasileiras. Se geralmente o final de semana reserva a produção de matérias mais mornas no âmbito da política, desta vez, foi diferente. Não bastasse o plantão hospitalar por conta da internação do cantor Luciano, em Curitiba, após uma intercorrência por abuso de medicamentos, lá se foram mais repórteres para a frente do Sírio-Libanês, em São Paulo, para uma notícia também inesperada.

De forma geral, os telejornais brasileiros foram ágeis o suficiente para dar conta do primeiro boletim médico, para ouvir especialistas e repercutir o diagnóstico com personagens políticos. Também foram produzidas artes que pudessem ilustrar a doença para o público mais geral, e especulou-se um pouco em torno de possíveis causas do câncer de Lula. Consumo de álcool, tabagismo e poluição foram apontados como “fatores de risco”.

Os jornais também tiveram tempo e espaço para dedicar generosas páginas ao drama do ex-presidente. O assunto teve chamada de capa e disputou a manchete do domingo, conforme se pôde ver nas bancas pelo país:

  • Agora: “Lula está com câncer na garganta”

  • Folha de S.Paulo: “Lula tem câncer na laringe e vai passar por quimioterapia”

  • Notícia Agora: “Lula está com câncer”

  • O Dia: “Com câncer, Lula agora luta pela vida”

  • O Estado de S.Paulo: “Lula está com câncer na laringe e fará quimioterapia”

  • O Globo: “Com câncer, Lula inicia tratamento amanhã”

  • O Povo: “Uma nova batalha para Lula”

  • Zero Hora: “Exames detectam câncer em Lula”

  • Correio: “Ex-presidente Lula tem câncer na laringe”

  • Diário da Manhã: “Lula com câncer”

No exterior, os diários mais importantes da América do Sul também deram a notícia. Na Argentina, Clarín (“Conmoción em Brasil: Lula padece cáncer de laringe”) e La Nacion (“Lula, enfermo de cáncer”) fizeram o registro em suas primeiras páginas. O mesmo aconteceu com o chileno El Mercurio (“Cáncer de Lula remece a Brasil e impacta em el mundo político”), com o colombiano El Tiempo (“Lula tiene cáncer en la laringe”) e o venezuelano El Nacional (“Ex-presidente Lula da Silva tiene cáncer”).

As revistas semanais de informação não tiveram tempo para dar a notícia, já que chegam às bancas e aos assinantes justamente no final de semana. Os portais noticiosos alardearam como puderam o diagnóstico de Lula, mas nada que se descolasse do já esperado.

Reações extremas

A novidade mesmo pode ter vindo do lado de lá do balcão desse negócio chamado jornalismo. As redes sociais convulsionaram com o anúncio da doença do ex-presidente. O assunto dominou o Twitter, gerando diversas hashtags e provocando até mesmo uma “campanha” para que Lula fizesse seu tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Opositores do político fizeram piadas de gosto duvidoso, atacaram seus familiares e destilaram alguns litros de fel nas redes sociais. Partidários do líder petista reagiram, recomendando que se deixasse de seguir os “oportunistas” e “desumanos” que fizeram troça da doença de Lula.

Entre os jornalistas mais influentes, houve manifestações escassas. Talvez a mais contundente tenha sido a de Gilberto Dimenstein (Folha.com, no domingo, 30), que disse ter sentido “um misto de vergonha e enjoo” ao receber “uma enxurrada de ataques desrespeitosos, desumanos, raivosos, mostrando prazer com a tragédia de um ser humano”. Para Dimenstein, a interatividade democrática da internet é, um avanço do jornalismo e “uma porta direta com o esgoto de ressentimento e da ignorância”. Razão pela qual o colunista reforça que um dos papéis dos jornalistas na atualidade “é educar os e-leitores a se comportar com um mínimo de decência”. Dimenstein tem motivos realmente fortes para ter ojeriza do comportamento demonstrado por alguns internautas, que, protegidos atrás de seus teclados, revelam-se violentos e perversos. Difícil justificar tanta carga negativa e prazer pelo sofrimento alheio.

Recentemente, diversos casos de doentes célebres têm mostrado não apenas reações distintas dos públicos quanto dos próprios veículos de informação. A longa luta do ex-vice-presidente José Alencar contra um câncer foi acompanhada com apreensão e respeito pela serenidade do político diante da virtual morte. Alencar foi uma exceção, pois no terreno da política, a artilharia é mais pesada. Que o digam os presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Fernando Lugo (Paraguai), que batalham pelas próprias vidas e desviam de ataques e pragas. E mesmo a então candidata à presidência Dilma Rousseff, teve uma acompanhamento da imprensa ostensivo, apreensivo e ligeiramente especulativo.

Já com o empresário da tecnologia Steve Jobs, o desfecho fatal ganhou tons de idolatria na mídia e entre o público. Atualmente, o enfrentamento da doença pelo ator Reynaldo Gianecchini tem uma cobertura jornalística que não esconde a torcida nacional pelo restabelecimento do jovem astro.

Os ataques a Lula mostram mais uma vez que a internet permite uma polifonia pouco controlável, independentemente do bom senso, dos bons modos, das virtudes mais esperadas. Há quem se sinta seguro e confiante atrás de uma tela para julgar, ofender e caluniar. Há quem reaja também na mesma intensidade. Jornalistas ficam aturdidos no meio do tiroteio verbal. Compreensível.

Diagnóstico apressado

Como já disse, Dimenstein tem razões para sentir nojo do que viu. Mas particularmente penso que não se pode mais esperar que os jornalistas eduquem “os e-leitores a se comportar com um mínimo de decência”. Na atualidade, as redações têm se preocupado muito mais em aprender com seus públicos, não a ensiná-los, já que tutelas deste tipo estão esfarelando bem na frente de nossos olhos. Novos pactos entre audiências e veículos estão surgindo, bem como relações mais horizontalizadas, o que simplesmente dispensa o paternalismo e o didatismo sobre os quais o jornais do século XX se consolidaram.

O câncer de Lula gerou um mal-estar não apenas restrito ao seu círculo familiar. Outros brasileiros também se comovem com o estado de saúde do líder metalúrgico, dada a sua história pessoal, carisma incontestável e trajetória política. Lula é mesmo um fenômeno. Mas a enfermidade que o acomete revela sintomas que extrapolam seu organismo. O primeiro deles, me parece ser, é que a sociedade brasileira atual é mais complexa do que jamais foi e tem ânsias para se manifestar, qualquer que seja o assunto e a sua conveniência. Outro sintoma é que as novidades nem sempre vêm das redações, e tem se tornado comum que venham do lado de lá do balcão. Um terceiro sinal, neste diagnóstico, é que os jornalistas talvez não precisem mais educar seus públicos ou simplesmente não possam mais fazê-lo. Mais recomendável nesse caso é que o jornalismo revise seus hábitos, reencontrando os tons para fazer coberturas que fiquem na fronteira do público- privado, como as que relacionam saúde e poder. Prescreve-se, portanto, mudança de hábitos, mas nada de repouso.

sobre transparência e a agenda das empresas de mídia

(publiquei primeiro no objETHOS, repito por aqui)

Duas rápidas notícias no ramo jornalístico sinalizam alguns dos movimentos no mercado internacional, em alto contraste com o comportamento brasileiro. No Reino Unido, The Guardian inovou com a criação de uma lista pública em que expõe quais reportagens o jornal vem desenvolvendo. O rol pode ser acessado pelos leitores e até pelos concorrentes. Nos Estados Unidos, The New York Times está sendo levado a aperfeiçoar suas políticas de tranasparência, principalmente no que concerne as coberturas de caráter econômico e financeiro. A ideia é que o jornal lidere um esforço no mercado para tornar mais evidentes possíveis conflitos de interesse dos jornalistas que cobrem certos assuntos. Os episódios nos Estados Unidos e no Reino Unido têm ao menos um ponto em comum: fortalecem o valor da transparência, um dos maiores tabus da mídia brasileira.

Enquanto a open newslist do Guardian desafia a lógica do furo de reportagem de um lado e estende a mão para o jornalismo de fonte aberta e com a colaboração dos leitores, os grupos de comunicação no país pressionam políticos no Legislativo e no Executivo para deixar a legislação e as práticas de mercado mais obscuras. Enquanto o jornal mais influente do mundo se preocupa com a credibilidade de sua equipe, as empresas locais rasgam as próprias diretrizes editoriais, atuando de forma juvenil e corporativa em detrimento do interesse do público. Não é o caso de dizer que os grupos internacionais sejam isentos de qualquer intencionalidade e que mereçam lugar cativo no paraíso por sua beatitude. Mas é histórico o descaso dos conglomerados diante de regras mais claras para o setor, de regulamentação ampla e de transparência. As brechas na legislação permitem propriedade cruzada e oligopólio; o marco legal desconsidera a internet e as novas formas de difusão de informação e entretenimento; e nem mesmo o Ministério das Comunicações sabe a composição acionária de muitas empresas do ramo. Resultado: o Estado não acompanha o setor, dispõe de instrumentos frágeis e não coíbe práticas que são lesivas não apenas para os concorrentes, mas para o consumidor final, o tal do cidadão, o tal do contribuinte. Se o Estado, que deveria atuar como xerife, desconhece a situação, imagine o público, alijado das decisões mais importantes…

De forma paulatina, a transparência vem se tornando um ativo intangível de destaque para empresas de vários setores. No caso da informação e do entretenimento, ser transparente é buscar uma aproximação com seu público e com demais partes interessadas; é mostrar-se também mais socialmente preocupado e mais aberto ao diálogo; é prestar contas e horizontalizar certos processos. Isto é, depende de maturidade, compreensão global do seu papel na sociedade e de convicção. Se o grupo não quer efetivamente ser mais transparente não vai conseguir simular isso, pois suas práticas demonstrarão o contrário.

A mudança do setor produtivo para uma atuação mais transparente pode se dar no interior das próprias empresas ou motivada por uma transformação cultural: líderes do mercado podem “arrastar” os demais players para esta atitude, ou o próprio público pode reivindicar isso. O que acontecerá primeiro no cenário midiático brasileiro? Alguém arrisca responder?

o pan olimpicamente ignorado

A menos de uma semana do início dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, o assunto é olimpicamente ignorado pelos veículos das Organizações Globo. O fato de a emissora de TV do Jardim Botânico não ter os direitos de transmissão da competição tem feito com que o evento seja simplesmente tratado como dispensável na pauta do seu noticiário.

Pior que não ter comprado os direitos de transmissão é ter perdido a exclusividade para o grupo de comunicação que mais vem “incomodando” com índices crescentes de audiência. Por isso, pelos lados da Record, o Pan 2011 é só festa e exaltação. São reportagens nos telejornais, chamadas a todo o momento, um batalhão de profissionais mobilizados e espaços generosos na programação da emissora. No R7, o site do grupo, há uma seção dedicada à cobertura da competição, fartamente ilustrada e constantemente abastecida. No G1 e no seu braço mais esportivo – SportTV – é gelo puro; idem no eBand, da concorrente que tem no esporte um dos carros-chefes de sua programação.

Alguém aí pode achar natural que não se coloque azeitona na empada alheia, já que estamos tratando de competidores em audiência e de rivalidade de mercado. Mas informação é um bem diferente de azeitonas em conserva ou empadas. Informação é uma mercadoria de alto valor agregado, que não se degrada com a sua difusão ou compartilhamento e que, muitas vezes, auxilia o seu portador a tomar decisões, escolher caminhos, reorientar-se no mundo. Isto é, informação é um bem de finalidade pública, embora seja cada vez mais frequente que empresas controladas por grupos privados a produzam e a façam circular. Independente disso, o produto carece de cuidados e atenções distintas.

Então, cobrir o Pan de Guadalajara é mais do que rechear a empada alheia. É garantir que o público tenha acesso a informações que julga relevantes e interessantes. Afinal, convenhamos, não se pode ignorar os Jogos Pan-Americanos. É uma competição tradicional – existe desde 1951 -, é importante – pois funciona como uma prévia regionalizada dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012 -, e é abrangente por ser continental e reunir 29 modalidades esportivas. Esses argumentos bastariam para colocar o evento na pauta de qualquer veículo de comunicação que se preze.

No caso das Organizações Globo, ignorar a efeméride é simplesmente deixar de lado seus recém-anunciados Princípios Editoriais. No documento, os veículos do grupo se comprometem a produzir um jornalismo calcado no que consideram ser os atributos da informação de qualidade: isenção, correção e agilidade. No item que trata de isenção, os princípios são bastante claros, e cito alguns trechos que colidem com o atual comportamento do grupo:

… “(d) Não pode haver assuntos tabus. Tudo aquilo que for de interesse público, tudo aquilo que for notícia, deve ser publicado, analisado, discutido”…

“(n) As Organizações Globo são entusiastas do Brasil, de sua diversidade, de sua cultura e de seu povo, tema principal de seus veículos”…

“p) É inadmissível que jornalistas das Organizações Globo façam reportagens em benefício próprio ou que deixem de fazer aquelas que prejudiquem seus interesses”

Este é um caso típico de descolamento entre o dito e o feito. Claro que as Organizações Globo podem estar preparando coberturas especiais sobre o evento ou correndo para apresentar um material diferenciado às suas audiências. Tomara. Mas se for assim, os veículos do conglomerado estarão atrasados, contrariando outra lei de ouro de seus Princípios Editoriais, a agilidade.

no observatório da imprensa da tv…

Participo hoje à noite do programa televisivo do Observatório da Imprensa para discutir os princípios editoriais das Organizações Globo. O documento anunciado recentemente já rende repercussão no meio jornalístico, já que esse é o maior conglomerado de mídia do Brasil, e sem dúvida um dos mais influentes.

A apresentação do programa é do jornalista Alberto Dines, e ainda foram convidados Leonel Aguiar, professor da PUC-Rio, e Eugênio Bucci, professor da USP

O Observatório da Imprensa na TV é transmitido para todo o país pela TVBrasil e suas afiliadas (consulte os horários da sua região). O público pode participar por telefone (0800-021-6688), pelo twitter (http://twitter.com/obstv) ou pelo chat (http://www.tvbrasil.org.br/interatividade).

Na semana passada, comentei o documento da Globo lá no objETHOS. Dê uma olhadinha aqui.

 

jornal nacional escorregou duas vezes no frio

A edição de ontem do Jornal Nacional cometeu dois deslizes ontem na reportagem sobre o frio no sul do país. Um deles foi logístico: escalou repórter do Rio Grande do Sul pra fazer a matéria. Com isso, apareceram imagens de Gramado, como se apenas lá tivéssemos temperaturas glaciais. Na narração da repórter, o público é informado que a temperatura mais baixa nem foi lá – foi em Santa Catarina – e no estado vizinho – Santa Catarina, again – seis cidades tiveram neve. O erro foi logístico pois havia matérias da RBS – filiada à Globo – sobre a geladeira aberta por aqui.

O segundo erro foi um lapso. A repórter acima citada, confundiu a cidade e rebatizou Urubici, a cidade mais fria do país. William Bonner apressou-se a corrigir…

 

“observações” em vitória

Edgard Rebouças, professor da UFES e líder do Observatório da Mídia Regional, convida:

Seminário “Observações”
Conselhos de Comunicação como espaço de participação social

Auditório do Centro de Artes – UFES
29 de junho (Quarta-feira) 19 horas
Participação: Edgard Rebouças, Maurício Abdalla e Rosely Arantes

O Observatório da Mídia Regional: direitos humanos, políticas e sistemas realiza no próximo dia 29 de junho, quarta-feira, às 19h no auditório do Centro de Artes da UFES, mais uma edição do seminário “Observações”. Nesse encontro serão abordadas as possibilidades, necessidades e os limites acerca da implantação de Conselhos de Comunicação no país e, em especial, no Espírito Santo.

Diante da crescente importância da comunicação na atualidade, faz-se necessário discutir a responsabilidade midiática desempenhada por órgãos públicos e privados, bem como a participação dos cidadãos no processo de acompanhamento da mídia.

No seminário será apresentado o processo de instalação do Conselho Estadual de Comunicação, recentemente aprovado pelo governo da Bahia, por meio da presença da jornalista Rosely Arantes, coordenadora de Relações Sociais da Secretaria de Comunicação da Secom baiana; ela foi uma das principais articuladoras da Conferência Nacional de Comunicação (etapa Bahia) e da criação do Conselho em seu estado. Também estará presente o Prof. Dr. Maurício Abdalla, professor do Departamento de Filosofia da Ufes e autor do livro “O princípio da cooperação: em busca de nova racionalidade”, que irá falar do conceito da democracia participativa.

O seminário será conduzido pelo Prof. Dr. Edgard Rebouças, autor da dissertação de mestrado “Modelo de representatividade social na regulação da televisão” e da tese “Grupos de pressão e de interesse nas políticas e estratégias de comunicações”, além de ter sido o articulador e redator da proposta aprovada na Confecom acerca da criação dos Conselhos Nacional, Estaduais e Municiais de Comunicação.

No Espírito Santo, desde os anos 1990 já vem sendo discutida a criação de um Conselho de Comunicação com participação da sociedade, a exemplo do que já ocorre nas áreas de saúde, educação, segurança, meio ambiente, infância e juventude, e outras. A última iniciativa mais direta ocorreu no final de 2010, quando o deputado estadual Cláudio Vereza encaminhou uma indicação ao Governo do Estado para que desse início ao processo de criação do Conselho, já que tal iniciativa compete ao Executivo. O deputado se baseou nas propostas aprovadas no final de 2009 na Confecom-ES, que contou com a participação de representantes dos governos federal, estadual e municipais; empresários do setor e membros da sociedade como um todo.

A série de seminários “Observações” é uma atividade mensal do Observatório da Mídia Regional: direitos humanos, políticas e sistemas que trata de temas relevantes em comunicação. Eles são abertos à comunidade e não há necessidade de inscrição. O acompanhamento periódico dos seminários dá direito a um certificado com carga horária referente à participação.

Serviço:
Seminário “Observações”: Conselhos de Comunicação como espaço de participação social
Palestrantes:
Prof. Dr. Edgard Rebouças – Observatório da Mídia Regional
Prof. Dr. Maurício Abdalla – Departamento de Filosofia da Ufes
Rosely Arantes – Secretaria de Comunicação do Gov. da Bahia
Local e data: 29 de junho (quarta-feira) às 19h, no auditório do CEMUNI IV (Centro de Artes da UFES)

polêmica do livro do mec é tempestade em copo d’água

Tenho acompanhado de perto o debate em torno do livro adotado pelo MEC e que estaria “ensinando errado” a língua portuguesa, ao reproduzir erros de concordância. E o que se vê nos meios de comunicação é bastante discutível não apenas do ponto de vista linguístico, mas também jornalístico.

De maneira ampla, os meios de comunicação têm engrossado as críticas ao Ministério e ao livro, formando uma verdadeira tropa de choque a favor da língua pátria. Jornalistas gesticulam, esbravejam, tecem discursos moralizantes em torno do idioma, como se viu, por exemplo, na edição de hoje cedo no Bom Dia Brasil, da Rede Globo. O jornalista Alexandre Garcia disparou contra o livro e o MEC, criticando uma certa cultura que fraqueja diante dos insucessos escolares, que flexibiliza demais o ensino e permite o caos que hoje colhemos na educação. Ele lembrou os exemplos da Coreia do Sul e da China, que há décadas investem pesado em seus sistemas educacionais e hoje prosperam, assumem a dianteira de alguns setores. Só se esqueceu de dizer que esses países investem nas ciências exatas e duras e não nas humanísticas, no ensino de língua materna, etc…

Não satisfeito, o Bom Dia convocou o professor Sérgio Nogueira, guardião da língua nacional e jurado do quadro Soletrando, do Caldeirão do Huck, este bastião da cultura brasileira. Nogueira também bateu forte, e quase pediu a cabeça do ministro Fernando Haddad, citando casos recentes (e graves) que chacoalharam o MEC. Só não “demitiu” Haddad por falta de tempo em sua intervenção…

Mas o caso do Bom Dia Brasil não é único. Alguém aí viu ou ouviu a autora do livro em alguma entrevista? Ela pôde dar sua versão? Alguém aí viu ou ouviu linguistas como Marcos Bagno e Ataliba T. Castilho, que pesquisam e trabalham há décadas em torno da discussão de uma gramática para o português falado e da singularidade idiomática do português brasileiro? Alguém aí viu alguma matéria sobre preconceito linguístico? Pois é, pois é…

Marcos Bagno tem um livro simples sobre o tema do preconceito linguístico, derivado de sua tese de doutorado e de anos de pesquisa. O professor Ataliba escreveu três volumes de uma gramática voltado ao português falado. Isso não é suficiente para se perceber que existem abismos entre o que se escreve e o que se fala? Que a língua falada é mais dinâmica, mais porosa que o padrão culto da língua, a ser aplicado na sua dimensão escrita? Alguém aí já ouviu falar de um genebrino chamado Ferdinand de Saussure, por acaso pai da Linguística, cujo livro póstumo de 1916 já tratava de separar língua (langue) e fala (parole)?

O fato é que sobra opinião apressada e ignorância na cobertura da imprensa sobre o caso. Sobra também prescritivismo, conservadorismo e elitismo no ensino de línguas. E justo nos meios de comunicação, ao mesmo tempo ator e ambiente fundamentais para difundir, disseminar e consolidar gestos de linguagem, fatos da língua…

observando o observador…

Qual é o assunto mais comentado da semana?

Isso mesmo! O massacre na escola de Realengo, no Rio. Foi na quinta, mas de lá pra cá, ele quase absorveu todo o tempo e o espaço de cobertura dos meios de comunicação.

Na Folha de S.Paulo de hoje, qual é o assunto tratado pela ombudsman do maior jornal do país?

Não, não é o massacre de Realengo. Em vez disso, Suzana Singer aborda o noticiário sobre a troca de comando na Vale do Rio Doce e a distância desinteressada que deveriam ter os colunistas da Folha, que na última semana foram cobrados por leitores por olhar para os próprios umbigos…

Uma pena. Eu gostaria de saber como a ombudsman está observando a cobertura do tema mais comentado da semana…

resenha de “vitrine e vidraça”

Carlos Tourinho, jornalista e professor brasileiro que faz doutorado em Portugal, assina resenha sobre o livro “Vitrine e Vidraça: Crítica de Mídia e Qualidade no Jornalismo”, que reúne artigos de pesquisadores da Rede Nacional de Observatórios de Imprensa (Renoi).

A resenha saiu hoje no Observatório de Imprensa, leia aqui.
O livro pode ser baixado aqui.