documento da comissão moderniza diretrizes, mas alonga cursos

A comissão de especialistas designada pelo ministro Fernando Haddad para reformar as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Comunicação entregou ontem ao Ministério da Educação seu relatório final, um documento de 26 páginas que sugere modificações nas bases que sustentam os cursos de Jornalismo brasileiros. A comissão foi formada por alguns dos nomes mais respeitados e reconhecidos do país na área: os professores Alfredo Vizeu (UFPE), indicado pelo Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ), Eduardo Meditsch (UFSC), indicado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Luiz Motta (UnB), indicado pela Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), Manuel Carlos Chaparro (USP), Sonia Virginia Moreira (UERJ), da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), Sérgio Mattos (UFBA) e Lúcia Maria Araújo, do Canal Futura.

Eles tiveram pouco mais de seis meses para consultar a comunidade acadêmica, o mercado e organizações da sociedade civil, para reunir-se e discutir e para sistematizar todos os dados colhidos. O resultado é este documento. A partir de agora, o trâmite é interno ao MEC, com discussões no Conselho Nacional de Educação, onde tudo pode mudar, como já aconteceu em 2001, na edição das Diretrizes Curriculares em vigência. Aliás, é preciso ter em mente isso também: enquanto o CNE não aprovar novo documento que oriente os cursos, fica valendo o atual, um verdadeiro monstro de Frankenstein, que traz instruções para diversas habilitações do curso de Comunicação. O documento entregue na sexta já parte de um novo contexto: o de que o Jornalismo pode ter cursos específicos, com diretrizes próprias.

Há exatos sete meses, escrevi neste blog o que poderíamos esperar da comissão e do seu trabalho: em linhas gerais, eu manifestava que era um momento histórico para a área, pois estávamos diante da construção de novas bases para os cursos, e próximos de uma definição do Supremo Tribunal Federal sobre a polêmica do diploma. Eu temia pelo tempo, pela extensão do prazo: seis meses.

Se conseguirmos chegar à metade de 2009 com a decisão do STF – qualquer que seja ela -, com uma nova regulamentação profissional e com novas diretrizes curriculares, poderemos iniciar uma nova fase para o jornalismo brasileiro. A partir de 2010, estaremos começando uma nova década e não apenas no calendário…

Ora, eu estava errado, apressado demais. Seis ou sete meses foram um bom tempo para o diálogo, para a reflexão. O que precisamos agora é que a tramitação no CNE seja rápida e possíveis alterações apenas aperfeiçoem o documento da comissão. Chegamos aos dias que correm com a decisão do STF e com o final do trabalho dos especialistas sobre as bases dos cursos de Jornalismo. Este tem sido sim um ano histórico, basta adicionar a esses episódios o fim da Lei de Imprensa.

Mestrado profissionalizante e especificidade

Sem dúvida, o documento apresentado ao MEC atualiza as bases para os cursos de Jornalismo. Se o relatório passar sem grandes alterações, vai estabelecer outras orientações para os cursos existentes e os a surgir. Mas as proposições não se conformam apenas à graduação. Deve impactar também sobre cursos de pós-graduação. O documento sinaliza, por exemplo, que “a formação de profissionais especializados (…) tem a possibilidade de se estabelecer através de cursos de mestrado profissional, credenciados pela CAPES. Neles, os formados em outras áreas do conhecimento poderão preparar-se para colaborar nas editorias especializadas, atuando como comentaristas, consultores ou planejadores de conteúdo. A especialização de graduados em jornalismo (…) pode também ser garantida em mestrados profissionais”.

A modalidade profissionalizante dos mestrados ainda é uma incógnita para a maioria das áreas de conhecimento no sistema de pós-graduação. Em campos como o da Educação, teme-se, por exemplo, que o surgimento de mestrados do tipo “acabem” com os mestrados acadêmicos, discussão que não tem sentido no Jornalismo. Mas a sinalização da comissão demonstra ousadia não apenas na sugestão deste tipo de pós-graduação, mas abrindo a possibilidade de formados em outras áreas chegarem ao jornalismo por meio de pós, como se dá muitas vezes em outros países.

O relatório é categórico: as mudanças propostas sepultam a idéia de que o Jornalismo seja uma habilitação dos cursos de Comunicação Social, “uma vez que esta, como profissão, não existe, assim como não existe uma profissão genérica de Saúde”. O esforço da comissão não é romper com a grande área de conhecimento da Comunicação, mas apagar o equívoco cristalizado pelas diretrizes atuais. Funciona, mais ou menos, como na Saúde, onde Medicina, Odontologia e Veterinária pertencem à mesma grande área de conhecimento, mas oferecem cursos e profissões específicas. O movimento pelo fim das habilitações já está em franco desenvolvimento, e em 2006 mesmo outro curso da Comunicação – Cinema e Audiovisual – “já foi desmembrado das Diretrizes Curriculares comuns pelo Conselho Nacional da Educação, através da Resolução n­º.10 de 27/06/2006”.

Em seu documento, a comissão faz um extensa e ampla discussão sobre as bases teóricas, históricas e práticas do jornalismo, recorrendo à bibliografia nacional e internacional, demonstrando a evolução do campo e a necessidade de os cursos de formação acompanharem esse ritmo. São apontadas instruções para os projetos pedagógicos dos cursos e salientadas as competências a serem desenvolvidas para o preenchimento de um perfil de formação.

Eixos de formação e duração dos cursos

A proposta prevê que os cursos de Jornalismo se apoiem em seis eixos de formação:

  • Eixo de fundamentação humanística
  • Eixo de fundamentação específica
  • Eixo de fundamentação contextual
  • Eixo de formação profissional
  • Eixo de aplicação processual
  • Eixo de prática laboratorial

A comissão colheu sugestões em pelo menos três audiências públicas com diversos setores da sociedade, direta ou indiretamente interessados na reforma das diretrizes. Penso que o alicerce dos seis eixos contempla todas a gama de proposições, e ajuda a equilibrar a formação oferecida. Os cursos – se tiverem que se adequar a este novo modelo – terão ainda que superar velhas dicotomias como Teoria-Prática e Academia-Mercado. Isso não é um problema da comissão, mas dos cursos, de seus gestores e professores.

Para preservar o equilíbrio entre os eixos, a comissão estabelece equidade nas cargas horárias – em torno de 400 horas para cada eixo -, e ainda reserva 300 horas para os trabalhos de conclusão de curso, mais 200 horas de estágio supervisionado e outras 300 para atividades complementares . Com isso, a comissão alonga o período de formação dos jornalistas. Se até hoje, os cursos devem ter ao menos 2,7 mil horas, se aprovado o relatório, passarão a ter ao menos 3,2 mil horas. Neste sentido, pessoalmente, discordo da comissão, pois não tenho certeza de que aumentar a carga redunde necessariamente numa formação melhor. O próprio MEC já sinaliza que cursos de graduação possam ter três anos, acelerando a chegada dos profissionais no mercado e enxugando ao essencial os conteúdos oferecidos nos cursos. Penso que os cursos de Jornalismo podem ter menos de três anos, e novas oportunidades formativas serão necessárias ao longo da carreira do profissional, cabendo a ele buscá-las para se reciclar e definir especializações.

Positivo, no entanto, é perceber que a comissão sugere que as atividades laboratoriais sejam oferecidas aos alunos já a partir do primeiro semestre, em sequência progressiva, conforme níveis de complexidade e de aprendizagem. Esse aspecto contraria a lógica do velho currículo mínimo que cindia os cursos em módulos teóricos – os primeiros dois anos – e práticos – os restantes. Com essa nova lógica, contempla-se o aluno que recebemos hoje nas escolas, e os contextos atuais de informação e comunicação.

Outro ponto importante do relatório da comissão é o que trata do estágio supervisionado, um tabu na área. Por conta da lei que regulamenta a profissão, os estágios eram considerados irregulares, mas na prática executados sem nenhum acompanhamento ou orientação pedagógica. A comissão estabelece normas gerais para sua execução e traz o estágio como uma etapa de complemento formativa, o que deveria ter sido feito desde sempre…

Aperfeiçoamento dos professores

Duas recomendações finais no documento da comissão de especialistas precisam tambéms ter a anuência do Conselho Nacional de Educação nas novas diretrizes. A primeira sugere a criação de um “Programa Nacional de Aperfeiçoamento Docente destinado às novas gerações de professores de Jornalismo”. Com isso, a comissão chama a atenção para um problema que se descobre apenas no cotidiano da sala de aula: professores, muitas vezes, inseguros e mal preparados para o exercício da docência, com sérios problemas de didática e que se mostram antipedagógicos. Muito bom a comissão ter observado isso.

Um segundo aspecto a ser ressaltado é a “manutenção de uma comissão supervisora das novas diretrizes (…) para garantir a concretização das estratégias” defendidas no documento. Evidentemente, a comissão não quer assistir de camarote à descaracterização do seu trabalho ou mesmo estabelecer regras que não sejam minimamente acompanhadas.

Muito particularmente, penso que o documento da comissão é um relatório que auxilia o MEC a modernizar e reestruturar os cursos de Jornalismo no país. São mais de 300 por aí, muito além da capacidade de absorção de mão-de-obra que o mercado tem. O relatório atualiza as bases, mas penso que dois são os seus calcanhares de Aquiles: o alargamento do tempo de formação e o alicerce dos seis eixos de formação.

O alargamento da formação pode ser um problema numa época em que há pressa para tudo, inclusive para chegar ao mercado de trabalho. A extensão da duração dos cursos pode inclusive “motivar” o apressado a não fazer o curso superior, já que, ao menos por enquanto, não é necessário ter diploma para ter registro. Isso não é um problema para a comissão, mas para as instituições de ensino…

A definição dos seis eixos de formação, por sua vez, é resultado muito mais de um esforço para contemporizar e agregar opiniões divergentes da comunidade do que propriamente o substrato de uma orientação pedagógica, de uma lógica formativa. Tomara que eu esteja errado, mas se não estiver, gestores e professores terão que suar muito para planejar cursos orgânicos e bem definidos. Além do que me parece forçado estabelecer a mesma carga horária para tão diferentes eixos… Tomara que eu esteja vendo fantasmas à toa…

De qualquer maneira, a expectativa agora é pela tramitação do documento no CNE, e pela implementação de novas diretrizes. Volto a repetir: é um momento histórico para a área. E é muito bom estar vivendo tudo isso…

uma falsa questão para a comissão das diretrizes curriculares em jornalismo

pingos_nos_isApós uma oportuna jornada de audiências públicas envolvendo diversos setores interessados da sociedade, a comissão de especialistas que trabalha na reforma das diretrizes curriculares para os cursos de Jornalismo trabalha para finalizar um documento-síntese sobre o tema. O texto deve ser encaminhado ao Ministério da Educação em meados de agosto, para avaliação e tramitação no Conselho Nacional de Educação. Entre a versão da comissão e o texto final das novas diretrizes, muita coisa pode acontecer. Há quem ainda peça mais tempo para discussão e reflexão sobre o tema – é o caso da Fenaj -, mas sabemos todos que mudanças nos cursos de Jornalismo são ansiadas e até mesmo urgentes.

A comissão trabalha nas sugestões feitas, e talvez não seja mais possível agregar novas contribuições. Por isso, apenas sinalizo aqui um temor pessoal nas últimas rodadas de discussão que li em sites e blogs. Receio que ganhe cada vez mais relevo um aspecto que, na minha forma de ler, é uma falsa questão para a comissão de especialistas.

Nas últimas semanas, muito decorrente da terceira audiência pública promovida pela comissão, diversos atores sociais manifestaram suas preocupações com uma formação mais humanística nos cursos de Jornalismo. Mais que isso, frisaram da necessidade de se construir currículos com fortes doses de disciplinas desse naipe, de maneira a garantir formação mais amplas e sólidas aos novos jornalistas.

Penso que essa é uma falsa polêmica, uma falsa questão para o tema.


Desvio de função

Estive em São Paulo na terceira audiência e percebi uma clara tendência de sugestões em torno de conteúdos a serem incluídos nos currículos dos cursos de Jornalismo. Diversos colegas que usaram o microfone se restringiram a defender certas unidades de ensino e disciplinas em detrimento de outras, e muitas dessas sugestões são realmente muito bem vindas. No entanto, não era o caso de fazê-las ali. E por uma questão simples: a comissão que trabalha nas diretrizes NÃO VAI DITAR NOVOS CURRÍCULOS para os cursos. A comissão vai elaborar um texto que sinalize orientações mais gerais de formação. Daí que o documento das atuais diretrizes curriculares sinalize perfis desejáveis para os egressos dos cursos e competências e habilidades a serem perseguidas e desenvolvidas.

A LDB prevê as diretrizes, e essas diretrizes apontam os focos de formação esperados. Cabe aos gestores – coordenadores e coordenadores pedagógicos – estruturarem seus currículos de forma a satisfazer tais diretrizes. Por isso que as sugestões de conteúdo – embora ricas e interessantes – feitas na terceira audiência pouco importam à comissão. Se os especialistas se detiverem a listar conteúdos para rechearem currículos, estaremos retornando à lógica dos currículos mínimos dos anos 1980 e incorrendo num tremendo desvio de função da comissão.

Sei que esse risco é pouco provável. Na terça, 26 de maio, o presidente da comissão, José Marques de Melo, disse no programa televisivo do Observatório da Imprensa que não cabia àquele colegiado ditar novos currículos para os cursos. Mesmo sabendo que a comissão está consciente desse papel, é importante tornar muito claro o alcance de um documento como o das diretrizes curriculares.


Mais humanidades. Mais?

O coro ouvido nas últimas semanas clamou para que os cursos de Jornalismo contemplem uma formação mais humanística. Acho importante e oportuna a sugestão. Entretanto, ela precisa ser colocada em perspectiva para que se possa avaliar a sua real pertinência. Proponho ao leitor que pense em cinco escolas de Jornalismo no Brasil. Peço então que entre em seus sites e que acesse suas matrizes curriculares, seus ementários ou – quem sabe? – seus projetos pedagógicos. Notem a proporção de disciplinas específicas para a formação jornalística e as que poderiam ser classificadas como disciplinas mais amplas, de sustentação e formação humanística.

Posso afirmar que quaisquer que sejam as escolas listadas pelo leitor, em todas elas veremos disciplinas como Sociologia, Antropologia, História, Filosofia, Psicologia, entre outras. Veremos a clara preocupação de oferecer saberes de base para que os futuros jornalistas estejam preparados para analisar cenários e compreender realidades. Veremos também algumas tentativas de conexão entre essas unidades de conhecimento com a prática jornalística. Pois bem. Não é demais dizer que as humanidades fazem parte da formação oferecida nos cursos de Jornalismo, e eu estenderia isso a todo o Brasil. Venho desenvolvendo uma pesquisa sobre ensino de deontologia jornalística entre os cem cursos mais tradicionais do país. Isso tem me obrigado a analisar matrizes curriculares e ementas, e o que venho encontrando – entre outras coisas – é esta presença bem evidente de disciplinas de humanidades.

Com isso, pergunto: se os cursos já oferecem doses elementares de humanidades, precisamos valorizar ainda mais esse tipo de formação? Essa formação ampla é mais importante que a específica, voltada ao exercício profissional? Existe fórmula para equilibrar esses termos da equação?

Ana Arruda Calado, no mesmo programa do Observatório da Imprensa, foi pontual na questão: o problema não está na quantidade desses conhecimentos, mas na integração das formações humanística e específica. Isto é, precisamos trabalhar melhor nossas matrizes curriculares, nossas ementas, nossos planos de ensino, de forma a fazer com que as humanidades não sejam mais adereços nas situações de sala de aula, mas se amalgamem com as práticas da profissionalidade. Neste sentido, estendo o mesmo raciocínio para a falsa dicotomia teoria-prática, que também carece de mais atenção por professores e supervisores pedagógicos.

Cinismo e injustiça

Pareceu-me que o argumento dos defensores de mais humanidades nos cursos de Jornalismo está baseado na generalização de que os novos jornalistas chegam às redações totalmente despreparados. Isso é possível sim. É plausível que os egressos que não tiveram experiências profissionais anteriores ou simulações pedagógicas dos desafios das profissões desaguem nas redações como quem não sabe a que veio. Mas isso não é “privilégio” dos cursos de Jornalismo. Em outras áreas, existem claras oportunidades de ensaio, de exercício, de estágio supervisionado. Jovens formados em Medicina precisam passar por tempo de residência; concluintes dos cursos de Direito estagiam em escritórios do ramo, bem como egressos da Engenharia não saem por aí assinando projetos…

Dos jovens jornalistas espera-se que saiam completos, maduros e competentemente formados para o trabalho. Esquecem-se que a lei que regulamenta a profissão impede o estágio na área, e que muitas escolas de Jornalismo não detêm bons laboratórios para atividades práticas que poderiam servir de ensaios profissionais. Mesmo assim, exige-se que os jovens jornalistas saiam plenamente aptos à lida cotidiana.

Não se trata de passar a mão sobre a cabeça dos egressos. Não. Defendo que os cursos de Jornalismo contribuam de maneira decisiva para a transformação de amadores em profissionais capacitados para a atividade. Defendo também que sejam cursos de qualidade, com alta exigência pela excelência técnica, com grande potencial para formar jornalistas críticos e conscientes, responsáveis e éticos. No entanto, é  – no mínimo – cinismo esperar que os egressos desses cursos saiam plenamente preparados para um mercado em transformação se tanto a formação acadêmica quanto seu entorno são incapazes de assegurar condições plenas de capacitação. Isso sem contar na idéia equivocada de formação restrita aos quatro anos de curso. Profissionais – e jornalistas não estão fora disso – devem estar em constante formação, reciclagem e aprimoramento…

Foco na formação

Mesmo que o argumento seja generalizador, cínico e injusto, ele nos ajuda a ajustar o foco da formação que se deve perseguir nos cursos de Jornalismo. Os jovens jornalistas chegam crus nas redações? As razões são muitas, mas os erros e deslizes que colhemos todos os dias não estão circunscritos apenas nos focas. Gente muito experiente tem derrapado por aí. E não por conta de formações humanísticas deficientes, mas sim por problemas de formação específica em jornalismo.

Jovens repórteres têm saído para suas matérias sem saber como e onde buscar informações. Muitas vezes, não sabem formular perguntas ou conduzir entrevistas. Jovens pauteiros elaboram pautas inconsistentes ou que pouco orientam repórteres. Editores, nem sempre jovens, penam em como articular os conteúdos e materiais que têm à disposição e que devem oferecer ao público.

Isto é, os egressos dos cursos de Jornalismo precisam ter acesso a disciplinas e conteúdos que lhe permitam ler cenários, compreender realidades, analisar circunstâncias. Estudantes de Jornalismo precisam ter aulas de Sociologia, mas não sairão sociólogos formados. Sairão jornalistas que precisam saber buscar informações, apurar, relatar com precisão e correção. Sairão jornalistas que devem inquirir sociólogos, antropólogos ou outras fontes de informação com rigor, atenção e foco.

Por isso, insisto, a defesa de conteúdos mais humanísticos nos cursos de Jornalismo é uma falsa questão. Não é o que a comissão busca. Os cursos já têm disciplinas dessa natureza, e nossos problemas de formação têm sido mais graves na capacidade dos jovens profissionais atuarem bem na especificidade da profissão.

um relato da terceira audiência das diretrizes

A comissão de especialistas que trabalha na reforma das diretrizes curriculares dos cursos de Jornalismo concluiu ontem a etapa das audiências públicas que realizou com variados setores da sociedade. A terceira e última audiência aconteceu na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em São Paulo, e reuniu representantes de diversas organizações. “Foi a reunião mais densa e orgânica que tivemos”, avaliou o presidente da comissão, José Marques de Melo, após quase quatro horas de debates. “As duas audiências anteriores também foram bastante participativas, mas hoje a diversidade das falas enriqueceu bastante o processo”.

Marques de Melo se referia às quase trinta organizações presentes, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) a Unesco e Instituto Ethos, passando pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação (Enecos)  e Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI).

As manifestações das organizações, e as sugestões da platéia foram recolhidas pela comissão, que já iniciou a sistematização das informações para a redação de um documento que se pretende resultar no das novas diretrizes. Se antes o prazo de conclusão dos trabalhos era 3 de junho, agora estendeu-se até 12 de agosto, informou a representante do Ministério da Educação Cleonice Matos Henn.

Formação humanística
Não apenas entre as entidades participantes, mas também entre convidados, um tema foi repetido quase à exaustão durante a audiência: a necessidade de reforçar a formação humanística nos cursos de Jornalismo. Foi o caso dos jornalistas Caio Tulio Costa e Eugenio Bucci, que abriram a sessão de manifestações. Para eles – cada um a seu modo -, as escolas precisam retomar conteúdos que contribuam para uma formação mais clássica dos jornalistas, de modo a não apenas se capacitarem a executar tarefas práticas e cotidianas da profissão. “A formação do profissional multimídia não pode acontecer afastada de uma formação humanística”, afirmou Caio Tulio.

Eugenio Bucci criticou a organização atual das disciplinas nos currículos – jornalismo impresso, televisivo, etc… -, argumentando que essa disposição já não mais dá conta das demandas formativas. O professor de Ética da USP citou eixos que poderiam sustentar uma formação ideal na sua visão: Linguagem, Democracia, Formação Humanística e Formação em Teorias da Comunicação. Os conteúdos relevantes para formar novos jornalistas perpassariam esses eixos de forma mais fluida e sistêmica.

Curso complementar ou não?

Outro tema palpitante na audiência foi a própria natureza e modalidade dos cursos de Jornalismo a serem oferecidos no Brasil. Caio Tulio Costa, por exemplo, defendeu a proposta de profissionais formados em outros cursos fazerem especialização nas escolas de Jornalismo, habilitando-se a atuar nas redações. A proposta foi referendada por outras falas, entre as quais a da CNBB. Mas teve resistência bem marcada nas posições de Celso Schroeder, coordenador do FNDC, e de Valci Zuculoto, do Departamento de Educação e Aperfeiçoamento Profissional da Fenaj, que argumentaram pela garantia de formação específica em Jornalismo, e não a sua complementar.

Bem menos ligados à academia, alguns setores demonstraram forte preocupação quanto a oferta de cursos no país. Eduardo Ribeiro, da Mega Comunicação, comparou números de escolas e de egressos à tendência cada vez mais aguda de fechamento de postos de trabalho, e a consequente não absorção de grandes contingentes de recém-formados. Sérgio Gomes, da Oboré Comunicação, queixou-se da impossibilidade real de conciliar os conteúdos e competências desejáveis aos novos jornalistas com as condições encontradas nas escolas e na vida contemporânea.

Dispersão e resultados

A audiência de ontem foi comemorada pelo presidente da comissão, José Marques de Melo, como um momento de diversidade e encontro de pensamentos distintos no debate sobre as diretrizes curriculares. A pluralidade das organizações presentes e a possibilidade de manifestações livres enriquece, mas também fragmenta a discussão.

Nas quase quatro horas de audiência, falou-se de tudo: dos conteúdos desejáveis nos currículos à necessidade de maior fiscalização do MEC sobre os cursos; da urgência da democratização da comunicação ao papel central da ética na formação dos jornalistas. Houve até quem se perdesse, como o representante da ONG Amigos da Água que, em tom alarmante, falou da extinção da humanidade por causa da escassez do recurso; ou ainda como um angustiado repórter fotográfico, que se queixou de como o sindicato dos jornalistas vem permitindo a entrada de profissionais totalmente despreparados no mercado de trabalho.

Audiência públicas são relevantes, mas também são um perigo, pois podem descambar para um festival de catarses ideológicas, de reclamações descabidas e inoportunas, e de outros desvarios. Não foi o caso de ontem, talvez até pelo adiantado da hora e do cansaço evidente de todos.

Audiências como esta têm muito mais significado político do que prático e operacional. Nessas ocasiões, as organizações têm a liberdade de se manifestar e marcar posições, ancorando seus discursos em plataformas mais evidentes. Do ponto de vista prático, a comissão de especialistas teve a oportunidade de recolher contribuições, referendou o processo de debate público e concluiu uma importante etapa em seus trabalhos: ouvir os setores interessados e receber informações e sugestões.

A partir de agora, a comissão deve trabalhar em cima de uma massa considerável de dados, precisando inclusive tomar algumas decisões que venham a orientar o documento que será encaminhado ao MEC. Esse documento ainda não é o que sintetiza as diretrizes curriculares, já que é preciso que o Conselho Nacional de Educação analise e edite essas normativas. Como disse José Marques de Melo no final da audiência de ontem, não se deve alimentar ilusões de que o caminho esteja no final e ele seja tranquilo. De nada adianta termos diretrizes curriculares bem construídas se a sociedade não fazê-las acontecer. Marques de Melo sabe do que está falando e há muito chão pela frente…

sem conexão e em trânsito…

Fui à audiência pública sobre as diretrizes curriculares em Jornalismo que aconteceu em São Paulo. Diferente do que eu esperava, não consegui conexão no auditório da OAB e isso me impediu de twittar direto do evento. Escrevi um relato bem pessoal do que vi por lá e publico amanhã cedinho… é que acordei hoje às 3 da madrugada e não parei até agora… paciência…

diretrizes curriculares: a proposta da renoi

A Renoi finalizou as discussões e redação de um documento que encaminhou ao professor José Marques de Melo, presidente da comissão que reforma as diretrizes curriculares para os cursos de Jornalismo.
O documento pode ser lido aqui.

renoi vai à audiência das diretrizes

A Rede Nacional de Observatórios de Imprensa (Renoi) participa na próxima segunda-feira, 18, da terceira audiência pública que discute reformas nas diretrizes curriculares dos cursos de Jornalismo. O evento acontece durante a manhã, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo.
A exemplo de outras organizações, a Rede Nacional de Observatórios de Imprensa foi convidada pelo Ministério da Educação e pela comissão de especialistas que lidera a discussão nacional em torno de um novo documento que oriente os cursos de graduação na área. A Renoi discute internamente um texto que apresentará com contribuições ao debate.
De acordo com informações do próprio MEC, a comissão deve concluir seus trabalhos e apresentar uma proposta de texto ao Conselho Nacional de Educação no início de junho.

Vou representar a Renoi no evento e farei um relato muito em breve. Quem sabe se as condições ajudarem, posto algo pelo Twitter também…

comissão das diretrizes pode ouvir notáveis

Miriam de Abreu, do Comunique-se, informa que a comissão designada pelo MEC para reformar as diretrizes curriculares para os cursos de Jornalismo pode se estender além das audiências públicas que se encerram na próxima semana…

A Comissão do Ministério da Educação formada para discutir as diretrizes curriculares dos cursos de Jornalismo avalia a possibilidade de ouvir nomes notáveis da área, como autores e jornalistas. O objetivo é colher o máximo de posições e perspectivas para que se possa apresentar ao MEC uma proposta consistente. O grupo deve conversar individualmente com essas pessoas, cujos nomes ainda não estão definidos.

As audiências públicas realizadas pela Comissão estão chegando ao fim. Os especialistas que fazem parte do grupo se reúnem na próxima segunda-feira (18/05) em São Paulo com segmentos da sociedade civil, movimentos sociais e organizações não-governamentais para ouvir suas sugestões.

Na agenda do MEC, consta que no dia 03/06 a Comissão vai avaliar todas as propostas oriundas dessas audiências e também das contribuições que chegaram por e-mail. Não se sabe ainda se o cronograma vai mudar, já que o grupo não decidiu se vai ou não ouvir individualmente nomes reconhecidos da área.

Em conversa com o Comunique-se em abril, o presidente da Comissão, José Marques de Mello, fez questão de enfatizar que o objetivo do grupo é garantir “a liberdade curricular nas universidades e estabelecer diretrizes que não sejam uma camisa de força. Vamos respeitar as diversidades regionais, não queremos um tipo de jornalismo chapado. Defendemos uma formação básica genérica e unificada, mas cada curso deve procurar uma vocação”.

Outra proposta que vai ser avaliada pela Comissão é a da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) sobre a realização de um novo encontro depois de 18/05 para a apresentação da conclusão do resultado final do trabalho dos especialistas que integram o grupo.

A próxima audiência será realizada das 9h às 12h, na OAB-SP.

fnpj intensifica coleta de sugestões para novas diretrizes curriculares do jornalismo

Não poderia ser diferente, mas a iniciativa merece destaque. O fato é que o Fórum Nacional de Professores de Jornalismo está tomando a frente nos debates sobre as novas diretrizes curriculares para os cursos da área. Não poderia ser diferente porque se trata de uma entidade que congrega professores, gente ligada diretamente ao ensino do jornalismo. Mas, como disse, merece destaque pelo empenho dos envolvidos.

A seguir, reproduzo comunicado assinado pelo diretor editorial e de comunicação do FNPJ, Paulo Roberto Botão.

Em reunião de diretoria mantida em Belo Horizonte na última semana, após o término do XII Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, a diretoria do FNPJ decidiu manter a coleta de sugestões ao documento “Proposta do FNPJ para a reformulação das diretrizes curriculares em Jornalismo”.

Aprovado na assembléia de encerramento do Encontro Nacional, o documento servirá para balizar as discussões sobre as diretrizes curriculares, que devem prosseguir pelo menos até o dia 18 de maio, quando está programada para acontecer, em São Paulo, a terceira audiência pública proposta pela Comissão do MEC que estuda o assunto. A assembléia do FNPJ também aprovou indicação para solicitar novas audiências à comissão de especialistas nomeada pelo governo, a fim de que a mesma submeta a sua proposta à comunidade.

O Fórum também continuará acompanhando o assunto e aprofundando as discussões no âmbito de uma comissão de entidades do campo do jornalismo, que tem também representação da Fenaj e SBPjor.

A proposta do FNPJ pode ser lida no blog consulta instituído para receber contribuições e comentários, no seguinte endereço: www.diretrizesjornalismofnpj.blogspot.com.

Os professores e demais interessados que quiserem apresentar propostas podem fazê-lo diretamento no blog, ou através de e-mails criados para direção do FNPJ: diretrizesjornalismo@fnpj.org.br e dirfnpj@gmail.com.

O prazo definido para o recebimento de críticas e sugestões vai até o dia 18 de maio.

Após esta data e considerando já os debates da última audiência pública, uma comissão interna do Fórum vai implementar eventuais alterações ao texto inicial e finalizar um novo documento, a ser encaminhado à Comissão do MEC.

diretrizes dos cursos de jornalismo: a segunda audiência

Aconteceu hoje de manhã, em Recife, a segunda audiência pública convocada pela comissão de especialistas que trabalham para reformar as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Jornalismo. No final de semana, o professor Alfredo Vizeu – membro da comissão – informou que o evento teria transmissão para todo o Brasil, de forma a ampliar o alcance das discussões. O blog do Grupo de Pesquisa Jornalismo e Contemporaneidade anunciou que sediaria a transmissão, mas acho que “tivemos problemas, Houston”. Não houve transmissão por canais de áudio ou vídeo, e os operadores do blog atualizavam as notícias colando uma em cima da outra, impedindo a geração de um histórico das matérias. Cheguei a postar comentários por lá, mas não cheguei a ter nenhuma resposta se era assim mesmo ou se eu havia me confundido. No Twitter, outros colegas se queixavam também da sistemática que acabou sendo frustrante.

No final, mais uma vez, a audiência pública – que desta vez deveria ouvir profissionais e empresas – ficou restrita a quem estava por lá. Uma pena.

(ATUALIZAÇÃO de 25/04/2009: Alfredo Vizeu entrou em contato para saber mais detalhes das falhas detectadas. A professora Adriana Santana, que coordenou o trabalho de alunos da UFPE na cobertura, reconheceu que houve problemas, e atribuiu os bugs ao sistema de postagem do WordPress, onde está hospedado o blog. Os alunos chegaram a postar fotos e vídeos que sequer chegaram à rede, conta a professora que já estuda outras sistemáticas de cobertura, como o próprio Twitter)

Até o meio da tarde de hoje – são 15 horas! -, nos sites da Fenaj, do Sindicato de Jornalistas de Pernambuco e em outros meios nada traziam sobre a discussão desta manhã, ficando apenas no anúncio do evento em Recife. Quem trouxe matéria é o Comunique-se. Veja abaixo a matéria assinada por Miriam Abreu:

Comissão do MEC quer garantir liberdade curricular dos cursos de Jornalismo

O Presidente da Comissão formada pelo Ministério da Educação para aplicar novas diretrizes curriculares aos cursos de Jornalismo, José Marques de Mello, deixou claro que o objetivo do grupo é garantir “a liberdade curricular nas universidades e estabelecer diretrizes que não sejam uma camisa de força. Vamos respeitar as diversidades regionais, não queremos um tipo de jornalismo chapado. Defendemos uma formação básica genérica e unificada, mas cada curso deve procurar uma vocação”, explicou ele ao Comunique-se, ao término da audiência realizada na manhã desta sexta-feira, no Recife.

Ele avaliou como produtivo o encontro com representantes das associações, entidades de classe e jornalistas profissionais. “Todos nos trouxeram propostas concretas do perfil do novo jornalista, das competências deste profissional”.

O presidente da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), Sérgio Murillo de Andrade, apresentou um resumo das sugestões da entidade para o estimulo à qualidade do ensino do jornalismo (leia na íntegra aqui). “Somos contrários à dupla formação, à complementação da formação, favoráveis ao curso específico dentro do campo da comunicação. Pedimos também uma audiência depois da que será realizada em São Paulo, em 18/05, para a apresentação da conclusão do resultado final do trabalho desse grupo de especialistas”, contou Murillo.

Ele lamentou a ausência de representantes das entidades patronais, como a Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e TV (Abert). “Espero que essa ausência não signifique que essas entidades sejam contra a formação superior, já que são contra a obrigatoriedade do diploma. Acho um desrespeito ao trabalho que esse grupo voluntário está desenvolvendo no sentido de qualificar o ensino no País”.

“Na verdade essa ausência não significa boicote. As entidades patronais têm mandado sugestões, não estão ausentes. Nem sempre as datas das audiências são viáveis para todos”, respondeu Mello.

As audiências têm sido um avanço, na avaliação do presidente da Comissão. Ele está ciente de que há posições contrárias e deixou claro que o grupo vai estabelecer diretrizes “consensuais, que atendam à sociedade”.

Sobre as contribuições recebidas por e-mail até 30/03, ele conta que o grupo já leu as sugestões. “Há muita coisa pontual, repetitiva. Uma equipe do MEC está fazendo uma grade com essas contribuições”.

começa o encontro de professores em bh

Começou ontem a 12ª edição do Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, em Belo Horizonte. A conferência de abertura ficou por conta do professor Alfredo Vizeu (UFPE), um dos membros da Comissão de especialistas que trabalha sobre novas Diretrizes Curriculares para os Cursos de Jornalismo.

Vizeu fez uma revisão histórica das “idas e vindas” dos atores envolvidos na busca por qualidade no ensino de Jornalismo no país. Sua função, reforçou, era mostrar que existe uma tradição, uma trajetória percorrida desde a década de 1940, com discussões sobre currículos, conteúdos e orientações pedagógicas. Os trabalhos da comissão continuam, informou Vizeu. Na próxima semana, por exemplo, Recife sedia a segunda audiência pública (de um total de três), que deve colher informações, sugestões e encaminhamentos de setores interessados na questão, assumidamente a academia e o mercado.

Selo de qualidade

Na esteira do aperfeiçoamento do ensino de Jornalismo, o Fórum Nacional de Professores trabalha numa proposta de Selo de Qualidade para os Cursos, adiantou ontem o presidente da entidade Edson Spenthof. A idéia ainda está em fase de discussão interna, mas deve apontar para uma ação positiva, de sinalização para a sociedade das experiências acadêmicas na área que devem ser destacadas pela sua qualidade na inovação de processos didáticos e de organização pedagógica.

Segundo dados do INEP, atualmente, existem quase 900 cursos de Comunicação no país, sendo 375 só de Jornalismo, enumerou Alfredo Vizeu.

Quadro da morte e a piada da noite

Entre os presentes à abertura, o presidente da Fenaj Sergio Murillo de Andrade voltou a falar da expectativa na categoria sobre a decisão do STF sobre a polêmica do diploma. Segundo ele, um veredicto deve sair nas próximas semanas, ainda neste semestre, sem um agendamento ainda. A projeção é que maio possa trazer os votos dos ministros do Supremo e encerrar esta etapa da discussão. A Fenaj não está apenas atenta a este episódio, mas vem acompanhando também os chamados reflexos da crise mundial nas redações.

A entidade vem fazendo um “quadro da morte”, estudo que contabiliza os desligamentos nas empresas jornalísticas desde o final do ano passado. Segundo Sergio Murillo, de lá pra cá, 206 jornalistas foram pra rua em todo o Brasil, sob a alegação de que a “marolinha” chegou aos departamentos de Recursos Humanos.

O número assusta, e não tem graça nenhuma. Mas para que este post não termine tão apocalíptico, repito a piada que meu amigo Josenildo Guerra contou ontem à noite. Segundo Josenildo, os intelectuais gremistas estavam em pé de guerra com o conceito de “intersubjetividade”. Disseram que até podem aceitar a noção se for criada também uma “gremio-subjetividade”.

PS – Josenildo dá os créditos da piada. Devem ser atribuídos ao também amigo Luiz Martins da Silva.

encontro de professores de jornalismo, lá vou eu!

Começa hoje em Belo Horizonte a 12ª edição do Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, promovido pelo FNPJ. O evento acontece em três instituições de ensino da capital mineira: Faculdades Pitágoras, UNA e Uni-BH. São 76 trabalhos divididos em seis grupos de pesquisa. Já estou em Minas para participar do encontro, onde apresento o trabalho “Formação ético-profissional: presença e evolução nos currículos de um curso de Jornalismo” no GP Ensino de Ética e de Teorias de Jornalismo.

Na medida do possível, vou postar algumas informações por aqui, ou mesmo pelo twitter. Mas o leitor não se engane: na ordem do dia, devem estar nas rodas de discussões dois assuntos. A proximidade do julgamento pelo STF da polêmica do diploma e o trabalho da comissão que trabalha nas Novas Diretrizes Curriculares para os cursos de Jornalismo.

(Aliás, o próprio evento conta com blog e com twitter para manter sua cobertura. Acompanhem!)

diretrizes curriculares: mais um relato

Há duas semanas, observei a carência de relatos sobre a primeira audiência pública que discutiu aspectos importantes para as novas diretrizes curriculares dos cursos de Jornalismo. O evento aconteceu em 20 de março no Rio. Recebi de membro da Comissão que lidera as discussões um email com um texto do professor, José Marques de Melo, sobre o assunto. Marques de Melo preside a Comissão, e o texto que reproduzo abaixo é uma versão da aula inaugural do curso de Jornalismo recém-criado na Universidade Federal de São João Del Rey (MG).

Por que reproduzo o texto? Ora, porque ele reforça a discussão sobre a reforma das diretrizes, e porque é assinado por alguém mais do que credenciado para este debate.

Ao texto, portanto!

Repensar o ensino de jornalismo para fortalecer a democracia[1]

Durante seis décadas o Brasil acumulou experiência na formação universitária de jornalistas, construindo uma matriz pedagógica que lhe confere singularidade no panorama mundial.

Mesclando o padrão europeu (estudo teórico) com o modelo americano (aprendizagem pragmática), logramos uma via crítico-experimental de ensino-pesquisa.

Entretanto, o jornalismo adquiriu maior complexidade, principalmente em função da convergência midiática e das transformações da sociedade.

Capitalizando meio século de imersão em atividades jornalísticas, tenho consciência de que o nosso ensino do jornalismo precisa ser reinventando para fortalecer a democracia. Por isso, aceitei a convocação do ministro Fernando Haddad para presidir a comissão encarregada de rever as diretrizes curriculares do curso de Jornalismo.

Formada pela Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação, a comissão tomou posse em Brasília, no dia 19 de fevereiro, decidindo preliminarmente debater a questão com os segmentos representativos da sociedade.

Metas e compromissos

Constituída por jornalistas com experiência no mercado e na academia [Fazem parte da comissão Alfredo Vizeu (UFPE), Eduardo Meditsch (UFSC), Lucia Araújo (Canal Futura), Luiz Gonzaga Motta (UnB), Manuel Carlos Chaparro (USP), Sergio Matos (UFRB), e Sonia Virginia Moreira (UERJ)],  a Comissão de Especialistas foi criada para rever e atualizar exclusivamente as diretrizes curriculares do Curso de Jornalismo, dentro da área da Comunicação Social, focalizando dois aspectos: o perfil do jornalista demandado pela sociedade e suas competências ou habilidades profissionais.

Além de promover audiências públicas no Rio de Janeiro (academia),  Recife (mercado e profissão) e São Paulo (sociedade civil), a comissão vem mantendo canais abertos para dialogar com todos os segmentos da área, através das suas entidades representativas. Pela internet,  vem recebendo propostas e sugestões de todo o país. Cada audiência contempla, portanto, um segmento do universo jornalístico.

Realizada no Rio de Janeiro, no dia 20 de março, a primeira contou com a participação da Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo – SBPJOR, do Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo – FNPJ, da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação – COMPÓS, Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação –  INTERCOM, Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação –  ENECOS, de alguns diretores de faculdades e coordenadores de cursos, além de professores, pesquisadores e estudantes.

Os empresários e os trabalhadores da área serão ouvidos, na cidade do Recife, no próximo dia 24 de abril. Os proprietários de empresas jornalísticas estarão representados pela Associação Nacional de Jornais – ANJ, Associação Nacional de Revistas – ANER, Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão – ABERT, Associação Brasileira das Assessorias de Comunicação – ABRACOM, etc. Por usa vez, a representação dos jornalistas se fará pela Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ e associações setoriais, como a Associação Brasileira de Jornalismo Científico – ABJC.

A sociedade civil se manifestará em São Paulo, no dia 18 de maio, através de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, Associação Brasileira de Imprensa – ABI, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, Associação Brasileira das Organizações Não-Governamentais – ABONG,  movimentos de mulheres, afro-descentes,  e congêneres.

A comissão está aberta a contribuições de todas as entidades interessadas na melhoria da qualidade do ensino de jornalismo.  Pretendendo cumprir o cronograma previamente estabelecido, a equipe apela a todos os segmentos interessados para que enviem suas propostas e recomendações até maio, quando se encerram as audiências públicas.

Na primeira semana de junho, em Brasília, o grupo se reúne com representantes de órgãos vinculados ao Ministério da Educação para avaliar a natureza e a exeqüibilidade das recomendações  a serem propostas, antes de entregar seu relatório final ao ministro Fernando Haddad.

Balanço

A audiência do Rio de Janeiro foi muito produtiva. Há consenso sobre a questão da qualidade, e por isso mesmo surgiram propostas no sentido de que as diretrizes curriculares não se esgotem em si mesmas, mas incluam a avaliação de desempenho dos cursos e a fiscalização da suas condições de funcionamento. Por outro lado, ficou clara a necessidade de fortalecer a comunicação como grande área do conhecimento, à qual pertencem o jornalismo e outras áreas profissionais como publicidade e relações públicas.

Também aflorou a problemática da formação dos professores de jornalismo, demandando articulação com os programas de pós-graduação. Da mesma forma, foram anotadas propostas para assegurar oportunidades de estágio  aos formandos,  nas empresas do ramo, bem como o incentivo à iniciação científica para fomentar a pesquisa desde a graduação. Destacou-se, finalmente, a responsabilidade de repensar o jornalista como profissional que tem papel decisivo na consolidação e aperfeiçoamento da sociedade democrática.

Ao ser entrevistado pelos repórteres que cobriram a audiência pública do Rio de Janeiro, tive oportunidade de reiterar algumas questões, a seguir resumidas.

As minhas idéias sobre a formação dos jornalistas estão contidas  nos livros que publiquei, sobretudo os mais recentes: Jornalismo Brasileiro (Sulina, 2003), Teoria dó Jornalismo (Paulus, 2006), Vestígios da Travessia: da imprensa à internet (Paulus, 2009), Jornalismo, forma e conteúdo (Difusão, 2009) e Jornalismo, conhecimento e reinvenção (Saraiva, 2009).

Seus parâmetros pedagógicos foram testados no Curso de Jornalismo que fundei em 1967 na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA-USP, mas também aplicados no Curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo, onde trabalho atualmente. Trata-se de modelos que, durante vários anos, servem de referência para tantos outros cursos em todo o país. Além de atualizada formação teórica e experimentação pratica, no campo do jornalismo, o futuro profissional deve ter uma sólida formação humanística (geral ou especializada).

Contudo, o maior desafio que deve enfrentar o jornalista diplomado é de natureza ética. Ser fiel à destinação do jornalismo como serviço público, sem perder de perspectiva as inovações tecnológicas que atualizam constantemente seus gêneros e formatos, garantindo plena interação com as demandas da sociedade.

Perspectivas

Amparados em princípios que preservem a vocação educativa e missão civilizatória do jornalismo, além de balizados pela cidadania e comprometidos com a preservação da democracia, os novos profissionais não podem ignorar as forças que atuam nos bastidores da profissão, tanto as econômicas quanto as políticas.
Nesse sentido, torna-se fundamental exercer vigilância para assegurar a qualidade, a diversidade e a liberdade nos processos de formação acadêmica.

Quero, a título de conclusão, anotar alguns princípios que podem ajudar nessa tarefa.

Tenho consciência de que formar profissionais responsáveis e competentes constitui dever inquestionável dos cursos de jornalismo.

Creio também que esses cursos devem praticar a diversidade, preservando as diferenças regionais e dialogando com as organizações onde os formandos irão exercer a profissão.
Defendo finalmente um modelo de universidade mais aberto e menos engessado, capaz de assegurar liberdade aos estudantes.  Somos legatários de uma tradição cartorial, mantendo programas de ensino que enclausuram os jovens ingressantes em grades curriculares compulsórias.

O direito de mobilidade, dentro do campus, não pode ser manietado, principalmente numa conjuntura em que as fronteiras do conhecimento estão em processo de mutação.

São estes, na minha maneira de ver, os requisitos básicos para formar profissionais competentes, criativos e empreendedores.

Desejo firmemente que eles possam servir como eixos norteadores deste Curso de Jornalismo que a Universidade Federal de São João del Rei em boa hora decidiu criar, sob a responsabilidade de um corpo docente idealista.

Não tenho dúvida de que esse resultado será atingido plenamente, tendo em vista a sabedoria do reitor Helvécio Luiz Reis ao confiar a  liderança do Curso de Jornalismo ao Prof. Dr. Guilherme Rezende, cuja trajetória acadêmica acompanho há mais de 30 anos. Trata-se de intelectual admirado por todos, não só pela tranqüilidade, seriedade, disciplina e motivação, mas, sobretudo,   por seu cativante humanismo, temperado pela generosidade peculiar ao modo de ser mineiro.

diretrizes curriculares do jornalismo: temperatura aumenta

O clima parece estar realmente mudando no terreno em que acontecem as discussões sobre a reforma das diretrizes curriculares para os cursos de Jornalismo. A temperatura vem aumentando gradativamente, e isso não é obra do aquecimento global. É fruto da participação maior de pesquisadores do campo principalmente nas listas eletrônicas das entidades da área.

Na semana passada, por exemplo, o presidente do Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo, Edson Spenthof, distribuiu um farto documento na lista da entidade, sinalizando as posições do Fórum sobre a reforma. O documento fermentou nas caixas de correio de muita gente, e ontem, um vigoroso email do professor José Salvador Faro espalhou brasas em muitas direções. Em suma, Faro – num tom elegantemente lúcido – questionou o fato de a  nova proposta de diretrizes estar apoiada no texto das vigentes. Se as atuais estão ruins a ponto de serem reformadas, por que tê-las como ponto de partida? E na sequência desse raciocínio, criticou com veemência a proliferação desenfreada de cursos pelo país, fato que foi defendido e elogiado pelo representante do MEC na primeira audiência pública que se deu no dia 20, no Rio.

Faro mexeu ainda num nervo exposto que incomoda a muitos quando se discute os cursos de jornalismo: sua vinculação (ou subserviência) aos de Comunicação Social. O professor da Metodista e PUC enfatizou que o jornalismo é um processo comunicacional, e como tal também precisa ser estudado na dimensão das teorias da comunicação, de maneira a preservar a dialética de sua natureza e surgimento.

Bem, o email de Faro – como já disse – espalhou a questão nas listas do FNPJ e da Associação Brasileira dos Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). Diversos colegas se seguiram levantando questões ligadas ao debate, e tudo indica que teremos uma participação mais efetiva de nossos teóricos e professores. Tomara!

diretrizes curriculares: um relato da primeira audiência

Sylvia Moretzsohn, professora da UFF, fez um arguto relato sobre a primeira audiência que discutiu as reformas nas diretrizes curriculares para os cursos de Jornalismo, que aconteceu na sexta, 20 de março.

Saiu no Observatório da Imprensa, mas transcrevo aqui também:

Duas surpresas na audiência do MEC

Duas grandes surpresas – uma no início, outra no final – marcaram a primeira audiência pública para a reformulação das diretrizes curriculares de Jornalismo, na sexta-feira (20/3), no Palácio Capanema, sede da representação do MEC no Rio de Janeiro. A primeira foi notada por todos e dizia respeito ao tema central da reunião. A segunda, aparentemente, passou despercebida da maioria, mas é talvez mais relevante, pois revela uma concepção constrangedoramente simplória do sentido da expansão dos cursos superiores no Brasil.

Ao apresentar os objetivos da audiência, o representante do Ministério da Educação, Paulo Roberto Wollinger, diretor de Regulação e Supervisão da Educação Superior do MEC, provocou um burburinho na platéia ao afirmar que o pomo da discórdia da comunidade acadêmica do setor não estava em pauta: “Em momento algum pensamos em separar o Jornalismo da Comunicação Social”. Disse isso a título de esclarecimento, mas só poderia causar confusão, uma vez que a iniciativa de revisão das diretrizes provocou o recrudescimento desse debate e levou integrantes da própria comissão de especialistas a se manifestar a favor da autonomia para Jornalismo. No entanto, talvez a frase tivesse outro sentido, porque logo em seguida Wollinger diria algo ainda mais surpreendente: “Não existe curso de Comunicação Social; o que existe é essa grande área da Comunicação, da qual o jornalismo é uma das especialidades”.

Era uma afirmação contra toda evidência, a começar pelo nome do curso que vem gravado ano após ano nos diplomas de quem se forma na habilitação em Jornalismo. Porém, se interpretada de outra forma, a declaração inicial faria sentido: afinal, como o que existe de fato são jornalistas, publicitários, relações públicas – e não esse “comunicador” genérico –, seria ocioso discutir se o “curso de Jornalismo” deve ser autônomo, porque esta já seria sua condição inevitável. Assim, não se destacaria da “grande área” da Comunicação – porque, afinal, é Comunicação –, mas obedeceria a diretrizes curriculares próprias, sem qualquer relação com as das outras especialidades do setor. Na prática, portanto, seria já um curso autônomo.

O que, naturalmente, não resolve nada, porque o problema original persiste: quais serão as bases para uma adequada formação de jornalistas? E aqui retornamos à velha questão que divide duas correntes substancialmente distintas, cristalizadas na oposição entre “academicistas” e “tecnicistas”, “comunicólogos” e “jornalistas”, numa simplificação que jamais ajudou qualquer debate. E que não chegou a ser enfrentada na primeira audiência pública para discutir as diretrizes curriculares.

Polêmica antiga

Os cursos de Comunicação Social são contestados desde que foram criados. Seria excessivo tentar resumir aqui essa história, mesmo porque muita coisa mudou nas duas últimas décadas: basta dizer que até meados dos anos 1980 praticamente não havia jornalistas ou professores com essa experiência profissional dando aula de jornalismo, as escolas não eram dotadas de um mínimo de estrutura laboratorial e a pesquisa específica praticamente inexistia. Tudo isso contribuía para que os cursos se fechassem em torno de teorizações distanciadas da realidade que o futuro jornalista deveria enfrentar e fossem, portanto, desdenhados pelos profissionais formados “na prática” e pelos próprios estudantes.

Hoje ainda estamos longe do ideal – e mais ainda de um consenso sobre o que deva ser esse ideal –, mas a situação é radicalmente distinta. Apesar disso, frequentemente repetem-se os argumentos daqueles velhos tempos. Foi o que ocorreu há 10 anos, quando se iniciou o processo de avaliação das condições de oferta da habilitação em Jornalismo dos cursos de Comunicação Social. A avaliação exclusiva desta habilitação era uma tentativa de forçar a criação de um curso específico, desligado da “geléia geral” da Comunicação.

Este Observatório refletiu e estimulou a intensa polêmica durante meses seguidos. Então, como agora, prevalecia o pragmatismo entre os partidários do curso autônomo. Na época, um dos argumentos mais exuberantes nesse sentido valorizava a formação de profissionais comparados à excelência de um i-Mac: era “só ligar na tomada e começar a trabalhar”. Hoje, talvez em decorrência da preocupação com a inserção mais imediata do estudante num mercado de trabalho ao mesmo tempo tão diversificado e precário, defende-se um perfil de prestador de serviços. Num caso e noutro, o que prevalece é a concepção de universidade operacional.

O consenso sobre o óbvio

Na reunião com a comissão de especialistas, passou-se ao largo dessa questão. Nós, da Universidade Federal Fluminense, apresentamos um documento sintético, de quatro páginas, defendendo o jornalismo como “um `campo de saber´ do abrangente campo de conhecimento da Comunicação”, que exige a articulação entre uma sólida base humanística e uma oferta ampliada de opções para a formação profissional específica, de modo que o aluno possa “direcionar seus estudos para as áreas de atuação com as quais melhor se identifica, ampliando as alternativas de conhecimento e de prática profissional”. Mas a ênfase é na formação ética do jornalista e na conscientização sobre as dificuldades e as responsabilidades envolvidas no desempenho de seu papel de mediador.

Uma decorrência lógica dessa concepção é o entendimento de que a universidade não está aí para formar prestadores de serviço, mas sujeitos dotados de autonomia intelectual, capazes de exercer competentemente a profissão que escolheram. Mas essa questão central não foi discutida e as discordâncias praticamente não apareceram, a ponto de uma professora enaltecer o consenso em torno da melhoria da qualidade dos cursos.

Além de óbvio, tratava-se de um consenso prévio. Evidentemente, ninguém pode ser contra a qualidade: o problema é saber o que cada um entende por isso. Porém um ponto essencial foi levantado pelo presidente do Fórum Nacional de Professores do Jornalismo, Edson Spenthof: a necessidade de se responder à pergunta sobre “o que é jornalismo” para uma definição mais clara das novas diretrizes. Imagine-se o grau de controvérsia que esse debate há de gerar, especialmente nesses tempos de enaltecimento da figura do “jornalista-cidadão”.

Spenthof também fez uma observação conceitual relevante sobre as recorrentes demandas pela formação “multimídia”, normalmente associada à simultaneidade: não era disso que se tratava, mas sim do desenvolvimento de habilidades diversificadas. Desempenhar várias funções ao mesmo tempo representaria a tentativa, previamente frustrada, de assoviar e chupar cana, uma impossibilidade física que – acrescento eu – resulta na precariedade sistematicamente verificada no noticiário cotidiano.

A universidade redentora

As divergências certamente aparecerão nas propostas a serem enviadas diretamente à comissão até o fim do mês. Ali, no Salão Portinari do Palácio Capanema, ícone da arquitetura modernista brasileira no Centro do Rio, preservou-se o ambiente ameno. Mas, já perto do encerramento da audiência, um comentário mais geral do representante da Executiva Nacional dos Estudantes em Comunicação, Felipe Melo, sobre as diferenças entre cursos privados e públicos e sobre a política de expansão do ensino superior, provocou a segunda grande surpresa do dia. Ao responder à crítica, o representante do MEC defendeu enfaticamente a criação de mais cursos, “se possível um em cada esquina”, para sanar o déficit no contingente de brasileiros com formação universitária.

Se ficasse por aí, poderíamos apenas condenar o estímulo à proliferação de franquias no melhor estilo McDonald´s e o empenho na fabricação de números, que nos faz recordar o saudoso ministro Paulo Renato Souza. Mas Paulo Wollinger completou, com a fé dos justos: “Cada curso que se abre é um ponto de drogas que se fecha”.

Pena que pouca gente notou, ou não percebeu esse detalhe – justamente o detalhe, que é onde mora o diabo. Pois, salvo melhor juízo, essa justificativa para a abertura de novos cursos superiores é inédita. Mais que isso: é simplesmente inacreditável.


diretrizes curriculares de jornalismo: a primeira audiência e uma sugestão para as demais

A comissão de especialistas para a reforma das Diretrizes Curriculares para os cursos de Jornalismo avança no seu trabalho. Na última semana, na sexta, realizou junto com o Ministério da Educação a primeira das três audiências públicas que se comprometeu fazer para discutir o tema e colher sugestões para o novo documento.

Na própria sexta, tentei buscar informações na web sobre como teria sido o encontro. Mas ao final da busca, encontrei apenas dois registros: um do próprio MEC e outro do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro. O primeiro é uma nota oficial que pouco ou nada informa além do acontecimento da audiência (leia aqui), e o segundo é mais preciso, mas limitado no seu alcance (veja aqui).

O que fiz há pouco na lista eletrônica do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) e faço neste blog é uma sugestão para a segunda e terceira audiências que acontecem nos próximos meses: usarmos alguns recursos tecnológicos para ampliar o acesso a essas discussões. Por exemplo, poderíamos contar com cobertura em vídeo streaming da audiência? Seria possível que essas reuniões tivessem relatos mais específicos e pontuais em blogs? As audiências poderiam ter um canal no Twitter para difusão das informações?

Isto é, o que estou propondo em voz alta é que os colegas que acompanham as audiências in loco disponibilizem materiais para os que não puderam estar presente. Somos professores de Jornalismo e podemos oferecer mais do que os links das notas oficiais do MEC; podemos oferecer notícias; podemos oferecer vídeos; ou mesmo discutir mais esse assunto na web. Quase nem tenho visto na blogosfera brasileira essa discussão. O que está nos acontecendo?

Numa das listas eletrônicas de professores que circulam por aí, li da necessidade de se formar jornalistas multimídia. Ótimo! Acho pertinente, oportuno e relevante. Mas como podemos formar jornalistas multimídia se os professores ainda nos restringimos a poucos canais informativos? O episódio da primeira audiência sobre as Diretrizes mostra isso.

Não se trata de uma crítica minha ao processo e aos colegas que lá estiveram. Apenas considero que esse é um momento muito importante para a formação dos jornalistas no Brasil, e não apenas uma hora para se mudar documentos, mas alterarmos atitudes e mentalidades nos cursos. Os professores também precisam mudar, e não apenas os cursos e os alunos. Estamos dispostos a isso? Que o episódio de reforma das Diretrizes Curriculares dos cursos de Jornalismo sirva também para que arejemos nossas posturas como professores, para que agilizemos nossos trâmites e que isso permita a circulação mais fácil dessas informações.

diretrizes curriculares do jornalismo: audiências começam amanhã

Nesta sexta, 20, no Rio de Janeiro, acontece a primeira das três audiências públicas para discussão sobre as diretrizes curriculares para os cursos de Jornalismo. Os eventos são promovidos pela comissão de especialistas designada pelo Ministério da Educação para reformar o documento que orienta a criação e a direção dos cursos de graduação.

Não sei se teremos cobertura ao vivo pela web ou se alguém vai tuitar do Rio, mas se algum leitor aí souber e der a dica, vai ser bem bom…

diretrizes curriculares do jornalismo: as entidades ouvem os associados

Já disse aqui que estão agendadas as audiências públicas promovidas pela comissão que reformará as Diretrizes Curriculares para os cursos de Jornalismo. Serão três encontros:

  • 20 de março, no Rio de Janeiro: quando será ouvida a comunidade acadêmica
  • 24 de abril, em São Paulo: quando entidades classistas e profissionais, e a categoria participará dos debates
  • 18 de maio, em Recife: quando movimentos organizados da sociedade em geral estarão debatendo

As sugestões estão sendo recolhidas por email (consulta.jornalismo@mec.gov.br). Mas entidades como o Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) e a Associação Brasileira dos Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) estão fazendo um corpo-a-corpo com seus associados, pedindo sugestões para compor intervenções mais práticas e pontuais.

Essas consultas estão sendo feitas nas listas eletrônicas e serão sistematizadas por comissões internas das entidades. O trabalho é de formiguinha, e altamente necessário não apenas para dar legitimidade ao processo, mas qualificar e adiantar o debate. Mas o que está em debate, alguém aí pode se perguntar…

1. A comissão de reforma das Diretrizes quer saber qual o perfil desejável de jornalista diante das transformações política, culturais, sociais e tecnológicas contemporâneas.

2. A comissão também quer saber quais as competências a serem construídas na formação superior desses profissionais em termos de conhecimento, habilidades, atitudes e valores.

3. A comissão quer saber a opinião sobre a possibilidade de criação de cursos de graduação e mestrado e doutorado em jornalismo, e não meras habilitações ou linhas de pesquisa de cursos de comunicação.

4. Está em debate também a dupla diplomação. Isto é, “deve o exercício profissional do jornalismo ser permitido a profissionais de outras áreas após uma formação complementar em jornalismo? Em caso afirmativo, como deveria ser essa complementação?”

5. A comissão se preocupa com a formação dos profissionais multimídia. Como ela deve ser feita e com qual perfil?

Pelos questionamentos acima, e pelos que serão deles derivados, dá pra ver o tamanho da reforma que se pode fazer no documento das Diretrizes e no próprio desenho dos cursos de Jornalismo no país. Como já comentei, esta é uma chance histórica.

comissão das diretrizes recebe sugestões até dia 30

(nota da assessoria de imprensa do Ministério da Educação)

Alunos, professores, pesquisadores, profissionais e representantes dos diversos segmentos da sociedade civil poderão participar, até o dia 30 de março, da consulta pública para a revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de jornalismo.

Durante esse período, a comissão de especialistas constituída pela Secretaria de Educação Superior para subsidiar o Ministério da Educação no trabalho de revisão das diretrizes receberá contribuições sobre dois principais temas: o perfil desejável do profissional do jornalismo e as principais competências a serem adquiridas durante a graduação. O endereço eletrônico é consulta.jornalismo@mec.gov.br

A intenção da comissão, presidida pelo professor José Marques de Melo, é receber sugestões de segmentos ligados às universidades, ao mercado de trabalho, aos movimentos sociais, além da sociedade civil de maneira geral. Veja a nota da comissão de especialistas sobre a consulta pública.

As diretrizes curriculares orientam as instituições de ensino superior para a formulação do projeto pedagógico de um curso de graduação e são estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), por solicitação do MEC. Audiências públicas – Durante a reunião de instalação, no último dia 19, em Brasília, a comissão de especialistas também definiu a realização de três audiências públicas nos estados do Rio de Janeiro (20 de março), Pernambuco (24 de abril) e São Paulo (18 de maio) e devem envolver públicos específicos. Para a primeira, serão convidados professores e intelectuais da área; na segunda, representantes das associações, entidades de classe e jornalistas profissionais que estejam no mercado de trabalho; e para a terceira, segmentos da sociedade civil, movimentos sociais e organizações não-governamentais.

comissão das diretrizes curriculares de jornalismo já tem calendário

A comissão de especialistas que irá reformar o documento das diretrizes curriculares para os cursos de Jornalismo já tem um esboço da sua sistemática de trabalho. Segundo informações da Folha-Educação e do próprio Ministério da Educação, a comissão vai receber propostas e sugestões até 30 de março. Ainda não foi definido para onde essas indicações vão seguir, mas isso deve se dar em breve e na forma de uma página eletrônica no portal do MEC.

O presidente da comissão, José Marques de Melo, anunciou ainda que serão realizadas três audiências públicas: dia 20 de março no Rio de Janeiro, dia 24 de abril em Recife e 18 de maio, em São Paulo. “Cada audiência será focada em um público específico. Para a primeira, serão convidados professores e intelectuais da área; na segunda, representantes das associações, entidades de classe e jornalistas profissionais que estejam no mercado de trabalho; e para a terceira, segmentos da sociedade civil, movimentos sociais e organizações não-governamentais”, explicou Marques de Melo à assessoria do MEC.

novas diretrizes para os cursos de jornalismo: o que podemos esperar

O Ministério da Educação divulgou esta semana a formação de uma comissão de especialistas que irá reformar o documento que hoje define as diretrizes curriculares para os cursos de Jornalismo. A comissão terá a trabalhosa missão de revisar uma norma que é um verdadeiro monstro de Frankenstein, isso porque o documento de que estou falando é tão amplo que abrange todos os cursos de Comunicação, indo do Jornalismo à Publicidade e Propaganda, da Editoração ao Cinema, da Fotografia ao Radialismo. Isso mesmo! Um único documento do MEC sinaliza para gestores, professores e comunidade como devem se guiar os cursos de graduação nas chamadas habilitações da Comunicação.

Neste sentido, a notícia da criação da dita comissão é uma boa notícia. Outra boa nova é a própria composição desse coletivo, que será presidido pelo professor José Marques de Melo, o mais proeminente nome da área na academia brasileira. Os demais componentes da comissão são os professores Alfredo Vizeu (UFPE), indicado pelo Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ), Eduardo Meditsch (UFSC), indicado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Luiz Motta (UnB), indicado pela Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), Manuel Carlos Chaparro (USP), Sonia Virginia Moreira (UERJ), da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), Sérgio Mattos (UFBA) e Lúcia Maria Araújo, do Canal Futura.

Pelo que pude acompanhar em dois ou três fóruns eletrônicos da área, a comissão foi bem recebida por seus pares, seja pelo histórico que acumula ou ainda pelo amplo arco de entidades que indicaram a sua composição. O trabalho começa já e a comissão tem 180 dias para concluir suas tarefas. Mas o que se pode esperar disso?

Uma chance histórica

Antes de tudo, o momento é muito importante para a área da Comunicação em geral e para o Jornalismo em particular. Relevante porque a comissão de notáveis pode reparar equívocos como a esquizofrenia do documento das diretrizes atuais. Ao propor um documento voltado para o Jornalismo, certamente a comissão vai desencadear movimentos semelhantes nos demais campos assemelhados que compõem o amplo espectro da Comunicação. Assim, se publicitários estiverem bem articulados e suficientemente organizados, eles também poderão trabalhar por Diretrizes Curriculares mais afinadas com os objetivos e especificidades de sua profissão. Mas não só isso.

A elaboração de um documento próprio para o Jornalismo tende a reforçar a luta de diversos segmentos da academia que batalham por uma maior valorização e autonomia do campo entre as áreas de conhecimento. Essa luta vem se dando ultimamente na defesa de uma especificidade do Jornalismo na Tabela de Areas de Conhecimento do CNPq, na proposição de cursos de graduação e pós em Jornalismo – veja o caso da UFSC – e na tentativa de fixação de uma prova exclusiva para o Jornalismo no Enade… (Estive na comissão que prescreveu as diretrizes para essas provas, mas fomos vencidos pela burocracia do INEP e pela indisposição de dedicar mais de recursos nesse produto, objetivando uma avaliação mais condizente e mais coerente…)

A elaboração de um documento voltado para o Jornalismo vem a calhar também num momento delicado para a profissão. Como todos sabem, o Supremo Tribunal Federal está para julgar o mérito da liminar que desobriga o porte de diplomas de ensino superior para a obtenção de registros profissionais de jornalistas. A edição de um documento que padronize, organize e sinalize bons caminhos para os cursos de graduação auxilia na compreensão geral da nação de que estudar faz bem, e que sempre é muito melhor contar com profissionais bem capacitados do que “talentosos de plantão” ou “práticos”.

É importante lembrar ainda que outra comissão – na verdade, um grupo de trabalho – joga outro papel importante nos próximos meses. Desde o final de 2008, o Ministério do Trabalho constituiu um coletivo que tem por missão elaborar uma nova regulamentação profissional para os jornalistas. Conjugados os documentos – uma nova lei da profissão, a decisão do STF e novas diretrizes curriculares -, teremos um novo panorama para o jornalismo no Brasil. Podem apostar…

Melhor ou pior?

É difícil prever o resultado do julgamento do Supremo sobre a liminar de 2001, e não é muito fácil imaginar que tipo de regulamentação teremos nos próximos anos. Mas os resultados do trabalho da comissão de especialistas é possível de adiantar. Os erros do passado – como o currículo mínimo e a esquizofrenia atual – não serão repetidos. A variedade e amplitude das entidades que sustentam os membros das comissão também garantem que não haja um isolamento da academia frente o mercado.

Ouso em dizer que podemos esperar dias melhores. Mas não posso deixar de me preocupar com o longo prazo destinado aos trabalhos. Sei que o trabalho não é pouco, mas seis meses é muito para a discussão, elaboração e redação do documento. Pior: se for demorar seis meses, o MEC vai se encarregar de demorar mais seis até editar a medida, e aí adentraremos 2010. Por isso, acho que a celeridade é fundamental nos encaminhamentos das próximas semanas. Se a comissão for ágil e não comprometer a qualidade, teremos mais condições de colher um documento melhor e mais determinante para o jornalismo. A tarefa não é nada simples, mas seus executores têm totais condições de cumpri-las, digo sem qualquer bajulação.

Se conseguirmos chegar à metade de 2009 com a decisão do STF – qualquer que seja ela -, com uma nova regulamentação profissional e com novas diretrizes curriculares, poderemos iniciar uma nova fase para o jornalismo brasileiro. A partir de 2010, estaremos começando uma nova década e não apenas no calendário…