O Twitter sempre foi minha rede social favorita. Sempre.
Ágil, rápido e com API aberta, tinha cara de breaking news e de rádio-corredor. Era único nisso, embora nunca tenha se tornado uma rede com mais de um bilhão de usuários. Nunca chegou perto disso. Mas era a rede dos jornalistas, dos políticos, das pessoas que pareciam ter o que dizer (mais que mostrar) e das pessoas que tinham um humor ligeiro e inteligente. O Twitter foi isso. Era isso.
O tom do parágrafo anterior (e os verbos no passado) têm um jeitão de obituário, e é de propósito. Faz tempo que o Twitter deixou de ser o que era, sendo ultrapassado por concorrentes e encolhendo na sua importância e influência.
Fui um usuário frequente por vários anos numa primeira vez e excluí minha conta quando fiz um detox de redes. Voltei em julho de 2018 e desde janeiro de 2025, não posto mais nada por lá. Fui para o Bluesky – que não é a mesma coisa -, mas me mantém entretido em alguma rede. Funciona como aqueles adesivos de nicotina para quem quer parar, sabe? Minha decisão de largar o Twitter aconteceu porque não tive mais estômago com a guinada do site à ultradireita, os acenos de Elon Musk ao nazismo, e o chorume que vertia de forma espessa na minha timeline. Mudaram o nome, e eu nunca deixei de chamá-lo de Twitter. Mudaram os algoritmos de distribuição de conteúdos e escancaram as portas para o esgoto, e tudo isso me fez bem mal. Mental e emocionalmente. Apesar disso, respirei e pude me dar ao luxo e dei um tchau. Mas nunca perdi ele de vista.
Recentemente, li “Limite de Caracteres”, livro de Kate Conger e Ryan Mac, sobre como o Twitter foi vendido e como seu comprador acabou com o site. Os autores cobriram tudo isso para The New York Times, entrevistaram uma centena de fontes, mergulharam em um oceano de documentos e oferecem um relato rigoroso, detalhado e muito perturbador. Já sabíamos que o comprador era infantilóide, egóico, mimado, temperamental e vaidoso. Mas ele também se mostra autoritário, mimado, instável, paranoico, imperial; autocentrado, incapaz de lidar com críticas e avesso a ouvir pessoas. Nas quase 500 páginas do livro, ele não é só o homem mais rico do mundo, mas também um personagem vingativo, mesquinho, e arrogante. Do tipo que faz demissões em massa às vésperas do pagamento de bônus para os empregados, justamente para não ter que honrar com esse compromisso. Do tipo que dispensa sem qualquer crise de consciência mulheres grávidas, em licença maternidade e pessoas que dependem do trabalho para manter seus vistos.
As decisões apressadas, mal pensadas e inesperadas de Musk foram minando o Twitter dia-a-dia. Seus frequentes recuos e mudanças repentinas também. O desrespeito aos usuários, anunciantes e empregados era a tônica da relação do dono com seu brinquedo. Nem os investidores que o ajudaram a arrematar a fatura foram poupados.
O Twitter foi sangrando nas finanças e se deteriorando rapidamente como a sonhada praça pública. Liberdade de expressão se confundiu com capricho. Debate público tornou-se ambiente de assédio, bullying e violência. Musk foi o menino malvado que não soube apanhar o passarinho que caiu do ninho. Na sua ânsia de tê-lo só para si, esmagou o bicho. Para sempre.
PS – Sim, excluí minha conta do Twitter mais uma vez. Pelo jeito, foi a última.

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