um racha no sindicato dos jornalistas

Os jornalistas catarinenses elegem no próximo dia 6 a nova diretoria do seu sindicato.
Nova não. Pois só há uma chapa e ela pouco altera os nomes da diretoria anterior.
Por conta disso e por conta da condução do processo de discussão da sucessão, um grupo de jornalistas está se movimentando contrário. O grupo é composto por novos e velhos profissionais do mercado e da academia e discorda frontalmente da pouca discussão acerca dos rumos do sindicato.

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Sim, eu também faço parte do grupo.
Tentei acompanhar as discussões para a montagem da nova chapa.
Fui a uma reunião em Itajaí, que pareceu patética. Éramos em cinco, se contarmos o representante do sindicato.
A articulação era tamanha que o encontro havia sido marcado na prefeitura, na assessoria de imprensa. Chegando lá, nem o guarda sabia do evento, e não deixou ninguém entrar.
Fomos a um bar no Mercado Público, e lá pouco ou nada se viu sobre novos rumos para a entidade.
O plano já parecia fechado.

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Semanas depois, soube que o nome que havíamos indicado para ser o representante de Itajaí e região na Executiva havia sido “vetado” pelo atual presidente, Rubens Lunge, que encabeça mais uma vez a chapa.
Soube ainda que a mesma democracia havia prevalecido em outros pontos do estado.

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O atual grupo que está à frente do sindicato se gaba de ter interiorizado a atuação do sindicato. Mas pouco ou nada foi feito além disso. Aliás, é preciso dizer que isso vem se repetindo há várias gestões. Mesmo na fase em que fui vice-presidente do SJSC, as coisas por lá eram travadas, lentas e sem imaginação.

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Aliás, por falar em imaginação, faço coro ao Cesar Valente que hoje publicou em seu blog notícia semelhante a esta. Ele também pede mais criatividade.

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Criatividade é bem-vinda sim, mas é pouco. É necessário discutir e construir um novo modelo de sindicalismo, de atuação classista. Nossos sindicatos ainda são muito tacanhos, com discurso envelhecido e sem presença forte nas redações. É necessário articular melhor com a academia – onde se pode ajudar a formar novos quadros e idéias -, é preciso discutir seriamente a relação tensa entre jornalismo e assessoria de imprensa, é preciso engendrar novos canais de comunicação entre as entidades e os seus associados. Nosso sindicato ainda é muito cartorial.

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Adotar novo modelo não é se despir de ideologia. Aceitar trabalhar com pragmatismo não é se vender ao outro lado do balcão. Iniciar novas práticas não é ser frouxo na hora de dialogar e negociar. Articular novos contatos e abrir-se para novas batalhas não é compor com o inimigo. É necessária uma mudança de mentalidade. De cultura organizacional dentro do sindicato, de postura frente ao interlocutor. Carranca não assusta mais ninguém. E não dá atestado moral ou de idoneidade para a representação política.

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Precisamos de um novo sindicato sim.
Precisamos discutir esses novos rumos.
Precisamos brigar e encarar as próprias limitações.

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Sim, não vou negar: insistiram para que eu me lançasse presidente, cabeça de uma chapa de oposição. Não aceitei. Não porque desacredite. Não aceitei porque o problema não se resolve com a composição de um nova chapa. O processo é mais lento, e merece amadurecimento. Foi assim – pelo que me dizem os amigos – nos anos 80, quando um grupo altamente comprometido construiu um movimento legítimo e forte de oposição sindical. Precisamos de algo semelhante, efervescente e vibrante, positivo e propositivo. Uma proposta coletiva, descolada de interesses partidários e sintonizada com a base, com as mudanças que o jornalismo está sofrendo.

7 comentários em “um racha no sindicato dos jornalistas

  1. O problema é que quem já faz parte deste processo, geralmente não está disposto a mudar o modelo. Quem está de fora, já tem tanta aversão ao modelo partidarizado que rejeita toda e qualquer participação. É trabalho lento, realmente. Para muito tempo de mudanças.

  2. Pior que tem gente que além de odiar o sindicato, tá feliz em trabalhar 12, 13 horas por dia sem receber extra, com 1% de aumento real no salário. E ainda levando comida de superior, etc. e tal. Tem é muito sadomasoquista nessa profissão. Puxa-saco nem se fala. Quem dizer que tá cansado depois de dois anos sem férias, trabalhando aos fins de semana e feriados, com um banco de horas que sabe-se lá deus onde tá anotado, é porque é “preguiçoso”. E assédio moral é pauta lá de fora, não assunto para se discutir na empresa. Abraço.

  3. Pois é, RKW.
    Existem duas saídas: agüentar ou gritar.

    Lauritis, tá difícil aquilo lá mudar viu???

    abs pros dois!

  4. Rodrigo, o processo já está em fase adiantada. A eleição é dia 6, e o período de inscrição de chapas já foi.
    Agora, escrever manifestos, reclamar, gritar também é democrático e legítimo. Por que não?

    abs

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