Este foi um ano difícil, desses em que as conquistas adquirem um valor maior por conta das adversidades, do suor necessário. Este foi um ano penoso e de aprendizado. Este foi um ano de presentes e de perdas, de sorte e da lucidez de enxergar no azar a certeza de continuar.
Por isso e porque 2008 está no seu final, faço uma curtíssima retrospectiva do que vi e vivi. Aliás, este foi um ano em que no seu término a gente pode dizer que sobreviveu a ele…
Janeiro: começamos bem, inaugurando uma nova casa, a primeira mesmo nossa. Aos poucos, naquelas semanas, o sobradinho verde claro foi tomando jeito e se transformando no melhor lugar do mundo. Os afazares domésticos tiveram um sabor doce…
Fevereiro: retomei o trabalho na universidade com duas disciplinas na graduação, os trabalhos no Monitor de Mídia e a produção de uma porção de projetos para financiamento de pesquisa. O Carnaval foi tão manso que eu nem me lembro dele…
Março: terminei de organizar um livro e passei alguns dias em Curitiba para fazer as entrevistas de uma pesquisa em que fui consultor. Acompanhei as defesas de minhas primeiras mestrandas, motivo de orgulho. O mês foi de muito trabalho e resultados quase imperceptíveis. Era mesmo um tempo de arar a terra e semear…
Abril: fui a Dourados para um reconhecimento de curso de graduação. Noutra semana, fui a São Miguel D’Oeste para a mesma função. Perdi horas nos deslocamentos: a família e a vida pessoal ficaram em terceiro plano. Amarguei com isso…
Maio: mais uma viagem para reconhecimento de curso. Desta vez, São Paulo. Tive uma excelente notícia: aprovaram a publicação de mais um livro meu, e agora numa editora nacional. Comecei a me empolgar com o trabalho, deixando para trás qualquer outro interesse de vida. Não vi o sinal ficando amarelo. Completei seis anos juntos com a minha Ana e vi meu irmão Rodrigo casar de papel passado…
Junho: fiz 36 enquanto meu filhote completou quatro anos. Sediamos no Mestrado em Educação da Univali a 7ª edição da Anpedsul, o maior evento da região na área, um feito inédito para o programa e para a instituição. Concluí duas pesquisas de iniciação científica. Já estava mortinho de cansaço, mas o ano só chegava à metade…
Julho: no chamado mês de recesso escolar, não parei. Preparei aulas para três disciplinas diferentes e um mini-curso, participei de bancas de trabalho de conclusão de curso e de reuniões de planejamento pedagógico. Procurei, mas não encontrei tempo para a vida pessoal, os afetos, etc…
Agosto: iniciei duas disciplinas na graduação e outra no mestrado. Ao todo, mais de cem alunos. Lancei mais um livro, outra coletânea – “Observatórios de Mídia: Olhares da Cidadania” (Ed. Paulus) – co-organizado com Luiz Gonzaga Motta. O semestre mal começava e meu corpo já se queixava: dores na coluna, inflamação no nervo ciático, encurtamento de tendão, e algumas crises de rinite…
Setembro: passei uma semana em Belém para um mini-curso sobre mídia e direitos humanos. Uma semana na capital das mangueiras significou atraso nas atividades corriqueiras e exaustão na tentativa de reter o avanço do tempo. Eu nem via meu filho crescer e minha mulher ficar mais e mais bonita…
Outubro: dezenas de reuniões com orientandas do mestrado e da graduação; fechamento de projeto de especialização em Mídias Digitais; três eventos científicos, dois presenciais; burocracias diversas no mestrado e apenas um lance na vida pessoal: troquei de carro. Aonde eu iria com ele mesmo?…
Novembro: lancei mais um livro nesses dias, “Ética no Jornalismo” (Ed. Contexto), e revi amigos no 6º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, em São Bernardo do Campo. Este também foi o mês em que vi as águas tomarem as ruas, as casas, as cidades. Os dias em que a enxurrada e as chuvas afogaram sonhos, levaram vidas e nos fizeram acreditar no impossível. Aprendi com a amizade, com a solidariedade, com o amor fraternal…
Dezembro: qualifiquei duas orientandas do mestrado, concluí as três disciplinas que lecionava e ainda uma pesquisa financiada pela Fapesc. Contabilizei os ganhos e as perdas e vi que era um tempo bom, apesar de tudo. O mês para terminar o ano foi o mês do recomeço, da reconstrução e das tentativas de reinvenção pessoal. Reiventar-se foi escolher para si um tempo novo, e outras prioridades pois as essências quase nunca são evidentes. Foram também dias de fechamento de ciclos, de projeção de novos dias e de se permitir um (merecido) descanso. Não terei muitas saudades de 2008, mas não poderei esquecê-lo, é verdade.
Rogério, esse ano foi mesmo complicado pra todos, e as reclamações muito parecidas entre os colegas. espero que em 2009 possamos ir além e efetivamente conseguir mais tempo para coisas pessoais. abs e um ótimo 2009
Que 2009 seja de muito sucesso e conquistas! E que você tenha mais momentos “normais” com sua família e o filhote…claro 😉
Saúde, paz!
Acho que só lembro dessa última semana de férias. Como é difícil delimitar tempo trabalhando em jornal diário. Todo dia é (ou deveria ser) diferente. Todo dia é igual. É sempre a árdua conversão da realidade (surpreendente, cheia de sons e cheiros) em palavras (domesticadas, limitadas, desencantadas). Agora que estou me dando conta como isso é terrível. O tempo passa e a vida, também. Não se planta nada, não se vê crescer nem frutificar muita coisa.