enchentes em sc: um ano

Um ano atrás, exatamente, eu passava por uma experiência que jamais imaginei enfrentar. Eu e mais de um milhão de pessoas fomos atingidos pelas agora tão trágicas e famosas cheias no Vale do Itajaí. O drama, todos puderam acompanhar pela TV e pelos demais meios de comunicação. Foram dias de intenso sofrimento, de grande angústia, de total destruição, de profundo aprendizado.

Cheguei a postar aqui alguns relatos do que vi e senti à época. A água barrenta em todos os lugares, as marcas indeléveis nas paredes após os rios baixarem, as muitas pilhas de móveis destruídos e colocados nas calçados, à espera do recolhimento para o lixo. Eu, minha esposa e filho ficamos quatro dias fora de casa, alojados num apartamento de uma família amiga. Quarto andar, centro de Itajaí. Apartamento de dois dormitórios que acabou abrigando onze pessoas, com escassez de água, dificuldade de abastecimento de alimentos, medo e tristeza por ver tanta desolação espalhada.

Quando as águas baixaram, voltamos para a casa e havia poucos danos. Minha rua não ficou totalmente alagada. Em casa mesmo, o limite máximo da água riscou 40 cm nas paredes. Perdemos poucas coisas, mas algumas muito preciosas como fotografias, e o mais importante: o sossego. Depois que se passa por um transtorno desses, não se dorme mais tranquilo com uma chuva forte. Os boletins da meteorologia alcançam outra importância, e o apego ao que é realmente essencial fica muito nítido, muito claro.

Uma situação dessas revela o melhor e o pior das pessoas. Vemos a solidariedade e a rapina de doações; vemos a fraternidade verdadeira e o egoísmo; convivemos com o compartilhamento de coisas e sentimentos, e com o individualismo. Para mim, mais difícil que enfrentar os dias fora de casa, torcendo pelo menor dano, foi viver as semanas seguintes, quando a cidade tentava se reerguer de uma queda tão enfática. As pessoas se olhavam fundo nos supermercados. Comungavam um silêncio cúmplice de dor e de resistência. Alimentavam-se de uma esperança rediviva. Reinventavam-se do nada, como se conseguissem se erguer das águas pelos próprios cabelos…

Sobreviver é mais importante que viver.

Para marcar este primeiro ano da pior enchente do estado – quando morreram 135 pessoas! -, o ClicRBS produziu um excelente infográfico, com um farto material e uma dor infinita. As imagens são dramáticas, as histórias, pungentes. A emoção é absoluta. Lembrar é mesmo uma forma de se fortalecer, mesmo quando o que sobra são poucos cacos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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