o jornalismo precisa de novos pactos

A informação recente de que os maiores jornais brasileiros tiveram queda de 6,9% em sua circulação no ano passado pode precipitar as discussões sobre a crise dos impressos por aqui. Eu mesmo me surpreendi de ver títulos que antes pareciam tão sólidos em suas trajetórias e que agora amargavam números menores de exemplares. No fundo, no fundo, o burburinho em torno de uma crise dos jornais e – em casos mais apocalípticos e exagerados – do fim dos mesmos não envolve apenas a dimensão financeira. Isto é, embora se dê uma importância demasiada à sustentabilidade da indústria e a permanência de padrões de consumo de décadas, há uma discussão que está por trás disso tudo: o jornalismo como o conhecemos estaria com os dias contados?

Colocado dessa maneira, a crise dos jornais não é apenas um problema econômico, mas cultural, de consumo de informações, de posicionamento na sociedade. É também uma crise de confiança. Podemos acreditar nos jornais como os fieis depositários de nossas crenças e valores como o fazíamos antes? Podemos deixar para os jornalistas a missão de nos informar e tapar os ouvidos diante do canto da sereia 2.0? Estamos dispostos a pagar por informação em uma época de grande abundância dessa commodity? Queremos manter uma indústria conservadora e paquidérmica, como a dos jornais, sempre muito resistente aos ventos de mudança?

A crise dos jornais é, antes de financeira, uma crise de confiança, afinal já não se confere a esses meios a autoridade e a credibilidade de antes. Num estudo recente da Edelman, pode-se perceber que as instituições em geral têm sofrido com quedas constantes de seus níveis de confiança popular. Embora se queixe sempre dos políticos, até mesmo o governo goza de mais confiança do que a mídia. A pesquisa é realizada pela décima vez e envolve 22 países, incluindo o Brasil. Segundo a Edelman, todas as fontes de informação viram suas confiabilidades declinarem de 2009 para 2010.

Nos países emergentes, por exemplo, a confiança em TV e jornais caiu 15 pontos em dois anos!

Claro que isso é apenas uma amostra, já que o estudo da Edelman ouve uma parte da elite que forma opinião e que toma decisões. Mas a queda nas tiragens e nos índices de audiência, a migração das verbas publicitárias, e o declínio da confiança apontam para mudanças urgentes no panorama, no negócio de se produzir e distribuir informações.

O jornalismo precisa de novos pactos. Precisa demonstrar novamente aos públicos que é digno de confiança, de que seus produtos e serviços não apenas são de qualidade, mas que são essenciais para se viver nos dias de hoje. O jornalismo precisa resgatar a credibilidade, adotando posturas mais transparentes, mais equilibradas e mais focadas no interesse coletivo de seus públicos. Não é fácil, mas o jornalismo precisa se reinventar. Em tempos pragmáticos como os nossos, é cada vez mais necessário que o jornalismo se mostre útil, imprescindível, inalienável. Isso significa dizer que a crise do jornalismo é contra o descarte, contra a substituição por outras formas de informação.

Sim, me parece que o jornalismo precisa restabelecer novos pactos com seus públicos. Ao menos para mim, a reinvenção do jornalismo – e sua consequente sobrevivência e manutenção – passa não apenas pela adoção de sistemas mais tecnológicos de difusão e produção, mas por redimensionar em que bases vai se apresentar como algo essencial para o público.

4 comentários em “o jornalismo precisa de novos pactos

    1. Mais importante que adotar técnicas de webwriting é ter a coragem de se identificar em comentários ou ainda preencher com alguma informação para o leitor na seção Sobre Este Blog, coisa que vc não fez no seu…

      Pelo jeito, vc não entendeu o que escrevi: não basta fazer funcionar um complexo sistema tecnológico ou ainda passar a usar regrinhas de escrita. Para que o jornalismo melhore, é necessário mudar a mentalidade, reinventar-se…

  1. morador da cidade que morei faz um tempinho. Seu blog é bom já vai pra blogroll minha e ja vo da #FF. Mas, fiquei decepcionado quando vi que era homem 😛 sem ofensas, seu banner me enganou, espertinho 🙂

    Agora ao post: Acho que a internet trouxe algo que esta mudando a realidade fisica (obviedade) e como a industria da musica, a industria da midia ta se debatendo para ve se segura o tranco. Contudo, eu sou particularmente contra a idéia de morte da midia tradicional, ele é socialmente necessária (certeza?), e nem do jornalista. É hoje muito comum querer-se destruir alicerces mesmo que sem motivos plausiveis, certas coisas não devem morrer, devem mudar mas o mundo pós-moderno teima em querer matar tudo que é “velho”, sindrome de juventude transviada e sem lógica. A palavra de ordem é adaptação.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.