Guarde essas primeiras páginas.
No futuro, elas podem se revelar um capítulo importante da história do país ou apenas mais um ato patético e desesperado.
A ver.
Tag: provocações
Para pensar em si e nos outros
Jornalistas, esses apressadinhos…
Outro dia, num encontro do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), nosso grupo de pesquisa, o professor Francisco José Castilhos Karam falava de um movimento sobre o slow journalism. Na esteira do slow food e de outros esforços para desacelarar a vida, tem repórter combatendo a nossa-pressa-habitual-cotidiana-quase-invencível. Me lembrei de uma revista britânica que tem a mesma orientação, a Delayed Gratification.
Fizemos em tom de comédia, mas não é que tem mais gente achando que a nossa correria não leva a nada?
Vejam o que escreveu o Josh Spector: “ninguém liga mais para furos!”
Leiam mais aqui.
Como veremos as notícias em 2020?
A BBC se arrisca em responder. Em “Future of News”, o conglomerado britânico apresenta uma visão de como as notícias vão se apresentar, como a tecnologia, as empresas e os profissionais funcionarão.
Programas de TV mais participativos, audiências mais ativas, publicidade como mecenato, Big Data nas redações e doses cavalares de jornalismo local estão entre as apostas da BBC.
Ficou curioso? Então, espie o futuro aqui.
Da arte de destruir coisas do teatro
A sensação que fica depois de terminar “Teatro”, de David Mamet, é de quase terra arrasada.
Num estilo direto, o autor desfere bordoadas em atores, dramaturgos, diretores, realizadores, farsantes, teóricos, professores, preparadores-de-elenco e outros animais do palco. Sobra pra todo o mundo, e quase não sobra nada.
Na verdade, sobra. Resta o palco, resta um teatro baseado em coisas simples e verdadeiras, resta o público, a quem ele manifesta um colossal respeito.
Para Mamet, o teatro precisa entreter, o dramaturgo deve se preocupar com o enredo (e não com suas ideias, mesmo que elas sejam geniais), os atores precisam mostrar sua verdade no palco, e o diretor não deve atrapalhar.
Com quatro décadas de carreira, Mamet é aclamado por suas peças e roteiros de cinema. Sabe contar uma história, sabe prender a nossa atenção. Em “Teatro”, ele esfrega na nossa cara suas antipatias, manias, maneirismos, dogmas e frescuras.
death jazz!
Começa assim: um japonês gorducho, vestido de preto, com chapéu de aba larga e com pinta de gigolô grita por um megafone. Na verdade, anuncia o título da música que está por vir. Um segundo japonês – este careca! -, vestido com uma camisa coloridíssima, dança como uma minhoca ao mesmo tempo em que toca o seu saxofone. Ele puxa a fila, pois um terceiro japonês com óculos berrantes, cabelos encaracolados (!) e um trompete colado nos lábios, berra notas altíssimas. A luz inunda o palco e já são seis japoneses, uma brigada formada ainda por baterista, tecladista e baixista.
O conjunto da obra é bem esquisito: eles dançam freneticamente, se espalham por todos os cantos e o som atravessa as paredes. Uma sonzeira pra falar a verdade. Parece pop, parece R&B, parece qualquer coisa dançante e irresistível, mas é jazz. Death Jazz!, corrige o chefe da banda, aquele que mais parece um gigolô, e que só se ocupa de desfilar, supervisionar a performance alheia, puxar palmas da plateia e dar palavras de ordem pelo megafone.
Esquisito é pouco. Imagine uma banda japonesa de jazz que põe todo o mundo pra dançar! Até o nome é estranho: Soil & “Pimp” Sessions. Chega de palavras. Arraste os móveis na sala e ouça (em volume alto, por favor).
respostas que professores adorariam dar a seus alunos
Leciono há quinze anos e isso me permitiu construir fama e fortuna. Mas não só. Permitiu que eu colecionasse perguntas sensacionais de alguns alunos. Nem sempre pude responder como queria, e até peço desculpas por isso.
Mas como hoje é dia do professor, me peguei fantasiando: já pensou se o professor pudesse dizer o que pensa nessas horas? Acho que seria mais ou menos assim:
ALUNO – Professor, essa matéria vai cair na prova?
PROFESSOR, enquanto atira um livro – Não, vai cair na sua cabeça!
***
ALUNO – Professor, o senhor vai dar alguma coisa importante nessa aula?
PROFESSOR – Vou sim. Vou revelar o terceiro segredo de Fátima, mostrar a fórmula da Coca-Cola e dar o celular pessoal da Fernanda Lima.
***
ALUNO – Professor, o senhor não vai fazer intervalo?
PROFESSOR – Vou sim. Turma, vamos dar uma paradinha agora. Voltamos em dez anos.
***
ALUNO – Professor, o trabalho é pra nota?
PROFESSOR – Claro que não. É sadismo mesmo.
***
ALUNO – Professor, o senhor trabalha também ou só dá aulas?
PROFESSOR – Sou matador de aluguel, traficante de órgãos e homem-bomba. Aliás, prestem atenção que eu só vou mostrar uma vez…
o tentacular google, por assange
Daqui a cinco dias, Julian Assange completa dois anos confinado em seu asilo na Embaixada do Equador em Londres.
Apesar dessa condição, o líder do WikiLeaks não deixa de influenciar pessoas, denunciar abusos e refletir sobre a realidade atual. Ontem, O Estado de S.Paulo publicou mais uma entrevista com Assange – concedida a Guilherme Russo -, e que vale a leitura. Em pauta, o massacre em Gaza, uma guerra fria na Ucrânia, a posição do Brasil na geopolítica internacional e o imenso poder de corporações tecnológicas como o Google. Um trecho:
O Google se tornou essencialmente um monopólio de coleta e integração de informações, que sabe muito sobre a maioria das pessoas que têm qualquer tipo de influência no mundo. E em razão de sua ligação com Washington e sua localização, na jurisdição dos Estados Unidos, isso estendeu dramaticamente o alcance do governo americano no mundo todo.
não acho normal…
… que de um lado da guerra morram mais de mil e do outro, menos de cem;
… que uma rede de túneis clandestinos seja construída por inimigos sem ninguém perceber;
… que o conselho de segurança da ONU não mova um dedo diante de massacre de civis;
… que ninguém ou quase ninguém ligue para o Ebola que se alastra na África ocidental;
… que médicos e agentes de saúde morram contraindo vírus que estariam combatendo;
… que mais ninguém se importe com a guerra civil na Síria, as instabilidades no Egito e no Iêmen;
… que aviões de carreira sejam derrubados por mísseis…
… que os russos armem milicianos na Ucrânia para bagunçar o coreto por lá…
… que a NSA continue a espionar milhões de pessoas dentro e fora dos Estados Unidos;
… que as tropas norte-americanas continuem no Afeganistão;
… que por isso e muito menos Obama tenha ganho um prêmio Nobel da Paz…
Tudo isso é o mundo; nada nele é normal.
previsões e o imponderável
Nate Silver é um americano que vem maravilhando quem se interessa por baseball, pôquer, eleições, economia e outros campos onde as previsões têm um grande peso.
Ele costuma “acertar” com precisão de duas casas decimais. Seu site, o FiveThirtyEight, apresenta um generoso painel de análises estatísticas sobre quase tudo. Além disso, Nate escreveu um livro inspirados sobre o tema: O Ruído e O Sinal.
Estou vasculhando nele razões para acreditar que alguém seria capaz de prever o que se deu no Mineirão na última terça.
Imprevisível? Impossível? Inadiável?
So-bre-na-tu-ral.
reportagem em quadrinhos!
A Copa do Mundo está na esquina. Quer saber além da escalação das seleções e dos detalhes dos jogos?
Então, confira a reportagem em quadrinhos Meninas em Jogo, de Andrea Dip e De Maio, para a Agência Pública: aqui.
trolladores amadores
O pré-candidato à presidência da República Aécio Neves (PSDB) torceu o nariz para uma série de páginas e ações na web que o teriam caluniado, difamado e injuriado. Entrou na justiça para saber quem estava por trás daquilo e chegou a processar Facebook e Twitter em sua cruzada digital. Contratou um super escritório de advogados e foi à forra. A Folha de S.Paulo de hoje informa que uma prefeitura petista estaria por trás das ações. Ao menos uma servidora pública da Prefeitura de Guarulhos teria atuado no caso, e equipamentos e instalações da Secretaria de Comunicação teriam sido usados.
A briga segue na justiça, mas se essas informações se confirmarem, teremos um caso de muito amadorismo em ataques políticos. É muita ingenuidade, burrice ou total desconhecimento de como funciona a internet e a informática tentar ferrar um inimigo político dessa forma tão primitiva…
o cerco a assange
Faz tempo que você não ouve mais nada sobre o WikiLeaks?
Não tem mais novidades de Julian Assange?
O WikiLeaks informa que seu principal homem está há 1246 dias enfrentando algum tipo de detenção, 686 deles recluso na Embaixada do Equador em Londres. O site denuncia ainda que um júri secreto trabalha há 1539 dias para interromper os trabalhos do WikiLeaks, e que Chelsea Manning está preso há 1436 dias.
Não sabe do que estou falando? Veja aqui e aqui. E se o interesse aumentar, assista a O Quinto Poder (trailer abaixo):
quem pode ser jornalista?
A resposta polêmica e incômoda de Jean-François Fogel é “qualquer um”. Pois quem decide é o público!
A declaração foi dada num evento recente no México e arrepiou a nuca de muita gente. Para um bom resumo da abordagem de Fogel, leia “No ambiente da nova mídia, o público decide quem é jornalista”, artigo de James Breiner.
Para ouvir as palavras do próprio Fogel, assista ao videozinho abaixo:
Você concorda?
querem acabar com a sua internet
O Marco Civil da Internet é uma dessas novelas típicas do proselitismo e dos instintos mais baixos da política nacional. O projeto de lei pretende estabelecer regras gerais e essenciais para um setor muito pouco regulamentado no país. O documento foi amplamente discutido por meses e chegou a receber emendas e sugestões de cidadãos em consultas públicas. Teve um relator comprometido, paciente e incansável. Mas vem tropeçando desde 2012 nas pressões que as empresas de tecnologia e telefonia fazem sobre os parlamentares.
Isso se explica porque elas podem perder mercado ou mesmo poder de influência. Também se explica porque elas devem – caso o projeto seja aprovado conforme o texto original – ter obrigações adicionais com os dados dos usuários, por exemplo.
Para se ter uma ideia, o impasse é tão grande que a matéria teve sua votação adiada oito vezes.
Depois que vazaram as informações de que Dilma Rousseff fora espionada pela ANS, que seus ministros têm seus celulares monitorados pelo governo norte-americano e que eles vêm bisbilhotando a maior empresa do país – a Petrobras -, o governo rangeu os dentes. Colocou como uma prioridade aprovar o Marco Civil, como um sinal claro de que o Brasil se preocupa com direitos autorais, privacidade e neutralidade de rede, para citar aspectos mais evidentes do caso.
Dilma colocou sua tropa de choque para trabalhar, e o projeto foi colocado em regime de urgência para votação. Na prática, essa condição obriga o Congresso Nacional a analisar o projeto de lei, pois se não o fizer, não poderá votar outros da fila.
Não adiantou. Um deputado do PMDB – o maior partido aliado de Dilma no governo!!! – se amotinou e conseguiu atrair a atenção de outros parlamentares descontentes. A rebelião ganhou o nome de Blocão e, no momento, usa de chantagem para conseguir aprovar emendas parlamentares, indicação de cargos e outras migalhas. Como bem escreveu o jornalista e pesquisador Marcelo Träsel, a mesquinharia do PMDB pode derrubar a neutralidade da rede.
Vou além: se o governo ceder aos chantagistas e abrir as pernas para as grandes corporações da tecnologia e telefonia, vai acabar com a internet da forma que estamos acostumados. O que temos hoje é uma rede aberta, que não prioriza quem paga mais e que incentiva a criatividade. Tudo isso pode acabar de uma hora para outra. A culpa, você já sabe: vai ser do PMDB. Vai ser do governo. Vai ser dos demais aliados que votarem contra o projeto original. Vai ser dos demais parlamentares que sepultarem o Marco Civil.
Estamos numa encruzilhada sim: o Brasil pode se tornar um pioneiro importante na discussão dos direitos dos usuários na internet ou se juntar aos países que controlam conteúdos de email, que confiscam dados, que vasculham informações pessoais, que traficam conteúdos, que derrubam o sinal de internet, que intercepta comunicações…
Qual internet você quer?