Em 1993, o fotógrafo sul-africano Kevin Carter capturou uma cena que alarmou o mundo e causou muita polêmica: uma criança famélica agonizava no chão sendo espreitada por um abutre. A foto feita no Sudão era uma denúncia gritante da fome nos países pobres da África, mas o retrato revelou muito mais. Fez com que jornalistas e autoridades discutissem os limites éticos dos repórteres fotográficos: no caso da criança sudanesa, Carter deveria registrar a cena ou espantar um virtual predador?
Passados quase vinte anos, o tema poderia ser rediscutido a partir dos registros que um homem fez de sua mulher sendo atacada por guepardos num parque safári na África do Sul. Archbald D’Mello alega não ter percebido que os felinos atacavam a esposa, que estava justamente no local celebrando seu aniversário de 60 anos.
Tudo bem que os casos são bem distintos. Uma turista idosa e uma criança descansando antes de chegar a um centro de donativos são “objetos” diferentes. Carter era repórter fotográfico, D’Mello uma testemunha. Mas pergunto: o que há de semelhante e coincidente entre os casos? Quem está por trás da câmera deve ter a mesma reação diante do perigo? O que poderia justificar a opção por clicar a cena em vez de tentar um salvamento? É legítimo falar em interesse público nos dois casos?
O que você pensa disso? Deixe o seu comentário.
Essas perguntas martelam minha cabeça nesta manhã ensolarada de domingo.
No caso da criança africana, penso que o fotógrafo deveria ter espantado abutre logo depois de ter tirado a foto. Se o fizesse antes, não haveria a cena impactante que serve para mostrar o quão crítica é a situação na África. Não é algo que faz parte do nosso cotidiano, como (infelizmente) acidentes de trânsito e crimes. Por isso, o profissional não seria sensacionalista. Já a testemunha do ataque dos guepardos, se tivesse percebido a gravidade da situação, não deveria ter hesitado em salvar a esposa. Afinal, em um safári, com certeza mais pessoas carregam câmeras fotográficas.
Pois é, Kuni!
O tema é palpitante, né?
abs
Rogério, O fotógrafo Kevin Carter suicidou-se três meses depois de ter ganho um Pulitzer com esta foto, ainda perseguido pelas imagens de fome que viu nessa altura. Ele espantou o abutre, sim, mas o abutre não estava lá por causa da criança… http://en.wikipedia.org/wiki/Kevin_Carter
Sim, Granado, é verdade!
O caso de Carter é emblemático e já foi até vertido para o cinema: The Bang Bang Club…
Pessoalmente, tudo isso me reforça uma certeza. A de que jornalismo implica em escolhas que são muitas vezes mais morais e éticas que técnicas. Daí minha provocação neste post… abs