Nos anos 90, tivemos oportunidades sensacionais para acompanhar em tempo real uma saga com tons semelhantes aos maiores filmes de gângster, com pitadas de suspense, lances inesperados, crime e mortes.
O presidente estava enredado numa teia de corrupção. Até o pescoço. Seu tesoureiro de campanha, uma eminência parda no governo, era o homem de frente nos negócios escusos. O presidente foi denunciado pelo irmão, enciumado. Sim, o presidente teria avançado sobre a cunhada. O presidente foi impedido de governar, renunciou, deixou o governo. Morreu a esposa do tesoureiro. A mãe do presidente entrou em coma. O irmão-delator morreu de um câncer devastador. O presidente saiu de cena. O tesoureiro foi encontrado morto com a namorada, na cama. Sangue, corrupção, ganância…
De lá pra cá, tivemos escândalos ruidosos também, e o Mensalão trouxe o enredo mais megalomaníaco. Tinha como protagonistas um ministro influente e um deputado-falastrão. Abalou o Planalto, derrubou bastante gente, mas a República se refez.
Agora, com os acontecimentos das últimas semanas, temos um filme que parece ser um verdadeiro arrasa-quarteirão. A prisão de um banqueiro com ligações estreitíssimas com o Parlamento, com camadas do Executivo e com todos os demais focos do poder trouxe à tona um enredo não totalmente desconhecido, mas não menos surpreendente pelo teor de enxofre e uréia que exala. Foi preso e foi solto pelo STF. Foi preso novamente, e mais uma vez solto pela corte maior do país. Um jornalista contou que – na segunda vez em que estava com os federais em interrogatório -, o banqueiro ameaçou contar tudo, entregar todos. Curiosamente, o STF deu novo habeas corpus, isto é, aceitou a chantagem. Com isso, deflagrou uma crise no próprio Judiciário. Ontem, 400 – eu disse, quatrocentos – procuradores e juízes manifestaram-se publicamente contra o presidente do Supremo, dando apoio ao magistrado que pediu a prisão por duas vezes do milionário. Agora, parcelas do Judiciário no sul e sudeste do país cogitam pedir o impedimento do presidente do STF.
Na mídia, foi dito mais de uma vez que estamos assistindo a colonoscopia do Brasil, que mergulhamos nos intestinos do país. Justamente lá, onde encontramos a alma e as fezes.
Já temos um novo filme para o país. Não tão novo, é verdade. Mas o fedor é fresco, e como embrulha o estômago!
eu gostei agora do Jobim dizendo que a mídia má quer criar um conflito entre as instituições.
Não daria um bom filme: é um roteiro demasiado sureal.
” Sureal”… também é surreal (heheh)
Quando este encândalo estourou eu estava trabalhando no México e não soube de nada pelos jornais ou TVs locais, apenas por sites brasileiros. Ainda bem que não vi disso lá, pois contava as belezas e qualidades que o Brasil possui para colegas mexicanos curiosos e esquecia da corrupção e pobreza. Mas tudo que é bom acaba, e estou de volta ao meu país e irei ler, ouvir e ver mais matérias sobre corrupção e mentiras. Só tenho a lamentar.