diploma obrigatório caiu, e agora?

Em dez anos de docência em Jornalismo, poucas vezes senti um clima tão intenso de perplexidade nos corredores da universidade, ontem à noite. Eram pouco mais de sete horas, e os ministros do Supremo Tribunal Federal decidiam que já não seria mais obrigatório ter diploma para se obter o registro profissional de jornalista. Quer dizer, a corte suprema brasileira desregulamentava uma profissão, derrubando um marco de quarenta anos.

Pelos corredores da universidade, alunos e professores se olhavam num misto de consternação, receio e certa vergonha. Claro que sempre houve a possibilidade de uma decisão como aquela, na medida em que o assunto seria julgado, mas pelo jeito, não era o que se esperava. Um silêncio cúmplice pairava, e o ar frio e pesado da noite envolvia a todos, como numa espécie de transe, transe de velório.

Mas o que eu faço com o meu diploma?

O encerramento da polêmica não faz terminar os questionamentos. Alguns perguntam o que farão com seus diplomas, conseguidos a duras penas. Ora, é preciso ter a clareza do alcance da decisão de ontem. O Supremo julgou a OBRIGATORIEDADE e não a VALIDADE do diploma. Isto é, não é mais preciso juntar o canudo para se conseguir o registro. Quem tem diploma expedido por uma instituição de ensino superior reconhecido pelo MEC continua tendo seu diploma, com validade e (por que não?) orgulho.

Repito: a decisão de ontem não enfraquece nenhum diploma. Enfraquece a categoria, na medida em que desregulamenta, na medida em que flexibiliza as regras para ingresso no mercado de trabalho. Antes, havia uma trava – o diploma -, agora, não há mais.

O que eu faço? Continuo o curso?

Mas claro que sim. Estudar não faz mal a ninguém. Quem faz universidade está investindo na própria formação, na própria qualificação profissional, e isso – com diploma obrigatório ou não – continuará a ser um divisor de águas na contratação de gente no mercado. Isto é, qualquer empregador quer sempre admitir o melhor profissional para a sua empresa. Se ele é melhor qualificado  – porque tem um diploma de jornalismo – do que o concorrente que tem ensino médio ou outro curso universitário, o empregador já sabe o que fazer.

As faculdades de Jornalismo vão fechar?

Difícil prever isso. São muitas, é verdade. Estima-se que mais de 400 pelo país. Talvez algumas não sigam adiante. Talvez nada se altere. Mas vamos ser sinceros: não era o decreto-lei 972/69 que fazia com que hordas de jovens se matriculassem nos cursos de Jornalismo. Era e sempre foi a vontade, o desejo, a expectativa de ser jornalistas. Então, não sei se a curto prazo a coisa deva se mover tanto. Um exemplo: a profissão de publicitário não exige diploma do curso para o seu exercício, e mesmo assim, esses cursos universitários são cada vez mais abundantes e cada vez mais atraentes, sendo dos mais disputados. Outras regras parecem vigorar…

A minha escola vai fechar por causa disso?

Abrir um curso universitário é muito complicado. Fechar também. Depende de muitos fatores, de um trâmite longo no Ministério da Educação, e de outros aspectos, entre os quais o da imagem da instituição de ensino. Nenhuma escola deve se orgulhar de fechar cursos, mas sim de abrir novas turmas. Por isso, um curso não se fecha do dia para a noite, até porque se assim o fizer, será alvo de uma torrente de processos dos alunos que se sentirão prejudicados. Por isso, qualquer precipitação agora é demasiada e desnecessária.

O Supremo agiu certo?

Pessoalmente, acho que os ministros demonstraram não conhecer a profissão, e que acabaram confundindo um direito amplo com o direito de exercício profissional. Como quem confunde direito à Justiça e direito de atuar como advogado.

Mas pra ser bem sincero, decidida a questão pelo STF, de que adianta continuar a argumentar e contra-argumentar, se o tempo não volta. Sou mais pragmático. E é necessário olhar pra frente. A derrota foi dura, mas não é a final.

O Supremo pode voltar atrás?

Não. A decisão está posta. O decreto-lei que regulamentava a profissão foi considerado inconstitucional. Para a Justiça, isso significa que ele é inválido. Logo, qualquer pessoa pode requerer seu registro profissional de jornalista sem o diploma.

Então, não há saída? A coisa acabou?

Mais ou menos. A saída não é pelo Judiciário, mas pelo Legislativo ou pelo Executivo. São eles que podem – por exemplo – formularem projetos de lei para uma nova regulamentação para a profissão. E se esse projeto tramitar no Congresso e se tornar lei, pronto: temos novas regras para a profissão.

A boa notícia é que isso pode estar já em curso. No final do ano passado, o Ministério do Trabalho criou um grupo que iria trabalhar na redação de uma nova regulamentação. Há cerca de um mês, o presidente da Fenaj, Sergio Murillo de Andrade, me disse que a coisa estava em banho-maria, penso que no compasso da decisão do STF. Fechado o capítulo no Judiciário, pela via política, haveria outros caminhos…

O mercado vai ficar pior?

É difícil dizer. Principalmente, num tempo em que é cada vez mais difícil enganar as pessoas. Por conta da internet e da cordilheira de informação que todos temos à disposição, a toda hora, pode-se desmintir qualquer um que queira aplicar um golpe. Fazer jornalismo é cada vez mais difícil. Vai depender de gente cada vez mais qualificada. Para a lei, não vai importar se essa gente terá diploma de Jornalismo ou não. Mas o fato é que nunca na história humana houve tanto interesse por informação e houve tanta informação à disposição. Isso requer tratamento técnico, especializado, adequado. Isso requer triagem, seleção, acuro, qualidade e credibilidade. Jornalistas são ainda muitíssimo necessários. Bons jornalistas são mais necessários ainda.

O jornalismo precisa se reafirmar. E talvez se reiventar. A ausência de diploma obrigatório trará novos componentes no cotidiano das redações, novas formas de atrito e de reacomodação de forças. O jornalismo continuará a ser necessário para as democracias, para a cidadania, para o desenvolvimento humano. Os profissionais que se ocupam disso, que se arriscam diariamente para obter informações, devem se orgulhar por este papel social que cumprem. Devem se orgulhar, mas precisam estar atentos, pois as mudanças são muito rápidas nesta área. Esta instabilidade provoca a vertigem e o deleite.

Para ir mais adiante…

Alec Duarte faz uma equilibrada análise de como fica a formação daqui pra frente. Cesar Valente aponta para dois possíveis caminhos, com a desregulamentação, e opta pelo mais otimista. Alberto Dines avalia que o STF errou tanto na extinção da Lei de Imprensa quanto com o expurgo da necessidade do diploma.

80 comentários em “diploma obrigatório caiu, e agora?

  1. “Isto é, qualquer empregador quer sempre admitir o melhor profissional para a sua empresa. Se ele é melhor qualificado – porque tem um diploma de jornalismo – do que o concorrente que tem ensino médio ou outro curso universitário, o empregador já sabe o que fazer.”

    Infelizmente, diploma não é garantia de qualidade profissional.

    1. Claro, Caroline. Assim como portar Carteira de Habilitação não garante que eu não provoque acidentes de trânsito. Mas é uma exigência legal, como o foi o diploma até ontem… Mas o diploma pode – um dia – sim sinalizar essa qualidade de formação…

      1. Não acredito que isso acontecerá!
        O estudo independe do cursos. E sempre haverá alunos de universidades que conseguirão diplomas sem merecimento (principalmente no rumo que as coisas estão).

        Sobre o post, ele parece defender o que todos (em suas respectivas áreas) defendem. Ou seja, elitizar a sua área (com papéis que sabemos que pouco significado tem). É muito fácil encontrar pessoas com mais qualificação sem diploma… Mas o texto defende a mesma coisa que os historiadores, geógrafos ou qualquer outra área defenderia. Se duas pessoas, uma tem diploma de historiador e outro não, o segundo não tem direito de escrever nada sobre história (porque não tem o papel chamado de diploma) e o segundo pode escrever qualquer besteira em periódicos (principalmente se tiver outros papéis como doutorado e mestrado (que podem ser conseguidos por dinheiro atualmente)).

        O que o texto mostra é insegurança por parte dos jornalistas formados. Note que isso acontece em todas as formações de humanas. Pois raramente o curso realmente diferencia um estudioso do que realmente fez o curso. O diploma dos cursos de humanas parece ser como um convite para uma panelinha juvenil. Se vc tem o diploma, vc faz parte da panelinha “intelectual” e tem as idéias ouvidas.

        Então se alguém quer falar sobre filosofia, ou coisas do tipo. Ele, antes, tem que batalhar para conseguir entrar na panelinha (senão as idéias deles não valem nada). Quando entram na panelinha, qualquer besteira que fale será considerada pela panelinha (pois o que vale não é a argumentação, mas sim os papéis de diploma).

        Bom, no caso do jornalismo, percebi pelo texto uma insegurança tremenda por parte dos jornalistas formados (assim como nós historiadores). Se houve essa insegurança, é justamente porque vcs não sabem se o que fazem numa faculdade realmente faz alguma diferença (ou é só uma jornada para conseguir o convite da panelinha).
        Se soubessem que faz diferença, estariam tranqüilos quanto ao “decreto”, pois saberiam que raras seriam as pessoas sem o diploma que obteriam “qualificação” para serem inseridas no mercado de trabalho e, por isso, o que estavam fazendo na faculdade era importante…
        Mas isso parece que não vêm ao caso. O post do jornalista (provavelmente), indica que realmente se trata de uma situação análoga ao de sociólogos ou historiadores (na verdade, pior ainda).

        Sinto que, para dar um tom pejorativo à decisão, o escritor colocou “decidiram que jornalismo não é mais profissão”.
        Ora, pois bem! Então quer dizer que tudo que não precisa de uma burocracia universitária, não é profissão? Pois então administrador não é profissão? Lixeiro não é profissão? Motorista não é profissão?

        Note que algumas exigências de diplomas para exercerem certa profissão fazem sentido. Como medicina, mas isso veio para proteger quem fosse precisar de cuidados médicos (para que esse não fosse tratado por um que não tivesse algum comprovante de que era capaz de exercer a medicina). Isso é muito diferente do caso do jornalismo. Por acaso precisamos de proteção contra idéias de quem não tem um diploma de jornalista em veículos de comunicação?
        Para que a utilidade do diploma? Pra proteger quem?

        Acho que qualquer idéia a esse favor está bem próximo de um pensamento nada democrático…

        Alguns contra-exemplos. Note que um contra-exemplo é a matemática. Existe o curso, existem os mestrados e doutorados. No entanto, ninguém é proibido de publicar algo ou exercer a profissão.
        Quano o assunto é ensino, fica diferente. Pois teoricamente há a proteção dos estudantes contra professores que não tivessem a capacidade comprovada de lecionar.
        Mas se provar algum teorema famoso, independentemente se vc for de 10 anos ou pós-doc, vc poderá publicar num periódico.
        A matemática, de fato, não é bom no contra-exemplo. Pois ela tbm está sendo contaminada por esse ar de insegurança (como os cursos de humanas).

        Mas existem outros exemplos, como administração e computação. Leia um pouco sobre a cultura hacker (não existe diploma que prove nada. Existe capacidade cada um).

        Bom, não tenho paciência para escrever sobre isso. eu ía colocar um pequeno comentário aqui e acabei me prolongando, por isso acabei colocando de forma confusa. Mas, de qualquer forma, ficam as perguntas:

        Para quê exigir o diploma de jornalista para exercer a profissão?
        Para proteger a populção contra idéias? (não-democrático isso, não?)

        Ou simplesmente para satisfazer o ego dos jornalistas formados? fazendo-os pensar que só eles são capazes de fazer o que eles fazem?

        Ou simplesmente para vcs não se olharem com “vergonha” nos corredores por vossa insegurança?

        Vcs acham que quando Abel (com 19 anos) provou com facilidade uma das maiores questões da álgebra (da época) e foi aceito para ser um pesquisador da academia de matemática, os matemáticos com diploma se olhavam com vergonha nos corredores?

        Vcs acham que aconteceria isso?

        Essa insegurança normalmente ocorre porque os inseguros têm mais papel (diploma) acumulado do que conhecimento (ou até mesmo qualificação) para o que faz.

        Um cara de programação (computação) ou um matemático não ficaria assim, pois ele sabe que ele pode estar lá possivelmente por causa dos papéis, mas principalmente pelo conhecimento e qualificação que vieram atrás desse papel.

        Um jornalista não formado não oferece risco a ninguém. E é só isso que deve ser levado em conta. Eu sei que existem muitas situações análogas, mas defendo que nessas situações deveria ter o mesmo tipo de medida.

        Fora isso, no caso de jornalismo existe uma questão profunda da democracia e liberdade de expressão.
        Note que com a exigência de diploma, o governo (seja lá qual for) poderia usar isso como ferramenta “anti-liberdade de expressão”, ferramenta de controle das idéias. Por exemplo, tirando do ar algum jornalista que não agrada o governo alegando falta de diploma.

        Bom, conselho: para acabar com essa insegurança, procure praticar na universidade algo que realmente diferencie sensivelmente um formado de um não-formado. Procure fazer com que a conquista do diploma venha com um sensível acúmulo de conhecimento e qualificação.
        De tal forma, que,ao completar o curso, o aluno não fique orgulhoso do diploma, mas principalmente orgulhoso dos conhecimentos e qualificações acumulados…

        E fique tranqüilo que sempre o diploma será de alguma forma uma referência para o empregador. Isso acontecerá mesmo com a qualidade dos cursos universitários que vem caindo (e se tornando cada vez mais afranciscados e cada vez menos útil). Eu não gosto desse último fato que explicitei, mas é verdade…

        Até mais!

    1. Bezzi, as regras ainda não estão postas. Penso que o Ministério do Trabalho vai arbitrar sobre isso… vamos aguardar… abs

  2. Espero sinceramente que a habilitação em Jornalismo da Univali se reinvente.

    O clima de enterro, ontem, pra mim foi um sinal claro de que os alunos da graduação não estão satisfeitos e confiantes com a formação que lhes foi proporcionada na universidade. E tem aquela história do ‘cada um por si’, sempre. Já passou da hora de direção+coordenação ‘acordarem pra vida’ (vida esta que deixou de pulsar faz tempo naqueles corredores).

    1. Larissa, sinceramente, não acho que o clima de ontem fosse um resultado de algo localizado. Penso que era mesmo um reflexo da decisão do STF, que foi sentido como um golpe. Mas, você tem razão, as escolas de jornalismo encontrarão novas razões para buscar a qualidade do seu ensino…

  3. Pois, pois… Também penso, caro amigo, que será necessário, ao jornalismo, se reiventar neste novo cenário, em especial em sua instância redação. No que toca à formação e pesquisa, penso que aumenta a responsabilidade que nós, professores, temos para com o conhecimento, haja vista que é por meio do ensino que se estabelece a diferença. Grande abraço.

    1. Sim, Sim, caro Demétrio. Obrigado pelo seu post.
      PS – Mesmo atrasado, parabéns pelo seu aniversário. Está durando, está durando…

  4. Acredito que agora é o momento de se repensar o ensino universitário, valendo ou não o diploma. Quem não tem o seu, está indiferente com a decisão, pois aprenderam muito na prática, dentro das rádios, tvs e redações. Realmente, a “vivência” ensina muito, mas o conhecimento acadêmico é importante. Um colega de trabalho disse que é necessário dom para ser jornalista, ele (que nunca estudou) trabalha nas rádios há muitos anos, é narrador esportivo e acha que o diploma não faz falta nenhuma. Bom, vocação ou “jeito pra coisa” não vale só para os jornalistas. Vale para qualquer profissão.
    Adorei o post, professor. Vamo que vamo com nossos canudos, o meu tem valor sim!

    1. Oi passando para desejar felicidades e dizer que adorei o blog, peço para dar uma olhadinha no meu: http://gilbertogil.wordpress.com/ ´´Descrevo,como vejo´´ é um blog de humor criado no intuito de fazer humor ao mesmo tempo informar, lá você pode se divertir e fazer donwloads de livros como crepúsculo, o segredo e muito mais..acompanhar o concurso beldades do orkut 2009 e votar. Espero que gostem e comentem, dessa forma iremos crescer juntos….valeu…!

  5. Oi, Rogério! Parabéns pela postagem e pelo didatismo nos esclarecimentos referentes à queda da obrigatoriedade do diploma. Com certeza estudar bem e muito nunca vai ser tão importante como agora. Abraço,

  6. Oi, Rogério.
    Massa seu blog. Acompanhei sua “cobertura” ontem pelo twitter tb sobre essa do STF. Não sou contra nem a favor em relação à obrigatoriedade do diploma, mas defendo uma regulamentação da profissão. Não acho que o que havia era o modelo ideal, mas era alguma coisa.
    Sei que mtas dúvidas só o tempo vai resolver, mas tem uma que não achei resposta na internet ainda, talvez vc possa me ajudar: como ficam os concursos públicos com vagas para jornalistas?
    Abraço.

      1. Achei uma resposta, mas não conclusiva. O ministro Ricardo Lewandowski disse que não pode exigir diploma de jornalismo, mas “talvez” de sociologia, filosofia e etc. Não senti muita confiança na declaração, mas é esperar agora.

  7. eu concordo com quase tudo, mas se tem uma certeza é que o mercado vai ficar pior. diploma caiu, mas quem tem continuará querendo pelo menos o piso da profissão. enquanto quem não for formado tá pouco se importando com isso. jornalistas passam por 4 aninhos de faculdade vendo como escrever, como pesquisar, aprendendo sobre ética e política e olha o naipe de quem está no mercado. imagina agora abrir pra quem não tem nem isso! medo.

    1. Qualidade nenhuma era garantida pela exigência do diploma. Diploma nunca foi e nunca será sinônimo de qualidade.
      Essa é justamente a questão.
      O que vc fez foi uma grande falácia (adorada por jornalistas). O que garante algum tipo de qualidade em qualquer mercado, seja ele de profssionais de jornalismo ou de outra coisa, é justamente a concorrêcia. Espero que vc estude isso em jornalismo para entender essas coisas de economia! 🙂
      A queda do diploma traz mais concorrência. Por raicocínio análogo ao seu (porém dessa vez correto) eu concluiria que teríamos um mercado mais diversificado e conpetitivo. O qeu aumentaria a qualidade.

      Até mais!

      E bons estudos!

      Bons estudos para o dono do blog também (já que concordou com a frase)

  8. Christofoletti,

    Tenho várias posições contrárias a respeito que podem ser contestadas ou reforçadas após ler meus posts e seus respectivos links com atenção e interesse.

    Em poucas palavras, creio que o problema-chave seja a falta de disciplinas obrigatórias básicas de Administração, Contabilidade e Direito nas faculdades de Comunicação. Com a TV e com a rádio digital; com trocentas produções independentes que podem ser vendidas para canais de TV a cabo; com a economia do mérito, com a Cauda Longa, com as redes sociais, com a dissociação do tempo e do espaço e por aí afora, é preciso deixar o pensamento corporativista, clientelista, paternalista e excludente que acha que só existe vida, competência, fama e repercussão significativa a partir da mídia corporativa.

    http://heliopaz.com/ digitem diploma no campo de busca e leiam os posts. Comentem! Para o bem e para o mal, acho que devemos compartilhar informações, opiniões e conhecimento. 😉

    []’s,
    Hélio Sassen Paz
    Mestre em Ciências da Comunicação (UNISINOS, 2009)
    http://heliopaz.com
    @heliopaz

  9. COMUNICAÇÃO PARA QUEM É DE COMUNICAÇÃO

    Suponha que você seja engenheiro civil. Ficaria à vontade se fosse convocado para liderar uma reunião de especialistas em informática? Se você é psicólogo, mal-acostumado com as colunas de créditos e débitos, ficaria à vontade para analisar o balanço de uma multinacional? Seu PhD em economia lhe dá coragem para assumir a instalação do centro de usinagem recém-adquirido pela sua empresa?

    Estou certo de que pessoas ajuizadas e conscientes dos seus limites profissionais adotariam atitudes muito cautelosas se o acaso as colocasse nessas hipotéticas situações.
    Quando o assunto é comunicação, todavia, a experiência mostra que estes e muitos outros profissionais cautelosos e conscientes assumem ares de mestres e magistrados, ensinando e sentenciando, dispensando lições e qualquer ajuda. Um plano de comunicação? “Ora como não – é comigo mesmo.”

    Por que, afinal, quando se trata de comunicação, todos se acham capazes de assumir qualquer responsabilidade?

    Os profissionais que coordenam os processos de gestão, entretanto, aprendem muito cedo a reconhecer dois fatos:

    1) A comunicação é a chave-mestra para o sucesso dos planos de gestão;
    2) A comunicação é um processo laborioso que pode e precisa ser aprendido.

    Aqueles que encaram estas duas verdades com a necessária humildade acabam se tornando tão especialistas em gestão quanto em comunicação, na mesma medida em que esta é instrumento daquela. A dupla qualificação profissional, mesmo que obtida ao longo da penosa sucessão de tentativas e erros, é condição para o desempenho eficiente da equipe coordenadora do projeto de gestão. Em outras palavras, o dia-a-dia tem se encarregado de ensinar comunicação àqueles que supunham ser auto-suficientes nesta matéria.

    Sem o propósito de generalizar esta situação, é preciso enfatizar que a grande maioria dos executivos da indústria trata a comunicação como domínio comum, terra de todos e de ninguém, onde o bom senso é o bastante para enfrentar a maioria dos problemas. Por esta razão, pelo menos no inicio de suas experiências com os programas de gestão, muitos deles superestimam seus conhecimentos nesta área – quaisquer que sejam – e ao mesmo tempo subestimam as dificuldades da comunicação. Há os que consideram mesmo uma heresia aceitar a comunicação como um campo especializado do conhecimento. E não são poucos!!!

    1. Qualquer um pode exercer a atividade que quiser, se não gerar risco a outras pessoas.
      No caso da engenharia civil, precisa-se proteger as pessoas de que alguém que não tenha comprovadamente a qualificação para projetar uma estrutura segura, faça o que quiser.

      O que vc expressa nesse post seu é tão somente a insegurança que tem. Veja meu post. Isso pode ser mudado se o curso for estruturado de forma a trazer alguma coisa que deixe os formados confiantes de que estão mais capacitados em comunicação do que o resto.
      Vcs usavam o diploma como um comprovante de que faziam parte de uma panelinha.

      Veja o exemplo dos matemáicos. Ninguém é proibido de fazer algum trabalho em matemática por não ter um diploma. A mesma coisa para os físicos, os de ciência da computação, etc…

      EVIDENTE QUE COMUNICAÇÃO QUALQUER UM PODE FAZER, MINHA QUERIDA!

      Agora, vcs que tem que fazer um curso de tal forma que alunos saiam confiantes de que tem algum diferencial em relação aos não formados! E ESSE DIFERENCIAL NÃO É O PAPEL!
      Se esse diferencial é só o papel (e é isso que vcs dão a entender), então, de fato, o que aconteceu deveria acontecer…

      LEIA MEU POST ACIMA!

      Que algum dia os jornalistas formados não se sintam tão inseguros diante de uma coisa tão natural quanto essa! Ou seja, que algum dia, vcs se sintam seguros de que estão realmente acumulando algum tipo de informação que diferenciem jornalistas formados dos não-formados! Assim como administradores, matemáticos, físicos, cientistas da computação…

      Leia o comentário que fiz acima (fizemos)

      Até mais e boa sorte na sua carreira (diplomada ou não)!

      1. Desculpe!
        Te tratei como se fosse uma mulher! Agora que vi que tem o nome de Luiz Ribeiro!
        Me desculpe! Foi um engano (por causa do comentário abaixo, acabei associando o nome ao seu comentário)

        Mas o comentário continua valendo!

        Essa frase: “COMUNICAÇÃO PARA QUEM É DE COMUNICAÇÃO” é uma típica frase de acadêmicos inseguros (igual exemplo de história ou de outros cursos de humanas que citei no outro comentário (no 1 comentário bem acima)

  10. Não adianta chorar o leite derramado. Acredito que podemos propor novos projetos para a regulamentação da profissão que se faz tão necessária. Como “é melhor ser alegre que ser triste”, sou otimista e espero que, com a queda da obrigatoriedade (e não da validade!) do diploma, os bons profissionais se destacarão no mercado, as faculdades oportunistas irão eleger outro curso como disfarce de caça-níquel e os alunos que se prestarem a cursarem jornalismo exercerão a profissão com a devida dignidade que ela merece. Pode parecer utópico, mas, em suma, espero que se inicie um processo darwiniano.

  11. Christofoletti, seu post é ótimo! Vou colocar ele no meu blog. Acho importante, apesar de poucos me lerem, que todos sejam esclarecidos sobre o assunto.
    Um abraço e vamos seguir em frente…

  12. Muito esclarecedor. Parece que agora as instituições de ensino terão que aprimorar seus serviços e, de certa forma, os vestibulandos que desejam ‘apenas’ aparecer na bancada do jornal nacional pensarão duas vezes… lembro que na minha primeira semana de aula um professor perguntou onde os alunos gostariam de exercer a profissão depois de formados e 95% respondeu TV… mesmo sem conhecer as diferenças técnicas e de linguagem entre os meios, pois ainda estávamos no início do primeiro período. Na época, eu sonhava com a mídia impressa, pois não conhecia os prazeres da internet…rs… Posso linkar seu texto ao meu humilde blog?

  13. Excelente post, Rogério. Estou consternada também, e também tenho motivos pessoais, como vc referiu no outro texto. Depois de 10 anos de atuação como jornalista no mercado, retornei ao meio acadêmico – ingressei no tão sonhado Mestrado em Comunicação (UFSM). Fico me perguntando se a pesquisa e o ensino terão o respeito que merecem daqui pra frente, com a profissão levando um golpe como esse. Os argumentos do ministros pró-queda do diploma são irritantes! Confundir liberdade de expressão com atuação profissional… Também nao concordo com a comparação com outros países, em que não se precisa de formação específica para ser jornalista. Entendo os argumentos de quem cita a democratização operada pelas redes e tecnologias digitais como motivo para abrir o campo, mas uma coisa é o jornalismo cidadão (legítimo desde que entendido desta forma), e outra o jornalismo instituído, do mercado, feito por pessoas preparadas para tal. Parabéns pelo tabalho no blog e no twitter, Rogério. Obrigada por ser uma voz em favor da regulamentação. Parece que é moda os próprios estudiosos da área defenderem a baderna. Abraço

    1. Dê uma olhada no meu comentário.

      Pelo que eu vi do seu comentário, parece que realmente usa os papéis (diplomas+mestrado) como um meio de se acomodar.
      Parece que estuda mais pelo papel do que pelos conhecimentos e qualificação que acumulará.

      Espero que mude de posição (nesse aspecto) apartir de agora!

      Dê uma olhada no meu comentário acima (o primeiro).

      Até

  14. Se a Folha de S. Paulo que é a A Folha de S. Paulo não exigia diploma de jornalista para trabalhar lá há anos e anos, o que dirá agora e o que dirá os outros jornais menores. Essa decisão a meu ver só oficializa o que sempre acontecia na prática. Desculpe, meu caro, mas empregador não tá ligando para diploma não, ele liga pro quanto ele vai pagar e se ele pode pagar menos para o profissional com curso superior ou para o profissional sem curso superior ele optará pelo sem curso superior, e fará como muitas empresas fazem (como a Folha) oferecerá um curso básico de capacitação para trabalhar naquele veículo e pronto, todo mundo feliz!

  15. Eu, pessoalmente, acho Ótimo.
    Faz todo mundo acordar, principalmente nós, jornalistas – que cada vez mais nos vemos obrigados a sair da zona de conforto.
    Só pra constar, eu comentei o fato aqui na redaçao (trabalho num grupo de comunicaçao espanhol, em Madrid) e todo mundo se surpreendeu com o fato de que o diploma ainda era obrigatório no Brasil.
    Pues, que venha o futuro.
    Saludos e parabéns pelo post.

  16. Já estava na hora, essa coisa de diplomas não está com nada, isso devia ser tirado, isso só faz com que os estudantes não estudem por aprender e conhecer as coisas, só faz com que os mesmos lutem pelo diploma, e vai ajudar muito o mercado de trabalho também, pois tem gente que não tem diploma nem nada, e trabalha melhor que muita gente formada por aí.

  17. Calma gente! O mundo não vai acabar por isso. Se fosse assim a profissão publicitária estaria desvalorizada desde sempre ,já que “o sobrinho do meu vizinho” sabe mexer no corel e no PS.

    Como você mesmo disse estudar é sempre bom e é isso que nos distingue dos outros (os infiltrados).

  18. O diploma não é mais obrigatório, mas o talento necessário para vencer no jornalismo, na comunicação, será para sempre obrigação do bom profissional.

    Escrevi um post no qual convido-o para ler. Não é uma opinião a favor da decisão, e sim um convite a que os jornalistas de talento, de amor pela profissão, não tenham medo. http://etctal.wordpress.com

    Abraços, LB

  19. Parabéns pelo texto Professor! Como acadêmico espero que esta derrota seja justamente o combustível para a “reinvenção” do modo como se faz jornalismo. No mínimo, deveria. Fiquei chateado pela fraca manifestação do meio acadêmico, que ao meu ver, é o que primeiro a sofrer as consequências.

    Posso postar o seu texto no meu blog?

  20. Entendo que a classe de estudantes e universidades que ministram o curso de jornalismo estejam abalados, afinal de contas, cai por terra a estruturação e a regulamentação de uma profissão defendida por anos. Mas eu trabalho em um jornal e não cursei jornalismo. Fiz Ciências Sociais e fui emprestado ao jornalismo pelo facilidade em redigir. O bom jornalista muitas vezes não é aquele formado em uma faculdade, mas passa antes, além de um excelente formação téórica, por um bom conhecedor da história, da lingua portuguesa e de sensibilidade. Há no mercado inúmeros profissionais atuantes que mesmo sem o diploma honram suas funções com maiores méritos que muitos formados nas universidades. A profissão de jornalista requer formação mas também sensibilidade, arte, apuro na visão do mundo.A imposição do diploma impediu por muitos anos que estes excelentes profissionais, não formados em jornalismo, pudessem avançar no reconhecimento e até mesmo registro profissional. Para quem está cursando jornalismo, continue. O mercado sempre vai optar pelos melhores, isso é fato, Para toda a classe haverá ganho, pessoas com notável dom para a escrita poderão disputar de igual para igual na hora de realizar um bom trabalho jornalistico.
    sandroolivier@hotmail.com

  21. Devemos acordar para a nossa triste realidade. Somos, brasileiros, uma caricatura do que é ser uma civilização decente. Somos “expertos”. Levamos vantagem em tudo. Nossas bundas são as mais gostosas e esta tudo bem conosco, pois temos nossa cerveja garantida no fim de semana e possivelmente, dirigiremos alcoolizados. BASTA ! Estamos enfrentando uma geração que levará talvez, mais de 5 décadas para colocar este pais nos trilhos, se isso começasse hoje, o que é pouco ou improvavel. As faculdades se proliferam nas esquinas feito qual garotas jovens miseraveis da periferia, com suas barrigas inchadas a parir em alguns meses. O ensino superior, que de superior só tem o valor que se cobra, neste paizinho é de péssima qualidade. Os jovens estão correndo atras de um canudo. Depois sairão e se acomodarão placidamente em um call center. Se foi certo ou errado, o tempo dirá, mas uma coisa é certa… a maioria dos diplomas em circulação hoje nesta joça chamada Brasil, não tem a maior validade real, ou seja, são médicos mal formados, engenheiros que nem conseguem manter edificios em pé, cirurgiões plásticos matando pessoas na mesa de operação, e gangsters de terno com diploma de advogado roubando seu cliente e servindo ao diabo. Vamos parar de ser “expertos” e sermos mais bobos e assim tomaremos vontade de aprender, e aprenderemos estudar, e cessaremos de querer tirar vantagem em tudo. O supremo fez sua parte. Os formandos e demais ainda nem começaram a pensar na propria.
    Vamos deixar de ser uma caricatura de pais.

    1. Apesar de alguns exageros de sua parte, concordo com sua posição! E também percebo os problemas que vc expôs no texto!

      E concordo fortemente com a parte de que “as pessoas procuram canudos” para se acomodar. E é justamente disso que se trata toda essa reação insegura dos jornalistas!

      Se tiver algum blog ou coisa do tipo, deixa aí o site! =)
      Valeu
      e
      Até mais!

  22. Quem sabe os bons jornalistas voltem à vida brasileira, e esses empregados que trabalham com as pautas já marcadas por suas editorias voltem às suas realidades.
    As empresas de comunicação nada mais são do que espaço para anúncios, recheados para algumas notícias, e boa parte das notícias são anúncios disfarçados. Os editores sabem dizem, mas poucos “jornalistas” (bacharéis em comunicação social) conseguem perceber isso.

    Boppe
    http://boppe.wordpress.com

  23. O negócio é que as empresas de mídia é que vão escolher se querem jornalistas formados ou não e hoje em dia com a porrada de formações que temos não dá para enganar ninguem, acho até de certa forma interessante o periodo que esta por vír agora pois acho até que teremos cursos tecnicos de jornalismo e quem sabe uma mídia menos cizuda.

      1. Acho que os leitores conseguiram entender sem o seu “esclarecimento/correção”. Não era esse o objetivo da língua portuguesa escrita (especialmente em blogs?).

        Ou o objetivo do comentário foi apresentar uma falácia de contaminação de poço?

        Até mais

  24. Achei a decisão ótima.

    É uma espécie de Seleção Natural do jornalismo. Os bons sobreviverão, com ou sem diploma. Já os estudantezinhos de choppada, que conseguiram sem nenhuma “dura pena”, vão ser os eternos estagiáriozinhos da nação.

    Sinceramente? Quem sai ganhando nessa é o público, ávido por receber notícias – via internet, jornal, rádio, tv, tanto faz – da melhor maneira possível, com competência e criatividade.

  25. Caro Professor

    Acho equivocado falar em 40 anos de direito da exigência do diploma porque na verdade entre 1969, data do decreto-lei, e a Constituição de 2008, marco da redemocratização do país, decorreram 19 anos.

    Nos outros 21 anos, da Constituição de 88 até agora, ficou a discussão se o diploma era exigido ou não, sem conclusão nos tribunais. Eu, por exemplo, trabalho há 18 anos com registro precário junto ao MTB. Então, dos tais 40 anos, no meu caso 37 seriam sob um regime político espúrio, uma ditadura militar, ou jurídico não definido.

    Penso que é mais importante lembrar que dentre a primeira Constituição republicana e o malfadado decreto-lei assinado em 1969 pela junta militar da ditadura, foram 145 anos sem que se exigisse diploma para a profissão de jornalista. Um século e meio, Professor.

    Sobre as faculdades, as boas vão continuar, como existem em todos os países onde diploma não é exigido e os veículos de comunicação contratam majoritariamente profissionais formados.

    Abraço e boas aulas.

    1. Acho que o “erro/equívoco” dele foi proposital. É a velha tática dos jornalistas de manipular informações para manipular opiniões.
      A manipulação das informações se dá com mentiras, ou ênfases em pontos estratégicos, ou omissão de informações (como causas ou conseqüências).

      Dizem que o bom jornalista não faz uso desse artifício. Não sei se isso é verdade (pois precisaríamos discutir a função do jornalista para concluir algo a respeito); mas sei que seja lá qual for a função do jornalista, existem bons jornalistas não-formados (isso se não for a maioria).

      O problema todo é que os jornalistar querem se acomodar com um papel que o distanciam de pessoas talentosas e estudiosas que, por algum motivo, não procurou um curso (em qualquer esquina) para ganhar o papelzinho (que o aproximaria dos outros jornalistas).

      Obrigado pelo comentário esclarecedor! E coloco em destaque o último parágrafo escrito por vc!

      Abraço

  26. O bom jornalista (mesmo aquele ainda em vias de receber o diploma) sabe que o que vale é saber utilizar de forma responsável a informação.
    De qualquer forma, é equivocada, a meu ver, a fala do ministro Gilmer Mendes, no que tange à liberdade de informação. O diploma de jornalismo não cerceia a informação; apenas dá ferramentas a quem opta por seguir carreira como comunicador.
    Mesmo um tanto descontente, quero agradecer ao Rogério por nos ajudar a ver o outro lado da história. você tem razão quando diz que o estudo passa a ser ainda mais importante, a partir desta decisão. Sou estudante de jornalismo em Curitiba, estou prestes a me formar, e é um estímulo ler um texto otimista e bem fundamentado. Obrigado, e um abraço!

Deixar mensagem para rogério christofoletti Cancelar resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.