das minhas sentimentalidades sobre o diploma

Relendo meu post anterior e ouvindo a minha esposa – o que deveria fazer mais vezes -, queria tornar mais clara a minha posição sobre o fim da obrigatoriedade do diploma de Jornalismo. Mesmo derrubado por uma feroz gripe, ontem, acompanhei atentamente ao julgamento do STF. Tuitei sobre isso. Tentei manter um certo distanciamento do tema, mas no final da sessão, o cansaço e o mal estar (da gripe ou da decisão?), já deixei escapar algumas farpinhas da minha indignação.

Dei aulas ontem à noite e falei com diversos alunos.

Mantive o equilíbrio e hoje cedo, postei uma análise distanciada do tema. Minha esposa leu e se enfureceu: Mas nada te indigna? Nada te tira do sério?

Ela tem razão. Eu deveria falar sobre isso. Mas eu não queria. Abri a caixa postal hoje e vi dezenas, verdade!, dezenas de mensagens destilando raiva, ira, indignação, protesto. Eu não queria engrossar o caldo do fel. Mas por outro lado, não posso falsear meus sentimentos. De decepção, de tristeza, de indignação, de raiva.

Tenho razões muito pessoais para me sentir assim. Sou professor de Legislação e Ética em Jornalismo há dez anos. Neste tempo todo, falei de regulamentação profissional, insisti na importância de uma profissão ter regras claras de ingresso e funcionamento. E ao falar de leis e regulamentos, eu falava sempre da profissionalidade, das formas de sermos o que somos, quando somos jornalistas.

Tenho razões muito pessoais para me sentir assim. Entre 2002 e 2005, fui dirigente sindical em Santa Catarina e trabalhei ativamente, escrevendo textos, promovendo eventos, participando de debates sobre a necessidade do diploma, em defesa desta regulamentação, a favor dessas regras.

Tenho razões muito pessoais para me sentir assim. Desde 2001, o meu fazer-pensar acadêmico gira em torno da profissão, da sua ética, e das estruturas nas quais se apóia a profissão jornalística.

Portanto, o investimento pessoal, emocional, de tempo e de energia de quase uma década foi muito grande, penoso mesmo. Não me arrependo. Claro que não. Continuo acreditando no Jornalismo, como algo importante para a sociedade. Continuo acreditando na organização dos profissionais, que se reúnem para defender e ampliar os seus direitos e a sua dignidade. Continuo acreditando que as escolas podem ter um papel crucial na formação de bons, de excelentes jornalistas. Continuo acreditando. Esta fé – que se traduz em pragmatismo, ou em uma certa frieza a olhos distantes -, esta fé aplaca meu descrédito, minha tristeza.

19 comentários em “das minhas sentimentalidades sobre o diploma

  1. É, Rogério, não temos Conselho, não temos mais este aval das universidades (por pior que sejam, elas têm uma grade curricular discutida nacionalmente, dentro de parâmetros “regulatórios”, e tal), ou seja, não temos mais nada…nenhuma regra, nenhum documento que embase posturas ou futuras avaliações jurídicas sobre o assunto… fico mais atônito por isso mesmo… virou uma terra de ninguém…

    Enquanto profissional e dirigente sindical sempre falava que nunca precisei apresentar o meu diploma pra nenhum trabalho que peguei até hoje, mas diploma é como caráter, é bom ter, mesmo que não precise apresentar.

    Sobre tudo isso, tiro apenas uma conclusão: Escute mais tua esposa!

  2. Rogério, estávamos ansiosas pela sua manifestação! Minhas colegas de faculdade e eu estávamos acompanhando pelo Twitter e infelizmente obtivemos essa triste notícia, que transformou uma noite entre amigas em um constante debate sobre o que irá acontecer com a nossa profissão e que rumo vamos tomar. Após sentimentos de inação, indignação e uma profunda tristeza ao observar cada telejornal a mesma notícia, eu aluna de jornalismo vim manifestar que vou lutar sim, para a regulamentação da profissão. Meu sentimento agora é de tristeza, mas também de uma ansia de movimentação. Não vou ficar parada diante de tudo isso, e se depender de mim, os movimentos estudantis começam agora.
    Professor, obrigada por ter contribuido para a minha formação como JORNALISTA. E vou usar um clichê para afirmar que “SOU BRASILEIRA E NÃO DESISTO NUNCA”

    1. É isso aí, Fernanda! Para o alto e avante! Esta profissão precisa de gente qualificada, comprometida, insistente e corajosa!

  3. eu me sinto abatida. o que vi, ontem, foi um desrespeito imenso a uma profissão. decisão judicial não tem discussão, a gente cumpre. mas os sentimentos de pesar, de ter sido chutado e pisoteado (“qual é a especificidade???”, esta frase gritada pelo Celso de Mello jamais vai sair da minha cabeça), estes sentimentos são muito fortes.

  4. É hora do jornalista de formação mostrar o seu valor.

    Estudamos, lemos, discutimos, refletimos. Pensamos jornalismo. É nossa hora de colocar para fora o que aprendemos e fazermos disso a diferença.

    Ser jornalista é, acima de tudo, ser apaixonado pelo ofício. Empregados ou independentes, precisamos praticar cada vez mais um jornalismo sério, ético e limpo. O diferencial vai estar em nossa capacidade de agregar valor aos textos, de elevar as reflexões.

    Volto a dizer: é a nossa hora.

    Abraços tristes, mas de pé,
    Alvim.

  5. Até agora ainda estou em um baixo astral enorme. Tá difícil de fazer tudo. De escrever, de ouvir outras pessoas. Queria só acordar e saber que nada disso foi verdade. =/

    1. Prezados, o desânimo, a tristeza, o alívio ou qualquer outro sentimento, tudo isso vale. Mas tudo isso também passa… Vamos seguir!!!

  6. Temo um pouco pelo futuro da pesquisa, dos debates, da discussão. A abertura de cursos rápidos talvez possa minar currículos mais amplos. Mas espero que esteja dizendo bobagem. O jornalismo parece minado, às vezes. Essa palhaçada toda de web versus jornais. Um monte de gente que não entende nada da profissão dando pitaco. Talvez o jornalismo também tenha de se esclarecer, dizer a que veio. Claro que tem uma laia de gente suja nesse balaio, e o que uns tentam consertar (credibilidade, ética, verdade, luta pela democracia), outros acabam detonando mais ainda.

    Uma coisa que ouvi hoje (pegando pelo lado da falta do diploma): um engenheiro, um médico, fazem um trabalho técnico vital para a sociedade. E quando esses colunistas sem formação alguma, que vivem de jabaculê e rabo preso com político (e que se dizem jornalistas) elegem um político corrupto. Eles não tem um papel vital para a vida, inclusive de médicos, engenheiros, etc.? Não páram pra pensar nisso. Me parece que o STF vê jornalista como aquele que publica em jornal (olha que anunciante também entra nisso).

    Mas bola pra frente. Eu sou um pouco pessimista, acho (queria que não) que daqui uns 40, 50 anos (se viver até lá), a gente vai tar lamentando por um monte de cagadas que fala há anos, décadas, séculos. Novos governos ditatoriais vao aparecer, novas guerras, vai ter menos cobertura vegetal, mais lixo, mais crime e gente estúpida/corrupta/de má-fé pra tudo que é lado. Não estou agourando nada, pelamor. Mas não é difícil prever. O crescimento populacional não vai ser freado e vai começar a faltar alguma coisa. Democracia também, por essas e outras.

    Abraços.

  7. O jeito é deixarmos o jornalismo de lado para exercer a excelentíssima profissão de deputado e/ou senador, que também não requerem diploma.

    1. É, Sergio, não requerem de diploma, mas de votos… e esses são alguma forma de legitimar… nós, agora, estamos sem voto nem diploma…

      Obrigado ainda delaorden e sandro oliver, pelas visitas e comentários.

  8. Eu não estou tão desolado quanto a maioria. Acho a perda enorme, É claro.
    Mas acho que conseguiremos vencer assim mesmo.
    Bons jornalistas não se fazem nas esquinas, assim como bons diplomas não necessariamente produzem bons jornalistas. Falei um pouco sobre isso em meu blog tbm ( http://fabioricardo.wordpress.com/2009/06/18/fim-da-obrigatoriedade-do-diploma-no-jornalismo/ )

    Mas gostei do seu post. Você demonstra que é possível falar sobre o assunto com emoção, sem precisar sair por aí xingando deus e o mundo, sem precisar soar como o profeta do apocalipse. Nem todo sentimento é alarde.

  9. Oi Professor. Estava curiosa para ver o que o irias escrever sobre o desalento. Sendo uma das tantas alunas que ouviram sua empolgação nas aulas de legislação e ética, ao falar de uma profissão regulamentada. Hoje quando ouvi suas palavras durante a assembléia, era notável em seu rosto um abatimento, que lendo seu texto percebo ser também gerundio de uma gripe. Mais, esperava sinceramente uma reação diferente, um tanto quanto mais energica. Não que isso seja ruim, na verdade me fez pensar sobre a história do leite derramado. Ou seja, não adiante chorar sobre o leite derramado, temos que limpar tudo e abrir um novo pacote de leite e tomar cuidado para não derramar de novo, mais se derramar? Fazer o que? Novamente limpamos tudo e abrimos outro. Pois, a vida é o resultado de todos os reinventos por quais passamos.
    Estou triste, indiguinada? Sim!! Conformada?? Não!! Mais concerteza não vou ficar também desferindo golpes no ar. Temos que mais do que nunca, esperar a decisão sair no papel e nos unirmos como classe (no meu caso futura classe hehe) e lutarmos por nossos direitos. Acredito que tudo isso serviu para mostrar que precisamos nos unir e cobrarmos do legislativo ação. Pois somos ou não somos formadores de opinião?? Nós podemos, nós vamos conseguir!!!
    De resto até lá, a vida continua, com a mesma vontade do conhecimento, por que se antes o que nos dava de certa forma um lugar “ao sol” era o diploma, agora prevalece o conhecimento. Ele sim hoje pode diferenciar o joio do trigo.

    Jamile tonini

    1. É, Jamile. É preciso ter equilíbrio e calma nessas horas. Mas você mesma disse a direção. Abrir pacotes novos e recomeçar. Sempre. Não nos vencem assim, de imediato. Vamos seguir. Com força!

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