o twitter e a demissão do jornalista

Nesta semana, uma notícia causou tremores e ranger de dentes nas redações e nas redes sociais. A Editora Abril demitiu o jornalista Felipe Milanez – até então editor da National Geographic Brasil – por postar tweets críticos à outra revista do mesmo grupo, a Veja.

É claro que o acontecido varreu a internet brasileira como um rastilho de pólvora e provocou reações as mais variadas: houve surpresa, inconformidade, críticas ao próprio jornalista e contestações. Mas a decisão da Abril é irrevogável e os danos irreversíveis, de um lado e de outro. Dentro da Abril, a estupefação de que havia amigo na trincheira; fora do colosso da marginal, queixas de perseguição à livre expressão e tal.

Mas o fato é que o episódio traz velhas e novas lições.

1. As redes sociais inspiram o compartilhamento de conteúdos, de ideias, de sentimentos, de opiniões, mas essa troca provoca consequências, e a mais evidente delas é a contrariedade. Basta criar, por exemplo, uma comunidade no Orkut manifestando a admiração de alguém que logo surgirão comunidades análogas “combatendo” esse pensamento. Basta opinarmos num blog sobre algo que rapidamente leitores deixarão comentários rebatendo nossos argumentos.

2. Nas redes sociais, parece que estamos pensando alto. Mas na web como a conhecemos agora, pensar alto é dividir. E esse compartilhamento se dá no âmbito público e não mais privado. Por isso, toda queixa, ataque ou admoestação pode sim ser rapidamente encontrada, rastreada e, claro, combatida.

3. De nada adianta que eu tenha o meu perfil pessoal numa rede social se nele faço constar também minhas atividades sociais, públicas, funcionais. Isto é, não basta que o jornalista argumente que postou críticas em sua página pessoal se nela, seu perfil afirmava sua condição de editor de tal ou qual publicação. Nas redes sociais, pessoa física e pessoa jurídica se confundem…

4. As redes sociais facilitam muitíssimo a formação de grupos, de elos sociais, mas não isentam as preocupações que temos em outras esferas, principalmente com relação à privacidade. É sim importantíssimo que reflitamos sobre a administração da própria intimidade na internet. O usuário do sistema precisa escolher o que vai mostrar em público; precisa atentar para o que quer manter sigiloso, recluso, discreto. E talvez essa seja a lição mais contundente deste episódio (e de outros também): precisamos cuidar daquilo que somos e daquilo que projetamos nas redes.

Esta é uma questão de cunho moral, não se enganem. É uma questão que envolve valores, que afeta condutas, enfim, que mexe diretamente com a relação que as pessoas estabelecem com as demais. Que o infeliz episódio que custou o emprego de Felipe Milanez nos motive a discutir e refletir mais sobre a rede que estamos tecendo todos juntos.

9 comentários em “o twitter e a demissão do jornalista

  1. Ingenuidade gigantesca do jornalista em achar que foi demitido “pela sua opinião”. Milanez foi demitido por não cumprir regras internas objetivas com relação à divulgação de opinião sobre os produtos da empresa. Ele usou o Twitter para tecer esses comentários. Poderia ter sido em qualquer outro lugar: numa rádio, numa reunião com empresários, na igreja do seu bairro. O que aconteceria se ele fosse para a janela do escritório e berrasse aos quatro ventos a sua opinião? Acho que seria demitido da mesma forma. E quem realmente acredita que esta é uma discussão sobre “liberdade de opinião” ainda não entendeu direito para que servem as mídias sociais.

  2. Lamentável o episódio: seja por ingenuidade do colega, ou, por má fé ao julgar sua conduta.
    O que ocorreu foi um fato concreto: demissão.
    E a opinião de Rogério Christofoletti, sobre a preocupação com o que dizemos e fazemos é real.
    Realmente é de cunho moral.
    Devemos manter uma forma de expressar nossa opinião, sem criar celeumas; sem expor o outro.
    Seja uma figura pública; um amigo da rede e principalmente, a nós mesmos.
    Porque as redes sociais vieram para ficar e aqui estamos expostos publicamente.
    Sempre.

  3. É de fato um emaranhado tremendo. (1) Falar em redes públicas ou sociais deveria implicar a possibilidade de debates, nos quais a liberdade “seria” um imperativo. Um dever-ser, lógico. (2) É verdade que o jornalista ignorou um manual de regras da empresa (seja implícito ou explícito), ao qual o próprio jornalista teria aderido ao se engajar ao grupo. (3) Resta saber se as empresas de comunicação, por serem de tendência ideológica, guardam algum compromisso com a liberdade interna de seus profissionais. Talvez devéssemos questionar o ex-presidente do STF sobre o jornalismo enquanto “exercício profissional da liberdade de opinião”.

  4. Nossa nem imaginava esse tipo de coisa!
    Parabéns pelo blog, quanta novidade! Nossa terei que segui-lo com urgência, vendo o seu blog vejo que estou totalmente desatualizada! Hahah :O)
    Parabens ótimos posts!

  5. Redes sociais não são lugares para sermos nós mesmos! Acordem! É um teatro assim como somos na vida real! Deixemos para ser nós mesmos apenas entre quatro paredes escrevendo no diário! E ponto!

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