Alfred Hitchcok foi um dos cineastas mais influentes do mundo, um renovador de linguagens, um realizador sem igual. Afora isso tudo, foi um sujeito de um humor bem peculiar. Algumas das piadas mais conhecidas do velho estavam em seus filmes, nas aparições-relâmpagos do diretor em situações cotidianas e irônicas. Passatempo de muita gente é assistir aos filmes e “pescar” as suas passagens.
Stan Lee, o cara mais importante da indústria dos quadrinhos nos últimos 50 anos, também é muitíssimo bem-humorado e recorreu ao mesmo expediente para “estrelar” os principais lançamentos cinematográficos envolvendo super-herois dos quadrinhso da Marvel. Veja um mix e se divirta!
Este blog completou sete anos de publicação no último dia 20. Eu ia escrever que são sete anos de publicação ininterrupta, mas se você passa por aqui com alguma frequência sabe que os posts têm ficado mais raros. A desculpa é a de sempre: absoluta falta de tempo. Desde que assumi uma montanha de compromissos profissionais – entre os quais a coordenação do Mestrado em Jornalismo na UFSC -, tem sido mais difícil levar esta second life de blogueiro. Já me queixei também se falta de motivação, mas o grande impedimento mesmo é a duração do dia. Ele curto demais.
De qualquer maneira, fica o registro. E pra não perder a mão, ofereço aos meus poucos (fiéis e insistentes) leitores um novo layout. Mais uma vez, fica o meu agradecimento pelo privilégio da sua visita.
Fiquei muito surpreso com o que aconteceu com o Art Spiegelman ontem! O cartunista teve o seu notebook furtado momentos antes de palestrar num encontro de jornalismo cultural em São Paulo. Para quem não liga o nome à pessoa, Spiegelman é o único cara a ganhar um Pulitzer com uma obra em quadrinhos, o mítico Maus, onde representa de forma irônica o embate entre judeus e nazistas na forma de gatos e ratos. Pois o cidadão vem ao Brasil como atração e passam a mão nele!
Outro dia, outro cartunista também teve o mesmo destino. Levaram o notebook do Laerte, e na máquina havia um acervo de anos e anos de trabalhos gráficos. O azar se repetiu, pois o computador de Spiegelman também continha um tesouro visual armazenado. Perdido para sempre? Talvez…
Fiquei pensando: será que esses caras não fazem cópias de segurança de seus desenhos e ilustrações? Se a maré tá assim, meu amigo Frank Maia, que se cuide… Faz um backup aí, Frank!
Não espere sorrisos em abundância, simpatia gratuita ou demonstrações explícitas de extroversão. Clint é caladão, taciturno, na dele. É assim nos filmes, onde encarna quase sempre a figura do solitário-vingador, e na vida real, conforme conta Marc Eliot na biografia “Clint Eastwood – Nada censurado”. Mas Clint não se limita a esse clichê, como se pode imaginar.
Os muitos percalços na carreira, a pouca certeza sobre seu talento como ator, os muitos casos extraconjugais, os filhos fora do casamento e o amadurecimento como homem e como artista são a base do livro. O retrato composto não é autorizado nem complacente. Também não é denunciador ou polemista. Clint é mostrado clinicamente, quase sem emoções ou arroubos de deslumbramento. Ele desfila calmo e determinado pelas páginas. Vemos Clint figurar em 56 filmes, dirigir 22 deles, receber oito indicações ao Oscar, levar outros cinco. Vemos Clint casar duas vezes, ter sete filhos, virar prefeito, virar diretor e produtor… Vemos Clint matar facínoras, vingar prostitutas, varrer cidades de mal feitores, trocar socos nas ruas, contracenar com orangotangos, apaixonar-se por mulheres…
Ao fim da leitura, não se pode dizer que haja uma redenção de Clint. Ele continua contestado pela crítica por suas limitações de atuação; permanece à espera de um Oscar de Melhor Ator, mesmo tendo batido na trave por mais de uma vez. Por outro lado, o leitor para e pensa: putz! A década mais interessante da vida desse homem é a que começa depois dos 70 anos. Depois disso, quando ele já poderia se aposentar e ficar mais tempo jogando golfe em seu clube em Carmel, Clint engata uma quinta marcha e produz como nunca, de forma inquieta, como se estivesse buscando algo. É dessa época Sobre Meninos e Lobos, Menina de Ouro, Gran Torino, A conquista da honra, Cartas de Iwo Jima, Invictus, Além da Vida, A troca…
Você pode nem ir muito com a cara dele, mas Clint é extraordinário. Não acha?
Eu já havia cruzado mais de uma vez com “Nuestro Vinicius” numa bela livraria de shopping. Neguei-me a levar por um misto de desconfiança e receio. A desconfiança: será que uma biografia escrita por uma estrangeira ultrapassaria a admiração que já tinha pelo que considero o livro definitivo sobre Vinicius de Moraes? A gringa é a jornalista Liana Wenner, e a obra-prima da qual não queria abrir mão é “Vinicius de Moraes – o poeta da paixão”, do crítico José Castello. O receio: deparar-me com um relato que corrompesse o personagem que cultivo como a um parente próximo.
Por uma dessas coisas que não se explica, ontem, trombei mais uma vez com o livro da argentina, mas agora numa versão brasileira, recém-lançada. Por aqui, a biografia que trata das aventuras do Poetinha na Argentina e Uruguai passou a se chamar “Vinicius portenho”. Trouxe comigo, e passei a devorá-la logo após o almoço, como quem se empanturra com papos de anjo em trevas totais…
Mas o que percebi nas primeiras 50 páginas é que o livro nem faz sombra a outros títulos que biografam esse inesquecível personagem. Primeiro porque é mal escrito: tem ideias repetitivas, não é claro no percurso temporal – o que causa desorientação no leitor -, e ainda por cima cria um ou outro clímax que não se sustenta. Depois, porque a pesquisa da autora parece apressada, circunscrita a poucas fontes, e com um tratamento das informações que tende ao preguiçoso. Não raras são as vezes em que Liana Wenner deixa o fio condutor de lado e entrega ao leitor longos trechos de depoimentos, sem um tratamento que uniformize o seu texto, como quem não sabe muito bem o que fazer com aquilo tudo. A narrativa perde em fluxo e potência; a autora evapora diante dos depoentes…
Isto é, “Vinicius portenho” me decepcionou bastante. A prosa é fácil, rotineira até, o que faz restar a impressão de que estamos diante não de um livro, mas de um amontoado de textos jornalísticos – feitos no calor e na pressa do cotidiano -, sem um período de amadurecimento, polimento e cuidado. Apesa disso, é preciso dizer que a obra não é pretensiosa, como se costuma encontrar por aí em outros empreendimentos biográficos. Mas o Poetinha merecia mais que isso.
Em “Garoto de Ipanema”, de Alex Solnik, encontramos um saboroso cardápio de episódios que apresentam Vinicius de Moraes numa dimensão bem humorada e bonachona. Também não há pretensão ou sisudez, mas a leveza do texto do autor carrega o leitor numa viagem bastante prazerosa. “Vinicius de Moraes – uma geografia poética”, de José Castello, é um trabalho restrito a mostrar os lugares por onde passou o poeta, relacionando afetos e logradouros. Caminha-se com o velho sedutor, com o compositor inspirado, com o poeta de copo na mão. Mas “Vinicius de Moraes – o poeta da paixão”, do próprio Castello, é um retrato muito bem acabado, sincero, dramático e doce, como era o “branco mais preto do Brasil”.
Enfim, Benjamin Moser nos mostrou uma Clarice Lispector multidimensional e sólida, mostrando que sua estrangeiridade em nada afetou a distância de sua biografada; Liana Wenner nem arranhou a moldura de Vinicius…
Sei que já não é novidade, afinal aconteceu há quase uma semana… mas a vida anda corrida, e pelo jeito, a morte também tem a sua pressa. Moebius deixou de desenhar no sábado passado. Morreu e viajou para habitar seus mundos desenhados. Tinha um estilo claro, limpo, elegante. Trabalhou com gente importante e influente, deixou um legado, uma obra, enfim. Conheci seu trabalho nos anos 1980, quando desembarcou no Brasil uma graphic novel que ele assinava com o mítico Stan Lee. Na época, juntei cada centavo (era a época do Cruzado Novo!) para comprar a revista e nunca me arrependi. Mais de uma década depois, perdi o título numa mudança. No ano passado, num sebo, readquiri o exemplar. Na história de Stan Lee, o Surfista Prateado mais uma vez se digladia com o devorador de mundos Galaktus. E mais: revela a fragilidade da vida dos humanos e suas muitas contradições. Nos desenhos de Moebius, o Surfista se mostra esguio, brilhante, inigualável.
Na madrugada deste domingo, fui sacudido por uma torrente emocionante quando vi um número que reuniu Maria Gadú e Beto Guedes, no programa Altas Horas. Gadú, com seu timbre vigoroso e encorpado, é acompanhada por um Beto Guedes, envelhecido mas ainda muito suave e generoso. O compositor mineiro de voz afeminada é um dos poetas mais importantes dos anos 70 e 80 no Brasil. “Amor de índio” – assinada com Ronaldo Bastos – é uma das suas melhores canções e deveria ser ensinada nas escolas, como o Hino Nacional.
Um velho ditado proclamava: “As palavras caminham”. Se elas não ficam paradas, o que dirá dos livros?
Os que você tem em casa, estão à sua vista, mas e os que você empresta ou os que são descartados?
Frequento sebos não apenas para encontrar livros baratos e fora de catálogo. Volta e meia, descarrego em um sebo os livros que não leio mais, não vou ler nunca ou que já transbordam da minha estante. Eu sei, tem gente mais apegada que não se livra de seus livros nunca. Também já fui assim, mas é que vem faltando espaço e, volta e meia, tento desocupar lugares nas prateleiras para os novos volumes que comprei e ganhei. Pois recentemente tive duas gostosas surpresas com os livros que dispensei. E quem me trouxe notícias deles foi o Facebook.
Meses atrás, uma moça mandou mensagem reservada pelo sistema dizendo que havia comprado um livro que fora meu. Ela identificara meu nome na folha de rosto, e em dois cliques no Google me encontrou. O livro era “A linguagem no pensamento e na ação”, e ele estava no interior de São Paulo, a quase mil quilômetros de onde estou. Vendi o livro em Florianópolis e, meses depois, a nova dona dele me encontrou na internet e decidiu mandar lembranças do volume. Achei curioso.
Semana passada, tive novas informações de outro ex-livro-meu: “Liberalismo e Democracia”. Mais uma vez, um desconhecido me procurou na rede, e me contou que era o mais novo proprietário. Desta vez, o volume viajara pouco. Na verdade, ele até estava me seguindo. Foi comprado numa banquinha de livros a cem metros do prédio onde leciono na UFSC. Tenho certeza de que vendera para um sebo do centro da cidade, mas “as palavras caminham”, lembra? O novo leitor não só me contou do livro como disse que me conhecia de uma palestra em outro lugar, e que ele sim viajara e acabara de comprar o volume…
Você pode até dizer: tá e daí?
E daí que o mundo é bem pequeno, os livros não ficam parados e as redes sociais ajudam as pessoas a se encontrar. Há poucos anos não escrevo mais meu nome na folha de rosto dos livros. Não é preguiça, superstição ou coisa que o valha. É só um ensaio de desapego.
Amo cinema, mas torço o nariz para filmes exibidos em 3D. Por uma razão simples: na maioria das vezes, o efeito tridimensional é só um penduricalho, algo para fazer um buzz e cobrarem 50% a mais no preço dos ingressos. Eu disse na maioria das vezes. Hoje, fui ver “A invenção de Hugo Cabret”, produção assinada por Martin Scorsese e que disputa o Oscar de melhor filme neste ano. E não houve jeito: assisti à versão em 3D e (muito bem) dublada. E quer saber? Não me arrependi em nenhum momento desde que entrei na sala. Imagine: tarde um domingo de Carnaval, havia vinte e poucas pessoas na sessão apenas, silêncio, calma, atenção total para a projeção…
E o 3D? Sen-sa-cio-nal! Tanto pelo uso inteligente quanto pelo emocional. Eu explico.
Scorsese filmou nos dois sistemas – o convencional e o D-Cinema -, mas as perspectivas de filmagem, os enquadramentos, a exploração da profundidade de campo, buscando novos pontos focais fazem com que a experiência de assistir a “Hugo” seja realmente envolvente e não superficial. Se em “Avatar” o efeito era estonteante, agora é transportador, vertiginoso na primeira sequência do filme. Não bastasse explorar como ninguém o 3-D, ao escolher este triunfo tecnológico, Scorsese faz mais uma homenagem a Georges Mèliés, a quem o público é apresentado com tanta delicadeza e respeito. Afinal, o cinema também é isso: uma arte apoiada na sensibilidade e no engenho, na emoção e na técnica.
“A invenção de Hugo Cabret” é desses filmes que já nascem clássicos, pois fazem justas homenagens a personagens-chave do cinema e resgatam elementos de primera, como a ilusão, a fantasia, a magia… Com Scorsese, assistimos estupefatos à “Chegada do trem à estação”, mas agora em 3D! Tão estupefatos quanto o público daquela mítica primeira exibição do cinematógrafo… Grande sacada que reúne passado (1895) e presente (2011-12), e dois realizadores importantes para a arte e a indústria: Mèliés e Scorsese.
Ben Kingsley está soberbo como sempre; a trilha é sensível – embora não seja tocante como em outros filmes do tipo; o próprio Scorsese faz uma aparição-relâmpago (fique ligado!); os efeitos especiais são usados na medida; mas são os cenários e a maquinaria envolvida que transborda pela tela.
Se você conhece a história do cinema, vá ver “Hugo” pelo que ele nos relembra desse rico enredo.
Se você não conhece a história do cinema mas quer ver uma história bem contada no cinema, vá ver “Hugo” para assistir à poesia escrita com a luz.
Nos dois casos, como já avisei no título do post, leve uma caixa de lenços descartáveis.
Se você teve insônia ontem, viu que a Globo reprisou pela enésima vez “Curtindo a vida adoidado”. Ainda bem. O filme é um clássico para quem passou a adolescência nos anos 80. Se você não sabe do que estou falando, dê um Google ou vá buscar informação na Wikipedia ou no YouTube… Por outro lado, se você também é um fã de Ferris Bueller, saiba que ele está de volta! Mais uma vez curtindo um dia de folga como ninguém, e numa super máquina.
A Honda convidou nosso heroi para um comercial que será exibido no intervalo do SuperBowl.
Você já deve ter visto isso. Se viu, pode rir novamente. Se é novo pra você, delicie-se.
(Peguei do Facebook da Ana Laux, que pegou de alguém que passou para alguém, etc. etc.)
Os americanos não têm tantos pudores quanto os brasileiros quando o assunto é usar seus presidentes na TV ou no cinema. Na pele do chefe da nação, Harrison Ford já trocou sopapos para salvar o mundo em seu Força Aérea Um, Morgan Freeman, Danny Glover e Jack Nicholson anunciaram o apocalipse, e até mesmo o baixinho Martin Sheen já mandou na Casa Branca. Os presidentes americanos pilotam caças contra alienígenas, lideram ofensivas globais, assumem – com algum conforto – o posto de xerifes do planeta.
Entre nós, a coisa não é bem assim.
A minissérie “O brado retumbante”, no ar na TV Globo desde a terça, 17, é um produto que foge à regra. Apresenta a história de um presidente acidental, cercado de chacais palacianos, e disposto a colocar o país nos trilhos, apesar de seus muitos deslizes pessoais. A direção caprichada, o ritmo bem cadenciado dos capítulos e o elenco que mescla medalhões e rostos menos conhecidos ajudam a dar um charme à trama. A trilha sonora reúne bons momentos, embora não tenha sido criada especificamente para a ocasião. Cenários aludem mais ao Rio de Janeiro que Brasília, mas isso pouco importa no enredo. Fica até mais bonito.
Particularmente, tenho gostado da história na medida em que embaça as fronteiras entre as vidas privada e pública do presidente Paulo Ventura, e quando mostra aliados e opositores de forma dúbia. O presidente se mostra aturdido pela surpresa de ter que assumir o cargo mais alto do país. É pressionado de todos os lados, até mesmo de quem ele menos poderia esperar, a mãe. Os diálogos oscilam entre boas trocas de farpas e discursos mais didáticos, que quase convidam ao sono. Mas a atração vale a atenção.
A história se apoia em alguns pontos frágeis, muito próximos da ingenuidade:
. Ventura se torna presidente porque o primeiro e o segundo homens da nação desparecem num acidente de helicóptero! Ora, em nenhum lugar do mundo, presidente e vice viajam juntos! É uma norma básica de segurança e de manutenção do poder!
. Um senador ou outro têm acesso fácil e privilegiado ao gabinete do homem, e chegam de forma intempestiva. Ora, não há secretária, agenda presidencial, protocolos? Em toda parte, esse acesso é restrito, dificultado pela burocracia, por filtros!
. A filha de Ventura se mete em enrascadas e grita, como que anunciando, ser filha do homem. Ora, em tempos de redes sociais, paparazzi e meios de comunicação de massa, ninguém sabia disso? Só se estivesse no Canadá…
O fato é que “O brado retumbante” é um bom exercício narrativo, apesar da visão política maniqueísta e juvenil. É uma boa história mesmo com sua estatura rasa, sem muitas camadas e temas paralelos. Sua nuvem de tags poderia trazer “ética”, “política”, “corrupção”, “utopia”, “moralismo”, “justiça”, “novo país”, “público versus privado”, “interesses privados”, “razões de estado”… Tornar mais intrincado o jogo entre essas palavras é que seria muito bem vindo.
Seus autores e realizadores só não podem querer fazer da diversão um capítulo do Telecurso 2000 ou mesmo uma transmissão da TV Senado. Teledramaturgia não precisa de didatismo nem discursos insossos. Requer ritmo, bons diálogos, trama envolvente, personagens críveis e finais não previsíveis. Aliens, guerras mundiais e finais do mundo podem ficar com os americanos…
O acaso (ou não!) fez com que eu pegasse uma carona de elevador com uma moça na descida do quinto andar. Eu acabara de deixar a sede da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (Fapesc). Assim que fecharam as portas, ela emendou, seriíssima: “Sempre me esqueço que a Fapesc fica nesse andar. Geralmente, subo até o sexto e desço. São os macróbios atacando os neurônios!”. Disfarcei a ignorância crônica e soltei no mesmo tom: “A-ham!”
Fiquei semanas sem passar por aqui, cansado, desmotivado, aparentemente sem ter o que dizer. Acessei agora as estatísticas do blog na indisfarçável esperança que ele estivesse zerado, mas não. Ainda há quem por aqui passe. Me mostra que o blog resiste, apesar de mim. Bem, se não tem jeito, vamos adiante. Um passo à frente.
A expressão é grosseira, mas bastante usada quando estamos orgulhosamente encaminhando nossos orientandos para os exames de qualificação e defesas de dissertação. Por isso, em novembro e dezembro – além da longa lista de afazeres do final de semestre -, estarei “desovando” algumas crias…
No dia 22 de novembro, terça, tem qualificação do trabalho “Jornalismo, credibilidade e legitimação: imagem de si e construção do ethos no discurso jornalístico”, de Cândida de Oliveira
Resumo: Esta pesquisa investiga os processos de credibilidade e legitimação do jornalismo, em sua dimensão institucional e discursiva. Compreende-se que o jornalismo encontra credibilidade e legitimidade pública ao exercer um poder organizador que, derivado da palavra consignada, lhe confere o status de instituição social. No contexto atual, a substituição da referência à realidade – ancorado no critério de verdade, o que contribui para sustentar a credibilidade – pela autorreferência no discurso jornalístico denota transformações no modo como o jornalismo se apresenta para a sociedade, ou seja, como constrói a imagem de si, parte integrante do ethos discursivo. Diante disso, a pesquisa investiga a representação que o jornalismo faz de si na construção do ethos e as implicações dessa representação nos conceitos de credibilidade e legitimidade jornalística. A discussão será sustentada ainda por uma análise empírica focada no discurso institucional e opinativo de quatro grandes jornais brasileiros: Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, O Globo e Zero Hora. De modo geral, a pesquisa busca compreender e explicar como o jornalismo constrói a imagem de si e o ethos, e de que forma essa imagem interfere na credibilidade e legitimação do jornalismo. A pesquisa filia-se em referenciais teórico-metodológicos que se inscrevem na teoria do jornalismo, da nova retórica e da análise do discurso, o que permite levar em conta não apenas a organização desse discurso, mas também seu funcionamento e produção de sentidos.
No dia 1 de dezembro, tem qualificação do trabalho “Liberdade de expressão e tensões público x privado: jornalistas nas redes sociais”, de Janara Nicoletti
Resumo: Com as mídias sociais na internet, a forma de comunicar foi reconfigurada. Diante deste novo cenário, organizações jornalísticas buscam um reposicionamento que garanta fidelizar seus públicos e manter seu poder midiático. Para direcionar e efetivar as estratégias empresariais de presença nos novos meios, são instituídas diretrizes de uso de redes sociais. Como inexiste um balizador comum, cada empresa determina suas próprias normas e regimentos, com base em valores e metas próprios – o que pode interferir na qualidade profissional e no cumprimento dos preceitos éticos e deontológicos do Jornalismo. Acima disso, pode comprometer a liberdade individual dos profissionais. Este trabalho irá investigar como as organizações jornalísticas orientam a conduta de seus colaboradores nas novas mídias, a partir da formulação de normas técnicas e deontológicas de uso das redes sociais, e até que ponto esta padronização de postura interfere no trabalho diário e na liberdade de expressão dos colaboradores.
Em 7 de dezembro, tem defesa da dissertação “Jornalismo cidadão: profissionalidade e amadorismo nos jornais do Grupo RBS em Santa Catarina”, de Marcelo Barcelos
Barcelos entrega volume à coordenadora Gislene Silva
Resumo: O jornalista não está mais sozinho para apurar os acontecimentos, escrever as notícias e distribuí-las. Com a revolução tecnológica que reconfigura não só suas práticas, mas também a própria função social, ao lado do profissional, está o amador, o cidadão comum, aquele a quem se deu, por muito tempo, o nome de público/receptor. Hoje, o leitor pode ser um produtor de conteúdo noticioso e, para isso, apropria-se de competências antes exclusivas dos repórteres, como apurar, narrar fatos inéditos e produzir o noticiário, em um fenômeno conceituado “jornalismo cidadão”. É tentando entender os impactos provocados pela chegada desse personagem no jornal impresso e no âmago da cultura jornalística que este trabalho mergulha. Parte-se do princípio que legitimou a produção de conteúdo amador independente até o instante em que as mídias tradicionais passaram a adotá-la, elevando o cidadão à condição de leitor-repórter. Para compreender esse recente paradigma, analisamos um corpus de 27 edições – durante uma semana completa dos quatro jornais do Grupo RBS em Santa Catarina: Hora de Santa Catarina, Diário Catarinense, Jornal de Santa Catarina e A Notícia. A investigação, utilizando o método exploratório na análise de textos e fotografias, caracterizou a produção amadora publicada conforme os seguintes critérios jornalísticos: a) autoria; b) foco narrativo; c) atualidade; d) interesse público e) gênero f) hard news e g) soft news. A análise ainda inclui entrevistas presenciais com jornalistas das quatro redações, à procura de traços dessa nova forma de relacionamento com o público e das tensões provocadas em sua profissionalidade. Rodeado de enunciados intencionais que o convocam à colaboração, o público atende a um chamado e produz conteúdo de natureza informativa; muito desse conteúdo, no entanto, é carregado de um caráter pessoal. As produções aparecem em quase todas as editorias, ora na voz do cidadão, ora diluída na edição do jornalista, que a complementa. É possível identificar um elevado grau de dependência no qual o jornalista demonstra a necessidade do leitor para “fechar o jornal”. No outro lado do balcão, os jornalistas ainda se moldam à partilha, enquanto defendem seu conhecimento específico, conquistado entre a prática e a formação acadêmica, para tratar – com ética, veracidade e equilíbrio – o que vem de fora da redação, sob o risco da abertura de espaço à imprecisão e à narrativa falseada. Os jornalistas reconhecem, no entanto, a necessidade cada vez maior chamar o leitor à produção em uma “Coautoria Vigiada” e admitem terem aberto mão de algumas tarefas até então exclusivas.
Os quadrinhos brasileiros já têm a sua obra-prima: Daytripper, dos irmãos Fábio Bá e Gabriel Moon. Mas alguém poderá dizer: isso é um exagero e é um erro. Exagero porque a HQ pode não ser tudo o que se está comentando. Erro porque a revista foi originalmente lançada nos Estados Unidos, em inglês, e só este ano chegou ao país. Mas reafirmo: Daytripper é o maior feito individual das histórias em quadrinhos do Brasil.
Embora tenha sido publicada antes por uma editora norte-americana – o selo Vertigo -, Daytripper não permite dúvidas: narra a história de um personagem brasileiro, no contexto brasileiro, escrita e ilustrada por dois brasileiros. Não bastasse isso, o protagonista traz parte do país no nome: Brás de Oliva Domingos.
Daytripper tem um argumento intrigante: Brás é o filho de um famoso escritor e também ambiciona uma carreira literária, mas sua vida se resume a escrever necrológios para os jornais. Sua rotina parece vazia e, ao escrever sobre os feitos dos mortos, Brás fica a imaginar quando os momentos realmente importantes de sua vida acontecerão. A partir daí, Fábio Bá e Gabriel Moon constroem uma obra sólida, multifacetada, sensível e tocante.
Os desenhos são delicados, levemente oníricos em contraste com cenários minuciosos e realistas. Os diálogos bem escritos, fluentes e sem gordura. Personagens são compostos com complexidade rara. Mas o que chama mais a atenção é a construção narrativa: a vida de Brás é conjugada no plural, em várias dimensões, em distintos momentos da trajetória do protagonista. A morte o assalta aos 33 anos, aos 11, aos 41, aos 76… A trama é atravessada por temas pungentes, como o destino, a fatalidade, a fragilidade da vida, as relações entre pais e filhos, a ausência de entes queridos, a amizade e o amor. Esses assuntos reverberam entre os capítulos da história, vão e voltam como ideias-força que impulsionam os personagens de um lado a outro. Impactado, o leitor se deixa levar pela narrativa à medida em que reflete sobre a sua própria vida. É mágico, é envolvente, lindo.
Ressaltado pelo New York Times em sua lista de mais vendidos e pelo site da Amazon Books, Daytripper venceu alguns dos principais prêmios mundiais dos quadrinhos: no Reino Unido, levou o Eagle Awards; nos Estados Unidos, ganhou o Harvey e o Will Eisner; e no Brasil, o HQ Mix. O livro arrancou elogios rasgados de gente graúda da indústria. Jeff Smith disse que não conseguia parar de ler. Terry Moore afirmou que foi a história mais envolvente do ano passado. E nada disso é exagerado, creiam.
Daytripper é daqueles exemplos que justificariam a expressão graphic novel. Trata-se de um romance gráfico, com profundidade psicológica, trama bem elaborada, argumento que transcende as páginas do volume. Daytripper é daqueles casos em que o produto artístico alcança um patamar de destaque que extrapola o interesse do público a que se dirige. É também a materialização da excelência na arte em que se dedica.
O trabalho dos gêmeos Bá e Moon precisa ser conhecido e reverenciado. Daytripper é um diamante lapidado com capricho, luxuosamente embalado e que vale cada centavo. Escrevam: daqui a dez, vinte anos ainda lembraremos deste trabalho. É uma obra madura e emocionante. Pare já de ler este post e corra para as páginas de Daytripper.
O melhor portal sobre literatura policial do Brasil está de cara nova!
“Grandes Detetives” está mais limpo no visual, mas a cada clique, mais sangue, mais mistério, mais histórias noir…
Vá conferir!
Já faz tempo que a indústria dos quadrinhos não vive apenas da venda de gibis. Na verdade, em termos globais, o que anda segurando a onda das grandes editoras são mesmo as produções de séries televisivas, licenciamento de produtos e filmes para cinema. Enquanto a DC vem com Batman, Superman e Lanterna Verde, a Marvel ataca de X-Men, Homem-Aranha, Capitão América, Thor, Hulk, Homem de Ferro e… Os Vingadores!
Mas não são apenas os super-heróis que brilham na tela grande. Personagens menos poderosos, mas também cativantes desembarcam nos cinemas, como será o caso de Tintin, do belga Hergé.
Grandes produções, elencos estrelados, diretores de grife, super efeitos especiais… tudo isso não cabe mesmo nas páginas de revistas em quadrinhos… o cinema atualiza a nona arte. Por que não?
Você já marcou um encontro com alguém que sequer te conhece? E com quem sequer existe?
No último domingo, numa rápida passagem pelo Rio, desapareci no meio da floresta de concreto de Copacabana. Diante da praia mais famosa do mundo fileiras infinitas de prédios se espremem, deixando escapar ruas e avenidas como se fossem trilhas na relva. No final da manhã ensolarada, despenquei do quinto andar do Astoria Palace para visitar o Delegado Espinosa, o personagem mais conhecido em oito romances policiais de Luiz Alfredo García-Roza. Isso mesmo! Eu ia ao encontro de um detetive literário que mora no Bairro Peixoto, um amontoado urbano espremido entre os morros dos Cabritos e de São João.
Sem avisar Espinosa, segui pela avenida Atlântica como quem vai a Ipanema, mas só por algumas quadras. Diante do olhar misterioso de uma velhinha entrevada numa cadeira de rodas, dobrei a rua Figueiredo Magalhães, andando por quase meio quilômetro desviando de turistas deslumbrados, nativos enfadados e parte da fauna diurna de Copacabana. A noturna é tão interessante quanto, mas mais variada…
Na rua Tonelero, virei à esquerda e na Anita Garibaldi ao contrário. Havia muita gente pelas calçadas desperdiçando o domingo em conversa fiada, mas mesmo assim, me senti observado, vigiado. Apressei o passo, olhando furtivamente para trás para flagrar alguém me seguindo, mas nada! Não vi nada e a sensação de ser uma presa vulnerável não me abandonou até chegar à Praça Edmundo Bittencourt, logo em seguida: o reduto do Delegado Espinosa.
Como nas econômicas descrições dos romances, a praça é calma, encravada num aglomerado de prédios baixos de até três andares. Há brinquedos infantis, um chafariz, alguns bustos de figuras históricas, bancos, árvores, pombos, aposentados, crianças, babás, cuidadoras, namorados, cães desgarrados de seus donos e uma estátua de Nossa Senhora de Fátima, aprisionada numa caixa de vidro. O tempo segue mais devagar na praça, recorte de qualquer cidade do interior. Nem parece estar a um quilômetro e meio apenas do efervescente e glamouroso Copacabana Palace.
Espinosa mora num desses prediozinhos com sacada de metal, quase encostada à janela. Volta e meia, abre a porta, estica as pernas sobre a grade e mira a praça. Sob a sua vista, tudo em ordem. Dentro de si, sinapses intensas tentam solucionar crimes insolúveis.
Dei três voltas ao redor da praça, olhando menos para ela e mais para as paredes que a cercavam. Nenhum sinal de Espinosa nas sacadas. A cartomante húngara me lançou um olhar desconfiado, misto de praga e de desdém. Um pastor alemão latiu com a mesma animosidade. Não esperei mais nada para desaparecer dali. Fui direto à 12ª DP, na Hilário de Gouveia, mas rosnaram que Espinosa não estava de plantão. Como estava quase na hora do almoço, imagino que o delegado tenha ido almoçar no La Trattoria, na Fernando Mendes quase na dobra com a avenida Atlântica. Chego esbaforido, com a sensação de perseguição que não me larga. Pergunto por Espinosa, e um garçom pançudinho sorri: “Acabou de sair. Tá logo ali”, aponta para esquina. Corro e só consigo enxergar um homem alto de costas, entrando num táxi em câmera lenta. Grito seu nome, mas o veículo amarelo aproveita o sinal verde e vai embora.
Devorei com curiosidade e prazer a graphic novel de estreia de Jen Wang: Koko be good – não é fácil ser boazinha, que chegou este mês às bancas e livrarias brasileiras.
Wang é uma jovem artista norte-americana com ascendência oriental que desenha e escreve tão bem que parece uma veterana da arte sequencial. Socióloga de formação, Wang jé teve ocupações inusitadas e temporárias como qualquer jovem que está buscando um lugar para si no mundo. Aliás, neste sentido, Koko be good reflete muito as angústias de quem está às vésperas de se formar na faculdade e ainda não tem muito definido o que quer fazer “quando crescer”. Iniciar uma carreira, ingressar no famigerado mundo dos adultos, romper grilhões com a família e o passado, escrever a própria história, dar rumos à vida, concretizar sonhos… tudo isso (e mais!) está embutido no universo da irriquieta e eletrizante Koko, do angustiado Jon, do taciturno Faron, cujos destinos se cruzam nas mais de 300 páginas da HQ.
Buscar satisfazer sonhos individuais ou atuar em causas coletivas e sociais?, perguntam-se os personagens, com uma indisfarçável culpa herdada de não se sabe quem. Afinal, parece que quem corre atrás das próprias demandas não é tão bom (no sentido da bondade) quanto aqueles que se doam para projetos mais comunitários.
Para além de um roteiro bem escrito e de diálogos bem amarrados, a HQ traz um dos melhores traços que vi nos últimos anos. Sério! Jen Wang é econômica e eficiente, e domina com leveza as regras da narrativa que junta texto e desenho. Sua arte lembra a de Will Eisner, mas o grande mestre sempre foi muito detalhista nos cenários, na caracterização de figurinos e no histrionismo de seus personagens. Jen Wang concentra seu talento na expressividade de rostos desenhados com rapidez e limpeza. Tem atributos ricos para quem se dedica à caricatura e à charge: síntese e drama, expressão e economia de linhas.
Além disso, Jen Wang é clara e fina nos contornos. Distribui bem os quadros na página, e varia na orientação de leitura, conduzindo o leitor sem solavancos. Senhora de si, ela não se apoia nas cores, e suas pranchas de desenho ficam bem estruturadas no preto, no branco e em tons pasteis. Nada mais.
Se você gosta de quadrinhos e não conhecia Jen Wang, anote este nome. Ouviremos falar muito bem dessa moça.
Se você não gosta de quadrinhos, essa moça pode te fazer mudar de ideia.
PS – Koko é uma personagem carismática, apaixonante, viciante. Pegue duas doses da Mônica (Maurício de Sousa), junte com mais duas de Mafalda (Quino) e bata com raspas de Ravena (Teen Titans), Lola (Charlie & Lola) e Menino Maluquinho (Ziraldo). Sirva fervendo…
Sergio Rubim, o Canga, fez hoje em seu blog uma homenagem a Dave Brubeck, legendário pianista de jazz de 90 anos. Apenas um feito já seria suficiente para alçar Brubeck aos píncaros da glória: ele compôs Take Five. Nunca ouviu? Já ouviu sim senhor. Relembre…
Agora, delicie-se também com esse mashup que junta Brubeck e Radiohead.