plágio preocupa. como lidar com ele?

Tem crescido o número de plágios por aí. É perceptível. Denúncias e notícias sobre esse tipo de apropriação tem circulado com uma velocidade e num volume maiores que anos atrás. O primeiro catalisador que nos vem à mente é a internet, que possibilita o já consagrado Control C-Control V com uma facilidade antes não encontrada. Mas se a web permite copiar e colar também permite identificar fraudes, cópias e outras violações do tipo.

Não se trata, portanto, de demonizar a internet, nem de confinar pessoas e obras. O advento de uma rede que permita fácil compartilhamento de arquivos de todos os tipos tem ajudado a desenvolvermos novos regimes de autoria. Não só a autoria coletiva e cúmplice (wiki!), mas o remix, o bricolage, a própria discussão acerca do que é obra, do que é autoria e dos limites do seu e do nosso. Isso tem forçado a juristas e a legisladores que revisem os marcos que regulam os direitos autorais. Isso tem causado confusões nas escolas, nas universidades, na mídia e na própria indústria cultural.

A autoria é um conceito relativamente recente, data lá do século XIII, mas só se consolidou mesmo no final de 1700. De lá pra cá, transportamos para o plano das ideias e das imaterialidades o regime de propriedade e paternidade que mantemos no mundo material. Posse, propriedade, detenção de direitos, possibilidade de queixa e disputa de territórios. O fato é que estamos vivendo um instante de instabilidade crescente nesse terreno. De novas demarcações de limites. Com isso, acontece de tudo. Na academia, professor plagia o colega; na escola, aluno copia o trabalho do coleguinha que mal conhece e que encontrou disponível na internet; na mídia, tem o jornalista que se apropria de trechos de textos de seus concorrentes, sem dar o devido crédito, e por aí vai… a lista é longa, cada vez mais diversificada.

Outro dia, Ramón Salaverría se queixava de ter sido plagiado por El Mundo . Nos Estados Unidos, um jornalista do New York Times foi demitido pela mesma prática. Na mesma semana, no Poynter, Kelly McBride escreveu sobre porque o plágio ainda rola tão solto por aí.

Não nos enganemos: há uma zona de atrito, uma disputa permanente quando o assunto é propriedade intelectual, ideias, conceitos. Os norte-americanos são tão preocupados com o assunto que criaram até mesmo um Centro de Integridade Acadêmica. Nas bandas de cá, o assunto ainda é tratado nas hostes de crime intelectual e de uma maneira dispersa, desorganizada e titubeante. Sei que, em muitas situações, é difícil caracterizar o plágio, identificar os infratores e puni-los. Mesmo tendo uma lei de direitos autorais e menção explícita no Código Penal .

De qualquer maneira, ainda é necessário reafirmar que plágio é um crime e que é uma prática antiética. Plágio não é um crime sem querer, mas um ato deliberado de quem acredita que não será pego e punido. Não se surrupia uma música ou um texto de alguém, apagando-se a assinatura de seus autores e registrando como de sua lavra sem querer, sem intenção. O plágio é um crime intencional, doloso, portanto. É uma atitude antiética porque desrespeita o direito de paternidade de alguém, porque atenta contra o direito moral de alguém de reivindicar sua autoria sobre algo. É uma conduta que menospreza as demais pessoas, acreditando que a verdade não virá à tona e que todos serão permanentemente enganados.

É preciso sim delatar os plágios, deplorar essas práticas, identificar os infratores e buscar suas punições. No jornalismo, na escola, na academia, no mundo das artes, em todas as esferas onde a originalidade, a primazia, a inovação e o senso criativo são realmente relevantes e definidores. O plágio precisa ser combatido e execrado. Ao menos até definirmos novas noções de autoria e de proteção de direitos aos que criam, aos que recriam e disseminam conteúdos que julgamos relevantes…

6 comentários em “plágio preocupa. como lidar com ele?

  1. fui plagiada e entrei com processo. ganhei em primeira instância, houve recurso. vai fazer dois anos que a coisa rola, e está longe de ter solução. há o desgaste com advogados, com audiências, mas o pior é o desalento com o jornalismo. quando a história acabar, farei um relato sobre o caso.

  2. “Desalento com o jornalismo?”!!!
    Não deveria haver um desalento com o jornalista que te plagiou?

    Culpar o jornalismo por um plágio não seria o mesmo que culpar a Literatura ou a Música pelo “roubo” de um conto ou de uma canção???

  3. Um dos problemas do plágio é que a vítima muitas vezes prefere não passar pelo aborrecimento de um processo. Parabéns por denunciar o crime, Marcia.

    No mais, um bom remédio contra o plágio costuma ser a luz do sol. Denunciar o plagiador. Arrastar o nome do criminoso na lama, mesmo.

  4. ei, ei… eu não culpei “o jornalismo”. o jornalismo não é uma entidade. a responsabilização jurídica, busco na Justiça. mas os sentimentos e percepções, estes são pessoais.

  5. Marcia,
    Pelo menos um leitor gostou do conteúdo que você “criou”. Depois de Bakhtin fica difícil saber o limite da criação e da recriação. Não há discurso original. Tudo são fragmentos de vários outros discursos… Sabemos, pois, há uns cabras safados copiando obras alheias e tomando para si a autoria delas. Que a morosidade da nossa justiça não falhe, porque já tarda o bastante!

  6. Os direitos autorais precisam ser ensinados desde a Ed. Básica.
    Infelizmente, o plágio tem sido problema grave nas instituições de ensino porque há omisão e conivência de instituições, docentes e discentes.
    Uma formação ética e de qualidade é aquela que informa o estudante e dá o exemplo.
    De nada adianta que professores falem sobre plágio e deixem textos no xerox sem a referência bibliográfica.
    Da mesma forma, quando fingem que não percebem que estudantes não fizeram um trabalho e apenas colocaramo o nome, ou seja, estão fazendo o curso nas costas dos estudantes honestos e dedicados, os professores setão sendo coniventes com as práticas antiéticas.
    Tirar pontos, solicitar que o trabalho seja refeito, pedir que os erros de referenciamento sejam consertados para só então corrigir o conteúdo do trabalho é um dever dos professores e o respeito pelos direitos autorais.
    Infelizmente, o descaso com a Educação no Brasil só tem gerado péssimas consequências e o plágio, a compra e venda de trabalhos acadêmicos, a cola e a terceirização de trabalhos tem sido práticas rotineiras nas instituições de ensino.
    Tomara que isso mude agora que o CNPq, a CAPES e a OAB se manifestaram sobre o assunto.

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